Porandubas Políticas

Porandubas nº 238

23/6/2010

Está "distituído"

O major José Ferreira, cearense dos bons, amigo do padre Cícero, é quem relata : "Há muito matuto inteligente e sagaz, mas também há muito sujeito burro que se a gente amarrar as mãos dele pra trás das costas, ele não sabe mais qual é o braço direito nem o esquerdo... Eu também conheço matuto que, abrindo a boca, já sabe : ou entra mosca, ou sai besteira." O major continua a conversa : "Quando foi criado o município de Missão Velha, a escolha do primeiro intendente recaiu num velho honrado, benquisto e prestigioso, mas muitíssimo ignorante. Cabia-lhe o encargo de declarar instituído o município. Um dos "língua" do lugar seria o orador oficial. Ele, o chefe do executivo municipal, deveria dizer simplesmente : "Está instituído o município de Missão Velha !". Levou quinze dias decorando a frase, e, na ocasião da solenidade, exclamou : "Está DISTITUÍDO o município de Missão Véia." Historinha capturada pelo bom Leonardo Mota em Sertão Alegre, poesia e linguagem do sertão nordestino.

As curvas do projeto Ficha Limpa

O projeto Ficha Limpa vai passar por um longo corredor antes de ser aplicado na linha da interpretação do TSE. O presidente Lewandowski é claro na interpretação, valendo-se, inclusive, de matéria jurídica já decidida pelo STF. O ministro Marco Aurélio, único voto contrário à interpretação vitoriosa sobre a cobertura do projeto (antigos e novos), usa também o arcabouço jurídico do Supremo para dizer que entendimento do TSE será derrubado. Na dúvida, os implicados apelarão para as Cortes. Garotinho, no RJ, já o fez. Os recursos vão se multiplicar. Mas os condenados em segunda instância já contabilizam perdas : seus nomes e perfis frequentam os espaços midiáticos.

Maluf limpo

A propósito, Paulo Maluf, que enfrenta uma batelada de processos na Justiça, sai-se com essa : "tenho a ficha mais limpa do Brasil". Em abril deste ano, o TJ/SP condenou Maluf, em decisão colegiada, a devolver R$ 21 mil aos cofres públicos. Decisão que diz respeito à compra superfaturada de mais de uma tonelada de frango pela prefeitura, quando ele era prefeito, de 1993 a 1996.

O curral dos fichas sujas

Pois bem, o TCU acaba de apresentar a lista : 4.922 administradores em todo o país, acumulando 7.854 condenações por irregularidades em convênios de Estados e municípios com entidades Federais, não poderão disputar a eleição de outubro. Muitos tentarão sair do curral. O maior contingente é do Maranhão : 728 condenações. Esse contingente se soma aos perfis parlamentares que foram condenados em segunda instância.

Ofensiva e defensiva

Nos últimos dias, esse consultor registra volume ofensivo considerável na frente de batalha de José Serra. A todo o momento, cobra respostas e explicações de Dilma sobre o tal dossiê que teria sido objeto de armação de um grupo de neo-aloprados. Dilma diz que não tem nada com isso. Os caras envolvidos serão objeto de ampla exposição na mídia. A questão é : será que esta questão sensibilizará os grandes núcleos eleitorais ? É mais provável que seja fator de consolidação de grupos já definidos. Tucanos se unirão no uso da trombeta de Serra contra Dilma e petistas dirão que se trata de uma armação. Cada um com sua versão.

Pegou o gol ?

Chico Alves, editor da Tribuna do Ceará, esperava, domingo de noite, a foto principal da primeira página para fechar o jornal. Ceará e Fortaleza estavam acabando o clássico do Estado, que ia ser a manchete de segunda-feira. Ceará ganha de 1 x 0, com um gol fantástico, de placa. Chega correndo Gumercindo Gomes, velho e cansado fotógrafo. Chico Alves grita aliviado :

- Tudo bem, Gumé ? Pegou o gol ?

- Não deu pra pegar não, seu Chico. Foi muito rápido.

- E agora ? Como é que eu vou fechar o jornal sem a foto do gol ? Você fracassou.

- Ora, seu Chico, se o goleiro, que é pago para isso, não pegou, eu é que tinha que pegar ?

Quem conta o causo é o amigo Sebastião Nery.

