Francisco Petros*
Crescimento estatístico e crescimento sustentado
Mesmo assim não devemos esquecer que as estatísticas merecem qualificações e que estas são extremamente importantes para que possamos entender os fatos e os fenômenos econômicos. No caso do PIB a dois aspectos muito importantes a serem avaliados.
O primeiro aspecto diz respeito ao fato de que estamos num processo de recuperação que é beneficiado pela existência de capacidade ociosa na economia. Ou seja, o crescimento do PIB está se aproximando da capacidade de produção num ambiente econômico mais tranqüilo na economia brasileira, bem como favorecido por uma conjuntura externa excelente. As exportações puxaram o crescimento industrial, o que tem sido muito positivo do ponto de vista do crédito externo, e a agricultura mostra-se o setor mais dinâmico da economia brasileira. Tanto na indústria quanto na agricultura o “fator China”, com sua economia excepcionalmente forte e uma demanda por importações imprevista pesaram favoravelmente. Como já mencionamos em um artigo específico sobre a China há uma enorme probabilidade da economia chinesa apresentar uma desaceleração importante (de um crescimento de 10% ao ano para algo em torno de 6%), mesmo que estas taxas de crescimento continuem muito altas em comparação à média mundial.
A questão fundamental para que o crescimento brasileiro seja sustentado é que a taxa de investimentos suba, especialmente nos setores de infra-estrutura (rodovias, ferrovias, energia, etc). Atualmente ela gravita em torno de 18% do PIB. Para que o crescimento permaneça acima de 5% ao ano esta taxa tem de subir para um patamar de 21% a 22% do PIB. Para isso, depende de confiança que atrai poupança interna e externa. A poupança interna depende da taxa de juros doméstica. A poupança externa depende da taxa de juros internacional. A taxa de juros doméstica está amarrada por um sistema de metas de inflação duvidoso do ponto de vista técnico e a taxa de juros externa depende do andamento da política monetária dos EUA, cujos sinais são de aperto, mas não se sabe a velocidade e intensidade da alta da taxa primária a ser promovida pelo Federal Reserve. Há ainda, no âmbito doméstico, aspectos relacionados à regulação, a chamada “agenda microeconômica”. Ou seja, leis e regulamentações que dêem confiança aos investidores.
O segundo aspecto está relacionado à recuperação do consumo. Para tanto, é preciso que o emprego aumente e/ou os salários e/ou haja uma expansão do crédito. Bem, os últimos números de emprego são claros mesmo que o governo - com a sua capacidade inequívoca de influenciar a opinião pública - tenha conseguido minimizar a tragédia na qual o país está metido. O desemprego, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), atingiu o seu recorde histórico. Há 2,8 milhões de pessoas desempregadas, 13,1% da mão-de-obra. Na região metropolitana de São Paulo, o desemprego está acima de 20%. O próprio IBGE informa que a recuperação do emprego apenas virá se o crescimento do PIB for de 5% e de forma sustentada. Ora, acreditar que os salários podem subir num contexto como esse é o mesmo que acreditar que existem armas de destruição em massa no Iraque. Mesmo assim, ambas as teses ainda têm ardorosos defensores com eco na imprensa.
No que se refere ao crédito, os últimos dados disponibilizados pelo Banco Central (BC) mostram que há mais de cinco anos, o volume de crédito está estagnado. O volume de crédito dividido pelo PIB oscila entre 24% e 27% do PIB (o último dado de abril é 26%). Quanto às taxas de juros, estas falam por si mesmas: 44,7% ao ano para pessoas físicas e 29,9% ao ano para pessoas jurídicas. No caso do crédito, as medidas governamentais para reduzir as taxas de juros estão relacionadas com a melhoria da legislação que facilita a recuperação de créditos (como a Lei das Falências) que, segundo os especialistas, expande a taxa de risco (spread) do sistema financeiro. Os problemas relacionados com a tributação da intermediação financeira não são atacados. Há ainda, uma eventual concentração bancária que impede uma maior concorrência no sistema. De qualquer maneira a conclusão no que tange ao crédito é simples: a sua reativação depende da queda da taxa de desemprego e taxas de juros acessíveis. A observação e a análise dos aspectos relacionados ao crédito não são promissores, pois não há evidências de que as variáveis neste segmento estão melhorando.
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