Migalhas de Peso

Cidadania portuguesa e italiana: Implicações fiscais e patrimoniais

Descubra as implicações fiscais e patrimoniais da cidadania portuguesa e italiana para brasileiros e saiba como proteger seu patrimônio no exterior.

13/6/2025

O número de brasileiros que conquistam a cidadania portuguesa, italiana e de outros países europeus cresce de forma exponencial. Segundo dados do Itamaraty, mais de 4 milhões de brasileiros vivem oficialmente no exterior, e boa parte deles já possui ou está em vias de obter dupla cidadania.

O que muitos não consideram, porém, é que esse novo status jurídico pode acarretar importantes consequências fiscais, sucessórias e patrimoniais - tanto no país de residência, quanto no Brasil e na União Europeia.

Neste artigo, você vai entender:

O que muda ao obter cidadania portuguesa ou italiana?

Ao adquirir cidadania estrangeira, o brasileiro passa a ter deveres fiscais e sucessórios no país concedente, especialmente se:

Exemplos:

A ausência de planejamento adequado pode gerar:

Implicações fiscais: Riscos e oportunidades

Tributação global

Na maioria dos países europeus (incluindo Portugal e Itália), residentes fiscais são tributados sobre a totalidade de seus rendimentos e heranças, estejam onde estiverem.

Se um brasileiro com cidadania portuguesa mora em Lisboa e mantém imóveis no Brasil:

Sem um planejamento internacional, ocorre bitributação, já que Brasil não possui tratados para evitar dupla tributação de herança com Portugal ou Itália.

Impostos sobre herança e doação

País

Imposto sobre herança

Alíquota

Isenção

Portugal

Imposto de selo (Stamp Duty)

10% sobre bens móveis e imóveis

Isenção para cônjuges, filhos e netos

Itália

Imposta di successione

De 4% a 8% dependendo do grau de parentesco

Isenção até €1 milhão para herdeiros diretos

Atenção:

Em ambos os países, se o bem estiver no Brasil, o imposto pode ser cobrado sobre o valor global ou via procedimentos de reconhecimento de herança.

Planejamento patrimonial para brasileiros com cidadania europeia

1. Holding Familiar internacional

Permite centralizar bens e investimentos em uma estrutura jurídica neutra (como Panamá, Malta ou Emirados Árabes), reduzindo o impacto de impostos sucessórios e evitando múltiplos inventários.

2. Testamento internacional

Viabiliza a eleição da legislação aplicável e facilita o inventário em países com regras rígidas de legítima (como Portugal e Itália).

3. Trust ou fundos patrimoniais

Protegem bens no exterior e no Brasil contra impostos sucessórios europeus, garantindo distribuição controlada e planejamento fiscal eficiente.

4. Seguro de vida internacional

Evita bloqueios judiciais e oferece liquidez imediata para herdeiros que residem em diferentes países.

5. Renúncia à cidadania ou planejamento de domicílio fiscal

Em casos específicos, manter a cidadania brasileira sem assumir residência fiscal no exterior pode reduzir a exposição tributária.

Sucessão internacional e cláusula de eleição de lei

A Convenção de Haia de 2015 (aplicável em Portugal e outros países europeus, mas não ratificada pelo Brasil) permite que a pessoa disponha, em testamento, qual legislação deseja aplicar à sua sucessão.

Exemplo:

No Brasil, a LINDB - lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro determina que:

Sem testamento ou convenção, cada país aplicará sua regra.

Conclusão

A conquista da cidadania portuguesa, italiana ou europeia abre portas, mas também traz obrigações e riscos patrimoniais relevantes.

Se não houver um planejamento patrimonial e sucessório internacional personalizado, os herdeiros podem:

A solução está em:

Um bom planejamento evita prejuízos e garante segurança jurídica à família.

5 FAQs

1 - Terei que pagar imposto de herança na Europa mesmo se o bem estiver no Brasil?

Sim, dependendo do país de residência fiscal e valor do patrimônio.

2 - Como evitar bitributação na herança?

Com testamento internacional, holding familiar e planejamento fiscal.

3 - Posso escolher a lei brasileira para a sucessão de meus bens?

Sim, via testamento com cláusula de eleição de lei.

4 - Qual a melhor estrutura para proteger patrimônio em múltiplos países?

Holdings internacionais, trusts e fundos patrimoniais.

5 - Seguro de vida internacional é tributável?

Em geral, não compõe o inventário e evita tributos sucessórios, mas depende da legislação local.

Jardson Bruno Barros de Souza
Advogado de destaque e sênior, Diretor responsável pela gestão de atendimento ao cliente e planejamento tributário no escritório Leonardo Lacerda Assessoria Jurídica Global.

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Artigos Mais Lidos

Autonomia patrimonial e seus limites: A desconsideração da personalidade jurídica nas holdings familiares

2/12/2025

Pirataria de sementes e o desafio da proteção tecnológica

2/12/2025

Você acha que é gordura? Pode ser lipedema - e não é estético

2/12/2025

Tem alguém assistindo? O que o relatório anual da Netflix mostra sobre comportamento da audiência para a comunicação jurídica

2/12/2025

Frankenstein - o que a ficção revela sobre a Bioética

2/12/2025