Política, Direito & Economia NA REAL

Política & Economia NA REAL n° 215

Do ponto de vista da economia, há sinais consistentes de retomado crescimento do PIB.

18/9/2012

Momento presidencial

Em que pese ter de "tourear" as angústias petistas com a questão do mensalão e com o risco de Fernando Haddad não ir nem para o segundo turno em SP, a presidente Dilma vive um de seus melhores, talvez o melhor até agora, momento na presidência. Ela, sim, poderá se declarar vencedora das eleições, pois os partidos governistas, naturalmente tantos que são, farão muito mais votos que a mirrada e às vezes assustada oposição. Pode ter essa "vitória" tisnada um pouco caso o PT fracasse em SP e em BH, onde ela acabou se metendo mais do que inicialmente pretendia.

Economia melhora

Do ponto de vista da economia, depois dos sustos do primeiro semestre, há sinais consistentes de retomado crescimento do PIB. Não com o vigor que o ministro da Fazenda, Guido Mantega projeta, mas para dar um alívio de apontar para um crescimento de 4% em 2013, aliás, como estão prevendo os analistas ouvidos pelo BC para o Boletim Focus. E está sendo muito aplaudida pelos empresários pela guinada que deu na política econômica, com foco na redução do dito "custo Brasil" e mais incentivo aos investimentos. Esta parte falta apenas decolar para valer. No terreno das intenções, vai muito bem, obrigado. Com isso, Dilma vai firmando o próprio caminho, livre das amarras dos parceiros e formando o próprio "dilmismo". De mãos menos atadas ainda ficará dependendo do resultado das eleições em alguns lugares e dos votos finais dos ministros do STF no mensalão.

Congresso dá trabalho

Mesmo com todo esse cacife, a presidente continua enfrentando dificuldades na hora do vamos ver no Congresso com os aliados. Pode sofrer uma nova derrota na votação da MP do Código Florestal e não está conseguindo domar os parceiros na questão da destinação de 10% do orçamento para a Educação. O governo quer 7%. Ela tentou barrar o projeto na Câmara e não deu certo. Agora está nas mãos dos senadores.

"Mensalão" norte-americano

A reunião do Comitê de Mercado Aberto do Fed (sigla em inglês, FOMC), decidiu na semana passada recomprar US$ 40 bi por mês em títulos do Tesouro norte-americano "até que o mercado laboral apresente melhoria", bem como se comprometeu a manter a taxa de juros básica perto de zero até meados de 2015. No caso das compras de títulos o BC dos EUA comprará títulos com prazos mais longos (de até 30 anos) com o objetivo de deixar uniformes (e baixas) as taxas de curto e longo prazo. Com isso, espera a autoridade monetária levar a taxa de desemprego para um nível de 7% da mão de obra disponível, por meio do incremento do consumo. Em poucas palavras, o Fed vai injetando dinheiro no sistema financeiro todo mês para estimular a economia. O contribuinte americano teme pagar conta mais alta no médio prazo, via aumento de impostos. Mas, por enquanto, a ordem é colocar mais comida na mesa do trabalhador desempregado. Uma escolha política a ser legitimada nas eleições de novembro.

Dólar para baixo

Como sabemos, os EUA estão com a atividade econômica debilitada, mas, do ponto de vista cambial, se financia junto ao mundo o qual teme o andar da carruagem dos europeus e não confia nem no iene e nem na moeda chinesa, o Yuan. Para o Brasil, o "mensalão" do Fed joga uma incerteza sobre a estabilidade do dólar no mercado externo, o que pode valorizar o real e prejudicar a já debilitada competitividade brasileira. Todavia, não nos esqueçamos que os EUA representam 1/4 da economia mundial e a sua recuperação ajuda mais o mundo do que a tão comemorada China. Os próximos dias dirão mais sobre os efeitos do adicional (e enorme) relaxamento monetário dos EUA, mas uma coisa é certa : o Brasil terá de se adaptar à nova situação. Quem sabe, reduzindo mais que o esperado a taxa básica de juros.

