No último dia 12/11, tive o prazer de escutar uma preleção do Prof. Kevin Fong, OBE na ILTACON Europe 2025 em Londres. Sua apresentação abordou o tema “como aprender com nossas falhas – o fator humano” (minha tradução livre). Essa apresentação me fez pensar no assunto sob o foco dos desafios que o mundo jurídico está enfrentando desde o aparecimento dos modelos de LLM’s e como os escritórios de advocacia podem e devem se adaptar a essas profundas alterações que a IA está trazendo.
Recentemente fiz uma breve discussão sobre esse assunto num artigo publicado por mim no Migalhas chamado “Dúvidas e certezas na utilização da IA em Escritórios de Advocacia”1 e considero esta discussão como um complemento do anterior.
Repetindo parte do anterior, todos temos a plena consciência que esta tecnologia ainda não atingiu um patamar estável onde todos os parâmetros, modelos, critérios, melhores práticas e sistemas estão claramente definidos e, por esse motivo faço um paralelo com a apresentação do Prof. Fong usando seus ensinamentos de como devemos nos comportar no enfrentamento a esse desafio e passarmos da melhor forma por essa turbulência técnica.
Na discussão anterior abordei os temas objetivos tais como, porque utilizar, a fase atual de desenvolvimento, os custos, investimentos e o ROI e também a possível reação do mercado consumidor mas, neste quero abordar o tema do fator humano.
A primeira coisa que vem em mente é o fato que o mercado jurídico está se deparando com uma situação totalmente disruptiva onde e quando a adaptabilidade deve ser o aspecto preponderante nesse enfrentamento. Advogados e técnicos estão sendo forçados a se adaptar e gestores obrigados a rever e ajustar regras e procedimentos internos e tudo isso “com a roda girando”!
Até o pouquíssimo tempo, novas tecnologias podiam ser adotadas e implementadas simplesmente utilizando-se o ciclo “SISTEMA mais PESSOAS, com TRABALHO EM EQUIPE e TREINAMENTO” para chegar ao sucesso. No caso da IA, o ciclo anterior não é o suficiente, pois estamos enfrentando um momento de INCERTEZAS, VOLATILIDADE, COMPLEXIDADE e AMBIGUIDADE e essa situação nunca havia sido experimentada antes.
Apenas para citar novamente as principais incertezas e dúvidas cito:
1. Usar sistemas de mercado já prontos ou desenvolver seu próprio?
2. Qual é o melhor sistema ou o melhor modelo?
3. Sair na frente e ser desbravador ou aguardar a melhor solução?
4. Como considerar nos custos e preços?
5. Como implementar e treinar, principalmente os mais velhos?
Para a nova situação deve-se acoplar ao ciclo anterior um novo ciclo de adaptabilidade / resiliência que contemple as seguintes fases: “FALHA, APRENDIZADO, FEEDBACK e MELHORIAS” de modo a retroalimentar o primeiro e fornecendo a este mais experiência, como na figura abaixo:
O primeiro ciclo fornece o conhecimento necessário básico acumulado em experiências anteriores para se aventurar numa situação tempestuosa, da mesma forma que um piloto de avião precisa ter muitas horas de treinamento em simuladores e também muitas horas de voo para se sentir apto a enfrentar turbulências. Mesmo com esse treinamento, cada turbulência pode ser diferente e oferecendo ao piloto novos desafios à pratica e conhecimento acumulados, trazendo novas experiências vividas que serão incorporadas ao know-how anterior.
Com a conexão entre esses dois ciclos, cria-se um novo grande ciclo envolvendo os dois anteriores sendo: Know-how básico que gera o conhecimento mínimo para o enfrentamento, a ADAPTABILIDADE gerando o aprendizado fornecendo as novas EXPERIÊNCIAS que vão retroalimentar o ciclo inicial, possibilitando a RECAPACITAÇÃO da equipe.
Dessa forma, não há fórmula mágica para se enfrentar esse desafio. Somente errando e aprendendo com os erros e tendo a humildade e resiliência para sair da zona de conforto para entender que deve-se aprender sempre e nunca desistir!
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1 https://www.migalhas.com.br/depeso/443598/duvidas-e-certezas-na-utilizacao-de-ia-nos-escritorios-de-advocacia