dr. Pintassilgo

Votuporanga

Pintassilguinho de calças curtas, eu voava (não literalmente), atrás de uma bola, com a alegria e a vivacidade da juventude. Ao fazer, encarnava o personagem do narrador de rádio, bradando :

-Pintassilllllllgo ! É dele a camisa sete!

Assim, o futebol faz parte de minha vida, como um jogo; como uma metáfora da vida: perdedores, tragédias, heróis, vilões, glórias eternas, representadas nos álbuns de figurinhas. Se fosse eu um craque, com certeza teria orgulho de ser a figurinha mais valiosa e ter meu nome gritado enquanto em qualquer campinho de terra batida, um menino comemora sua vitória pessoal: o gol.

E assim vamos: nas palavras de Armando Nogueira, o mundo é uma bola; e nas minhas humildes letras, digo que também é uma enorme Copa, porém, mais sisuda. Porque sabemos que ele nos cobra a todo instante que estejamos preparados para uma competição (nem sempre inteligente e saudável).

E pegando carona no hábito de usar o futebol como metáfora para tudo (já viram isso em algum momento?) agora, eu digo, depois de um grande intervalo em nosso jogo da vida, vamos para o segundo tempo: saudações, migalheiros !

Que façamos uma bela e esforçada partida, sem precisarmos apelar para o pragmatismo frio para conseguir uma magra vitória.

Como pássaro apreciador que sou das coisas belas, sei que uma brisa leve me trouxe até Votuporanga.

Uma brisa delgada, linda, suave. O nome da cidade é mais que justo, é o peso da palavra nos mostrando mundo, pois Votuporanga possui realmente a brisa agradável.

E certamente, pelo que pude ver com meus olhinhos atentos, essa suavidade contamina a todos por aqui, pois como está sendo agradável minha passagem.

A suavidade começou e me tomar pela praça, onde as histórias das cidade chegaram até mim pelo modo mais gostoso: a conversa. Ali, não há pausas pensadas, vírgulas, reticências: ela flui como o jogo de um esquadrão bem treinado.

E as conversas sobre Votuporanga prosseguiram, agradavelmente como o diretor municipal de cultura da cidade, Sr. Jorge Luiz Xavier de Souza, onde fiquei sabendo que alemães tiveram participação na fundação da cidade ! Vejam só: no momento em que a bola rola em terras tedescas, chego em uma cidade fundada por conterrâneos dos anfitriões do futebol atualmente. Como digo sempre, amigos: para quem acredita em coincidências...

Vim ao Fórum.

Aqui, a suavidade estava mesmo no ar: todos os funcionários de verde e amarelo, à espera da partida contra os nipônicos. Dei um suspiro: que bom ver uma imagem colorida quebrar o cinza e bege tradicional dos cartórios ! O Fórum, como integrante da comunidade, se vestindo como ela, vivendo o momento.

Faço agora menção à simpatia da magistrada que me atendeu, Exma. Dra. Daniella Camberlingo, que, de modo cortês, falou sobre a cidade e expôs o motivo do verde e amarelo na casa da Justiça. Não carecia a justificativa, Excelência! É bom e reconfortante saber que alguns juízes vivem com a comunidade, participam. Parabéns pela iniciativa. Isso sim é suavidade.

Nas ruas de Votuporanga, não há o peso das nossas mazelas a nos torturar ainda.

Pena que ainda carece de um campo maior para atuação da Justiça. Um espaço físico para melhor atender a população e aos técnicos do Direito. Esperamos que esse pedido seja atendido, e não seja por demais prorrogado.

Vou-me embora daqui mais leve. Infelizmente, os bons ares agora me levam daqui.

Como demonstração de meu apego à suavidade, deixo meu abraço à Dra. Vanessa Andréa Padovez; ao Dr. Roberto de Lima Campos, causídico da festejada turma do quarto centenário nas Arcadas, e ao Dr. Abílio José Guerra Fabiano, migalheiro, e desde já amigo de longa data deste Pintassilgo.

E um abraço, também caloroso, ao povo de Votuporanga. Bons ares para todos!

 

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