Porandubas Políticas

Porandubas nº 828

Na primeira parte da coluna, Gaudêncio Torquato faz um registro histórico: narra como viu o atentado terrorista no aeroporto dos Guararapes, em Recife, na manhã de 25 de julho de 1966.

1/11/2023

Abro o texto com um "causo" hilário, envolvendo uma "raposa" da política mineira.

Quiçá e cuíca

Benedito Valadares, governador, foi a Uberaba para abrir a Expozebu. E passou a ler o discurso preparado pela assessoria. A certa altura, mandou ver:

- Cuíca daqui saia o melhor gado do Brasil.

Ali estava escrito:

- Quiçá daqui saia o melhor gado do Brasil.

A imprensa caiu de gozação. Tempos depois, em um baile na Pampulha, o maestro, lembrando-se do famoso discurso na terra do zebu, começou a apresentar ao governador os instrumentos da orquestra. Até chegar na fatídica cuíca. E assim falou:

- E esta, senhor governador, é a célebre cuíca.

Ao que Benedito, querendo dar o troco, redarguiu com inteira convicção:

– Não caio mais nessa não. Isto é quiçá!

(Historinha enviada por J. Geraldo).

Na primeira parte da coluna, faço um registro histórico. Narro como vi o atentado terrorista no aeroporto dos Guararapes, em Recife, naquela manhã de sol ardente de 25 de julho de 1966.

Esperando Costa e Silva

Repórter da Folha de São Paulo, sucursal do Nordeste, andava eu de um lado para outro, no aeroporto dos Guararapes, em Recife, tentando identificar autoridades entre as cerca de 300 pessoas que aguardavam o marechal Costa e Silva. Ele viria de João Pessoa, na Paraíba, para seu périplo pelo NE na pré-campanha para a presidência da República pela então Aliança Renovadora Nacional, ARENA. Para frustração da multidão que o aguardava, o alto-falante avisou: devido a uma pane no avião, o marechal viria de automóvel. Em minha mente de repórter em início de carreira, tinha uma pergunta embaraçosa a fazer ao candidato: "Por que ele não era o preferido do presidente Castelo Branco para sucedê-lo"?

A bomba

Preparava-me para sair quando o artefato explodiu. Poderoso deslocamento de ar jogou-me a metros de distância (sensação horrível de voar pelos ares) de onde me encontrava. Intensa fumaça, gritos de terror e uivos de dor. Tonto, levantei-me, sem saber para onde ir. As pessoas corriam em direção à saída. Voz corrente: um atentado para matar Costa e Silva. Na frente do aeroporto, esperando um táxi, dava para enxergar o apoplético coronel Hélio Ibiapina, óculos Ray-Ban, face avermelhada, dando ordens, gesticulando nervosamente, ordenando o desvio de carros. E a dúvida bateu na mente: pane no avião? Será que os militares não sabiam de nada? Pane no avião presidencial? Hum...

Sangue no paletó

No táxi, um susto: vi sobre um dos ombros do meu paletó cinza-esverdeado massa de miolos esfarelados e gotas de sangue. Eu estava nas proximidades dos dois mortos do atentado: o jornalista Edson Regis de Carvalho, secretário da Casa Civil de Pernambuco, do governo Paulo Guerra, e o vice-almirante aposentado Nelson Gomes Fernandes. Fui direto à Italcable, na avenida Dantas Barreto, no centro do Recife, onde rabisquei telegrama para a Folha, noticiando a explosão e o zum-zum: outra bomba teria explodido na sede da União dos Estudantes de Pernambuco e mais uma na USAID (United States Agency for International Development).

Diarréia

Corri para a sucursal da Folha, na praça Joaquim Nabuco, ao lado do cine Moderno, no primeiro piso. Subi a pequena escadaria e fui direto ao banheiro para administrar o problema estomacal que me acometera. Uma disenteria. Só depois passei a relatar o atentado terrorista no aeroporto a Calazans Fernandes, chefe da sucursal e a Manuel Chaparro, grande jornalista, hoje em recuperação da saúde, e que sempre contou esse detalhe pitoresco deste escriba indo ao banheiro às pressas. Os dois, perplexos, olhavam para as manchas de sangue e detritos no meu paletó.

As versões

A história foi apurada. Passei anos desconfiado sem saber quem teria sido o mentor. Atribuía-se inicialmente ao ex-deputado Ricardo Zarattini, que chegou a ser torturado, e ao professor Edinaldo Miranda. Teria sido perpetrado pela Ação Popular, a AP, da esquerda católica, sendo o ex-padre Alípio de Freitas o mentor, e Raimundo Gonçalves Figueiredo, Raimundinho, codinome Chico, o operador. Este morreu em abril de 1971 em tiroteio com policiais.

