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"Investi e sumiu": Golpe financeiro e a culpa dos bancos

O que parece seguro pode esconder um esquema milionário de fraude. Veja como identificar armadilhas digitais e o que fazer caso você caia em uma delas.

10/7/2025

Nos últimos anos, os brasileiros têm sido alvos constantes de fraudes financeiras cada vez mais sofisticadas. Em um cenário de crescente digitalização e promessas fáceis de rentabilidade alta, muitos acabam caindo em armadilhas virtuais que simulam, com perfeição assustadora, o ambiente de grandes instituições do mercado financeiro.

Esses golpes seguem um roteiro bem planejado:

  1. Aparência confiável - Sites e perfis falsos imitam instituições reais para ganhar credibilidade.
  2. Abordagem direta - “Consultores” entram em contato oferecendo investimentos com lucros altos e garantidos.
  3. Promessas sedutoras - As vítimas acreditam em ganhos rápidos e seguros, e caem na conversa.
  4. Transferências via pix - O dinheiro vai para contas de terceiros, fora do sistema financeiro oficial.
  5. Plataforma simulada - Uma interface falsa mostra lucros fictícios, mas impede qualquer saque.
  6. Desaparecimento - Após extrair o máximo da vítima, os golpistas somem, deixando apenas prejuízos.

Diante disso, muitos se perguntam: "Se foi um golpe, posso responsabilizar o banco?" A resposta é: sim, dependendo do caso.

No Direito Bancário, os tribunais vêm reconhecendo a responsabilidade objetiva das instituições financeiras por fraudes praticadas em seus sistemas ou com o uso de suas estruturas. Isso significa que o banco pode ser responsabilizado mesmo que não tenha agido com dolo ou culpa direta.

A ausência de bloqueio ou investigação mínima dessas contas levanta a possibilidade de falha na prestação do serviço bancário, conforme previsto no CDC e reforçado por decisões do STJ.

Se você suspeita que caiu em um golpe financeiro, a primeira medida é interromper imediatamente qualquer nova transferência - os golpistas costumam usar pressão emocional para manter o controle da situação. Em seguida, registre um boletim de ocorrência detalhado, reunindo o máximo de provas possível. Comunique o seu banco formalmente e solicite, por escrito, o bloqueio das transferências realizadas e a abertura de um MED - Mecanismo Especial de Devolução, que é um procedimento criado pelo Banco Central para tentar reaver valores enviados via pix em casos de fraude.

Também é fundamental procurar um advogado especializado em Direito Bancário e fraudes, pois ele poderá entrar com ação judicial para buscar a restituição dos valores. Para se proteger no futuro, desconfie de promessas de retorno financeiro elevado e sem risco, pesquise a empresa em órgãos como a CVM e o Banco Central e evite transferências para contas de terceiros.

A sofisticação desses golpes exige mais do que atenção: exige informação, ação rápida e estratégia jurídica adequada. Em muitos casos, não é apenas o golpista que deve ser responsabilizado - as instituições financeiras envolvidas também podem responder civilmente, especialmente quando falham em detectar movimentações atípicas ou em aplicar os mecanismos de prevenção a fraudes.

Por isso, se você foi vítima de um esquema como esse, não se cale, nem tente resolver sozinho. A orientação de um advogado especializado em fraudes bancárias é essencial para conduzir as medidas corretas, tanto na esfera administrativa quanto judicial, aumentando as chances de recuperar os valores perdidos. O Judiciário tem evoluído no reconhecimento dos direitos das vítimas. O Direito está ao seu lado - desde que você o acione da forma certa.

Bruna Souza
Advogada especialista em Direito Bancário, com atuação nacional. Graduada pela UEMS e pós-graduada em Processo Civil pela UERJ. Sede do escritório em São Paulo/SP. Instagram: @brunasouza.advogada

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