Formação de imagem

Nesse momento, muitos candidatos se esforçam para produzir uma imagem consoante com os anseios das populações eleitorais de suas regiões. Muitos não sabem por onde começar. Vamos ajudá-los. Eis aqui um breve roteiro. Procurem auscultar questões/demandas gerais e específicas de seus eleitorados e regiões; produzam uma Carta Compromisso com programas, projetos e ações a serem defendidas; selecionem três a quatro pontos-chave para servirem de eixos da identidade; organizem um sistema de comunicação eficaz – com meios e formas – para fazer chegar ao eleitorado o escopo programático; planejem um sistema de articulação com os grupos e entidades organizadas da região; e desenvolvam intensa pauta de encontros, reuniões, caminhadas, etc.

Identidade

Como pode ser aduzido, primeiro, o candidato deve arrumar o escopo de sua identidade. A seguir, precisa comunicar esse escopo à comunidade política. Ou seja, o primeiro passo é a organização da identidade. A imagem será consequência. Quanto mais verdadeira a imagem – quanto mais próximas identidade e imagem – melhor para a compreensão e a internalização (inserção na cuca do eleitor) do conceito do candidato.

Percepções

O que é a imagem ? Imagem é a projeção, a extensão da identidade. Tentemos, aqui, analisar a imagem de alguns perfis. Imagem de Dilma : mulher competente, técnica, braço direito de Lula, com certo ar de auto-suficiência, gerentona, ainda jejuna em matéria política, fiadora da herança Lula, sem domínio das massas, expressão técnica, representante da condição feminina com possibilidades de vitória. Imagem de Serra : experiente, preparado, maduro, com vasto histórico político-administrativo, garantidor da herança tucana, fechado, linguagem didático/técnica.

Dissonância é disparate

Entre os fenômenos que se estudam no processo de comunicação, dois são muito comuns : ruído e dissonância. O ruído, como o nome indica, abriga os desvios nos canais de comunicação, o barulho, a quantidade enorme de mensagens, as linguagens desajustadas e inadequadas. Já a dissonância aponta para a distância entre a verdade e a versão, a identidade e a imagem. Exemplo de dissonância é a logomarca de Roseana Sarney, sugerida por Duda Mendonça : "Novo Governo do Maranhão". A filha de José Sarney já tem 9 anos de Palácio dos Leões. Novo, para ela, soa mais falso que uma moeda de R$ 3. Neste caso, a dissonância é um disparate.

"Xecape" do Carlucho

Despachado, bom de lábia, ar brejeiro, dono de fazendas, Carlucho Albuquerque aproveitou a viagem ao Recife para matar saudades. Afinal, poderia assistir ao desfile de maracatus e visitar o velho museu para apreciar a decoreba que os meninos de Olinda fazem sobre a saga de sua família, os Albuquerque, aberta por Matias de Albuquerque, 1595/1647. Depois do lazer, Carlucho foi ao médico fazer um exame geral. O médico pergunta :

- Sr. Carlucho, o senhor está em muito boa forma para 40 anos.

- E eu disse ter 40 anos ?

- Quantos anos o senhor tem ?

- Fiz 58 em maio que passou.

- Puxa ! E quantos anos tinha seu pai quando morreu ?

- E eu disse que meu pai morreu ?

- Oh, desculpe ! Quantos anos tem seu pai ?

- O véio tem 82.

- 82 ? Que bom ! E quantos anos tinha seu avô quando morreu ?

- E eu disse que ele morreu ?

- Sinto muito. E quantos anos ele tem ?

- 103, e anda de bicicleta até hoje.

- Fico feliz em saber. E seu bisavô ? Morreu de quê ?

- E eu disse que ele tinha morrido ? Ele está com 124 e vai casar na semana que vem.

- Agora já é demais ! Por que um homem de 124 anos iria querer casar ?

- E eu disse que ele queria se casar ? Queria nada, mas ele engravidou a moça, coitada.

Carlucho se orgulha da tradição dos Albuquerque de Pernambuco.

O golpe do Refis

A cada dois ou três anos o governo lança um programa de refinanciamento de dívidas para empresas inadimplentes. Trata-se de uma forma de aumentar a arrecadação e dar uma chance de regularização fiscal ou tributária para empresas devedoras. A maioria, entretanto, aproveita a oportunidade, inscreve-se no programa, consegue a CND e participa do maior número possível de licitações já que está autorizada a fazê-lo por seis meses com este "alvará". Ganha contratos a preços inexequíveis e predatórios ao mercado. Inicia novos contratos, deixa novamente de pagar dívidas fiscais e tributárias e o ciclo predatório continua. É incrível, mas a roda de uma fortuna caloteira é a imagem de um país irresponsável.

