Porandubas Políticas

Porandubas nº 469

Lula tem uma dura missão: resgatar o PT.

12/11/2015

Abro a coluna com uma historinha da BA que cai bem para esses tempos de crise.

Uma vaquinha para o vereador

O vereador de Itiruçu, na BA, estava duro. A seca tinha comido tudo. Sem dinheiro para a feira, foi pedir ao prefeito Pedrinho. Que brincou :

- Por que você não pede a Jesus Cristo ? Ele não é o pai dos pobres ?

Voltou para casa, escreveu a Jesus Cristo pedindo 50 contos. Endereçou : "Para Nosso Senhor Jesus Cristo". E pôs no Correio. No correio, abriram a carta, levaram para o bar. Lá fizeram uma vaquinha, apuraram 42 contos, registraram e mandaram para o vereador. Quando ele abriu viu os 42 contos, sentou-se e escreveu nova carta : "Nosso Senhor, agradeço muito sua atenção. Recebi o dinheiro que lhe pedi. Mas rogo o seguinte : se o senhor for mandar dinheiro novamente, faça o obséquio de mandar em cheque, porque, dos 50 contos, o pessoal do correio meteu a mão em 8".

E hoje, hein ? Como seria hoje ? Uma vaquinha para ajudar um amigo no valor total pedido a Jesus Cristo. Uma vaquinha com menos da metade do dinheiro solicitado. Uma vaquinha com um presente de grego, digamos, uma cobra venenosa. Uma vaquinha com um bilhete : os cofres do céu estão vazios com a crise. Qual a opção mais viável ?

Meirelles na onda

Henrique Meirelles voltou ao centro da onda. Começa a circular nas rodas políticas, aferindo posições, lendo cenários, ouvindo e balbuciando ponderações. É fato que Luiz Inácio quer ver injeção na economia. Está saturado de más notícias e projeções catastróficas. Defende uma agenda positiva despontando nos horizontes do Palácio do Planalto. Meirelles poderia ser a pessoa indicada para esse momento ? Sim, para Lula. Para lideranças do setor produtivo, não será peça sobressalente de grande performance. Afinal, não há dinheiro para um novo ciclo de crédito e abertura da economia. O momento é grave.

Levy meio isolado

O retrato fala por si mesmo : terça-feira, antes de ontem, por volta de 14h lá estava Joaquim Levy, acompanhado de uma pessoa (uma só), pegando um elevador no Senado. Fazia o seu périplo rotineiro, conversando com senadores, analisando a situação, tentando ver até onde o governo pode caminhar em matéria do emperrado pacote fiscal. Falta votar alguns vetos da presidente Dilma no Senado. Levy almoçou com um grupo de senadores. Tenta verificar se a CPMF ainda é viável, analisa a conveniência da CIDE (contribuição sobre combustíveis), etc. Parece desolado, não satisfeito com o rumo das coisas. Há quem diga que não chegará ao final do ano envergando a roupa de ministro da Fazenda.

O que Lula espera

Luiz Inácio colocou o resgate do PT no primeiro lugar do ranking de suas responsabilidades. Ele é o ícone do partido e maior liderança popular, hoje, no Brasil, apesar de amargar 55% de rejeição, segundo pesquisas. Sabe que o PT está no fundo do poço da imagem. Vai tomar uma surra no processo eleitoral de 2016, quando não deve eleger tantos prefeitos como imaginava há um ano. Para resgatar o PT, ou pelo menos alguns pontos em sua imagem, Lula luta por uma agenda positiva. Afinal, os programas para as margens não podem ser esmaecidos. As classes médias já abandonaram o PT. O cobertor está curto.

Na contramão

Por isso mesmo, Lula começa a andar na contramão do governo, fazendo críticas que acabam sendo vazadas para a imprensa. O que se lê, quase todos os dias, é sua discordância sobre a condução da economia pelas mãos de Levy. Lê-se que prega a retomada do crescimento com a vitamina do crédito. Tarefa impossível quando o orçamento se apresenta cheio de rombos. Os partidos aliados, por sua vez, tenderão a seguir, cada qual, seu caminho. As alianças com o PT serão mínimas e frouxas. Diante da grave situação, Lula tentará engatar a velha verve oposicionista. Ou seja, vai se apresentar como um palanqueiro de oposição ao desgoverno que aí está. O arranque do "contra" será um artifício para conquistar as massas. Será que elas não descobrirão o engodo do orador ? Irão identificá-lo como o patrocinador responsável pela Dilma ?

Cunha

O presidente da Câmara terá dificuldades de demonstrar aos parlamentares, mesmo os de seu grupo, que as contas no exterior não são suas, mas pertencem a um trust. Mais cedo ou mais tarde, esse argumento não resistirá. Do ponto de vista formal, as contas não estão no nome dele. Mas o destinatário não é o próprio ? Este consultor acredita que parte dos membros da Comissão de Ética acatará o argumento do presidente da Casa, eis que não teria mentido. Mas parte não aceitará a tese. Quem terá maioria ?

PSDB contra

O PSDB decidiu sair da esfera de Eduardo Cunha, passando a lhe fazer oposição. A razão ? Os tucanos esperavam que o presidente da Câmara acolhesse o pedido de impeachment de Dilma. Ora, Cunha usa a prerrogativa de aceitar ou rejeitar para adiar a questão. Quanto mais tempo ele dispuser para analisar o imbróglio, mais prolongará a pressão e as ameaças contra ele. Mas os tucanos decidiram não esperar mais. Por pressão da opinião pública. Cunha, por seu lado, sabe que no momento que acolher o pedido, perderá força. Porque a tramitação do impeachment (se for acolhido) ganha vida própria. Depois disso, ele perderia força.