Tensão no poleiro brasiliense

A manobra da presidente Dilma para ajudar a candidatura de Fernando Haddad em SP, levando a senadora Marta Suplicy para o ministério da Cultura, vai, com o correr do tempo, criar forte tensão em seu ministério, agora com três indisfarçáveis candidatos ao governo paulista : a própria Marta, Aloizio Mercadante, que só "pensa naquilo", e o ministro da Saúde Alexandre Padilha, um dos mais ativos cabos eleitorais de candidatos petistas a prefeito no Estado. Os planos de Lula, porém, segundo boas fontes, seriam outros, na dependência, é claro !, de uma vitória de Haddad na capital paulista : reservar a vaga para o prefeito de São Bernardo, Luis Marinho.

Mudanças radicais ?

Uma derrota conjunta do PT e do PSDB em SP, ou seja, uma vitória de Celso Russomano na capital, já não mais improvável, provocará, inevitavelmente, um deslocamento do centro do poder no petismo, apesar ainda de Lula, e no PSDB, de SP para outras regiões. E moverá também o eixo da política nacional, que passará a gravitar mais em torno da presidente Dilma e menos do PT lulista e, dependendo do resultado as urnas em Belo Horizonte e Recife, de Aécio Neves e Eduardo Campos. O PMDB, mesmo que "ganhe" as eleições, continuará como coadjuvante.

Está difícil

Leitura atenta das últimas pesquisas DataFolha e Ibope indicam que não será nada fácil para José Serra e Fernando Haddad alijarem Celso Russomano do segundo turno. Só se vier uma revelação estrondosa contra o candidato do PRP. A "guerra religiosa" que estão criando não deve surtir efeito.

Aos vencedores, as batatas

As direções dos partidos políticos, os dois que sempre se digladiam nacionalmente, PT e PSDB, além do PMDB e agora de um ativo PSB e até do novel PSD, já estão azeitando suas calculadoras para, tão logo findas as eleições, se declararem vencedores. Porque...

1. Ganharam a eleição em SP (nessa pode furar o bloco o PRB)

2. Elegeram o maior número de prefeitos

3. Elegeram o maior número de vereadores

4. Tiveram o maior número de votos para prefeito em todo o país

5. Tiveram o maior número de votos para vereador em todo o país

6. Fizeram mais prefeitos nas capitais

7. Fizeram mais prefeitos nas cidades com mais de 200 mil habitantes

8. Fizeram mais prefeitos nas cidades médias

Motivos para comemorar, assim, não faltarão. E todos farão jus a um saco de batatas.

A política sem programa e sem afeto

Uma leitura mais, digamos, republicana das eleições brasileiras e do próprio político brasileiro mostra que, na ausência de substanciais diferenças entre os programas partidários, o jogo na arena política está cada vez mais situado no campo dos personagens e não no enredo. Em SP, Russomano é sinal mais evidente do processo, mas não se poderia excluir o caso de Eduardo Paes no Rio, Márcio Lacerda em BH, Gustavo Fruet em Curitiba e assim vai. No plano nacional temos os apáticos Aécio Neves e Eduardo Campos, personagens que podem renovar a política brasileira, mesmo que não saiba se para melhor. Num país com tantas diferenças sociais, disparidades regionais e culturas diversificadas, este processo de "fulanização" da política é caminho certo para o populismo que permite que qualquer um "dos que aí estão" assuma a carapuça.

CPI da Pizza

Assim como não quer nada, o Congresso está para sepultar a CPI Cachoeira-Delta sem grandes revelações. As sessões foram suspensas até depois das eleições. E não há sinais de que os parlamentares estejam aproveitando esse tempo para analisar os documentos provenientes das quebras de sigilo pedidas por eles. Depois, o tempo será muito até o fim do ano para mais debates na Comissão de vez que a Câmara e o Senado estão atulhados com matérias para votar. A verdade é que eles se dão por satisfeitos com o barulho que fizeram no início e não têm a menor intenção de investigar profundamente a empreiteira Delta e suas relações com o poder em todo o país, não apenas no Centro-Oeste. Teme-se que desta cartola possam sair coelhos muito raivosos. Principalmente se puxarem o fio das "empresas-laranjas" usadas pela empresa de Fernando Cavendish. É um laranjal de alta qualidade e que abastece mais gente além da Delta.

