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Em mais um ataque à imprensa, Bolsonaro ofende jornalista: "queria dar o furo contra mim"

Presidente se referiu a jornalista responsável por matéria que denunciou uso de Whatsapp nas eleições 2018. No trocadilho infame e misógino, acabou por atingir todas as mulheres.

Da Redação

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Atualizado às 15:10

Nesta terça-feira, 18, em entrevista coletiva durante a saída do Palácio da Alvorada, o presidente da República, Jair Bolsonaro, em mais um dos reiterados ataques à imprensa, ofendeu a jornalista da Folha de S.Paulo Patrícia Campos Mello. Em trocadilho infame e misógino, ofendeu a jornalista e, por tabela, todas as mulheres.

A declaração do presidente foi uma referência ao depoimento feito na semana passada na CPMI das Fake News, no Congresso, por Hans River, ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp. 

Uma reportagem da Folha denunciou esquema ilegal de disparo de mensagens em massa no Whatsapp em favor de políticos, no qual empresas recorriam ao uso fraudulento de nome e CPFs de idosos para registrar chips de celulares. Por isso, um funcionário da empresa de marketing digital envolvida no caso foi convocado para depor.

Hans River do Nascimento passou a descredibilizar a reportagem dizendo que sua autora, a jornalista Patrícia de Campos Mello, se insinuou sexualmente a fim de conseguir informações.

A declaração foi reproduzida por Eduardo Bolsonaro nas redes sociais, e explorada por Bolsonaristas.

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Em abril de 2019, Bolsonaro defendeu a liberdade de expressão como direito legítimo e inviolável. Em julho, por meio do twitter, defendeu a liberdade de imprensa. Os discursos, por sua vez, parecem representar pura retórica. O que se vê é um acúmulo de ataques.

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As declarações do presidente sobre a jornalista foram repudiadas por diversas entidades e seus representantes, que consideraram o episódio ataque à democracia.

A Abraji e o Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB publicaram nota conjunta por meio da qual repudiam o ataque machista de Bolsonaro.

"Os ataques aos jornalistas empreendidos pelo presidente são incompatíveis com os princípios da democracia, cuja saúde depende da livre circulação de informações e da fiscalização das autoridades pelos cidadãos."

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo disse, em nota, que "já está patente que o atual governo é inimigo declarado da liberdade de imprensa e do jornalismo" e que, segundo contagem feita pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Bolsonaro proferiu 116 ataques à imprensa.

"Ao realizar hoje um ato que pode ser qualificado como injúria, torna-se passível de responsabilização criminal. O presidente da República não está acima das leis, e sua conduta indigna - sobretudo em se considerando o cargo que ocupa, que exige decoro - não pode permanecer impune."

A FENAJ diz que "não passarão os insultos e ofensas de cunho machista, sexista e misógino".

"Que nosso grito de repúdio sirva para frear tais comportamentos, vindos de quem quer que seja, sobretudo do mandatário da Nação, que deveria defender toda a população e, sobretudo, as maiorias silenciadas de direitos."

A ABI - Associação Brasileira de Imprensa chamou a agressão de "covarde" e pediu à PGR que denuncie o presidente por quebra de decoro.

A fala também provocou reações no Congresso.

A deputada Maria do Rosário condenou as declarações e destacou que elas têm o objetivo de desviar o foco das denúncias feitas pela jornalista.

A senadora Kátia Abreu manifestou solidariedade à jornalista e disse que todas as mulheres merecem ser tratadas com dignidade, sobretudo pelas grandes autoridades do país.

O senador Veneziano Vital classificou como graves e inaceitáveis as reiteradas declarações sexistas do presidente. "Ele ultrapassou, em muito, o limite do aceitável."

Para o deputado Marcelo Nilo, Bolsonaro "ultrapassou os limites da imaginação" com as ofensas de cunho sexual à jornalista.

O deputado David Miranda disse que as declarações de Bolsonaro causam "vergonha à cadeira da Presidência".

Veja as notas na íntegra:

Sindicato repudia ataque misógino de Bolsonaro a jornalista
Por Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo

O presidente da República, Jair Bolsonaro, agrediu verbalmente, hoje pela manhã, a repórter Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo. Não foi a primeira vez. Desta feita, Bolsonaro utilizou diferentes sentidos da palavra "furo" para atacar a jornalista, com trocadilho típico dos porões e de ambientes do submundo.

Começa a parecer inútil difundir notas de repúdio a cada vez que o ocupante de turno do Palácio do Planalto emite sandices. Já está patente que o atual governo é inimigo declarado da liberdade de imprensa e do jornalismo. No primeiro ano de seu mandato, segundo contagem feita pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Bolsonaro proferiu 116 ataques à imprensa. O levantamento não se refere a contestações ou declarações nas quais diverge de partes do noticiário; contabiliza apenas as agressões verbais e xingamentos dirigidos a jornalistas, órgãos noticiosos ou à imprensa em geral, nos quais Bolsonaro tem se mostrado pródigo.

