A nova geração de agentes de inteligência artificial já assume funções reais dentro dos escritórios. Mas com algumas diferenças: eles não pedem férias, não se distraem e aprendem mais a cada tarefa executada.
Conhecidos como “funcionários digitais”, esses sistemas inteligentes operam com diferentes níveis de autonomia, ajustando-se à complexidade das atividades. Em vez de apenas seguir comandos, eles tomam decisões baseadas em dados, aprendem com os fluxos e se integram a sistemas diversos como CRMs, ERPs e plataformas de atendimento.
Segundo um relatório da McKinsey & Company (2024), agentes autônomos de IA têm o potencial de automatizar até 40% das tarefas administrativas em empresas até 2030, um sinal claro de que estamos diante de uma mudança estrutural no modelo de trabalho.
Advocacia na era dos agentes de IA: Gestão inteligente e menos retrabalho
Nos bastidores dos escritórios de advocacia, existem funções administrativas que drenam horas e o ânimo dos juristas. Organização de prazos, controle de documentos, acompanhamento processual, emissão de guias, comunicação com clientes e tribunais, nenhuma dessas atividades exige análise legal, mas todas são críticas para o funcionamento do escritório.
É aí que mora a grande contradição da rotina. Boa parte da energia dos colaboradores ainda está sendo gasta com o que não é de natureza jurídica, e sim operacional. E quanto maior a demanda, maior o risco de sobrecarga, erro humano e retrabalho. Não por falta de capacidade, mas por um sistema que foi desenhado para outra época, uma época em que era aceitável ter pessoas conferindo número de processo ou preenchendo intimações manualmente.
Com a entrada dos agentes de inteligência artificial essa lógica começa a ruir. Esses assistentes digitais conseguem ler e interpretar publicações, sugerir providências, categorizar documentos, alimentar sistemas e até comunicar o cliente com uma linguagem pré-aprovada, sem depender de cliques humanos para cada ação.
Segundo Sam Altman, CEO da OpenAI, “os agentes são um novo paradigma de computação, capazes de fluxos de trabalho de várias etapas com pouca supervisão” (2024). Ou seja, não estamos falando de simples automações, mas de estruturas tecnológicas que assumem partes inteiras de um processo com autonomia crescente.
Na prática, isso significa menos tempo desperdiçado em atividades repetitivas, mais espaço para o time atuar com estratégia, e uma operação que cresce de forma inteligente, sem depender de contratações adicionais toda vez que o volume de trabalho aumenta.
O impacto dos agentes de IA na rotina dos escritórios
Quando a Salesforce, uma das maiores plataformas de CRM do mundo, decidiu integrar agentes de IA à sua operação, o objetivo era aumentar a produtividade e reduzir as horas gastas com tarefas mecânicas. O resultado foi 25% de ganho em produtividade nas equipes de atendimento ao cliente.
Mas o que isso tem a ver com bancas jurídicas? Assim como os atendentes da Salesforce lidam com volumes altos de solicitações, processos repetitivos e a necessidade de respostas rápidas, os escritórios também enfrentam uma rotina marcada por recorrência e pressão por agilidade.
Se na área comercial a IA já entrega retorno direto em performance, no jurídico administrativo o impacto pode ser ainda mais expressivo, justamente por ser uma área menos automatizada até então.
A lógica é simples: se agentes de IA conseguem entender solicitações, buscar informações em sistemas, personalizar comunicações e acompanhar fluxos de atendimento em tempo real, por que não aplicar essa mesma inteligência à atividade jurídica?
Um modelo bem treinado é capaz de:
- Gerenciar intimações de forma contínua e automatizada;
- Atualizar partes interessadas com status de processos;
- Organizar prazos e distribuir tarefas com base em regras pré-definidas;
- Reforçar padrões de qualidade no suporte ao cliente.
Adoção da IA exige responsabilidade
Implementar um agente de inteligência artificial no fluxo do escritório parece, à primeira vista, uma solução óbvia diante dos inúmeros benefícios. No entanto, se você é gestor ou sócio, sabe que nada que mexe com estrutura, pessoas e cultura é simples assim.
A Accenture projeta que os agentes de IA vão gerar US$1 trilhão em valor global até 2032. Esse cenário global também se reflete, em escala, no setor jurídico. Nos escritórios, o que está em jogo é decidir o que a máquina é capaz de fazer, o que deve continuar humano, e quem responde se algo der errado.
Isso porque não basta delegar uma tarefa ao sistema, é preciso entender os critérios que ele usa, os riscos que ele gera e o impacto que isso pode ter em um cliente, em um prazo, em uma ação judicial. Outras questões válidas, são:
- A controladoria está preparada para validar o que a IA sugere?
- A equipe entende que nem tudo o que é automatizado deve ser aceito sem revisão?
- E se a IA errar uma contagem de prazo, a responsabilidade vai para quem?
Adotar modelos inteligentes exige redesenhar responsabilidades, criar protocolos de validação e revisão, definir limites claros de autonomia e garantir que todo mundo entenda como esse novo recurso opera. O ganho vem, sim. Mas ele só é sustentável se a liderança souber onde está indo. Isso significa pensar não apenas em tecnologia, mas em governança, cultura e gestão de riscos jurídicos.
Menos sobrecarga, mais estratégia: Repensando sua operação com IA
Ninguém precisa de mais uma promessa tecnológica. O que os escritórios precisam é de tempo realocado, menos retrabalho e um controle operacional que funcione mesmo quando a demanda aperta.
E não se trata de substituir pessoas e sim de colocar gente qualificada para pensar estratégia, atender melhor, construir teses, e deixar o operacional com quem ou com o que executa melhor.
O que falta em muitos juristas é a decisão de sair do modelo que sobrecarrega a equipe e adotar uma estrutura que respeite o tempo do advogado e o foco do negócio. Isso porque o que realmente conta na gestão não são as horas preenchidas na planilha, mas aquelas que geram progresso, não apenas ocupação.