Migalhas de Peso

As novas funções do gestor de tecnologia em escritórios de advocacia

A tecnologia é e continuará ser uma das áreas mais importantes nos escritórios de advocacia e seus gestores devem ser valorizados sempre.

19/2/2025

Quando comecei a trabalhar nesse mercado (anos 80) sequer existia o diretor administrativo, pois essa função era absorvida normalmente pelo sócio mais sênior (managing partner). Os grandes escritórios começaram a se tornar “empresas prestadoras de serviços legais” e perceberam que era mais eficiente e produtivo haver uma pessoa com formação gestão/administração para cuidar de todos os seus aspectos gerenciais e assim apareceu a figura do gestor profissional contratado, não advogado. 

Com a abertura do mercado brasileiro houve um crescimento exponencial dos escritórios de advocacia com o aumento efetivo na utilização mais intensiva da tecnologia com o advento das redes de computadores, sistemas de faturamento e financeiros, internet, etc. Neste período os escritórios além de seus diretores administrativos começaram a perceber a necessidade da existência de um profissional com conhecimento específico para gerir essa tecnologia em continua evolução e começaram a criar a função de gerente de tecnologia.

Com o aumento exponencial das complexidades e a busca frenética por maior eficiência e produtividade decorrente da maior concorrência, essa função evoluiu para diretor de tecnologia ou CTO - chief technology officer com a agregação de outras funções e preocupações que sequer existiam antes, tais como: acesso remoto, redundâncias, segurança, firewalls, sistemas em nuvem, etc.

Estamos vivendo alteração importante na forma da utilização da tecnologia nos escritórios de advocacia, passando esta de uma atividade acessória e de backoffice para uma área importantíssima na produção jurídica e na gestão do negócio jurídico. Essas mudanças criaram necessidades e “skills” que os tradicionais gestores de TI tradicionais não conseguem absorver sozinhos e exigindo a presença de profissionais híbridos como por exemplo a figura do “tech lawyer”, ou seja, aquele novo profissional que além de ser advogado e exercer a profissão, também tem conhecimento de áreas correlatas à tecnologia.

A área de TI antes concentrava tudo o dizia respeito a computadores, mas atualmente está se concentrando apenas nos aspectos puramente tecnológicos tais como infraestrutura, comunicação, velocidades, etc. Com a adoção dos sistemas em nuvem várias outras funções antes desenvolvidas e gerenciadas pelas áreas internas de TI passaram a ser fornecidas e geridas pelos provedores externos desses serviços, tais como firewalls, antivírus, cybersecurity, redundâncias, etc.

A chegada da inteligência artificial (final de 2022) trouxe mais uma revolução, pois pela sua facilidade de interlocução com profissionais não tecnólogos possibilitou a sua adoção sem a interferência das áreas de TI.    

Os organogramas mais recentes preveem uma seria de áreas e posições que são ligadas à inovação, eficiência, controles, planejamento, que utilizam a tecnologia mas não são obrigatoriamente subordinadas a ela. Áreas como “data analytics” “information governance”, “knowledge management”, “innovation lab”, “risk management”, “AI and Advanced Analytics”, “Legal Data Strategy”, que eram absolutamente estranhas ao Direito atualmente aparecem com bastante frequência.

Tudo isto quer dizer que o gestor de tecnologia perdeu sua importância? Absolutamente não! Gerir corretamente a tecnologia continua sendo importante e cada vez mais! Não nos deixemos levar pela falsa impressão que a inteligência artificial vai resolver todos os nosso problemas. Ela sim, está trazendo mudanças radicais em todas as áreas e profissões e também na profissão de gestor de TI!

José Paulo Graciotti
Consultor, sócio e fundador da GRACIOTTI CONSULTING. Autor do livro "Governança estratégica para escritórios de advocacia" e com 40 anos de experiência na á area de gestão juridica.

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