Migalhas de Peso

Direitos do embrião

"Já não se pode limitar o direito do nascituro apenas ao de nascer."

1/2/2015

O Direito é uma ciência que não se esgota em uma única dimensão. Assim, por ser evolutivo e protetivo, todo fato novo com relevância social reclama sua participação, com a utilização de ferramentas próprias para a alcançar a eficácia da medida.

A 5ª câmara de Direito Civil do TJ/SC decidiu pela procedência do pedido de indenização referente ao seguro DPVAT. Isto porque, em razão de um acidente automobilístico, a autora da ação contava com 37 semanas de gestação, quando ocorreu a morte do nascituro. A decisão foi calcada na interpretação do disposto no art. 2º do CC: "A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro".

O embrião surge <_st13a_verbetes w:st="on">como <_st13a_verbetes w:st="on">agente de <_st13a_verbetes w:st="on">tutela estatal em várias oportunidades. A <_st13a_verbetes w:st="on">Declaração dos <_st13a_verbetes w:st="on">Direitos da <_st13a_verbetes w:st="on">Criança, promulgada <_st13a_verbetes w:st="on">pela Assembleia <_st13a_verbetes w:st="on">Geral da ONU, preconiza <_st13a_verbetes w:st="on">que a <_st13a_verbetes w:st="on">criança, <_st13a_verbetes w:st="on">em <_st13a_verbetes w:st="on">razão de <_st13a_verbetes w:st="on">sua <_st13a_verbetes w:st="on">imaturidade <_st13a_verbetes w:st="on">física e <_st23a_dm w:st="on">mental, necessita de <_st13a_verbetes w:st="on">proteção <_st13a_verbetes w:st="on">legal <_st13a_verbetes w:st="on">apropriada, <_st13a_verbetes w:st="on">tanto <_st13a_verbetes w:st="on">antes <_st13a_verbetes w:st="on">como <_st13a_verbetes w:st="on">depois do nascimento. O <_st13a_verbetes w:st="on">Estatuto da <_st13a_verbetes w:st="on">Criança e do <_st13a_verbetes w:st="on">Adolescente acrescenta <_st13a_verbetes w:st="on">ainda o <_st13a_verbetes w:st="on">direito de <_st13a_verbetes w:st="on">proteção à <_st13a_verbetes w:st="on">vida e à <_st13a_verbetes w:st="on">saúde, proporcionando <_st13a_verbetes w:st="on">um nascimento <_st13a_verbetes w:st="on">sadio e <_st13a_verbetes w:st="on">harmonioso, <_st13a_verbetes w:st="on">em <_st13a_verbetes w:st="on">condições dignas de existência.

<_st13a_verbetes w:st="on">Já <_st13a_verbetes w:st="on">não se pode <_st23a_hm w:st="on">limitar o <_st13a_verbetes w:st="on">direito do <_st13a_verbetes w:st="on">nascituro <_st13a_verbetes w:st="on">apenas ao de nascer. E <_st13a_verbetes w:st="on">sim ampliá-lo e <_st23a_hm w:st="on">agregar a <_st13a_verbetes w:st="on">ele o <_st23a_hm w:st="on">nascer <_st13a_verbetes w:st="on">com <_st13a_verbetes w:st="on">dignidade, <_st13a_verbetes w:st="on">com <_st13a_verbetes w:st="on">saúde, <_st13a_verbetes w:st="on">com a <_st13a_verbetes w:st="on">proteção estatal <_st13a_verbetes w:st="on">necessária, <_st13a_verbetes w:st="on">extensiva à <_st13a_verbetes w:st="on">sua <_st13a_verbetes w:st="on">mãe, de <_st13a_verbetes w:st="on">quem é <_st13a_verbetes w:st="on">dependente na <_st13a_verbetes w:st="on">vida pré-natal. Pode o embrião, desta <_st23a_dm w:st="on">forma, <_st13a_verbetes w:st="on">pela <_st13a_verbetes w:st="on">projeção alcançada, <_st23a_hm w:st="on">figurar <_st13a_verbetes w:st="on">como interessado <_st13a_verbetes w:st="on">em <_st23a_dm w:st="on">ação de <_st13a_verbetes w:st="on">alimentos, <_st13a_verbetes w:st="on">investigação de <_st13a_verbetes w:st="on">paternidade e <_st13a_verbetes w:st="on">outros <_st13a_verbetes w:st="on">direitos <_st13a_verbetes w:st="on">compatíveis <_st13a_verbetes w:st="on">com <_st13a_verbetes w:st="on">sua <_st13a_verbetes w:st="on">condição de concebido, <_st13a_verbetes w:st="on">mas <_st13a_verbetes w:st="on">não nascido.

