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Revisão de contratos bancários e juros abusivos: Quando fazer?

Análise atual das bases legais e jurisprudenciais para revisão de contratos bancários e juros abusivos, com destaque para a importância de assessoria especializada.

27/11/2025

As linhas de crédito oferecidas por bancos e financeiras são essenciais para a realização de projetos pessoais ou empresariais. Porém, nem sempre os contratos são transparentes ou obedecem aos limites de razoabilidade estabelecidos pela legislação e pela jurisprudência. Em alguns casos, o consumidor se vê pagando juros remuneratórios, encargos e tarifas muito acima do mercado, o que pode comprometer sua capacidade de pagamento e transformar o sonho do financiamento em um pesadelo. É aí que surge a revisão de contrato bancário, uma ação judicial que busca reequilibrar as condições do negócio.

Quando a revisão é válida?

A legislação brasileira não fixa um teto absoluto para juros cobrados por bancos, mas a Constituição e o CDC garantem que não haja abuso. A jurisprudência recente do STJ consolidou que a taxa contratada precisa ser claramente desproporcional à taxa média de mercado e gerar desvantagem exagerada ao consumidor para que seja considerada abusiva. Em outras palavras, nem sempre uma taxa acima da média do Banco Central justifica a revisão; é preciso demonstrar que o contrato foi firmado em contexto de desequilíbrio e que os encargos inviabilizam o pagamento.

Além disso, outras cláusulas podem ser discutidas, como capitalização mensal de juros sem previsão contratual, cobrança de tarifas não contratadas, seguros embutidos e multas excessivas. A ação revisional também pode afastar a aplicação de juros compostos se não houver pactuação clara.

Novas leis e maior segurança jurídica

Nos últimos anos, o Congresso Nacional aprovou normas que trouxeram mais previsibilidade às relações financeiras. A lei 14.905/24 estabeleceu que, nos contratos em que não se convencionou índice de correção e juros, a atualização monetária deve seguir o IPCA e os juros devem seguir a Selic. A mesma lei afastou a lei da usura em operações envolvendo instituições financeiras e reforçou a liberdade das partes para definir índices, sem eximir o dever de transparência.

Já a lei 15.252/25 ampliou direitos dos clientes de bancos, como a portabilidade automática de salário e débitos entre instituições. Ela também determina que os bancos ofereçam informações claras sobre taxas e modalidades de crédito, inclusive linhas com juros reduzidos para mitigar o risco de inadimplência. Essas medidas estimulam a concorrência e facilitam a comparação entre produtos, ajudando o consumidor a negociar melhores condições antes mesmo de pensar em uma ação judicial.

Por que contar com um advogado especializado?

A revisão de contratos bancários exige análise técnica e conhecimento aprofundado da jurisprudência. Um advogado especializado em direito bancário pode identificar cobranças ilegais, calcular a diferença entre a taxa contratada e a média de mercado e reunir documentos que comprovem a abusividade. Além disso, a propositura de uma ação não suspende automaticamente as obrigações contratuais: em financiamentos com garantia, o banco pode prosseguir com a cobrança ou até mesmo com a retomada do bem se houver inadimplência. Por isso, é fundamental orientação profissional para avaliar o risco e manter o pagamento das parcelas enquanto durar o processo.

Outro ponto importante é o prazo prescricional. Em geral, o consumidor tem até dez anos para pedir a revisão. Em contratos renovados várias vezes, o prazo começa a contar da data do último instrumento assinado. Perder o prazo significa abrir mão do direito de contestar as cláusulas abusivas.

Conclusão

A revisão de contrato bancário continua sendo uma ferramenta valiosa para consumidores e empresários que enfrentam juros abusivos ou cobranças indevidas. Entretanto, o sucesso da ação depende de uma análise criteriosa dos documentos e da comprovação de desequilíbrio contratual. Com as recentes mudanças legislativas e o amadurecimento da jurisprudência, tornou-se ainda mais importante contar com assessoria jurídica especializada. Um advogado com experiência na área pode identificar as melhores estratégias, reduzir a dívida de forma legal e proteger o seu patrimônio. Não hesite em buscar ajuda profissional se você suspeita que está pagando mais do que deveria em seu contrato bancário.

Univar Piva Fadanelli
Advogado Empresarial, com LL.M em Direito Empresarial pela FGV. Especialista em litígios societários, passivo bancário e proteção de empresários. Fundador do Piva Fadanelli Advogados.

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