Migalhas Quentes

Juíza condena jovens a lerem manual antirracista após ofensas a colega

Adolescentes responderam por injúria racial, incluindo elementos de gordofobia, homofobia e classicismo.

20/9/2024

A juíza de Direito Vanessa de Oliveira Cavalieri, da vara da Infância e Juventude do Rio de Janeiro/RJ, determinou que duas adolescentes, responsáveis por criar e divulgar um vídeo ofensivo contra uma colega de escola em uma rede social, prestem serviços comunitários e leiam livro antirracista.

As jovens, que, assim como a vítima, tinham apenas 12 anos à época dos fatos, responderam por ato infracional equiparado aos crimes de injúria racial, incluindo elementos de gordofobia, homofobia e classicismo.

Adolescentes que postaram vídeo ofensivo contra colega de escola terão de prestar serviços comunitários e ler livro antirracista.(Imagem: Arte Migalhas)

Após avaliar ação, magistrada determinou que as jovens prestem serviços comunitários por seis meses, com jornada de quatro horas semanais.

Além disso, como medida protetiva educativa, as adolescentes deverão ler o livro “Pequeno Manual Antirracista”, de Djamila Ribeiro, e preparem um trabalho escrito, com apresentação oral, a ser apresentado à magistrada em audiência especial marcada para 3 de dezembro.

Uma terceira adolescente, que também participou na criação e divulgação das ofensas, obteve remissão da medida socioeducativa e foi excluída do processo.

Contudo, segundo a decisão, “diferentemente das outras representadas, em seu interrogatório, e até antes, na oitiva informal, a menina demonstrou estar sinceramente arrependida, compreender que o comportamento praticado é inadmissível, e ter amadurecido desde o episódio”.

Ela, no entanto, também terá que cumprir a medida protetiva de ler o livro e apresentar o trabalho.

“Entendo pertinente a postulação do Ministério Público quanto à necessidade de letramento racial para as representadas, o que certamente as levará a adquirir conhecimento, e promover reflexão sobre o racismo estrutural na sociedade brasileira, e seus privilégios nessa sociedade."

A decisão também aponta que a vítima, ao depor em juízo, descreveu detalhadamente o ocorrido e relatou o sofrimento que as ofensas lhe causaram e ainda lhe causam.

O depoimento foi reforçado pelo testemunho da mãe, que trouxe uma redação escrita pela filha quase dois anos após o episódio, demonstrando que o sentimento de humilhação e impunidade permanecia devido ao racismo sofrido.

“É de se lamentar que, cada vez mais, adolescentes e até mesmo crianças estejam se envolvendo em atos dessa natureza, como injúrias de diversas naturezas, cyberbullying e até compartilhamento de imagens explícitas, como tem sido percebido pelo volume de novos casos de crime digitais que têm chegado a esta VIJ (...)."

A magistrada também observou que “tal cenário se deve, de modo geral e também na situação em julgamento, ao acesso cada vez mais precoce e mais frequente às telas de celulares, computadores e tablets, através das quais crianças e adolescentes passam a usar redes sociais, jogos online e apps de comunicação, com extrema frequência e sem a necessária supervisão de um adulto”.

O processo tramita sob segredo de Justiça.

Com informações do TJ/RJ.

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Leia mais

Migalhas Quentes

Ex-gerente da Zara que barrou delegada negra é condenado por racismo

3/9/2024
Olhares Interseccionais

Ser antirracista é preciso

10/6/2024
Migalhas Quentes

Djamila Ribeiro fala sobre iniciativas para Judiciário antirracista

9/4/2022

Notícias Mais Lidas

TRF-1 autoriza mãe a sacar FGTS para tratamento de filho autista

2/12/2025

TRT da 2ª região inclui esposa de sócio em execução trabalhista

2/12/2025

CNJ lança base de dados de partes envolvidas em ações para uso de juízes

2/12/2025

Moraes diz que Judiciário virou alvo por ser “o mais forte do mundo”

2/12/2025

Comissão do Senado aprova aumento de tributação para bets e fintechs

2/12/2025

Artigos Mais Lidos

Edição gênica e agronegócio: Desafios para patenteabilidade

3/12/2025

Abertura de empresas e a assinatura do contador: Blindagem ou burocracia?

3/12/2025

Como tornar o ambiente digital mais seguro para crianças?

3/12/2025

Recuperações judiciais em alta em 2025: Quando o mercado nos lembra que agir cedo é um ato de sabedoria

3/12/2025

Seguros de danos, responsabilidade civil e o papel das cooperativas no Brasil

3/12/2025