Tanto é que a lei 11.804/08, conhecida impropriamente como "alimentos gravídicos", confere <_st13a_verbetes w:st="on">direito à <_st13a_verbetes w:st="on">mulher <_st13a_verbetes w:st="on">gestante, <_st13a_verbetes w:st="on">não <_st13a_verbetes w:st="on">casada e <_st13a_verbetes w:st="on">que <_st13a_verbetes w:st="on">também <_st13a_verbetes w:st="on">não <_st13a_verbetes w:st="on">viva <_st13a_verbetes w:st="on">em <_st23a_dm w:st="on">união <_st13a_verbetes w:st="on">estável, de <_st23a_hdm w:st="on">receber <_st13a_verbetes w:st="on">alimentos, <_st13a_verbetes w:st="on">desde a <_st13a_verbetes w:st="on">concepção <_st13a_verbetes w:st="on">até o <_st23a_dm w:st="on">parto. <_st23a_dm w:st="on">Para <_st13a_verbetes w:st="on">tanto, deverá <_st23a_hm w:st="on">ingressar <_st13a_verbetes w:st="on">com o <_st13a_verbetes w:st="on">pedido <_st13a_verbetes w:st="on">judicial <_st13a_verbetes w:st="on">em <_st13a_verbetes w:st="on">desfavor do <_st13a_verbetes w:st="on">futuro <_st13a_verbetes w:st="on">pai. O <_st13a_verbetes w:st="on">juiz decidirá, no <_st13a_verbetes w:st="on">âmbito de uma <_st13a_verbetes w:st="on">cognição <_st13a_verbetes w:st="on">sumária, <_st13a_verbetes w:st="on">com <_st13a_verbetes w:st="on">base em <_st13a_verbetes w:st="on">indícios de <_st13a_verbetes w:st="on">paternidade, a <_st23a_dm w:st="on">obrigação <_st23a_hm w:st="on">alimentar do <_st13a_verbetes w:st="on">suposto <_st13a_verbetes w:st="on">pai, <_st13a_verbetes w:st="on">que poderá <_st23a_hm w:st="on">contestar, <_st13a_verbetes w:st="on">mas <_st13a_verbetes w:st="on">em restrito núcleo cognitivo também.

Agora, no entanto, em razão evolução da engenharia genética, já é possível a realização no Brasil de exame não invasivo consistente na procura do DNA fetal circulante na mãe e compará-lo com o material fornecido pelo pretenso pai. O avanço científico é tamanho

que, além do objetivo da paternidade, carrega precisão quase que incontestável no sentido de demonstrar que o embrião seja portador de síndromes de Down, Edwards, Patau, Turner, Klinefelter e Triplo X.

O nascituro, conforme se extrai do regramento pátrio, tem seus direitos preservados, porém não é detentor de capacidade jurídica. Tanto é verdade que, se não tiver pai e a mãe não for a responsável pelo poder familiar, a ele será nomeado um curador, que poderá, dentre outros direitos, representá-lo como donatário e pleitear em favor dele assistência médica. Defere-se ao embrião uma tutela sui generis. O status conferido a ele é totalmente divorciado daquele preconizado <_st13a_verbetes w:st="on">pelos <_st13a_verbetes w:st="on">romanos, no <_st13a_verbetes w:st="on">sentido de <_st13a_verbetes w:st="on">que o <_st13a_verbetes w:st="on">feto é <_st13a_verbetes w:st="on">apenas <_st13a_verbetes w:st="on">parte das <_st13a_verbetes w:st="on">vísceras da <_st13a_verbetes w:st="on">mulher – pars viscerum matris e <_st13a_verbetes w:st="on">que dele podia <_st23a_hm w:st="on">dispor, de <_st13a_verbetes w:st="on">acordo <_st13a_verbetes w:st="on">com <_st13a_verbetes w:st="on">sua conveniência, <_st23a_dm w:st="on">pois, <_st13a_verbetes w:st="on">enquanto <_st13a_verbetes w:st="on">não fosse <_st13a_verbetes w:st="on">dado à <_st13a_verbetes w:st="on">luz <_st13a_verbetes w:st="on">não seria considerado <_st23a_hm w:st="on">ser humano.

Tramita pelo Congresso Nacional o PL 478/07, dos deputados Luiz Bassuma (PT/BA) e Miguel Martini (PHS-MG), que dispõe sobre o Estatuto do Nascituro e foi aprovado pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados. Define o nascituro como sendo o ser humano concebido, mas não nascido, compreendendo aquele concebido "in vitro" ou por qualquer outro meio científico eticamente aceito. A respeito da personalidade humana estabelece que a adquire com o nascimento com vida, mas sua natureza humana é reconhecida desde a concepção, conferindo-lhe proteção jurídica através do estatuto, da lei civil e penal. É a repetição do pensamento do médico francês Jérôme Lejeune, pai da genética moderna, responsável pela descoberta de um cromossomo a mais sobre o par 21, quando avaliava uma criança com Síndrome de Down. Sua revelação, porém, contra sua vontade, começou a trilhar pela interrupção da gravidez de embriões portadores da doença. Veio a público defender o pensamento que, mesmo sendo um embrião portador de doença, deveria ser respeitado desde sua concepção até sua morte natural, em nítida luta contra o aborto.

