No Brasil, a desigualdade no acesso à educação ainda é um grande desafio. Dados do IBGE divulgados em 2024 mostram que o abandono escolar entre estudantes de 15 a 17 anos das famílias mais pobres é oito vezes maior do que entre os mais ricos: 11,8% contra 1,4%. Esses indicadores revelam um cenário preocupante, em que a exclusão educacional compromete o futuro dos jovens e o desenvolvimento social e econômico do país.
A evasão escolar está diretamente ligada a múltiplos fatores, como pobreza, falta de acesso à internet, violência e necessidade de trabalhar. Diante desse contexto, cresce a necessidade de iniciativas que vão além da sala de aula tradicional, capazes de dialogar com os territórios e promover protagonismo das juventudes.
"Falar sobre educação no Brasil é, necessariamente, abordar a desigualdade. É preciso encurtar essa distância entre o que está na lei e o que chega, de fato, à vida dos jovens. Por isso, a sociedade e os governos devem oferecer ferramentas para que eles não apenas conheçam seus direitos, mas se percebam protagonistas das transformações que querem ver em seus territórios", comenta Anne Wilians, especialista em inovação social e fundadora do Instituto Nelson Wilians, braço social da Nelson Wilians Advogados.
Um exemplo de iniciativa que busca justamente levar esse conhecimento às juventudes em situação de vulnerabilidade social é o "Compartilhando Direito", realizado pela entidade. O projeto, que já beneficiou mais de seis mil pessoas, oferece uma trilha formativa estruturada em três pilares: Conhecer os direitos, reconhecer-se como cidadão e agir para transformar sua realidade.
Os módulos aplicados abordam temas como democracia, diversidade étnico-racial, gênero, mudanças climáticas e sustentabilidade. Em 2024, o programa foi incluído como Itinerário Formativo para estudantes do Ensino Médio do Instituto Federal do Pará, alinhando-se às competências da BNCC.
"A proposta é ensinar cidadania na prática, conectando a educação de acordo com a realidade especifica dos jovens e ao futuro do planeta. Os relatos dos participantes mostram-nos o impacto desse método", ressalta Anne Wilians.
As experiências compartilhadas por estudantes de diferentes regiões do Brasil revelam como o acesso à informação e a espaços de escuta e troca podem transformar perspectivas de vida e fortalecer vínculos comunitários. A jovem Darleide Ribeiro, de Santo Antônio de Jesus/BA, afirma:
"Ter conhecimento sobre nossos direitos é de extrema importância para agregar direitos e colocá-los em prática em ocasiões que mereçam atenção maior. Já passei por situações de racismo e preconceito, nas quais não sabia como me posicionar; já presenciei casos de agressão física e verbal e não tinha conhecimento sobre como ajudar aquela pessoa. Agora eu tenho".
"É importante lembrarmos que educar é empoderar. E, para milhares de jovens brasileiros, essa educação começa pelo direito de saber que se tem direitos", conclui Anne Wilians.