Maleta escura

Jacob Gorender, no livro "Combate nas Trevas", relata parte do caso. Uma maleta escura com a bomba foi encostada numa pilastra próxima à livraria Sodiler. O guarda-civil Sebastião Thomaz de Aquino, o Paraíba, ex-jogador do Santa Cruz Futebol Clube, teria pegado a maleta para entregá-la no DAC, ali no aeroporto. A bomba explodiu. Matou duas pessoas e feriu 14.

Investigação

O Jornal do Commercio, de Recife, sob a coordenação do repórter Gilvandro Filho, entrevistou o padre Alípio de Freitas, já em Portugal, que defendia a causa de operários e a reforma agrária. A investigação concluiu que os dois acusados eram inocentes, fato reconhecido pelo Estado apenas em 2013, por meio da Comissão da Memória e Verdade Dom Hélder Câmara. Para passar o Brasil a limpo, é mais do que hora de tirar o lixo debaixo do tapete. Até hoje, há muita especulação sobre o atentado.

Raspando o tacho

- Ao desdizer o ministro Fernando Haddad sobre a meta do déficit zero no Orçamento de 2024, argumentando que não se preocupa com isso, o presidente Lula desautoriza e corrói o conceito de responsabilidade na gestão fiscal. Ruim para o prestígio do país.

- O governo vê declinar sua avaliação positiva e aumentar a avaliação negativa. Últimas pesquisas de opinião.

- Mais um naco (e que naco) do bolo foi dado ao Centrão: a Caixa Econômica Federal.

- Menos uma mulher no topo da administração Federal.

- A carnificina na Faixa de Gaza faz da ONU um organismo sem nenhum poder de decisão. Acorrentado. Inerte.

- Os terroristas do Hamas ganham com o ímpeto de guerra. A corrente religiosa vê seus mortos no paraíso.

- Cerca de 230 reféns estão nos túneis do Hamas. Israel tem encontrado poucos até o momento.

- Lula usa a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para dar recados ao mercado. E, às vezes, não se contém e manda, ele mesmo, recados obtusos.

- Rodrigo Pacheco tem divergido muito de Arthur Lira. Cada presidente com seu rolo compressor sobre o Executivo.

- Os candidatos a prefeitos em 2014 começam a contratar Institutos de Pesquisa.

- Murilo Hidalgo, do Instituto Paraná Pesquisas, manda resultados do levantamento que acaba de fazer em Curitiba. O ex-prefeito Luciano Ducci (PSB) lidera a corrida para a prefeitura, com 25,6% das intenções de voto, seguido pela deputada Rosângela Moro (União Brasil), com 15,3%.

- Brasil bate recorde de população empregada. Ótimo.

- Em uma carta conjunta, Jennifer Aniston (Rachel), Courteney Cox (Monica), Lisa Kudrow (Phoebe), Matt LeBlanc (Joey) e David Schwimmer (Ross) lamentaram a partida do colega de elenco de Friends, Matthew Perry. "Éramos mais que uma família", dizem na carta.

- Ex-diretora de Paulo Guedes, Marina Helena, suplente de deputada, será candidata do Novo à prefeitura de SP. Foi chefe de desestatização do governo Bolsonaro.

- Mais enchentes no Sul. Seca piora no Norte. Brasil e suas regionalidades.

- E Neymar, hein? Messi, pela 8ª vez, é o melhor jogador de futebol do mundo. Neymar vai passar uns 10 meses no retiro, viajando no seu avião e gozando férias no ócio. Claro, e tentando se recuperar da lesão no joelho. Seu time das Arábias que espere...

Táticas de guerra

- Fecho a coluna com pequenas lições sobre as formas de guerrear.

Táticas de guerra, segundo o general Sun Tzu

"Prepare iscas para atrair o inimigo.

Finja desorganização e esmague-o.

Se ele está protegido em todos os pontos, esteja preparado para isso. Se ele tem forças superiores, evite-o.

Se o seu adversário é de temperamento irascível, procure irritá-lo. Finja estar fraco e ele se tornará arrogante.

Se ele estiver tranquilo, não lhe dê sossego.

Se suas forças estão unidas, separe-as. Ataque-o onde ele se mostrar despreparado, apareça quando não estiver sendo esperado.

- Quando em região difícil, não acampe. Em regiões onde se cruzam boas estradas, una-se aos seus aliados. Não se demore em posições perigosamente isoladas. Em situação de cerco, deve recorrer a estratagemas. Numa posição desesperada, deve lutar. Há estradas que não devem ser percorridas e cidades que não devem ser sitiadas.

- Não marche, a não ser que veja alguma vantagem; não use suas tropas, a menos que haja alguma coisa a ser ganha; não lute, a menos que a posição seja crítica. Nenhum dirigente deve colocar tropas em campo apenas para satisfazer seu humor; nenhum general deve travar uma batalha apenas para se vangloriar. A ira pode, no devido tempo, transformar-se em alegria; o aborrecimento pode ser seguido de contentamento. Porém, um reino que tenha sido destruído jamais poderá tornar a existir, nem os mortos podem ser ressuscitados."

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.