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Crime ambiental por DOF irregular ou não apresentação

A ausência ou uso irregular pode gerar multas, apreensão de veículos e responsabilização criminal, com penas que variam de detenção a reclusão.

6/10/2025

DOF - Documento de Origem Florestal é uma exigência legal no Brasil para o transporte e armazenamento de produtos e subprodutos florestais. Trata-se de uma ferramenta de controle ambiental que visa garantir a rastreabilidade da origem dos materiais, especialmente madeira nativa, carvão vegetal e outros produtos oriundos de florestas naturais ou plantadas.

Apesar de sua importância ambiental, o desconhecimento técnico e as falhas operacionais ainda levam muitos produtores rurais, transportadores e empresas do setor madeireiro a cometerem infrações ligadas ao DOF. O resultado pode ser grave: autuações, apreensão de cargas e veículos, sanções administrativas e, em muitos casos, responsabilização criminal por crime ambiental.

Neste artigo, explicamos em detalhes o que diz a legislação, quais os principais erros que levam à configuração de crime ambiental, quais as penalidades previstas e, principalmente, como estruturar uma defesa técnica eficaz para proteger seu patrimônio e sua liberdade.

O que é o DOF e qual sua importância legal?

O Documento de Origem Florestal é regulado pela IN 21/14 do IBAMA e integra o SINAFLOR - Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais. O DOF é obrigatório para:

A ausência do DOF ou sua emissão incorreta compromete a rastreabilidade do produto e configura infração ambiental, podendo evoluir para crime ambiental, nos termos da lei 9.605/98 (lei de crimes ambientais).

Quais condutas configuram crime ambiental?

A não apresentação do DOF ou a utilização de um DOF irregular (fraudado, vencido, com dados inconsistentes) pode configurar os seguintes crimes:

a) Transporte de produto florestal sem licença válida - Art. 46 da lei 9.605/98

“Receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais, produto ou subproduto florestal sem exigir a exibição da licença válida para o transporte e armazenamento, outorgada pela autoridade competente.”

Pena: Detenção de 6 meses a 1 ano, e multa.

b) Documento falso ou declaração inverídica - Art. 69-A da lei 9.605/98

“Elaborar ou apresentar, no licenciamento, concessão florestal ou qualquer outra modalidade de autorização, estudo, laudo ou relatório ambiental total ou parcialmente falso ou enganoso.”

Pena: Reclusão de 3 a 6 anos, e multa.

c) Transporte ilegal de madeira - Art. 46-A da lei 9.605/98 (inserido pela lei 14.119/21)

“Transportar, adquirir, vender, armazenar ou guardar produto ou subproduto florestal de origem nativa sem a devida licença válida.”

Pena: Reclusão de 2 a 4 anos, e multa.

Além disso, a autoridade ambiental pode aplicar multas administrativas, embargar propriedades, apreender veículos e cargas e comunicar o fato ao Ministério Público para propositura de ações civis e penais.

Situações comuns que geram autuação

É importante destacar que o desconhecimento da norma não afasta a responsabilidade ambiental. Por isso, é essencial que produtores, motoristas e empresas capacitem suas equipes e mantenham a documentação sempre regular.

Como funciona o processo administrativo e criminal nesses casos?

Quando um agente ambiental (IBAMA, Polícia Militar Ambiental ou outro órgão competente) identifica a irregularidade, ele pode:

Se houver denúncia criminal, o acusado será citado para apresentar defesa, podendo o processo evoluir para audiência de instrução, sentença e eventual condenação.

Como se defender? Estratégias jurídicas eficazes

A defesa nesses casos exige abordagem técnica e jurídica combinadas. Alguns pontos fundamentais são:

a) Análise do auto de infração

Verificar se houve erro formal, ausência de provas ou extrapolação da competência do agente autuador.

b) Questionamento da tipificação penal

Nem toda irregularidade no DOF configura crime. A defesa pode demonstrar que se trata de infração administrativa, sem dolo ou com excludente de ilicitude.

c) Apresentação de documentação complementar

Muitos casos envolvem falhas técnicas, como atraso na emissão do DOF ou erro de sistema. Comprovar a regularidade posterior ou a origem legal da carga pode reverter a autuação.

d) Produção de prova técnica independente

Laudos de peritos ambientais, engenheiros florestais e pareceres de especialistas são fundamentais para rebatimento da acusação.

e) Negociação com Ministério Público

Em alguns casos, é possível firmar acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo, evitando a condenação e mantendo o réu sem antecedentes criminais.

Consequências para o produtor rural e empresa

Além do processo criminal, há consequências práticas e econômicas:

A reincidência agrava as penas e pode impedir acordos judiciais.

Conclusão

O transporte de produtos florestais sem DOF ou com documentação irregular é uma das principais causas de autuações ambientais no Brasil. A falta de atenção a esse detalhe pode desencadear não apenas sanções administrativas, mas também responsabilização criminal.

Contudo, com a defesa técnica adequada, é possível contestar a autuação, evitar condenações e manter a atividade produtiva em conformidade com a legislação. O segredo está na antecipação, no controle documental e no suporte jurídico especializado.

Tiago Martins
Advogado e Professor de Direito Ambiental com maior atuação no contencioso cível, administrativo e penal ambiental, além prestar consultoria e assessoria ambiental.

Adivan Zanchet
Advogado e professor especialista em Direito Ambiental pela Escola Verbo Jurídico, e em Direito Agrário e do Agronegócio, pela FMP - CEO do Escritório Martins Zanchet

João Gabriel Espósito
Advogado e professor. Especialista em Direito Ambiental e Urbanístico e em Direito e Gestão do Agronegócio (FESMP/MT). Presidente da Comissão de Direito do Agronegócio da 21ª Subseção da OAB/MT.

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