A IA - Inteligência Artificial tem remodelado o mercado de trabalho em velocidade acelerada. Isso é um fato. No entanto, um dado alarmante tem sido pouco discutido: as mulheres são as mais afetadas pela automação.
De acordo com um relatório da OIT - Organização Internacional do Trabalho publicado em agosto de 2023, 9,6% dos empregos femininos em países ricos serão transformados pela IA.
Entre os homens, esse impacto é bem menor: apenas 3,5%.
No setor jurídico, essa disparidade é ainda mais evidente. Cargos como secretariado jurídico, assistentes de controle de prazos e paralegais - ocupados majoritariamente por mulheres - estão entre os mais suscetíveis à automação.
Enquanto isso, funções tradicionalmente masculinas, como a advocacia litigiosa e consultiva, ainda têm um grau menor de substituição por máquinas.
Mas será que esse cenário é inevitável? Ou podemos usar a tecnologia para requalificar, empoderar e reposicionar as profissionais do Direito em funções mais estratégicas?
Por que a IA ameaça mais as mulheres no Direito?
Dados do IBGE mostram que as mulheres representam 85% dos cargos administrativos no Brasil. Enquanto isso, elas ocupam apenas 38% dos cargos de sócios de escritórios de advocacia. Essa desigualdade histórica faz com que a IA atinja primeiro as funções com maior presença feminina.
Além disso, um estudo da McKinsey de 2023 aponta que até 60% das atividades administrativas jurídicas podem ser automatizadas. Entre elas, destacam-se:
- Controle de prazos processuais;
- Redação de petições padrão;
- Organização de documentos.
Essas são justamente as funções que sustentam a base da pirâmide nos escritórios, e onde as mulheres são maioria.
Como transformar a IA de ameaça em oportunidade?
A IA não é neutra: ela reflete os vieses de quem a cria. Um relatório da UNESCO (2022) alerta que sistemas de IA tendem a reforçar estereótipos de gênero, priorizando a automação de trabalhos "assistenciais" (majoritariamente femininos) em vez de funções de liderança.
No entanto, a tecnologia não precisa ser uma ameaça aos empregos, mas sim uma aliada na reinvenção profissional.
Sendo assim, em vez de substituir profissionais, a IA pode liberar tempo para que elas assumam papéis mais complexos.
Um exemplo claro é a gestão de clientes, área em que a empatia se torna um diferencial competitivo. Com a IA assumindo tarefas burocráticas e repetitivas, as profissionais ganham tempo para se dedicar ao relacionamento humanizado, entendendo necessidades específicas e fortalecendo a confiança dos clientes.
Outro campo que se beneficia dessa transição é a análise jurídica estratégica, onde a capacidade de identificar padrões em decisões judiciais e antecipar tendências ganha espaço. Além disso, funções como mediação e compliance se tornam ainda mais relevantes, já que habilidades interpessoais e negociação são competências que a IA ainda não consegue replicar com a mesma eficácia humana.
A advocacia do futuro será feminina (e digital)
Para que essa migração de funções seja bem-sucedida, a capacitação em ferramentas digitais é essencial.
Esses treinamentos abrangem desde a análise de dados jurídicos até o uso estratégico de IA generativa para aumentar produtividade sem abrir mão do toque humano.
O objetivo é equilibrar tecnologia e expertise, permitindo que as mulheres não apenas acompanhem a inovação, mas possam liderar essa mudança.
Por fim, é fundamental um redesenho organizacional nos escritórios, em que a automação sirva para redistribuir tarefas, e não para eliminar postos de trabalho. Um modelo eficiente seria delegar à IA funções como triagem de processos e organização documental, enquanto as profissionais se concentram no atendimento personalizado e na estratégia jurídica. Dessa forma, a tecnologia não substitui, mas potencializa o trabalho humano, criando um ambiente mais dinâmico, eficiente e, acima de tudo, mais justo e inclusivo.
A IA não é uma sentença de desemprego para as mulheres no Direito - é uma convocação para a liderança. Se soubermos usar a tecnologia como aliada, podemos não apenas reduzir a desigualdade de gênero no setor jurídico, mas também criar um novo paradigma onde a advocacia seja mais eficiente, humana e inclusiva.
Diante desse cenário, cabe a reflexão: como profissionais do Direito, você está preparada para utilizar a IA de forma estratégica e ampliar seu impacto?