O barato sai caro

Vai aqui um alerta. Quem quiser contratar uma prestadora de serviços, deve ter muito cuidado. Ao final do processo, poderá a contratante se tornar parceira do passivo trabalhista da contratada. No começo, a coisa parece um bom negócio. Tudo porque o preço parece muito alentador. E a contratante, ao querer pagar menos pelo serviço, acha que faz boa economia em relação ao custo cobrado pela prestadora anterior. Depois de algum tempo aparece a dor de cabeça. A contratada não consegue honrar os compromissos tributários, fiscais e trabalhistas. E assim desaparece do mercado. A quem recorrerão seus "herdeiros" ? Ora, à empresa que contratou por preço muito baixo. É assim que os espertos são pegos de calça curta.

Favoritos

Aparecem os primeiros favoritos de outubro para os governos estaduais : Sérgio Cabral - PMDB - no Rio; Geraldo Alckmin - PSDB - em São Paulo; Beto Richa - PSDB - no Paraná; Renato Casagrande - PSB - em Espírito Santo; Marcelo Deda - PT - em Sergipe; Eduardo Campos - PSB - em Pernambuco; José Maranhão - PMDB - na Paraíba; Rosalba Ciarilini - DEM - no Rio Grande do Norte; Cid Gomes - PSB - no Ceará; Siqueira Campos - PSDB - em Tocantins; Marconi Perillo - PSDB - em Goiás; André Puccinelli - PMDB - no Mato Grosso do Sul.

Visão embaçada

Nuvens espessas atrapalham visão em alguns Estados. Em Minas, Hélio Costa está na frente, mas Aécio poderá eleger Anastasia. No Maranhão, Roseana Sarney está na frente, mas ninguém sabe se Jackson Lago tem condições de sustentar candidatura. E há Flávio Dino. Na Bahia, Jaques Wagner está na frente, mas corre perigo em um segundo turno. Em Alagoas, o governador Teotônio Vilela poderá passar o comando para Fernando Collor ou Ronaldo Lessa.

Calamidade

Uma calamidade assola o nordeste, principalmente os Estados de Alagoas e Pernambuco. Mais de mil pessoas desaparecidas e muitos mortos. A tempestade se insere entre os fenômenos incontroláveis pela mão do homem. Os governos Federal e estaduais procuram socorrer as populações. Em ano eleitoral, o imponderável poderá mudar a direção do voto. Vamos ver como se desenvolverão as ações de ajuda.

Pesquisa IPESPE em SP

Serra, em São Paulo, tem 14 pontos na frente de Dilma : 43% a 29%. Feitas as contas, isso daria, hoje, cerca de 4 milhões de votos de maioria. Pois bem, se não tiver uma maioria entre 4 a 5 milhões de votos em São Paulo, que tem 30 milhões de eleitores, Serra está ameaçado. O nordeste deverá dar a Dilma maioria entre 6 a 7 milhões de votos. Alckmin, nesta pesquisa do IPESPE, tem 50% das intenções de voto. Vitória no primeiro turno. Celso Russomano tem 12% e Paulo Skaf apenas 2%. Para o Senado, Marta tem 38%, Quércia e Netinho de Paula empatam com 17%, Tuma registra 16% e Gabriel Chalita - ainda indefinido - contabiliza 9%. Aloysio Nunes Ferreira, o tucano, tem apenas 6%.

Chile, um exemplo

No Chile, as decisões do BC são compartilhadas com o Ministério da Fazenda. Essa é a posição de Serra. Se ganhar, diz ele, o BC só vai decidir com a participação das autoridades fazendárias. Ele quer baixar os juros e elevar o câmbio.

Conselho aos favoritos

Esta coluna dedica sua última nota a pequenos conselhos a políticos, governantes e líderes nacionais. Na última coluna, o espaço foi destinado ao técnico Dunga. Hoje, volta sua atenção aos candidatos favoritos nas eleições de outubro :

1. É comum o candidato que exibe grande dianteira ante outros usar salto alto e, por consequência, fazer uma campanha modorrenta. Isso é um perigo.

2. Campanha só é ganha após a apuração. Por isso, os francos favoritos devem fazer campanha como se fossem os lanterninhas.

3. A arrogância, a empáfia, o excesso de confiança, a soberba puxam candidatos para o buraco. Cautela e caldo de galinha, senhores favoritos, não fazem mal a ninguém. E ajudam muito nas campanhas.

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.