Migalhas de Peso

A função estratégica dos armazéns gerais frente à guerra tarifária

Em tempos de instabilidade nos mercados globais, com tensões logísticas, políticas e tarifárias, os armazéns gerais são uma solução.

23/7/2025

I. Introdução

Em tempos de instabilidade nos mercados globais, com tensões logísticas, políticas e tarifárias ameaçando tanto o comércio exterior quanto o abastecimento interno, os armazéns gerais, regulados pelo vetusto e ainda vigente decreto Federal 1.102/1903, assumem papel de importância estratégica. Essa estrutura jurídica e operacional, consolidada há mais de um século, revela-se hoje como ferramenta fundamental para mitigar impactos de elevações abruptas nas tarifas aduaneiras, de transporte e armazenagem, tanto no plano nacional quanto internacional.

II. Desenvolvimento

A ameaça de aumento de tarifas - seja por políticas protecionistas, alteração de alíquotas de ICMS, majoração de fretes ou desvalorização cambial - impõe aos operadores logísticos, industriais e comerciais a necessidade de racionalizar estoques, proteger margens operacionais e assegurar fluxo contínuo de mercadorias, sem rupturas que afetem o consumidor final ou comprometam a competitividade do exportador.

É nesse cenário que o regime jurídico dos armazéns gerais, previsto no decreto 1.102/1903 e reconhecido por sua natureza fiduciária e segurança jurídica, se consolida como instrumento tático de equalização econômica, viabilizando:

  1. Estocagem estratégica de mercadorias nacionalizadas ou a nacionalizar;
  2. Diferimento tributário ou neutralidade fiscal em remessas de depósito e retirada, conforme os regulamentos estaduais do ICMS e a LC 87/1996;
  3. Acesso ao crédito via emissão de warrants (art. 11 do decreto 1.102/1903), com lastro real e garantido;
  4. Flexibilização logística, permitindo a movimentação direta por conta e ordem do depositante, inclusive com remessas interestaduais ou para exportação (com base no RICMS-SP, Anexo VII, Capítulo II);
  5. Redução da exposição ao risco tarifário, pela criação de estoques reguladores em zonas estratégicas do território nacional.

III. Fundamentação legal

A atuação dos armazéns gerais está amparada pelos seguintes dispositivos normativos:

IV. Conclusão

Diante da possibilidade concreta de aumento das tarifas de importação, transporte ou armazenagem, os armazéns gerais surgem como instrumento legítimo e eficaz de proteção jurídica e econômica. Trata-se de uma estrutura que transcende a simples guarda de mercadorias, revelando-se como elemento de planejamento tributário lícito, ferramenta de garantia fiduciária e mecanismo logístico de controle de estoques e riscos.

A sua correta utilização, observadas as normas federais e estaduais aplicáveis, representa uma resposta técnica e legal às pressões tarifárias, preservando a sustentabilidade financeira da cadeia de suprimentos e fomentando a segurança jurídica das operações.

______________

Decreto nº 1.102/1903: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/antigos/d1102.htm

Decreto nº 45.490/2000 (RICMS-SP): https://legislacao.fazenda.sp.gov.br/Paginas/dec45490.aspx

Lei Complementar nº 87/1996: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp87.htm

Código Tributário Nacional: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm

Código Civil: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm

Ronaldo Paschoaloni
Especialista em Direito Marítimo, Portuário e Aduaneiro-UNISANTA; Perito Judicial -Credenciado pelo CRA-SP; Extensão Gestão Estratégica FGV-EAESP SP.Fundador GENERAL DOCK CONSULTORIA E LOGÍSTICA LTDA.

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