A proliferação de ações judiciais artificiais, padronizadas e sem fundamento legítimo, tornou-se um dos maiores desafios para a sustentabilidade das empresas e a eficiência do Poder Judiciário. Essa indústria da litigância abusiva não só gera prejuízos financeiros e reputacionais, como também desvia recursos públicos e a atenção de magistrados de casos verdadeiramente relevantes.
Nesse cenário, a resposta tradicional de apenas reagir aos processos já não é suficiente. A solução está em uma atuação preventiva e estratégica, que utiliza a tecnologia e a análise de dados como instrumentos essenciais para virar o jogo.
O desafio dos departamentos jurídicos modernos vai além de responder a ações já propostas. É indispensável desenvolver uma inteligência analítica capaz de identificar padrões e recorrências no vasto universo de informações disponíveis.
A análise estruturada de processos permite, por exemplo, mapear concentrações geográficas de ações, a atuação repetitiva de certos advogados, teses jurídicas replicadas em série e até falhas operacionais que servem de gatilho para novos litígios. Com essas informações em mãos, a atuação jurídica deixa de ser exclusivamente reativa e passa a ser orientada pela prevenção e pelo combate direto às estratégias abusivas.
A verdadeira transformação digital no direito não é apenas automatizar tarefas, mas extrair valor estratégico dos dados. Um dos usos mais potentes dessa inteligência é fortalecer o diálogo institucional com o Poder Judiciário.
Por meio de despachos, reuniões técnicas e, principalmente, da apresentação de relatórios analíticos, é possível demonstrar a juízes e tribunais, de forma clara e objetiva, a existência de um padrão predatório. Esses relatórios, baseados em dados processuais e operacionais, têm sido cruciais para subsidiar o Judiciário na identificação de práticas abusivas, contribuindo para a conscientização institucional e para a adoção de medidas que inibam tais condutas.
Uma cultura corporativa orientada por dados, na qual decisões são tomadas com base em evidências, é o caminho para um ambiente mais seguro e transparente. Ferramentas de análise jurídica e o mapeamento sistemático de pontos críticos de judicialização são hoje recursos indispensáveis.
Em síntese, a prevenção de litígios é uma estratégia proativa que reforça a credibilidade, otimiza a atuação jurídica e fortalece a reputação das empresas. O futuro do contencioso está cada vez mais ligado à capacidade de antecipar riscos e cada vez menos à resolução de disputas nos tribunais. Nesse movimento, os dados ocupam a posição central como o grande instrumento de transformação e racionalização do nosso sistema jurídico.