Hipocrisia
Mário Gonçalves Júnior*
Houve boates de que Jesus foi amante de Madalena. Os fofoqueiros mais ousados disseram que eles tiveram um filho. O ser humano é fofoqueiro por natureza. Uns mais outros menos. Uns mais ouvintes, uns mais falantes. Mas provavelmente não há quem não goste de uma fofoca.
A maioria menos se interessa em saber quem matou, mais por ruminar como matou, onde matou, porque matou. É o escroto espírito humano.
Há uma teoria psicanalítica segundo a qual a real emoção do viciado em jogo é perder. Baseada na constatação empírica de que todos, ou quase todos os jogadores contumazes, acabam na bancarrota. Se o objetivo fosse a vitória, parariam de apostar no primeiro lucro. Porém, só a derrota irremediável põe fim à ganância.
Assim é a raça humana praticamente em tudo. Só pararão de desmatar quando não se puder mais respirar. Só deixarão de matar quando sobrar apenas um. O bem será querido quando não tiver a quem.
É a crise dos alimentos; é a disputa das crenças; é a globalização cínica; é a prece nas igrejas e a incompreensão com os vizinhos; é o discurso limpo e a prática suja; é querer saber quem divulgou e desprezar quem mandou fazer; é dar nome elegante à realidade vexatória; é lotar presídios de pobres culpados e absolver ricos inescrupulosos.
A hipocrisia fede, mas os hipócritas fazem cara de perfume.
É a natureza humana.
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*Advogado do escritório Demarest e Almeida Advogados
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