Gramatigalhas

Crase antes de nomes de localidades

Crase antes de nomes de localidades. O professor José Maria da Costa esclarece.

12/5/2010

O leitor André Luís de Souza envia a seguinte mensagem ao Gramatigalhas:

"No Migalhas de 12/5/09, encontramos o seguinte trecho: 'Como dizem os antigos, não se vai à Franca, sobe-se à Franca do Imperador.' Está correto o uso da crase nos dois casos?"

1) Um leitor indaga se está correto o emprego do acento indicador da crase no seguinte exemplo: "Como dizem os antigos, não se vai à Franca, sobe-se à Franca do Imperador."

2) Ora, a indagação busca saber a respeito do uso de crase antes dos nomes de localidades, quando vêm precedidos de um a.

3) Nessas hipóteses, alguns aspectos devem ser analisados: I) Verifica-se, de início, se a palavra que precede esse a exige a preposição a. II) Se essa palavra precedente não exige tal preposição, não há crase; assim, por exemplo, "Visitei a Bahia" (o verbo visitar é transitivo direto e não exige complemento precedido de preposição – quem visita, visita algo ou alguém). III) Se, porém, a palavra precedente exige a preposição a, deve-se continuar o raciocínio, trocando-se mentalmente a preposição da frase por outra diferente (o que se consegue, muitas vezes, trocando o próprio verbo, como ir por voltar). IV) Se, operada essa troca, surge, na combinação, um artigo feminino, então há crase no exemplo originário; assim, diz-se "Vou à Bahia", porque se fala "Volto da Bahia". V) Se, porém, feita a troca, não surge na combinação artigo algum, então não há crase; assim, diz-se "Vou a Roma", porque se fala "Volto de Roma". VI) Diz-se, porém, "Vou à Roma dos césares", porque se fala "Volto da Roma dos césares".

4) Em tais casos de nomes de localidades, simbolizando no verbo ir todos aqueles que exigem construção com a preposição a, pode-se memorizar a questão com a seguinte quadra: "Se vou a e volto da, / Nesse caso crase há; / Se vou a e volto de, / Usar crase, para quê?"

5) De modo específico para os exemplos da consulta, a troca dos verbos dá o seguinte resultado: "Volto de Franca" e "Volto da Franca do Imperador". Assim, a forma correta do exemplo seria: "Como dizem os antigos, não se vai a Franca, sobe-se à Franca do Imperador".

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.