Gramatigalhas

Controlador-geral ou Controlador geral?

Controlador-geral ou Controlador geral? O Professor esclarece a diferença.

4/9/2019

O leitor Mateus Albuquerque envia a seguinte dúvida ao Gramatigalhas:

"É correto separar por hífen a expressão controlador-geral? Por que isso é permitido?"

1) Observe-se, desde logo (até para conforto dos leitores que se veem em grandes dúvidas quanto a este assunto), que, embora seja inegável e perceptível o esforço de melhoria por parte do Acordo Ortográfico de 2008 quanto ao emprego do hífen, o certo é que a confusão ainda continua sendo grande em alguns aspectos.

2) Em verdade, a primeira ideia do Acordo, neste campo, é que, em alguns compostos, perdeu-se a noção de composição, motivo por que devem ser grafados em uma única palavra girassol, paraquedas, passatempo, pontapé...

3) A segunda ideia do Acordo é que o hífen – considerado especificamente para o caso da consulta, em que o primeiro elemento é um substantivo, e o segundo, um adjetivo – deverá continuar sendo empregado nas palavras compostas por justaposição, quando os elementos constituam uma nova unidade morfológica e de sentido: batata-inglesa, sócio-gerente.

4) O que se verifica, contudo, é que às vezes descamba para o aspecto subjetivo o entendimento do que se deva ter por elementos que constituam uma nova unidade morfológica e de sentido.

5) E, talvez por conta desse subjetivismo de critério, o próprio órgão oficial incumbido de solucionar o assunto também acaba enredado em confusão.

6) Veja-se: esse órgão encarregado de definir oficialmente o modo de grafar as palavras em nosso idioma é a Academia Brasileira de Letras, e ela exerce esse múnus pela edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa.

7) E uma consulta ao VOLP mostra que nele se encontra um critério duplo e sem justificativa sobre o assunto, e isso porque, por um lado, registra com hífen consulado-geral, governador-geral, ouvidor-geral, procurador-geral, secretário-geral e vigário-geral; mas não registra consultor-geral nem controlador-geral, o que quer dizer que tais vocábulos devem ser escritos sem hífen, a saber, consultor geral e controlador geral.

8) Como, porém, o VOLP (editado que é pela ALB) é a palavra oficial em termos de grafia das palavras em nosso idioma, é a ele que devemos prestar obediência, de modo que a solução, na dúvida, é consultá-lo.

9) Ante esse quadro, resta, por fim, a esperança de que a ABL, em futura edição do VOLP, busque um foco mais preciso com vistas à solução deste assunto.

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Colunista

José Maria da Costa é graduado em Direito, Letras e Pedagogia. Primeiro colocado no concurso de ingresso da Magistratura paulista. Advogado. Mestre e Doutor em Direito pela PUC/SP. Ex-Professor de Língua Latina, de Português do Curso Anglo-Latino de São Paulo, de Linguagem Forense na Escola Paulista de Magistratura, de Direito Civil na Universidade de Ribeirão Preto e na ESA da OAB/SP. Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas. Sócio-fundador do escritório Abrahão Issa Neto e José Maria da Costa Sociedade de Advogados.