Mensalão : um dia após o outro

A principal "novidade" da Ação Penal 470, vulgo "mensalão", não veio ao final da semana passada, do plenário do STF, mas da revista Veja. A nosso ver, a referida reportagem não traz propriamente uma "novidade", mas explicita com fidelidade as tensões em torno do julgamento do "núcleo político" da referida ação penal. Marcos Valério deve ir para a prisão e, diante do fato quase concreto, jogou para o público interno acusado, sinalizando que pode não ser tão silencioso quanto nos últimos anos. Para o público externo, a distinta opinião pública, os efeitos ainda são desconhecidos, mas os votos do STF parecem que darão o tom das expectativas que se formarão no campo político, na fronteira temporal das eleições de outubro e novembro. Neste sentido, a voz cansada de Marcos Valério não ajuda em nada no andamento da Suprema Corte e pode até piorar. É o caso dos vídeos gravados por Valério, cuja existência foi revelada no Blog do jornalista Ricardo Noblat (clique aqui). Alguns dos acusados sabem disso e podem sair da "toca" para projetar e proteger a própria imagem. Parece ser o caso de José Dirceu. A sanha jurisdicional tende claramente à condenação. A opinião eleitoral ainda está por se manifestar. O caminho dos acusados pode ser na direção da prisão e isto pode causar ainda muitos distúrbios.

Cruzeiro do Sul liquidado

Ainda estão para ser bem mais transparentes os acontecimentos que levarão à bancarrota do Banco Cruzeiro do Sul. Não que seja certo que isso venha acontecer, mas porque não deixa de ser curioso como um banco pode estar tão débil por tanto tempo nas barbas do BC. Não há surpresa na liquidação do banco depois de evidente ausência de interesse por parte do eficiente mercado financeiro. O banco vai para o seu crepúsculo, silenciosamente. O que deixa mais curiosidade sobre outro caso, agora já esquecido : a salvação do Banco Panamericano. Esta história precisa ser conhecida.

Liberação de compulsórios

Parecem muito boas as ideias que dão conta que o BC estuda a liberação de depósitos compulsórios do sistema bancário. Faz sentido para a política governamental de achatamento dos famosos (e elevados) spreads bancários brasileiros. Tal liberação deve acontecer talvez no curto prazo. E pode ajudar, sobretudo, a galera pequenina dos pequenos bancos.

Radar NA REAL

14/9/12 TENDÊNCIA
SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo
Juros ¹
- Pré-fixados NA estável estável/alta
- Pós-Fixados NA baixa baixa
Câmbio ²
- EURO 1,3118 baixa/estável baixa
- REAL 2,0311 baixa/estável estável/baixa
Mercado Acionário
- Ibovespa 62.057,68 estável/alta estável/alta
- S&P 500 1.459,33 estável/alta alta
- NASDAQ 3.184,97 estável/alta alta

(1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais).
(2) Em relação ao dólar norte-americano
NA – Não aplicável

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Colunista

Francisco Petros Advogado, especializado em direito societário, compliance e governança corporativa. Também é economista e MBA. No mercado de capitais brasileiro dirigiu instituições financeiras e de administração de recursos. Foi vice-presidente e presidente da seção paulista da ABAMEC – Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais e Presidente do Comitê de Supervisão dos Analistas de Investimento. É membro do IASP - Instituto dos Advogados de São Paulo e do Corpo de Árbitros da B3, a Bolsa Brasileira, Membro Consultor para a Comissão Especial de Mercado de Capitais da OAB – Nacional. Atua como conselheiro de administração de empresas de capital aberto e fechado.