De repente, o plenário virou mar aberto.
No julgamento em que o STF discute se motoristas de aplicativos devem ou não ter vínculo de emprego, as sustentações orais foram marcadas por um curioso detalhe: vários advogados abandonaram o asfalto e a sinalização urbana para usar metáforas do alto-mar.
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Veja o compilado:
A advogada da Uber, Ana Carolina Andrada Arrais Caputo Bastos, recorreu à figura de linguagem para dizer que "há quem veja o mar como obstáculo; nós o vemos como caminho".
E não parou por aí: concluiu a defesa alertando que "o pior naufrágio seria não partir".
A metáfora indica que as transformações tecnológicas e os novos modelos de trabalho não devem ser vistos como ameaças ao Direito do Trabalho, mas como rotas para novas soluções.
Na sequência, o advogado-Geral da União, Jorge Messias, foi buscar inspiração em Fernando Pessoa.
Adaptando a máxima "navegar é preciso, viver não é preciso", afirmou que "trabalhar é preciso, mas viver também é preciso".
A analogia serviu para reforçar a ideia de que a regulação deve proteger os motoristas, sem afundar a inovação.
Já a advogada Solimar Machado Corrêa, pelo sindicato de motoristas, mergulhou de vez: disse estar "boiando no oceano da Uber", em crítica às teses da empresa sobre autonomia dos trabalhadores.
A cena rendeu um contraste irônico: enquanto se discute um serviço essencialmente terrestre - corridas de carro e entregas de moto, o plenário foi tomado por barcos imaginários, mares revoltos e a eterna promessa de portos seguros.
Seja por poesia, filosofia ou crítica mordaz, fato é que os defensores trocaram o volante pelo leme.
E, em vez de trânsito e engarrafamento, o STF ouviu sobre navegação, naufrágio e oceano - tudo para tentar conduzir a Corte à rota mais favorável.