Desta forma, por meio do Direito, o homem vai extrapolando o próprio conceito de concepção e vida humana e novos caminhos vão se abrindo para conferir ao embrião uma tutela mais abrangente. O <_st13a_verbetes w:st="on">direito à <_st13a_verbetes w:st="on">vida é <_st23a_dm w:st="on">inerente à <_st23a_dm w:st="on">pessoa <_st13a_verbetes w:st="on">humana e, <_st23a_dm w:st="on">pelo <_st13a_verbetes w:st="on">seu <_st13a_verbetes w:st="on">caráter de indisponibilidade, merece <_st13a_verbetes w:st="on">proteção <_st13a_verbetes w:st="on">desde a <_st13a_verbetes w:st="on">concepção, <_st13a_verbetes w:st="on">com o <_st13a_verbetes w:st="on">direito de <_st23a_hm w:st="on">nascer. <_st23a_dm w:st="on">Após, <_st13a_verbetes w:st="on">em todas as <_st13a_verbetes w:st="on">suas <_st13a_verbetes w:st="on">fases, <_st13a_verbetes w:st="on">infância, <_st23a_dm w:st="on">juventude, <_st13a_verbetes w:st="on">maioridade, <_st13a_verbetes w:st="on">maturidade e velhice, o <_st13a_verbetes w:st="on">homem continua recebendo a <_st13a_verbetes w:st="on">proteção <_st13a_verbetes w:st="on">legal <_st13a_verbetes w:st="on">compatível <_st13a_verbetes w:st="on">com <_st13a_verbetes w:st="on">seu <_st13a_verbetes w:st="on">estágio e vai acumulando <_st13a_verbetes w:st="on">direitos <_st13a_verbetes w:st="on">até se <_st23a_hdm w:st="on">transformar numa <_st23a_dm w:st="on">fonte <_st13a_verbetes w:st="on">inesgotável, <_st13a_verbetes w:st="on">chamada de <_st23a_dm w:st="on">sujeito <_st13a_verbetes w:st="on">pleno de direitos.

Desta <_st23a_dm w:st="on">forma, o <_st13a_verbetes w:st="on">embrião, <_st13a_verbetes w:st="on">em <_st13a_verbetes w:st="on">sua <_st23a_dm w:st="on">clausura <_st13a_verbetes w:st="on">silenciosa, tem <_st13a_verbetes w:st="on">voz <_st13a_verbetes w:st="on">suficiente <_st23a_dm w:st="on">para <_st23a_hdm w:st="on">transformar o <_st13a_verbetes w:st="on">mundo <_st13a_verbetes w:st="on">exterior <_st23a_dm w:st="on">para <_st13a_verbetes w:st="on">que possa recebê-lo <_st13a_verbetes w:st="on">com a <_st13a_verbetes w:st="on">pompa merecida e, <_st13a_verbetes w:st="on">principalmente, <_st23a_dm w:st="on">para <_st13a_verbetes w:st="on">que <_st13a_verbetes w:st="on">sua <_st13a_verbetes w:st="on">mãe possa <_st23a_hdm w:st="on">ter as <_st13a_verbetes w:st="on">melhores <_st13a_verbetes w:st="on">condições de <_st13a_verbetes w:st="on">vida e <_st13a_verbetes w:st="on">saúde <_st23a_dm w:st="on">para gerá-lo. É <_st13a_verbetes w:st="on">um <_st23a_dm w:st="on">sujeito <_st13a_verbetes w:st="on">sem <_st13a_verbetes w:st="on">personalidade <_st13a_verbetes w:st="on">jurídica <_st13a_verbetes w:st="on">própria, <_st13a_verbetes w:st="on">mas <_st13a_verbetes w:st="on">com <_st13a_verbetes w:st="on">muita <_st13a_verbetes w:st="on">personalidade, convenhamos. <_st13a_verbetes w:st="on">Mesmo <_st13a_verbetes w:st="on">sem <_st23a_hdm w:st="on">ter nascido, projeta-se <_st13a_verbetes w:st="on">como uma <_st23a_dm w:st="on">pessoa <_st13a_verbetes w:st="on">humana. É <_st13a_verbetes w:st="on">bom <_st13a_verbetes w:st="on">não <_st23a_hdm w:st="on">esquecer <_st13a_verbetes w:st="on">que o <_st13a_verbetes w:st="on">homem de <_st13a_verbetes w:st="on">hoje foi o <_st13a_verbetes w:st="on">embrião de <_st13a_verbetes w:st="on">ontem.

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*Eudes Quintino de Oliveira Júnior é promotor de Justiça aposentado, mestre em Direito Público, pós-doutorado em Ciências da Saúde, advogado e reitor da Unorp - Centro Universitário do Norte Paulista.
 

 

 

 

 

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