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Como distribuir (corretamente) os lucros em escritórios de advocacia

Atributos objetivos e subjetivos definem a importância relativa de um sócio. Volume da carteira, eficiência, produtividade, rentabilidade, além de planejamento, gestão financeira e de pessoal.

20/6/2025

Na maioria das empresas a distribuição de lucros é feita de maneira proporcional ao percentual de cotas ou ações que cada sócio possui em relação a uma serie de entidades que compõem o chamado “patrimônio da empresa” que em boa parte se compõe de itens físicos, palpáveis e facilmente valorizáveis.

O problema mais importante que aparece logo de inicio com escritórios de advocacia decorre do fato que eles são prestadores de serviços intelectuais onde praticamente não existe um patrimônio físico sendo que seu valor é definido por vários fatores, na sua maioria subjetivos (com algumas exceções).

Este aspecto torna essa tarefa muito difícil (eu diria quase impossível) de se implementar em qualquer escritório de advocacia um critério de distribuição de lucros que consiga deixar todos os sócios satisfeitos com sua remuneração (retirada de lucros), pois existem algumas variáveis que não são difíceis de serem valoradas (subjetivas). Vamos ver algumas:

Normalmente escritórios de advocacia não tem patrimônio fisco, pois, imóveis são alugados, servidores e equipamentos de tecnologia (que costumavam exigir grandes investimentos) atualmente foram transformados em serviços em “cloud” e finalmente moveis e utensílios, apesar de exigir um certo volume de investimento inicial, costumam não ter quase nenhum valor de revenda.

Então, onde está o real valor ou o “patrimônio” de um escritório?

A frase que sempre utilizo para escritórios de advocacia é: “o patrimônio desce a escada (ou elevador) todos os dias e vai para casa” e isto que dizer que o verdadeiro patrimônio está nas pessoas e no conhecimento acumulado por estas. Os documentos existentes, que representam em ultima instância o conhecimento acumulado ao longo do tempo, só tem uma certa importância relativa se existirem os profissionais que os criaram e/ou que possam interpretá-los para as necessidades de seus clientes.

É bom termos sempre em mente que atualmente  com os aplicativos de inteligência artificial é bastante fácil criar contratos , petições, recursos e outros documentos jurídicos, mas “graças a Deus” ainda são necessários o cérebro e o conhecimento humanos para ajusta-los da melhor forma e verificar se são utilizáveis para os desafios dos clientes.

Num mercado atual altamente competitivo, os principais aspectos que tornam um escritório almejado e atrativo a seus potenciais clientes são: o reconhecimento de sua qualidade técnica, sua eficiência, sua confiabilidade, respeitabilidade, ética e sua acessibilidade financeira. Em palavras mais simples, o que o cliente busca é alguém que seja confiável, com qualidade e capacidade técnica para de resolver juridicamente seu problema e que tenha um custo compatível com seu orçamento empresarial!

Para que isto seja atingido, o escritório deve gerenciar muito bem seu patrimônio, ou seja as pessoas que o compõem, mas também seus custos para garantir a eficiência necessária para se sobressair nesse mercado cada vez mais competitivo e portanto os avaliadores e relativisadores societários (a importância relativa entre sócios) devem seguir a mesma linha de raciocínio.

  1. Os sócios devem ser avaliados por meio de atributos subjetivos tais como: Seu conhecimento e profundidade técnica, seu reconhecimento no mercado, sua capacidade de atendimento e manutenção de clientes atuais, pela atração de novos clientes, casos e ser um bom gestor de pessoas e líder de equipe.
  2. Outras características objetivas muito importantes devem ser levadas em consideração tais como: Percentual da carteira gerida, eficiência, produtividade e rentabilidade individuais e de sua equipe ou em outras palavras qual é sua contribuição financeira para a empresa.
  3. O terceiro elemento deve ser a sua capacidade e envolvimento na gestão operacional, financeira e técnica (atualmente), bem como sua visão do mercadoe planejamento estratégico futuro.

Cada escritório deve encontrar um balanceamento entre todos esses critérios subjetivos e objetivos de modo a acomodar as características individuais de cada sócio de modo a valorizar cada uma dessas qualidades e gerando um ambiente saudável, mas ao mesmo tempo competitivo. A combinação e pesificação desses atributos/qualidades elaborada periodicamente é que deve determinar a participação de cada sócio na distribuição de lucros daquele período.  

Nem “eat what you kill” nem “lock step” e sim uma combinação entre os dois!

José Paulo Graciotti
Consultor, sócio e fundador da GRACIOTTI CONSULTING. Autor do livro "Governança estratégica para escritórios de advocacia" e com 40 anos de experiência na á area de gestão juridica.

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