A tecnologia e a inteligência artificial estão provocando transformações profundas na prática jurídica. Ferramentas de automação, jurimetria e análise de documentos estão tornando mais eficiente o trabalho técnico, mas isso por si só não garante competitividade. A verdadeira diferenciação hoje vem da capacidade de estruturar o negócio da advocacia com visão estratégica, dados confiáveis e entendimento dos desafios do cliente.
É aí que entram dois pilares que, cada vez mais, precisam caminhar juntos: Legal Operations e Business Development.
Enquanto Legal Operations trata da eficiência operacional, da estruturação de processos, da gestão de recursos e, especialmente, da organização e análise de dados internos, o Business Development precisa da organização desses dados para gerar ações assertivas no desenvolvimento de novos negócios, fortalecendo relacionamentos e criando propostas de valor realmente alinhadas às necessidades dos clientes.
Sem dados, não há estratégia. Sem estratégia, não há crescimento sustentável.
Embora muitos escritórios reconheçam, em teoria, que a organização eficiente dos dados é essencial para impulsionar o desempenho e ganhar competitividade, na prática, são poucos os que conseguiram implementar processos bem definidos para coleta, gestão e uso estratégico das informações coletadas para a geração de negócios de forma assertiva.
Ou seja, existe uma lacuna crítica entre a eficiência operacional dos processos internos e a eficiência organizacional das informações para o desenvolvimento do negócio. Escritórios que desejam crescer, inovar e manter relevância precisam fechar essa lacuna. Isso significa tratar as informações organizacionais — como histórico de clientes, indicadores de produtividade, feedbacks, tipos de demandas, tempo médio de atendimento, entre outros — como ativos estratégicos.
Não se faz Business Development olhando para fora com um sistema desorganizado por dentro.
Hoje, advogar vai muito além da entrega técnica. Os clientes estão mais exigentes e esperam escritórios que compreendam o seu negócio, comuniquem-se com clareza, antecipem riscos e proponham soluções que impactem a perenidade dos negócios. Para isso, é preciso conhecer profundamente o próprio funcionamento interno. Saber, por exemplo:
- quais áreas do escritório geram mais receita (e quais não);
- quais assuntos têm maior valor para os clientes
- quais os índices de conversão das propostas
- quais clientes têm maior potencial de crescimento;
- quais recursos são mais demandados pelos clientes;
- quais os níveis de satisfação do cliente;
- quais os ciclos e a periodicidade de contratação;
- quais informações devem compor os relatórios para os clientes;
- quais prazos ou fluxos estão gerando gargalos operacionais.
Esse tipo de visão só é possível com uma estrutura de Legal Operations bem desenhada e integrada ao time de Business Development para que possa obter e compartilhar os insights necessários ao crescimento estruturado dos escritórios.
Além disso, com a crescente adoção da inteligência artificial no mercado jurídico, as soft skills e a experiência humana passam a ser ainda mais valorizadas. O que diferencia um escritório, cada vez mais, é como ele se relaciona, como entrega e como se posiciona de forma relevante junto aos clientes durante toda a jornada da prestação do serviço. Nesse sentido, comunicação, empatia, escuta ativa e visão estratégica tornam-se competências indispensáveis ao exercício da advocacia.
A liderança tem papel determinante para garantir a gestão e a perenidade dos escritórios. Não basta exigir visão de negócio da equipe se a cultura interna não favorece inovação, colaboração e uso inteligente da informação. Cabe aos líderes criar um ambiente onde todos os colaboradores entendam o impacto do seu trabalho, atuem com mentalidade empreendedora e colaborativa e participem ativamente na construção de um escritório mais eficiente.
Legal Operations organiza, Business Development direciona. Juntas, essas frentes criam a base para um escritório escalável, estratégico e preparado para o futuro.
Os escritórios que compreendem essa correlação estão evoluindo: entregam mais valor para os clientes, tomam decisões com base em dados e constroem posicionamento de longo prazo. Já os que ainda resistem a enxergar a prática da advocacia como um negócio — com toda a responsabilidade que isso implica —, correm o risco de perder relevância num mercado onde clientes exigentes e bem informados demandam mudanças imediatas na prestação dos serviços jurídicos.