Artigo - Festival de São Firmino, Farra do Boi, Touradas, Rodeios, Rinhas e outras manifestações culturais: a função cultural da fauna sob o enfoque antropocêntrico da CF/88

23/7/2009
Danielle Claudino de Freitas Gasparini

"Sempre fico admirada com essa proteção aos 'valores culturais' da humanidade, até o limite do insuportável, e em como os critérios são 'relativos' para a ponderação de valores (Migalhas 2.189 - 23/7/09 - "Estouro da boiada" - clique aqui)... É necessário lembrar que práticas como a escravidão, por longo período, foram defendidas sob o mesmo enfoque da 'cultura e tradição', aliado à importância econômica de sua manutenção. Isso sem falar da posição da mulher na sociedade. Por muito tempo foram-lhe negados os mais básicos direitos, também por costumes culturais arraigados (e, porque não dizer, em nome da 'dignidade do homem'). E a lista continua: o tratamento da mulher em muitos países do oriente médio é defendido em nome da 'cultura, tradição e religião' daqueles países... O mesmo quanto à extração obrigatória do clitóris em mulheres habitantes de certos países africanos... Tais práticas são defendidas até por parte da população feminina estes locais - e, ainda assim, a comunidade global as condena, sem ressalvas. Acrescento ainda a prostituição de crianças e adolescentes (prática que, lamentavelmente, é comum em vários locais de nosso país, vista como natural e 'tradicional', escondida só devido às penalidades para tanto), que, novamente, a população condena, sem ressalvas. Será que os maus tratos a animais, em práticas como a farra do boi (que não pode, de maneira alguma, ser realizada sem crueldade), devem ser admitidos só em nome da cultura, só por serem as vítimas 'animais', e não humanos? Seres dotados de senciência, que possuem características que os tornam extremamente próximos aos seres humanos, devem sofrer tamanhas barbaridades em nome da cultura? Lembrem-se: as barreiras que distinguem os animais dos seres humanos caem a cada dia. Enfim, o 'subjetivismo ético' é um perigo e deve ser evitado, sob pena de se dar guarida à prática de todo tipo de absurdo em nome da 'cultura e tradição'. E, mesmo que se aceite o argumento antropocêntrico do autor, será que queremos que as próximas gerações tenham como práticas culturais festivais de barbaridade e completo horror? Será que nossas crianças devem ver como normal e aceitável coisas absurdas assim? Para mim, isto seria um grande "mal psíquico". A meus filhos certamente ensinarei uma postura diversa. A humanidade deve caminhar para a frente, evoluir, extirpando tais práticas de seu meio."

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