PT a favor e contra

Veja-se como é a política. Por muito tempo, Eduardo Cunha agiu para fazer pressão sobre a presidente Dilma, a ponto de se pensar que a vida política da mandatária estaria nas mãos dele. As coisas se inverteram. Hoje, a vida política de Cunha está nas mãos de Dilma e do PT, pois este partido pode contar com uns 10 votos no Conselho de Ética. Ora, se Cunha acolher o pedido de impeachment de Dilma, o PT votará em peso contra ele na Comissão de Ética. O PT dá demonstrações de que está, hoje, a favor dele. Claro, enquanto ele não acolhe o pedido de impeachment.

Moro

O juiz Sérgio Moro virou referência de Justiça e moral no país. Para a banda mais larga da sociedade. Para parcelas sociais, principalmente para faixas estreitas do Direito e classes médias mais altas, Moro tem sido um ponto fora da curva, ao deixar grandes empresários mais de 150 dias presos, sem serem julgados. Seriam eles ameaças à Justiça ? É o que perguntam advogados de renome. É uma discussão que se espraia no mundo jurídico.

O fundo do poço

As projeções coincidem : o fundo do poço é mais embaixo. Ainda não apareceu. Este consultor acredita que a situação tende a piorar nos próximos dois a três meses com o aumento da inflação, do desemprego e do Produto Nacional Bruto da Infelicidade. O recesso do final e início do ano será angustiado. Papai Noel circulará com o saco pobre de brinquedos.

Pobre árvore de Natal

Ontem, vi o tamanho da crise. Onde ? Na árvore que a prefeitura de SP está montando no Parque do Ibirapuera. Bem menor do que a de anos anteriores. Sinal de tempos modestos. Sinal das agruras que se abatem sobre a figura do prefeito Fernando Haddad.

Movimentos

E os movimentos sociais, onde estão ? Hoje, a fotografia mostra que o movimento maior é o dos caminhoneiros. Que tentam parar o país. O governo decide multar pesadamente os grevistas. Interessante observar : os sindicatos e associações da categoria estão contrários à paralisação. O maior líder do movimento é um empresário de SC, que faliu. Mas conseguiu formar uma rede social com mais de 500 mil participantes. Um sujeito só.

Desunião

Quase todos os sábados ocorrem passeatas na avenida Paulista. Sem grande barulho. Os movimentos não estão unidos. Ciúmes e divisões estão por trás das ações e motivações. Sem ruas movimentadas, não haverá pressão suficiente para fazer o Parlamento avançar. A conferir.

STF

Há muita expectativa sobre os próximos passos do STF na trilha da operação Lava Jato. Comenta-se que a próxima leva de indiciados sairá da esfera política. Fim de ano muito tenso para as Casas Congressuais.

De fato

Há no PT quem veja Lula como o presidente de fato. Dilma estaria conformada com sua posição de direito ? Este consultor não aposta na hipótese de Lula presidente de fato.

Armando Monteiro

Um dos melhores ministros de Dilma é o experiente Armando Monteiro, senador licenciado, ex-presidente da CNI. Tem na ponta da língua a moldura das necessidades e mudanças que o país precisa, é um exímio conhecedor dos problemas dos setores produtivos e desempenha com alta eficiência as tarefas sob sua responsabilidade. Discreto e solidário.

Campanhas à vista

A luta política tende a se acirrar nos próximos meses. As lições de táticas e estratégias dos clássicos da política e das guerras são muito oportunas nesses tempos de competitividade. Eis alguns conselhos do general Sun Tzu :

a) "Quando em região difícil, não acampe. Em regiões onde se cruzam boas estradas, una-se aos seus aliados. Não se demore em posições perigosamente isoladas. Em situação de cerco, deve recorrer a estratagemas. Numa posição desesperada, deve lutar. Há estradas que não devem ser percorridas e cidades que não devem ser sitiadas".

b) "Não marche, a não ser que veja alguma vantagem; não use suas tropas, a menos que haja alguma coisa a ser ganha ; não lute, a menos que a posição seja crítica. Nenhum dirigente deve colocar tropas em campo apenas para satisfazer seu humor ; nenhum general deve travar uma batalha apenas para se vangloriar. A ira pode, no devido tempo, transformar-se em alegria ; o aborrecimento pode ser seguido de contentamento. Porém, um reino que tenha sido destruído jamais poderá tornar a existir, nem os mortos podem ser ressuscitados".

c) "Prepare iscas para atrair o inimigo. Finja desorganização e esmague-o. Se ele está protegido em todos os pontos, esteja preparado para isso. Se ele tem forças superiores, evite-o. Se o seu adversário é de temperamento irascível, procure irritá-lo. Finja estar fraco e ele se tornará arrogante. Se ele estiver tranquilo, não lhe dê sossego. Se suas forças estão unidas, separe-as. Ataque-o onde ele se mostrar despreparado, apareça quando não estiver sendo esperado".

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Colunista

Gaudêncio Torquato jornalista, consultor de marketing institucional e político, consultor de comunicação organizacional, doutor, livre-docente e professor titular da Universidade de São Paulo e diretor-presidente da GT Marketing e Comunicação.