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Uma Terra Prometida

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Atualizado às 09:48

Uma Terra Prometida" é o título em português do livro de memórias do ex-Presidente dos Estados Unidos Barack Obama. 

Com a irresponsabilidade de alguém que ainda não leu o livro - e nem poderia, pois foi lançado no dia em que escrevo este artigo -, me dou o direito de imaginar, pelo título confrontado com o que conhecemos sobre a trajetória do primeiro Presidente Preto da História dos Estados Unidos, que a narrativa haverá de nos levar, novamente, à conclusão sobre a "beleza do caminho", ou seja, sobre como a vida vale a pena quando a atravessamos lutando pelos ideais nos quais acreditamos. 

Mesmo que a caminhada seja feita com constância ao longo de todos os dias, há momentos cruciais no contexto de uma trajetória que chega à "Terra Prometida". Aquele momento aponta se cada um, e suas circunstâncias, irão prosseguir em linha reta rumo ao objetivo traçado, ou irão rodar em círculos. Estou ansioso para conhecer qual o momento que Obama classifica como sendo aquele que foi decisivo para que a sua História tenha tido o desfecho que teve. 

Por aqui, o curso da caminhada daqueles que lutam pela modernização do futebol brasileiro, pelo incremento de sua capacidade de obter receitas, pela melhoria das condições dos nossos times em manter por mais tempo seus principais jogadores, pela fidelização dos jovens torcedores, para que venham a vestir a camisa dos nossos clubes e não só dos europeus, poderá ter um momento crucial ainda neste mês de novembro de 2020. 

Há fundada expectativa de que o Senado Federal irá levar à votação o Projeto 5.082/16, que trata da criação de um ambiente favorável à constituição de sociedades empresárias para gestão das equipes de futebol profissional do Brasil, logicamente, daquelas que assim o quiserem. 

O momento da aprovação do Senado é fundamental. O Projeto deverá ganhar a amplitude resultante da convergência entre o modelo de constituição do clube-empresa, proposto pelo Deputado Federal Pedro Paulo (DEM/RJ), e o ambiente para criação da Sociedade Anônima do Futebol - SAF, concebida pelo Senador da República Rodrigo Pacheco (DEM/MG). Trará, assim, um caminho viável de modernização para nossos combalidos clubes centenários, reféns dos obsoletos modelos associativos, herança do início do Século XX. 

Tendo sido apresentado em 2016, graças à sensibilidade de vários formadores de opinião que foram capazes de enxergar o quanto o tema é relevante para a evolução do futebol e, por conseguinte, do conteúdo cultural do País, o Projeto tem sido discutido ao longo dos últimos quatro anos com o viés de um tema em trâmite no Congresso Nacional. Houve muito debate, em especial, a partir de 2019, quando o Presidente da Câmara incumbiu o Deputado Pedro Paulo de estudar uma solução para a situação gravíssima enfrentada pelos nossos clubes, e o Senador Rodrigo Pacheco apresentou o seu projeto. 

Porém, desde muito antes o tema da constituição societária dos clubes de futebol do Brasil está em pauta, sendo divulgado e debatido. Desde a edição da Lei 8.672 ("Lei Zico") no distante ano de 1993, passando pela Lei 9615 ("Lei Pelé") em 1998, com suas diversas alterações ao longo do tempo, e, de lá para cá, todas as posições e argumentos sobre o assunto foram trazidos à mesa. 

O fato é que nenhum texto legislativo trazido ao nosso ordenamento até aqui foi capaz de criar um mercado, um ecossistema favorável à revisão do modelo associativo. Em paralelo, nossos clubes foram perdendo relevância no cenário internacional e agravando sobremaneira sua situação financeira, a ponto de alguns dos mais tradicionais correrem risco real de fecharem as portas, a despeito de terem milhões de torcedores. 

Pela primeira vez, se está diante de uma proposta legislativa, oriunda da convergência dos dois projetos, realmente capaz de promover um movimento sólido de revisão do modelo associativo, com seus processos políticos caóticos e absolutamente repelentes ao recebimento de investimento externo. 

A hora é agora! 

Um tema que desperta o interesse de aproximadamente 150 milhões de brasileiros que alegam torcer para algum clube de futebol, movimenta bilhões de reais na economia e emprega centenas de milhares de pessoas não pode nunca ser considerado irrelevante. E não é. A Câmara Federal deu tratos à bola em 2019, agora é a vez do Senado Federal. 

Nas próximas semanas, os senadores da república irão decidir se o futebol brasileiro poderá seguir em linha reta no caminho rumo à "Terra Prometida" ou continuará rodando em círculos.