Marizalhas

Como sofrem os e as avós !

4/7/2011

Quando se anuncia a chegada de uma nova criança na família, sentimentos fortes tomam conta de todos. Entre a alegria e a apreensão surge a curiosidade. Como será quem virá? A primeira indagação refere-se ao sexo. E outras vão surgindo com o passar do tempo.

Atualmente, já se pode saciar em parte essa curiosidade, antes mesmo do nascimento. Um belo dia, fui surpreendido com a foto da minha neta Maria Clara, que ainda estava para nascer. Perguntarão os menos atualizados, especialmente os da minha geração: como há foto de quem ainda não veio? E, realmente, o espanto ocorreu com um querido amigo e compadre, Carlos Miguel Castex Aidar. Contei-lhe que a foto de Maria Clara estava sobre a minha mesa. Ele me perguntou se era a foto de uma amiga comum, Maria Clara Gozzoli. Disse-lhe que era a da minha neta. Surpreso, indagou se ela já havia nascido. Diante da negativa, entre incrédulo e confuso, perguntou-me: se não nascera como poderia ter foto? Seu assombro, segundo explicou, residia no fato de não entender como a máquina fotográfica poderia captar a imagem da neta se ela ainda estava protegida pelo útero materno...

Mas, se os avanços tecnológicos nos deixam perplexos e ao mesmo tempo encantados, é fascinante observar-se a reação e o comportamento de todos aqueles que esperam o nascimento de uma criança. Não se espantem, pois esperar uma criança não é privilégio exclusivo da mãe. A espera é compartilhada com várias outras pessoas. Claro que ela é o alvo maior das atenções e das preocupações. Seus desejos e caprichos, quase sempre incomuns, de difícil satisfação e manifestados nas horas mais impróprias, devem ser de pronto satisfeitos. Eu sei: ela é a mãe, traz no ventre o novo ser, mas digo e repito há outros que esperam juntos e também merecem respeito e cuidados.

O pai, por acaso também não sofre, não se angustia, não sente também dores? Não as do parto, mas quantas dores surgem durante os nove meses, em partes do corpo antes não doloridas? Quanto aos desejos, ele também os tem, só que não há quem os satisfaça. Se a mulher tem a responsabilidade de dar à luz uma criança, quem tem a aterrorizante obrigação de conduzir a mãe e o nascituro (eta nominho feio) para a maternidade? Uma vez lá, tem duas alternativas: ou assistir ao parto, com reais riscos de dar mais trabalho aos médicos do que a parturiente, ou ficar andando de um lado para o outro no corredor frio, escuro e solitário do hospital. Após o nascimento, os carinhos até então exclusivos para a mãe são transferidos para o nenê. Ele, bem ele continua à margem, quando muito lembrado pelos amigos para pagar umas rodadas ou para fumar um charuto. Aliás, duas atividades hoje de difícil execução.

E os avós. Ah! Os avós. Ninguém, rigorosamente ninguém, pensa nos avós, no apuro pelo qual eles passam. O pai sofre, mas sofre estando perto. Os avós não, eles estão longe, em suas casas. Sofrimento mudo, distante, sem queixas. Aliás, o sofrimento avoengo antecede o dos pais. Logo após a união, eles perguntam um ao outro: será que já há novidade? Indagação que fica entre quatro paredes. Os avós são os indagadores e os indagados. Não questionam os filhos para que eles não se sintam pressionados. Não se conversa sobre o assunto que vai se transformando em tabu, na medida em que o tempo passa. Com os outros avós então, nem em pensamento se faz referência às novidades que tanto se espera e que não são anunciadas.

Ademais, se os avós, paternos e maternos, conversarem sobre o tema, logo virá a desconfiança sobre de quem é a culpa pela ausência da boa nova. Aliás, esta sempre será do genro ou da nora e não do seu rebento.

E, tome sofrimento. Mas essa etapa passa. Outras virão, até o nascimento. Depois do nascimento, ocasião em que a confraternização é geral, lacrimosa e etílica, voltam as angustias, que, aliás, estiveram presentes durante os nove meses. Quando no dia do parto, se tiver havido a infelicidade de uns avós terem sido avisados e chamados antes dos outros, estes se sentirão alijados, postos de lado, malqueridos e a mágoa ser duradoura (será?).

Claro que estou falando genericamente. Não é com todos os avós que isso ocorre. No entanto, por uma razão ou por outra, que eles sofrem eles sofrem. Os sofrimentos são provocados por "ciúmes" dos outros avós; pela ausência do neto ou neta naquele fim de semana; por não serem seguidos os seus conselhos e por tantas e tantas outras "relevantes" razões. A sorte é que as mágoas e as queixas migram, de uns para outros avós e acabam indo para o limbo do esquecimento.

Aflições, tristezas, pequenas discórdias, "ciúmes", e coisinhas que tais, são substituídos pelo verdadeiro estado de graça e pelo sentimento de eternidade que o nascimento e a vida de um neto ou de uma neta nos proporcionam.

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Colunista

Antonio Cláudio Mariz de Oliveira é advogado.