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Governança de privacidade: do compliance ao diferencial competitivo

Como um SGPD pode transformar privacidade em estratégia: acelera produtos, descomplica relações comerciais, eleva segurança, viabiliza novas estratégias e posiciona a marca além do compliance.

6/11/2025

Em muitos orçamentos, “privacidade” recebe troco; nos cronogramas, vira pendência crônica. Gestores a veem como custo e fricção: inventários intermináveis, bases legais que “travam” produto e comunicação, auditorias pedindo evidências inexistentes, preparação para questionamentos que talvez nunca cheguem. O efeito é previsível: programas viram checklists reativos, comitês se reúnem “para constar” e a escolha de ferramentas para o SGPD segue o efeito manada — “qualquer uma que me tire do problema”. Só que há um custo oculto nessa lógica defensiva: negócios perdidos, due diligences arrastadas, parcerias que esfriam, e go-lives de IA estacionados por insegurança jurídica. A provocação aqui é simples: e se estivermos desperdiçando uma alavanca estratégica?

Quando a governança de privacidade sai do “modo defesa” e passa a ser utilizada como ferramenta estratégica, a conversa muda. A seguir discutimos alguns benefícios concretos que podem ser obtidos através da implementação de um programa eficiente e completo de governança de privacidade que vão além do mero cumprimento da LGPD:

a) Produtos melhores, desde a concepção, e lançados mais rápido

Durante a implantação de um bom programa de privacidade, usamos, por exemplo, ferramentas como o modelo privacy by design como parte do ciclo de vida dos produtos que produzimos e lançamos. Na prática, isso traz um benefício direto: o produto já nasce “certo” nos dois lados — atende ao que o mercado quer e respeita a lei de privacidade. O movimento começa nas primeiras conversas de descoberta, onde definimos para que usaremos dados, quais são realmente necessários e como serão protegidos. Com esses critérios postos desde o início, evitamos retrabalho, reduzimos riscos e aceleramos o lançamento. E, quando o produto chega ao cliente, além de entregar valor pelo que faz, transmite confiança pelo modo como cuida da privacidade dos usuários. Em resumo, isso se traduz em:

A privacidade deixa de ser um “freio” e vira critério de qualidade do produto — ajudando a vender, a reter clientes e a evitar dores de cabeça futuras.

b) Maior agilidade nas relações B2B

Nosso programa de privacidade e proteção de dados também nos deixa prontos para jogarmos melhor nas relações B2B. Na prática, ele acelera nossas relações com fornecedores, facilita a due diligence de clientes e parceiros e torna claras as regras, limites e responsabilidades para operadores e demais terceiros com quem compartilhamos dados pessoais. Ao estabelecermos os padrões claros, ditados pelo nosso programa, conseguimos contar com um conjunto adicional de ferramentas que certamente melhoram nossas relações de negócio com outras empresas:

As relações B2B andam mais rápido, com menos incerteza e menos custo de negociação - e a empresa mostra, desde o primeiro contato, que trata a privacidade com seriedade e método, estabelecendo assim um padrão de qualidade nas relações.

c) Segurança da informação de verdade

Segurança da informação é o tema mais lembrado quando se fala em governança de privacidade — e com razão. Um programa sólido se apoia em padrões globalmente reconhecidos, como a família ISO 27000 (especialmente ISO 27001/27002) e o NIST Cybersecurity Framework. Na prática, isso tira a segurança do campo das “boas intenções” e a coloca em controles claros, medidos e testados: quem acessa o quê, por quanto tempo, com quais proteções e como tudo é auditado. O ganho é para a empresa inteira, não só para dados pessoais.

Uma boa estratégia de segurança da informação protege os ativos, sustenta a operação e aumenta a confiança de clientes, parceiros e investidores.

d) Uso de Inteligência Artificial sem improviso jurídico

O uso de soluções de inteligência artificial tem se tornado cada vez mais lugar comum nos negócios e, com o avanço dos modelos e dos produtos criados sobre essas plataformas, já podemos considerar que aplicar ou não IA em nossas rotinas deve ser fator decisivo para nos tornarmos eficientes e relevantes no mercado agora e nos próximos anos.

Porém, IA não combina com “ajeitar depois”. O uso de dados — pessoais ou não — ao operar esses modelos precisa de análise, governança e, quando for o caso, limites legais desde o início. Ao implementar um programa de governança de privacidade, dedicamos parte do esforço à gestão de riscos de IA, mitigando impactos legais, de segurança e de privacidade. Um SGPD bem estruturado orienta como usamos IA e nos oferece, entre outros:

Assim, podemos continuar a evoluir nossas operações e estratégicas com auxílio da inteligência artificial, mas sem malabarismos jurídicos e de forma transparente e segura.

e) Maior adaptabilidade para vender e captar

Sob a ótica mercadológica e de posicionamento estratégico do negócio, um programa de governança de privacidade adequado não serve só para “passar na auditoria”: ele abre mercado. Cada vez mais, contratos (especialmente B2B) exigem conformidade com a LGPD como condição de início ou continuidade do relacionamento. Além disso, investidores também cobram evidências de governança e controle de riscos antes de aportar capital. Ninguém gosta (ou tem muito apetite para) comprar riscos de terceiros. Na prática, podemos observar os seguintes ganhos com um bom SGPD:

Portanto, podemos dizer que estarmos adequados à LGPD, de forma total e completa, também significa maior taxa de vitória em vendas, menos ciclo de negociação, maior chance de captação e contratos que começam (e se mantêm) com regras claras e evidências desde o primeiro dia.

f) Confiança e diferenciação de marca

Por fim, a gestão da privacidade, quando bem-feita, é também posicionamento. Um programa sólido de governança transforma “cumprir a LGPD” em valor percebido pelo cliente — e isso diferencia a nossa marca frente aos concorrentes.

Ou seja, um bom programa de governança privacidade eleva a marca e cria barreiras competitivas difíceis de copiar, como a confiança.

Logo, privacidade não é cartório; é plataforma de crescimento. Empresas que tratam a governança como “custo de conformidade” colecionam atrasos e negócios perdidos. As que a operam como método de gestão colhem o oposto: produtos melhores e mais rápidos, relações mercadológicas ágeis, segurança real, IA sem improviso jurídico, acesso a mercados e capital, e — sobretudo — confiança de marca. O recado é simples: compliance é ponto de partida; o diferencial competitivo nasce quando o programa de gestão de privacidade vira rotina de decisão, com métricas, evidências e responsabilidade clara. Quem fizer esse movimento agora ganhará velocidade sustentável e previsibilidade regulatória — duas vantagens que seus concorrentes sentirão.

Adilson Taub Junior
CEO da Omnisblue e especialista em GRC, Privacidade e IA aplicada. Defensor do uso responsável de IA, lidera adequação à LGPD e compliance no setor público e privado, com 22 anos de experiência em tecnologia aplicada para resultados.

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