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Do volume à integridade: O papel dos centros de inteligência na reconstrução da confiança judicial

Os Centros de Inteligência fortalecem a prevenção de litígios e restauram a confiança ao transformar dados em decisões mais racionais e colaborativas.

8/12/2025

O Brasil vive um paradoxo institucional: ao mesmo tempo em que lidera o ranking mundial de judicialização, enfrenta uma crise de confiança no próprio sistema de Justiça.

Durante anos, a quantidade de processos foi tratada como sinônimo de acesso e eficiência. Hoje, o excesso revela algo mais preocupante - o esgotamento de um modelo que premia o volume, não a integridade.

Foi nesse contexto que surgiu os Centros de Inteligência do Poder Judiciário, instituídos pela recomendação 76/20 do CNJ, com o propósito de aprimorar a gestão judiciária, prevenir litígios e promover a atuação colaborativa entre os diversos atores do sistema.

Os CIs - Centros de Inteligência não foram criados para julgar, mas para compreender por que se julga tanto. Seu papel é antecipar comportamentos, identificar padrões de litigância abusiva, orientar políticas de prevenção e, sobretudo, restaurar a racionalidade no uso do sistema judicial.

Ao reunir magistrados, servidores, advogados, procuradores e representantes institucionais, os CIs promovem o que há de mais transformador na Justiça contemporânea: a cooperação estruturada e interinstitucional.

O modelo tradicional do Judiciário é reativo: Espera o conflito para agir.

Os Centros de Inteligência invertem essa lógica, ao transformar o conhecimento acumulado em mecanismos preventivos.

Cada nota técnica, cada levantamento e cada recomendação funcional representa uma oportunidade de evitar centenas - às vezes milhares - de novas ações.

Mais do que um instrumento de gestão, os CIs se consolidam como laboratórios de política judiciária baseada em evidências, capazes de reduzir o congestionamento e aprimorar a tomada de decisão.

Combater a litigância abusiva não é tarefa de um só poder.

A advocacia, quando atua de forma colaborativa e ética, torna-se aliada essencial da magistratura.

O diálogo franco entre quem litiga e quem julga permite identificar distorções, corrigir incentivos e construir soluções conjuntas. A atuação integrada é, portanto, o antídoto mais eficaz contra a judicialização abusiva - não apenas porque reduz o volume, mas porque reconstrói a confiança.

Quando magistrados e advogados se reconhecem como parceiros de um mesmo propósito institucional, o processo deixa de ser arena e volta a ser instrumento de justiça.

O futuro do Judiciário não será medido pelo número de processos encerrados, mas pela qualidade da confiança que inspira.

Os Centros de Inteligência representam esse ponto de virada: espaços onde a técnica se encontra com a ética, a gestão se encontra com a empatia e o dado se converte em integridade.

Sair do volume e alcançar a confiança é o desafio desta década - e o caminho passa, inevitavelmente, pela inteligência compartilhada.

Viviane Ferreira
Sócia - Diretora jurídica de Excelência e experiência do cliente do Parada Advogados. Mestranda no IDP-Brasília.

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