Porandubas Políticas

Porandubas nº 416

A corrida eleitoral chega ao seu final com registro de alguns fenômenos e situações inusitadas.

1/10/2014

Abro a coluna com uma historinha de advogado.

Pequena doação

Uma instituição de caridade nunca tinha recebido uma doação de um dos advogados mais ricos da cidade. O diretor da instituição decidiu ele mesmo falar com o advogado :

- Nossos registros mostram que o senhor ganha mais de R$ 300.000,00 por ano e, assim mesmo, o senhor nunca fez uma pequena doação para nossa caridade.

- O senhor gostaria de contribuir agora ?

O advogado respondeu :

- A sua pesquisa apurou que minha mãe está muito doente e que as contas médicas são muito superiores a renda anual dela ?

- Ah, não ! - murmurou o diretor.

- Ou que meu irmão é cego e desempregado ? - continuou o advogado.

O diretor nem se atreveu a abrir a boca.

- E ainda, que o marido da minha irmã morreu num acidente e deixou ela sem um tostão e com cinco filhos menores para criar ? - resmungou o advogado com ar de indignação.

O diretor, sentindo-se humilhado, retrucou :

- Desculpe, eu não tinha a menor ideia de tudo isso...

- Então, se eu não dou um tostão para eles, por que iria dar para vocês ?

E assim, o advogado fechou a conversa.

(Enviado pelo amigo Luis Costa)

Ufa, chegando ao final

A corrida eleitoral chega ao seu final. Com registro de alguns fenômenos e situações inusitadas : 1. A campanha mais imprevisível dos últimos tempos ; 2. A campanha mais feroz e com linguagem mais agressiva ; 3. Possibilidade de um candidato ultrapassar uma adversária nos últimos dias ; 4. A possibilidade da candidata à reeleição Dilma Rousseff ganhar no primeiro turno ; 5. A indicação de que, mesmo ganhando a presidência da República, o PT sairá deste pleito menor do que entrou ; 6. A visão de que os tucanos, mesmo ganhando no maior colégio eleitoral do país - SP - também sairão menores do pleito ; 7. A surpresa de ver o PT registrando um teto de voto em SP muito inferior ao seu patamar histórico. São sinais de que as coisas estão mudando.

Linguagem ferina

A agressividade da campanha chama a atenção. A chamada campanha negativa, com foco na desconstrução da imagem de Marina Silva, deu resultados. Marina aparecia como um perfil sagrado, intocável em sua ética e moral, crível, encarnando a nova política. Um perfil exótico, com seu timbre agudo de voz, vestes suaves, cabelo em coque, Marina parecia uma fortaleza imbatível. Ou, como diria La Fontaine, um caniço, no deserto, que se dobra ao vento mas não se quebra, "um roseau pensant". O tiroteio sobre sua imagem, que chega aos finais da campanha com a trombeta de que ela votou contra a CPMF, acabou esfarelando suas possibilidades. No debate do domingo passado, viu-se seu abatimento.

Aécio correndo

Sob esse bombardeio incessante, o tucano Aécio Neves corre para ultrapassar Marina nesses últimos dias. Mas essa final de reta, digamos assim, tem alguns obstáculos. Aécio carece mostrar força em seu Estado, MG, onde seu candidato, Pimenta da Veiga, ameaça perder em primeiro turno para o petista Fernando Pimentel. E ele mesmo, Aécio, precisa chegar perto de Dilma e ultrapassar Marina no segundo maior colégio eleitoral do país. Em SP, subiu seis pontos nas últimas semanas. Se conseguir segurar esta tendência, é possível que no domingo, 5/10, adentre os portões do segundo turno.

E Dilma, hein ?

Pois é, Dilma está na faixa dos 40%. Se subir mais quatro pontinhos até domingo, tirando de Marina e deixando Aécio onde está, Dilma chegará aos 45%, com Marina descendo para 21% e Aécio se mantendo em 20%/21%, ou seja, deixando a candidata petista com pequena margem na frente de todos os candidatos. Seria uma vitória no primeiro turno. Possibilidade ? 30%. E 70% de ocorrência do segundo turno. Impressionante : a esta altura, nem os melhores adivinhos conseguem ver as coisas claras em suas brilhantes bolas de cristal.

