Acabou de ser aprovada, pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal, a Proposta de Emenda à Constituição 12/221 para unificação das eleições no país. Isso quer dizer que, se isso for em frente, ao invés de irmos às urnas de dois em dois anos, iríamos uma vez só e de cinco em cinco anos.
Assim, votaríamos, e teríamos que escolher, numa lapada, dez cargos: vereadores, prefeitos e vices, deputados estaduais, governadores e vices, deputados federais, senadores e presidentes e vices.
Antes de avançar nesta reflexão, que não é jurídica, deixe-me perguntar ao leitor que aqui me presenteia com seus cinco minutos de atenção: você se recorda em quem votou para Deputados e Senadores em 2018? E em 2022?
Sabe se foram eleitos e, em caso positivo, o que andam fazendo? Não? Talvez mais recente, vereadores em 2024?
A cada eleição, somos convidados, ainda que não gostemos, a acompanhar a propaganda eleitoral de milhares de candidatos e candidatas e a escolhermos em quem votar.
Sabemos que a vida é corrida e muitas vezes sequer conseguimos fazer essa escolha como gostaríamos, analisando todos eles e todas suas propostas.
Agora imaginem se tivermos que analisar todos os cargos em disputa, como prevê a proposta, de uma só vez?
Bem, o mais provável que aconteça é que a qualidade dessa escolha diminua ainda mais. Que nos lembremos cada vez menos em quem votamos e, ainda menos, sejamos capazes de os acompanhar e fiscalizar.
É verdade que acompanhar a política tem sido difícil por inúmeras razões da vida, pela falta de tempo e pela (falta de) qualidade da própria política, que acaba por nos afastar dela.
Infelizmente, eu não trago uma boa notícia para vocês: não há solução para isso a não ser participar mais da política. A solução para os problemas mais essenciais das nossas vidas passa inevitavelmente por ela. E, por tabela, por quem está lá nos representando (ou ao menos deveria).
Escolher estes representantes de 5 em 5 anos vai dificultar ainda mais a nossa possibilidade de fazê-lo, especialmente por que reunir todas as escolhas numa única ocasião irá nos conduzir irremediavelmente às piores delas. Ou, aposto que, na dúvida, faremos as mesmas escolhas e manteremos no poder os mesmos de sempre.
Imaginem, ainda, a quantidade de propaganda eleitoral simultânea com a disputa de todos os cargos reunida?
Iremos escolher mais sim, mas com menos qualidade. Teremos menos tempo para debater ideias, propostas e para possibilitar uma oxigenação necessária para as nossas cidades, estados e país.
Somado a isso, há a operacionalização dessa eleição unificada que é absolutamente inviável: a Justiça Eleitoral e todos seus servidores precisa ter tempo e condições de regularizar todo o cadastro eleitoral (os títulos dos eleitores), de receber os registros de candidatura de todos os milhares de candidatos, de cuidar das ações judiciais, da realização das próprias eleições, etc.
Profissionais variados que trabalham com as eleições, da mesma forma nas suas áreas de expertise.
A ilusão do ganho de tempo (e de uma suposta economia – até agora não demonstrada) ao irmos votar uma vez só de cinco em cinco anos esvai-se na perda da qualidade do próprio voto, do trabalho de muita gente e do próprio aspecto democrático por essência.
Esse é um alerta, mas também um convite, a todos que aqui me leem para repensarem e rejeitarem essa ideia. A proposta ainda será votada, tanto no plenário do Senado, quanto da Câmara dos Deputados.
Cuidado com a perfumaria da proposta que traz também o fim da reeleição para os cargos do executivo (prefeitos, governadores e presidentes - o que é até positivo): o que está em jogo é muito mais sério.
Não troquemos gato por lebre: cobre dos Senadores e dos Deputados Federais de seu estado (ainda que você não tenha votado neles ou sequer se lembre em quem votou): eles seguem sendo seus representantes e lhes devem, além da devida satisfação, um bom serviço.
_______
1 https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/153068