No último dia 7 de julho o presidente americano, Donald Trump, impôs uma tarifa de 25% para os produtos japoneses, com vigência a partir de 1º de agosto de 2025.
Esse surpreendente tarifaço nada tem em comum com o tarifaço de 50% imposto a produtos brasileiros que se trata claramente de uma sanção político-ideológica. Daí porque inútil buscar uma justificativa no campo econômico, como veremos mais adiante.
Examinemos, em rápidas pinceladas, as causas desse tarifaço de 25% imposto sem prévio aviso, para vigorar a partir de 1º de agosto de 2025.
Causas
a) desequilíbrio enorme na balança comercial.
Donald Trump acusa o Japão de ter acumulado um superávit de cerca de US$ 69 bilhões em 2024 considerado injusto para os Estados Unidos.
b) necessidade de proteger a indústria automobilística americana.
Trump pretende revitalizar a fabricação doméstica e proteger os empregos nos EUA e financiar cortes de impostos.
c) relativa insatisfação nas negociações comerciais
O presidente norte-americano sustenta que as negociações com o Japão e Coreia do Sul, desde o tarifaço de 26 de março de 2025, não avançaram satisfatoriamente. Daí a nova pressão tarifária.
Consequências:
No Japão
a) Com a tarifação de 20% em março de 2025 as exportações de carros para os EUA despencaram quase 25% em maio de 2025, causando um déficit comercial japonês da ordem de US$ 4,4 bilhões.
b) As montadoras (Toyota, Honda, Nissan, Subaru) estimam perdas de em torno de US$ 27,6 bilhões ao ano:
c) Impacto profundo na cadeia produtiva
Fornecedores de autopeças sofrem com a queda na demanda, e executivos japoneses classificam a situação como “crise nacional”.
d) Trump não aceita acordo que dispensa ou reduza a tarifa, mediante concessões em agricultura ou energia, e ameaça elevar a tarifa para 35%. É uma postura intransigente que poderá romper a tradicional aliança com o maior parceiro dos EUA
Consequências nos EUA
a) aumento de preços para consumidores americanos.
Um automóvel importado do Japão pode ficar entre US$ 5.000 a US$ 10.000 mais caro. Seguros e peças subirão igualmente.
b) queda nos mercados financeiros.
Após o anúncio do tarifaço, o S&P500, Nasdaq e Dow caíram cerca de 0,8%.
c) risco de recessão econômica
Economistas e líderes democratas, como Chuck Schumer, alertam que as tarifas “preparam o terreno para uma recessão nacional” e pincelam a economia com uma “crise”.
Repercussões geopolíticas
a) Parceria EUA - Japão sob tensão.
Esse tarifaço de 25% ameaça a aliança estratégica bilateral, exacerbando tensões no momento em que o Japão enfrenta eleições internas.
b) Realinhamento global.
Pressionado, o Japão avalia fortalecer parcerias comerciais com outros países.
A China, por sua vez, pode se beneficiar dessa nova abertura.
c) Desafios jurídicos internacionais
Procedimentos no WTO (OMC) e tribunais americanos questionam a legalidade das tarifas.
Entretanto, Donald Trump não vem cumprindo de imediato as decisões do Tribunal de Comércio Internacional dos EUA que considerou ilegais a imposição de tarifas amplas com base na IEEPA - Lei de Emergência Econômica Internacional, incluindo o pacote chamado de “Liberation Day”. Trump vem interpondo recursos protelatórios conseguindo obter a suspensão temporária dessas proibições judiciais enquanto se aprecia o mérito dessas ordens judiciais.
Considerações finais
Essas tarifações impostas a vários países visam pressionar por acordos comerciais mais favoráveis aos EUA, porém, geram riscos econômicos domésticos e diplomáticos significativos, prejudicando potencialmente empregos nas montadoras americanas e minando as relações com um aliado-chave como o Japão.
Como se sabe, os EUA é a maior potência econômica e militar do mundo, mas são, igualmente, o maior devedor do mundo com trilhões de dólares de dívida, sendo o Japão um dos países que detém uma quantidade considerável de títulos da dívida pública americana.
Como consequências do tarifaço de março de 2025 o Japão vendeu bilhões de dólares em títulos da dívida pública americana, causando sérios abalos nas finanças do EUA que precisam pagar juros cada vez mais caros para a captação de créditos financeiros.
Seria um desastre total para o tesouro norte americano se o Japão reagisse a esse tarifaço de julho de 2025 com nova venda maciça desses títulos americanos, o que não é provável, mas, não é impossível.
Causas e consequências da tarifa de 50% imposta por Trump sobre produtos brasileiros em 9 de julho de 2025 para vigorar a partir de 1/8/2025.
Esse tarifaço nada tem a ver com a balança comercial que é favorável aos EUA. