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Cobrança: Mal necessário ou etapa estratégica no relacionamento com o cliente?

Cobrança não é ruptura - é reconexão. Descubra como transformar dívidas em fidelização e fortalecer relações mesmo nos momentos mais delicados.

6/7/2025

Durante muito tempo, falar de cobrança foi quase um tabu. Era como se esse momento representasse o fim da relação com o cliente - o instante em que a empatia se encerrava e entrava em cena o rigor, o jurídico, a frieza. Por isso, virou senso comum tratá-la como um “mal necessário”. Um mal que ninguém gosta de praticar, mas que todo negócio precisa enfrentar.

Só que essa visão, além de ultrapassada, é perigosa. Ela transforma a inadimplência num campo de guerra. Faz com que se enxergue o cliente inadimplente como problema - e não como parte da solução. Mas e se for justamente nesse momento que a relação pode se transformar? E se a cobrança não for o fim da linha, mas um ponto de reconexão

O que o inadimplente sente?

Vamos inverter a lógica por um instante. Em vez de olhar para a cobrança a partir do credor, olhe pela perspectiva de quem está devendo. Na maioria dos casos, essa pessoa sente:

Vergonha: Porque não conseguiu cumprir o que prometeu.

Medo: De ser exposta, humilhada ou processada.

Ansiedade: Por não saber como resolver, ou por já estar lidando com outras pressões.

Solidão: Porque muitos se afastam quando o pagamento atrasa.

Se, diante disso, a abordagem é fria, agressiva ou impessoal, o que era um problema pontual vira uma ruptura definitiva. Agora, quando a condução é respeitosa, estratégica e humana, algo muda. O cliente percebe que está lidando com uma organização diferente. Uma que se importa com a relação - não apenas com o valor a receber.

A cobrança como parte da experiência do cliente

Negócios inovadores já entenderam que a cobrança não é um momento isolado, mas uma continuação da jornada. O mesmo cuidado que se tem para atrair, vender e encantar precisa existir ao cobrar. Porque o cliente inadimplente de hoje pode ser o cliente fiel de amanhã - se for tratado com respeito, clareza e inteligência. A forma como se cobra revela mais do que técnicas: revela valores.

Cobrança que fideliza? Sim.

Pode parecer contraditório à primeira vista, mas cobrar bem é um gesto de cuidado. É cuidar da saúde financeira da operação. É preservar a dignidade do cliente, mesmo em momentos difíceis. É manter o vínculo vivo, mesmo após o tropeço.

Uma cobrança bem conduzida pode ser o motivo pelo qual o cliente confia ainda mais. Porque viu que, mesmo em crise, foi tratado com humanidade e profissionalismo. E isso fideliza.

Não é sobre cobrar ou não cobrar. É sobre como cobrar.

Cobrar não é abrir mão da firmeza. É abrir mão da hostilidade. Não é ceder. É negociar com inteligência. Não é empurrar. É conduzir.

O que afasta não é a cobrança. É a cobrança mal feita. É a falta de método, de empatia, de alternativa. Quando há clareza, escuta ativa e propostas viáveis, o resultado é mais que recuperação de valores - é recuperação de confiança.

Então, afinal: Cobrança é um mal necessário?

Não. Cobrança não é um mal. E também não precisa ser necessária no pior sentido da palavra. Ela é uma etapa estratégica da relação comercial. É parte da jornada do cliente. E, se bem feita, pode ser o diferencial que transforma o negócio em referência - admirada, confiável e lembrada.

Cobrar com sabedoria é, antes de tudo, demonstrar maturidade na relação. E relações maduras resistem. Crescem. E constroem algo que vai muito além do pagamento: constroem parceria.

Anderson Rodrigo Leite da Silva
Advogado na área de Contencioso Cível Consumidor e Cobrança em Martorelli Advogados.

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