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Escritório. Fusão sem confusão. É possível?

A associação entre escritórios é uma alternativa comum de crescimento utilizada no meio jurídico. Apesar disso, muitas fusões acabam mal, gerando prejuízos financeiro ou danos irreparáveis à imagem da firma e de seus sócios. Saiba como evitar isso.

14/4/2023

Uma das alternativas empregadas pelos sócios para o crescimento de seus escritórios, é a associação com outras bancas jurídicas. Essa é uma prática comum, basta olhar as mudanças frequentes no nome de várias firmas conhecidas no mercado. O escritório que há 10 anos se chamava ABC virou AB que depois se tornou HABC. E assim vai.

Embora sejam uma estratégica de crescimento interessante, minha experiência ao longo dos últimos 20 anos no mercado jurídico mostra que boa parte dessas associações são malsucedidas. É muita confusão em uma única fusão. E o resultado, claro, é o desgaste com os clientes, a perda de identidade da banca, a fuga de talentos e, ao final de tudo, perdas financeiras significativas. É possível fazer diferente? A resposta, obviamente, é sim.

Já me desculpando por fazer, em parte, o papel de engenheiro de obra pronta, aquele vê todos os erros do edifício, mas apenas depois que ele está erguido, afirmo que é possível antever e evitar muitas ciladas existentes em uma fusão. Isso se dá planejando melhor o novo empreendimento, fazendo bons acordos com os futuros sócios ou, até mesmo, abortando a operação, se for o caso. As questões que traremos a seguir certamente vão ajudá-lo nessa tarefa.

A primeira pergunta que os sócios envolvidos na fusão devem ser capazes de responder é: por que desejamos fazer isso? Quando respondida com profundidade, a resposta a essa questão leva os envolvidos a investir mais energia no planejamento do negócio, aspecto vital para que ele dê certo. Ou, por outro lado, faz com que percebam que os possíveis ganhos não são suficientes e acabem por desistir do projeto. O que pode ser a melhor coisa a se fazer em alguns casos.

Supondo que os ganhos tenham sido considerados interessantes, o passo seguinte é iniciar a construção virtual da nova firma. Isso significa discutir e estabelecer as bases do novo empreendimento nas suas questões essenciais. Em outras palavras, é preciso caracterizar bem o tipo de negócio no qual todos desejam atuar:

Essas questões são balizadoras do negócio porque direcionam várias outras decisões que virão na sequência. Se a opção for por um escritório massificado, talvez os profissionais a serem contratados tenham uma remuneração menor. Se o objetivo for montar um escritório realmente boutique, talvez deva estar situado em locais nobres da cidade. Quando isso está claro, as decisões no dia a dia fluem. Quando não, tudo vira uma discussão interminável.

Mas há, ainda, um segundo conjunto de questões importantes a serem respondidas pelos futuros sócios, antes de irem de fato para a prática do negócio:

Em geral, essas questões derivam dos perfis pessoais dos envolvidos, assim como do momento de carreira em que estão. Um sócio jovem com 30 anos estaria disposto a trabalhar quinze ou dezoito horas diárias para ganhar dinheiro rápido. Um sócio com 60, talvez tenha em mente apenas dar sequência à sua trajetória, trabalhando em ritmo mais confortável. Ambos estão corretos, apenas precisam deixar claro suas expectativas para verem se elas são compatíveis.

Por fim e certamente o mais importante. É vital que os sócios discutam entre si os seus valores pessoais e definam aqueles que servirão de base para toda atuação do escritório. A importância disso é simples de entender com um exemplo. Se um profissional acredita ser natural nos negócios oferecer propina a um cliente para prospectar sua carteira de processos, é provável que ele não possa se associar a outro, que abomine esse tipo de conduta.

Não se trata apenas de estabelecer algum código de comportamento para as pessoas da firma, ainda que isso seja importante. O fundamental é que as crenças de cada sócio sejam muito discutidas durante a formulação do plano de negócios e que, a partir disso, seja estabelecida a filosofia que vigorará no escritório.

Planejamento, acordos claros e valores compartilhados são a base das fusões que terminam bem. Todos esses componentes devem ser considerados pelos sócios que resolvem se associar, e pelos profissionais que os ajudem nesse processo. Em tempo, ter apoio de consultores especializados e isento nesse trabalho pode ser de grande valia. Pense nisso.

Sebastião de Oliveira Campos Filho
Graduado em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e Mestre em Administração de Empresas pela Universidade Mackenzie. Há 20 anos fundou a Oliveira Campos Consultoria, empresa especializada no mercado jurídico e que já atendeu mais de 70 escritórios de advocacia. É autor do livro Gestão Jurídica, Perguntas e Respostas que Levarão seu Escritório a um Desempenho Superior.

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