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Prova objetiva em concurso público: Aplicação da tese do STF nos tribunais brasileiros

A jurisprudência brasileira adota a diretriz do STF, restringindo a anulação de questões objetivas apenas a situações de ilegalidade evidente.

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Atualizado em 24 de setembro de 2025 10:19

O concurso público, ao exigir provas objetivas, busca assegurar critérios técnicos de avaliação, com igualdade entre os candidatos e previsibilidade no processo seletivo. Entretanto, tais provas, por vezes, dão ensejo a discussões judiciais acerca de sua correção, sobretudo quando se alega a existência de erro material ou de afronta às regras do edital.

Com efeito, o STF consolidou entendimento no sentido de que não cabe ao Judiciário substituir a banca examinadora na formulação ou correção de questões, salvo em hipóteses excepcionais de flagrante ilegalidade. Essa diretriz, de repercussão geral, passou a orientar não apenas os tribunais superiores, mas também toda a magistratura brasileira, repercutindo de maneira uniforme nos concursos públicos.

Destarte, os tribunais estaduais e federais têm seguido a orientação da Corte Suprema, reconhecendo que a anulação de questões de prova objetiva somente é admitida quando presentes elementos inequívocos de ilegalidade. Assim, decisões recentes confirmam que não basta a mera discordância com o gabarito ou com a interpretação da banca. É imprescindível demonstrar que a questão extrapola o conteúdo do edital, incorre em erro material manifesto ou viola princípios constitucionais.

Outrossim, a prática demonstra que os tribunais têm atuado com prudência, evitando transformar-se em instância revisora de todas as provas. Esse comportamento fortalece a autonomia das bancas examinadoras e confere estabilidade aos certames, ao mesmo tempo em que resguarda o direito dos candidatos diante de abusos evidentes. Trata-se de aplicação concreta da tese do Supremo, que se materializa em acórdãos que preservam a regra geral de não intervenção, mas admitem a exceção em casos de ilegalidade patente.

Em última análise, pode-se afirmar que a uniformização jurisprudencial trouxe maior segurança jurídica para candidatos e para a Administração. Os primeiros sabem de antemão que não poderão recorrer ao Judiciário por qualquer divergência interpretativa. A segunda pode organizar os concursos com a confiança de que suas decisões técnicas não serão reavaliadas em juízo, exceto quando violarem os parâmetros constitucionais.

Assim, a aplicação da tese do Supremo pelos tribunais brasileiros demonstra que o sistema jurídico encontrou um ponto de equilíbrio. O concurso público, especialmente em sua etapa de provas objetivas, permanece como espaço de mérito e igualdade, protegido contra a judicialização excessiva, mas ainda aberto ao controle jurisdicional em situações de flagrante ilegalidade. Trata-se, em síntese, de uma evolução que fortalece a credibilidade dos certames e reafirma a confiança social nesse instrumento republicano de seleção.

Ricardo Fernandes

Ricardo Fernandes

Professor, Escritor, Pesquisador, Palestrante, Policial Miltiar da Reserva. É Advogado Especialista em Concurso Público, Direito da PCD, Direito Internacional. Direito Processual Civil, Administrativo

Ana Paula Gouveia Leite Fernandes

Ana Paula Gouveia Leite Fernandes

Administradora e Advogada; Especialista em Concurso Público, Direito do Trabalho e Previdenciário.

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