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Trust no exterior: Cofre ou luxo que ficou caro?

O trust: Cofre dos bilionários. Mas, após a lei 14.754/23, virou um luxo caro? Entenda como essa estrutura te protege ou se torna um problema.

18/10/2025

Imagine que você construiu uma fortuna. Não apenas uma casa na praia e um carro zero, mas uma fortuna de verdade, que transcende gerações, fronteiras e as manobras fiscais de governos que te veem apenas como uma fonte de arrecadação. Você ouve falar de uma estrutura “diferente”, usada por famílias bilionárias, que promete proteger seu legado como nenhum outro veículo: o trust.

A simples menção do nome trust já carrega um ar de mistério, de sofisticação inatingível. Mas o que exatamente é essa figura, e, mais importante, no cenário atual do Brasil, ela continua sendo o cofre que todos sonham, ou virou apenas um luxo caro que poucos conseguem justificar?

A resposta, como em tudo no planejamento patrimonial sério, é: depende. E esse "depende" é a diferença entre proteger seu patrimônio com a inteligência de um estrategista ou enterrá-lo, pagando caro por algo que não funciona.

Não é uma empresa, é um compromisso

Para a maioria das pessoas, a mente se volta para empresas (LLCs, holdings) quando pensamos em proteção de ativos. O trust é algo fundamentalmente diferente. Não é uma pessoa jurídica, nem uma empresa. É um arranjo legal complexo, onde três figuras principais se conectam:

O ponto crucial aqui é: quando você transfere bens para um trust, você, o settlor, deixa de ser o proprietário legal desses ativos. O proprietário legal passa a ser o trustee. Você perde o "controle" sobre os bens no sentido jurídico (embora mantenha o controle indireto via as regras do trust deed). E é exatamente essa perda de controle que confere ao trust o seu poder de proteção e planejamento sucessório.

Pense nisso como colocar seu tesouro em um cofre, mas dar ao gerente do banco (trustee) a propriedade legal do cofre e de seu conteúdo, com instruções detalhadas (o trust deed, ou escritura de trust) sobre quem pode acessá-lo, quando e sob quais condições. É como usar uma Ferrari para proteger sua família, mas você não tem mais a chave; ela está com o piloto profissional.

Para que ele não serve (e nunca serviu)

Antes de falarmos no que o trust pode fazer, é fundamental falar o que ele não faz. Porque, como sempre, a desinformação é rei em planejamentos.

Por que ainda funciona?

Superados os mitos, vamos ao que interessa. Para quem tem um patrimônio complexo e objetivos claros, o trust oferece vantagens que poucos outros veículos podem igualar:

A lei 14.754/23: Trust no foco do fisco

A nova lei 14.754/23, que rege a tributação de investimentos no exterior e offshores, colocou o trust sob uma nova luz. O que antes era uma área cinzenta, agora tem regras (ou tentativas de regras) mais definidas, e elas podem transformar um trust malfeito em um pesadelo.

Alternativas inteligentes: O que fazer agora?

O novo cenário exige uma reavaliação crítica. O trust continua sendo uma ferramenta de elite, mas agora, mais do que nunca, exige precisão cirúrgica.

Conclusão

O trust não é uma panaceia. Não é uma "solução mágica" para todos os problemas e, definitivamente, não é para qualquer patrimônio. Mas tem alta precisão nas mãos certas e realmente pode preservar e perpetuar um legado por gerações.

Mas, nas mãos erradas, com a nova realidade fiscal brasileira, ele pode virar um custo proibitivo, um luxo que você pagou caro e que não entregou o que prometeu. O cofre existe, mas precisa de um chaveiro.

Lucas Pereira Santos Parreira
Sócio no Escritório Rosenthal e Sarfatis Metta Advogados Associados. Mestre em Direito Empresarial e Especialista em Direito Tributário, Direito Civil e Direito Contratual.

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