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Inteligência artificial no setor jurídico: Avanço inevitável, equilíbrio necessário

A inteligência artificial transforma a advocacia com eficiência e inovação, exigindo uso ético e humano para preservar justiça e confiança no Direito.

2/9/2025

A aplicação da IA - inteligência artificial no setor jurídico tem provocado transformações profundas e irreversíveis. Se antes o Direito era visto como um reduto tradicional e resistente à inovação, hoje a realidade é outra: algoritmos são treinados para analisar contratos, cruzar jurisprudências e automatizar tarefas repetitivas com velocidade e precisão inalcançáveis por humanos. Nos escritórios de advocacia, isso representa ganhos expressivos de produtividade e qualidade na entrega. Ferramentas de IA, por exemplo, podem reduzir em até 90% o tempo gasto na revisão de documentos, permitindo que advogados direcionem esforços para atividades mais estratégicas.

Mas a adoção da IA vai além da busca por eficiência. Ela representa uma mudança de paradigma na atuação dos profissionais do Direito, influenciando a forma como tomam decisões e interagem com clientes. Com o apoio de tecnologias capazes de gerar minutas, prever desdobramentos de litígios e organizar grandes volumes de dados, o advogado passa a desempenhar um papel cada vez mais estratégico e consultivo. Segundo dados da Thomson Reuters, a automação suportada por IA pode economizar até 12 horas semanais por profissional nos próximos cinco anos - um indicativo do impacto dessa tecnologia na reformulação das rotinas dos escritórios.

No entanto, é fundamental reconhecer os riscos e limitações que acompanham esse avanço. Entre os principais desafios estão a opacidade de certos algoritmos, o viés presente nos dados utilizados para treiná-los e a dificuldade de garantir que decisões automatizadas estejam em conformidade com princípios éticos e constitucionais. Há ainda riscos operacionais - como a dependência excessiva de sistemas em estágio inicial de maturação - e riscos jurídicos, sobretudo no que diz respeito à responsabilização por erros cometidos por essas ferramentas.

Nos tribunais, o uso da IA também vem ganhando força. De acordo com levantamento do CNJ, 66% dos tribunais brasileiros já utilizam ou estão em processo de implementação de tecnologias de IA, somando 140 projetos em andamento. Essas soluções são aplicadas, principalmente, em tarefas de apoio, como agrupamento de processos, classificação de documentos e identificação de práticas abusivas, como a advocacia predatória. Os principais benefícios relatados incluem aumento da eficiência e agilidade no processamento (52,8%), otimização de recursos (48,6%), automatização de tarefas repetitivas (45%) e redução do tempo de tramitação (37,1%).

Diante desse cenário, o caminho para os escritórios jurídicos não está em resistir à inovação, mas em adotá-la com responsabilidade. O futuro da advocacia será híbrido, combinando a inteligência das máquinas com a sensibilidade analítica e emocional dos profissionais. Cabe aos líderes do setor construir esse futuro com senso crítico - conscientes de que, no Direito, eficiência não pode ser dissociada de justiça. E que, mesmo diante das maiores disrupções tecnológicas, a confiança do cliente continuará sendo conquistada no humano - e não no código.

André Coura
Graduado e Mestre em Direito pela Universidade FUMEC (MG). Com intensa atuação, há mais de 14 anos, no consultivo e contencioso estratégicos para pessoas e negócios, em projetos de compliance criminal e investigações e processos criminais de alta complexidade, especialmente, perante os Tribunais Superiores e envolvendo a matéria penal econômica, financeira e empresarial.

Antônio Silvério Neto
Advogado atuante há mais de 7 anos na área criminal, com foco no consultivo e contencioso criminal, notadamente em casos de grande complexidade, principalmente operações dos órgãos policiais. Especializado em manejo de Habeas Corpus e manejo de recursos perante os Tribunais Superiores. Consultor jurídico para compliance criminal empresarial e ESG (Environmental, Social and Governance). Graduado em Direito e pós-graduado em Direito Penal e Criminologia pela PUC-RS.

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