Dalton Trevisan autor curitibano consagrado, mestre dos contos curtos, da escrita precisa e do olhar afiado sobre a vida urbana, antes de se tornar uma das vozes mais originais da literatura brasileira, foi aluno da faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná. Foi aqui, nos corredores e salas do nosso edifício histórico na Praça Santos Andrade, que o escritor começou a exercitar sua pena e a moldar o olhar inquieto para o mundo.
A faculdade lhe ofereceu mais do que formação jurídica: deu-lhe espaço para experimentar, fosse nos primeiros escritos publicados em revistas estudantis, nos discursos, até mesmo nas práticas esportivas que também fizeram parte de sua trajetória acadêmica na Universidade. Esse ambiente plural ajudou a construir não apenas o escritor, mas o cidadão que compreendeu, cedo, a complexidade da vida social.
Direito e literatura não estão em campos distantes. O Direito é também feito de palavras, de narrativas, de escolhas de linguagem que podem incluir ou excluir, libertar ou aprisionar. O rigor técnico do direito e a liberdade criativa da literatura se encontram justamente na consciência de que ambos produzem mundos possíveis. Dalton soube transformar esse encontro em arte: aprendeu no Direito a disciplina da forma e na literatura a ousadia da invenção - uma combinação que lhe permitiu captar o drama humano em sua intensidade e brevidade.
É por isso que estudantes de Direito precisam ler literatura. Porque o Direito, em sua essência, é texto: são palavras que moldam vidas, que definem destinos, que estruturam relações de poder. Ainda por cima, ler Dalton é um exercício fundamental de sensibilidade e concisão. Sua escrita, marcada pelo silêncio e pelo não dito, nos lembra que as palavras têm peso, mas também têm limites - e que a justiça exige não apenas conhecer a lei, mas compreender a humanidade que pulsa por trás dela.
No ano de seu centenário, a faculdade de Direito da UFPR inaugura a Sala Dalton Trevisan. O gesto é simbólico e concreto ao mesmo tempo. Simbólico porque nos lembra que o Direito não se esgota em códigos e tribunais, mas dialoga com a cultura, a arte, a política e a vida. Concreto porque cria um espaço de memória que resiste ao esquecimento e projeta no futuro o legado de um de nossos egressos mais ilustres.
Ao celebrar Dalton Trevisan, celebramos também a riqueza de caminhos abertos pela nossa faculdade. Juristas, pessoas que vivenciam a vida política, intelectuais, escritores e escritoras: os egressos e as egressas da UFPR são múltiplos, e cada um leva consigo uma parte desta história. Preservar essa memória é vital não apenas para homenagear o passado, mas para inspirar o futuro.
A crítica já definiu os contos de Dalton como relâmpagos no escuro: breves, intensos e capazes de iluminar, em um instante, o drama humano. Que a Sala Dalton Trevisan seja, assim, um espaço luminoso de memória e de leitura, capaz de lembrar a cada geração de estudantes que o Direito exige sensibilidade, atenção e rigor. E que, inspirados por Dalton, possamos escrever um futuro mais próximo da vida real, do cotidiano que pulsa e das contradições que nos formam, para todas e todos que também atravessam a experiência de se formar na Faculdade de Direito da UFPR.