Nos ataques à repórter Patrícia Campos Mello, Bolsonaro expressa de forma abjeta e repugnante a misoginia que caracteriza o ambiente que o cerca. E, com orgulho, registramos que nossa categoria profissional é hoje majoritariamente feminina. Por isso, suas declarações deste 18 de fevereiro de 2020 merecem o nosso repúdio ainda mais enfático.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo considera que Bolsonaro vem passando da esfera da grosseria e da desqualificação, que o caracteriza desde o início do mandato, para práticas de ainda maior gravidade. Ao realizar hoje um ato que pode ser qualificado como injúria, torna-se passível de responsabilização criminal. O presidente da República não está acima das leis, e sua conduta indigna - sobretudo em se considerando o cargo que ocupa, que exige decoro - não pode permanecer impune.

São claros os motivos pelos quais Bolsonaro ataca a repórter Patrícia Campos Mello. Suas reportagens, publicadas em outubro de 2018, mostraram que a campanha do então candidato do PSL havia feito uso de mecanismos de fraude e manipulação para adulterar o curso das eleições presidenciais. A jornalista realizou um trabalho impecável, que trouxe a público elementos de contestação da legitimidade da eleição de Bolsonaro. Com seus pés de barro, o atual mandatário não suporta conviver com a atividade de imprensa. E, a cada dia, suas atitudes corroboram, por si só, a inadequação de sua presença na chefia do Poder Executivo do país.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo manifesta todo o seu apoio à repórter Patrícia Campos Mello e se coloca, novamente, à disposição, para todas as providências legais cabíveis. O Sindicato e a Fenaj iniciaram conversas, também, com outras entidades de defesa da democracia e da liberdade de imprensa no Brasil para debater ações conjuntas que possam ser tomadas com o objetivo de estancar esses ataques covardes e punir o seu autor.

São Paulo, 18 de fevereiro de 2020

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Abraji e Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB repudiam ataque machista de Bolsonaro a repórter da Folha de S. Paulo

A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e o Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) prestam solidariedade à repórter Patricia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, que nesta terça-feira (18.fev.2020) foi novamente atacada pela família Bolsonaro, dessa vez pelo próprio presidente da República.

A Abraji e a OAB repudiam veementemente a fala do presidente. O desrespeito pela imprensa se revela no ataque a jornalistas no exercício de sua profissão.

Na manhã desta terça, durante conversas com jornalistas em frente ao Palácio da Alvorada, o presidente deu a entender que a jornalista Patricia Campos Mello teria se insinuado sexualmente para conseguir informações sobre o disparo de mensagens em massa durante a campanha eleitoral de 2018.

A ofensa propagada por Jair Bolsonaro faz referência ao depoimento de um ex-funcionário de uma empresa de marketing digital dado à CPMI das Fake News, no Congresso. Ao ser ouvido por congressistas, Hans River do Rio Nascimento afirmou que a repórter especial da Folha de S. Paulo ofereceu-se sexualmente em troca de informação.

Naquele mesmo dia (11.fev.2020), o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, replicou o absurdo em falas públicas e nas redes sociais. A Abraji se manifestou sobre a tentativa de abalar a honra de uma das mais respeitadas profissionais do país. Outras mobilizações espontâneas da sociedade, incluindo a OAB, também condenaram a ação de um agente público contra profissionais de imprensa.

Com sua mais recente declaração, Bolsonaro repete as alegações que a Folha já demonstrou serem falsas. Na mesma entrevista, Bolsonaro chegou a dizer aos repórteres que deveriam aprender a interpretar textos, assim ofendendo todos os profissionais brasileiros, não apenas a repórter da Folha. As declarações foram transmitidas ao vivo na página de Bolsonaro no Facebook.

Em nota, a Folha de S. Paulo repudiou o episódio. "O presidente da República agride a repórter Patrícia Campos Mello e todo o jornalismo profissional com a sua atitude. Vilipendia também a dignidade, a honra e o decoro que a lei exige do exercício da Presidência", diz trecho do texto.

Os ataques aos jornalistas empreendidos pelo presidente são incompatíveis com os princípios da democracia, cuja saúde depende da livre circulação de informações e da fiscalização das autoridades pelos cidadãos. As agressões cotidianas aos repórteres que buscam esclarecer os fatos em nome da sociedade são incompatíveis com o equilíbrio esperado de um presidente.

Diretoria da Abraji e Observatório da Liberdade de Imprensa da OAB, 18 de fevereiro de 2020.

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Nota de apoio à jornalista Patrícia Campos Mello

A Fundação Padre Anchieta - Rádio e TV Cultura vem a público reafirmar seu apoio à jornalista Patrícia Campos Mello, sua colaboradora, diante da repetição dos ataques abjetos de que tem sido vítima nos últimos dias. Certamente as investidas são diretamente proporcionais à qualidade do trabalho que fez dela a jornalista mais premiada de sua geração, apontada como Personalidade do Ano de 2018 pela mais importante revista semanal do planeta, Time, exatamente como vítima de ameaças que são dirigidas a ela, mas também ao jornalismo e à democracia no Brasil.

É uma pena que a agressão mais recente, de conotação sexual, tenha sido desferida pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, que assim desrespeita o cargo que exerce.

 

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