A raposa e o leão

Atenção : "Um príncipe precisa usar bem a natureza do animal ; deve escolher a raposa e o leão, porque o leão não tem defesa contra os laços, nem a raposa contra os lobos. Precisa, portanto, ser raposa para conhecer os laços e leão para aterrorizar os lobos". Conselho do velho Maquiavel. Que arremata : "Não é necessário ter todas as qualidades, mas é indispensável parecer tê-las".

PT e PSDB menores

O PT fará um numero menor de governadores do que o alcançado em 2010. Deverá fazer quatro governadores (PI, MG, MS e AC). Pode, até, chegar a cinco, com Tasso Genro ganhando no RS para a senadora Ana Amélia, do PP. Mas não fará as bancadas na Câmara e no Senado com os números que pregava. E sairá chamuscado no maior colégio eleitoral do país, SP, onde a rejeição ao PT ultrapassa o índice de 30%. O PSDB, mesmo ganhando SP, mas perdendo a eleição Federal, deverá diminuir sua cota no Senado e na Câmara. Passará mais uma temporada Federal na oposição e poderá assistir a uma debandada de tucanos rumo a outras florestas.

Seca e Alckmin ?

Perguntam-me a razão pela qual Geraldo Alckmin navega tão bem pela seca que atinge SP ? Ou seja, porque a falta d'água nas torneiras não seca os votos do candidato Alckmin ? Esboço uma resposta : os eleitores tendem a considerar São Pedro como o culpado ; o argumento de falta de investimentos em obras de captação e represamento é coisa abstrata para as margens sociais ; a polarização entre PT e PSDB tem seu maior índice em SP, o que insere o PT na maior taxa de rejeição (ultrapassando 30%) ; os votos de classe média, por aqui, são racionais e inclinam-se para Alckmin ; o voto emotivo decresce ; o prefeito Haddad não tem sido bem avaliado, funcionando como um anti-cabo eleitoral do PT.

Barbosa sem carteira ?

Joaquim Barbosa, até meses atrás poderoso chefe da mais alta Corte do Judiciário brasileiro, acaba de ver negado seu pedido para ter de volta sua carteira de advogado. Quem deu parecer contrário foi Ibaneis Rocha, presidente da OAB/DF. Mas o parecer será submetido à Comissão de Seleção da subsecional da Ordem. Que coisa, hein ?

Quem ganha ?

O PMDB deverá ser o partido com os maiores ganhos do pleito. Fará a maior bancada de governadores, a maior bancada de senadores, a de deputados estaduais e a segunda maior bancada de deputados Federais.

Pulverização

As Casas Congressuais terão uma nova Legislatura com bancadas mais pulverizadas. Na Câmara, 28 siglas deverão se fazer representar. O numero era de 22.

PT em SP

Se Alexandre Padilha não ultrapassar os dois dígitos de votos em SP será protagonista da maior derrota do PT em SP em todos os tempos.

Candidatos na dianteira : Senado

Hoje, a posição na dianteira é esta : região Sudeste - José Serra, PSDB/SP ; Antônio Anastasia, PSDB/MG ; Romário, PSB/RJ ; Rose de Freitas, PMDB/ES. Região Sul - Álvaro Dias, PSDB/PR ; Dario Berger, PMDB/SC ; e Olívio Dutra, PT/RS. Região Centro-Oeste - Reguffe, PDT/DF ; Ronaldo Caiado, DEM/GO ; Simone Tebet, PMDB/MS ; e Wellington Fagundes, PR/MT ; Região Norte - Omar Aziz, PSD/AM ; Paulo Rocha, PT/PA ; Kátia Abreu, PMDB/TO ; José de Anchieta, PSDB/RR ; Acir Gurgacz, PDT/RO ; Gilvan Borges, PMDB/AP ; Gladson Cameli, PR/AC. Região Nordeste - João Paulo, PT/PE ; Tasso Jereissatti, PSDB/CE ; Geddel Vieira, PMDB/BA ; Fernando Collor, PTB/AL ; Roberto Rocha, PSB/MA ; Wilson Martins, PSB/PI ; Maria do Carmo, DEM/SE ; Fátima Bezerra, PT/RN e José Maranhão, PMDB/PB.

