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Migalhas da História - Especial Independência

Criação de cursos jurídicos integra processo de Independência do país

Academias de Olinda e São Paulo, criadas em 1827, tiveram papel fundamental para o desenvolvimento intelectual do Brasil.

Da Redação

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Atualizado às 11:05

A criação dos cursos jurídicos no Brasil foi parte importante do processo de Independência do país com relação a Portugal, e foi fundamental para o desenvolvimento intelectual do país. 

Saíram dessas Academias os responsáveis por formarem as leis e operarem a máquina estatal nos anos que se seguiriam: futuros parlamentares, estadistas, magistrados, advogados, juristas, diplomatas e literatos da nova nação que se formava.

 (Imagem: Arte Migalhas)

(Imagem: Arte Migalhas)

Outorgada a primeira Constituição, em 1824, era bem o momento de o Brasil ter suas próprias academias de estudos jurídicos. Com efeito, se o Brasil pretendia emancipar-se de Portugal, deveria fazê-lo por completo, até mesmo intelectualmente. 

Até o início do século 19, o brasileiro que quisesse estudar Direito precisava ir até Portugal, frequentar a Faculdade de Direito de Coimbra. Após a independência, os brasileiros passaram a ser discriminados. 

A proposta de criação do curso jurídico no Brasil foi feita pelo deputado José Feliciano Fernandes Pinheiro, o então Visconde de São Leopoldo, e apresentada à Assembleia Constituinte. Ele escreveria, mais tarde, em suas memórias:

"Ao tempo deste meu ministério pertence o ato que reputo o mais glorioso de minha carreira política, e que me penetrou do mais íntimo júbilo que pode sentir o homem público no desempenho de suas funções. Refiro-me à instalação dos dois cursos jurídicos de São Paulo e Olinda, consagração definitiva da idéia que eu aventara na Assembléia Constituinte."

 (Imagem: Reprodução)

José Feliciano Fernandes Pinheiro(Imagem: Reprodução)

A primeira tentativa de instalação dos cursos jurídicos ocorreu em 1823, e determinava o imediato estabelecimento dos cursos, que seriam regidos, provisoriamente, pelo Estatuto da Universidade de Coimbra. Embora o projeto tenha sido aprovado em novembro daquele ano, a Assembleia acabou dissolvida por D. Pedro I. O que se viu, no entanto, é que havia consciência dos legisladores sobre a importância do Direito para a consolidação de um Estado soberano. 

Uma segunda tentativa teria ocorrido em 1825, quando um decreto do imperador criava provisoriamente um curso jurídico no Rio de Janeiro. A pretensa academia seria instalada em São Sebastião do Rio de Janeiro, com a cooperação do Marquez de Inhambupe, então Ministro do Império. A ideia assumiu ares de vitória, tanto que o Visconde de Cachoeira chegou a organizar os estatutos para aquela projetada Academia. Mas a instalação sofreu obstáculos do Conselho de Estado da época. 

Com efeito, tornou-se finalmente oficial a criação dos primeiros cursos jurídicos brasileiros em 11 de agosto de 1827, após aprovação na Assembleia e sanção por D. Pedro. 

 (Imagem: Arte Migalhas)

Trecho da Lei do 11 de agosto(Imagem: Arte Migalhas)

As cidades escolhidas teriam como prioridades o transporte, clima, comércio e até o linguajar do local. Foram escolhidas São Paulo, cuja academia deu origem à Faculdade de Direito da USP, e Olinda, que se tornaria a Faculdade de Direito do Recife da UFPE.

Chegaram a ser cotados o Rio de Janeiro, Bahia e Minas. Na disputa pela escolha da melhor localidade, destacou-se a argumentação do deputado Luís José de Carvalho e Mello, o Visconde de Cachoeira :

"A cidade de S. Paulo é muito próxima ao porto de Santos, tem baratos viveres, tem clima saudável e moderado e é muito abastecida de gêneros de primeira necessidade, e os habitantes das Províncias do sul, e do interior de Minas, podem ali dirigir os seus jovens filhos com comodidade.

O estabelecimento da outra em Olinda apresenta semelhantes circunstâncias, e é a situação apropriada para ali virem os estudantes das Províncias do Norte".1

Os mesmos estatutos escritos para a academia do RJ seriam aproveitados, e regeriam os Cursos Jurídicos de Olinda e S. Paulo até março de 1832.

A criação seria um grande passo para o desenvolvimento da vida intelectual do país. 


Academias em funcionamento

Até o projeto da instalação dos cursos sair do papel, demorou ainda mais um tempo: a inauguração, em São Paulo, se daria em 1° de março de 1828, sob as arcadas do convento de São Francisco. A primeira turma teria 33 estudantes. 

Só em 1853 o curso se tornaria a Faculdade de Direito de SP. Na década de 30, no lugar do antigo convento, foi construído amplo edifício para abrigar a faculdade.

 (Imagem: Cartão Postal, Edição Malusardi)

Convento de São Francisco(Imagem: Cartão Postal, Edição Malusardi)

Já o curso de Olinda teria se iniciado em 15 de maio de 1828, no Mosteiro de São Bento, com a matrícula de 42 estudantes. As aulas tiveram início em 2 de junho do mesmo ano, e a primeira turma de bacharéis de Olinda colou grau em 1832.

 (Imagem: Autor desconhecido)

Mosteiro de São Bento(Imagem: Autor desconhecido)

Dessas faculdades saíram nomes como Ruy Barbosa, Graça Aranha, Castro Alves, Epitácio Pessoa, Assis Chateaubriand, Gonçalves Dias, Joaquim Nabuco, Oswald de Andrade, e tantos outros.

Outro nome importante é Maria Augusta Saraiva, primeira mulher a ingressar na Faculdade do Largo de São Francisco, em 1897. Além de vencer os preconceitos da época, foi destaque durante o curso e ganhou uma viagem à Europa como recompensa. É, também, a primeira mulher homenageada com um busto no Tribunal de Justiça de São Paulo.

Referências

Livro "Memórias para a História da Academia de São Paulo", de Spencer Vampré | Sites: Migalhas, TJ/RJ, TJ/SP, TRT-8 e jus.com.br


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