Migalhas de Peso

A morte, o avião e o banheiro

Reflexão poética sobre igualdade, identidade e inclusão a partir de um detalhe simples: O banheiro sem gênero em um voo a dez mil metros.

21/5/2025

Outro dia, voando a dez mil metros de altura, fui surpreendido por um pensamento curioso, que acabei dividindo com um comissário de bordo: por que o banheiro do avião não tem placa de gênero? Não há “masculino” ou “feminino”. Apenas uma porta, um trinco e a necessidade — humana, universal, igual para todos.

A experiência de cruzar aquela porta é quase filosófica. Ninguém discute, ninguém reivindica exclusividade. Cada um entra, faz o que precisa. Simples assim. Como a morte, que não pergunta quem você é antes de bater à porta: chega para todos, sem distinção.

Aqui embaixo, no chão firme da civilização, continuamos amedrontados. Medo de misturar, de acolher, de aceitar que nem todos cabem nas etiquetas. Há quem transborde os quadrados dos banheiros binários. E isso é tão legítimo quanto qualquer outra identidade.

Pessoas trans enfrentam hostilidade. Crianças com pais solo recebem olhares atravessados. Pessoas com deficiência, degraus intransponíveis. E tudo isso por causa de uma necessidade tão elementar — mais simples, impossível.

Será que já não passou da hora de criarmos espaços mais generosos? Se até a morte é democrática e os banheiros das alturas também, talvez o problema não esteja nas portas ou nas placas — mas em nós.

Stanley Martins Frasão
Advogado, sócio de Homero Costa Advogados Diretor Executivo do CESA Centro de Estudos das Sociedades de Advogados

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