Prerrogativas

"A luta de classes trombeteada pelos atuais dirigentes deste país está chegando aos exageros (Migalhas 3.368 - 16/5/14 - "Prerrogativas" - clique aqui). A acusação do MP me lembra o caso da juíza do sequestro de Eloá, em Santo André/SP. No Juri, no entrevero do caso, a advogada mencionou que a juíza não sabia o que era 'verdade material' e que precisava ir à escola, segundo li pela imprensa. A juíza ofendidíssima, processou a advogada por ofensa. De fato, a juíza demonstrou desconhecer o que é 'verdade material' ou 'verdade real', no contexto do juízo penal. Inobstante sua ação foi aceita (desconheço que desfecho tenha tido). A meu sentir, era questão de petição inepta! No presente caso, parece ocorrer a mesma natureza das coisas. Aí, me lembrei do Millôr Fernandes. Se se aplica ou não, eu posso estar equivocado. Por isto, peço perdão aos leitores de Migalhas, se o equívoco é meu. O caso relatado por Millôr, segundo minha biblioteca, está registrado em 'lições de um ignorante', publicadas pelo Círculo do Livro. O capítulo chama-se A Máquina da Justiça e suas Peças, onde Millôr qualifica o juiz, o júri, a vítima, o promotor, o advogado de defesa, o delegado de polícia, o réu, a opinião pública e a testemunha. Sobre o promotor (Ministério Público), diz 'é um homem que defende a sociedade a 300 mil cruzeiros por mês ou quantia parecida (o escrito do Millôr é de fins da década de 1950 e inícios da de 1960). Da constância e firmeza com que ele defende a sociedade depende o aumento da criminalidade'. Do advogado de defesa, diz: 'O advogado de defesa também vive disso. Sua notoriedade aumenta na medida em que consegue fazer voltar à circulação piores e mais empedernidos assassinos, ladrões e contraventores. No dia em que um meliante da mais tarada classe é solto por ele, esse é o seu dia de glória. Vai para casa e dorme feliz'. O texto do mestre dispensa comentários. O fato de estar morto afasta qualquer veleidade pecuniária, dele ou de quem lhe admira os textos carregados de saudável humor."