Encerrando um ciclo

Esta campanha fecha um ciclo de vida política no país. É pouco provável que tenhamos, em 2018, uma eleição nos moldes eleitorais desta. A previsão é a de que os políticos mudarão as regras. Para evitar o suicídio. Há muito tempo para a conferição deste cenário.

Nascimento premiado

Fundador da Nascimento Turismo e presidente do Sindetur-SP, Eduardo Vampré Nascimento receberá no dia 5/11, durante a WTM 2014, em Londres, o prêmio WTM Global Awards pela contribuição ao desenvolvimento e crescimento do Turismo no país. A homenagem faz parte de uma iniciativa do M&E, veículo media partner oficial da WTM no Brasil : "A notícia veio como uma surpresa muito agradável. É extremamente emocionante ser homenageado por uma entidade como a WTM. Espero que este prêmio sirva para encorajar outras pessoas do setor turístico a buscar e se dedicar, cada vez mais, ao desenvolvimento da atividade dentro e fora do país", diz Nascimento.

Simples complicado

A partir de 2015, mais de 140 atividades econômicas, equivalente a 500 mil empresas, poderão aderir ao novo Simples Nacional, sancionado recentemente pela presidente Dilma Rousseff, e que aperfeiçoa a Lei Geral da Micro e da Pequena Empresa. O objetivo é unificar impostos Federais, estaduais e municipais. Sérgio Approbato Machado Júnior, presidente do Sescon-SP, acredita que os avanços do novo Simples representam uma vitória, no entanto, os limites de enquadramento continuam baixos e a existência de uma nova tabela, com alíquota variando de 16,93% a 22,45%, impedem que o regime tenha amplitude maior. "Se não houver uma revisão destes números, aderir ao Simples pode não ser um bom negócio". Micro e pequenas empresas representam 20% do PIB brasileiro, respondem por 60% dos 94 milhões de empregos no país e constituem 99% dos seis milhões de estabelecimentos formais do país.

A viabilidade de um político

Carlos Matus, cientista social chileno, em um magistral estudo sobre Estratégias Políticas, demonstra que a viabilidade de um ator na política tem muito que ver com a estratégia e seus princípios fundamentais. Eis alguns princípios : a)Avaliar a situação ; b) Adequar a relação recurso/objetivo ; c) Concentrar-se no foco ; d) Planejar rodeios táticos e explorar a fraqueza do adversário ; e) Economizar recursos ; f) Escolher a trajetória de menor expectativa ; g) Multiplicar os efeitos das decisões ; h) Relacionar estratégias ; i) Escolher diversas possibilidades ; j) Evitar o pior ; k) Não enfrentar o adversário quando ele estiver esperando ; l) Não repetir, de imediato, uma operação fracassada ; m) Não confundir "reduzir a incerteza" com "preferir a certeza" ; n) Não se distrair com detalhes insignificantes ; o) Minimizar a capacidade de retaliação do adversário.

A classe média, Colbert !

A política é um eterno retorno. Vejam este diálogo entre Colbert e o Cardeal Mazzarino, durante o reinado de Luís XIV, na peça teatral Le Diable Rouge, de Antoine Rault :

Colbert : Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, senhor superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até o pescoço.

Mazzarino : Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas, vai parar na prisão. Mas o Estado é diferente ! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se. Todos os Estados o fazem !

Colbert : Ah, sim ? Mas como faremos isso, se já criamos todos os impostos imagináveis ?

Mazzarino : Criando outros.

Colbert : Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazzarino : Sim, é impossível.

Colbert : E sobre os ricos ?

Mazzarino : Os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres.

Colbert : Então como faremos ?

Mazzarino : Amigo Colbert ! Tu pensas como um queijo, um penico de doente ! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres : as que trabalham sonhando enriquecer e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos. Cada vez mais, sempre mais ! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a classe média !

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.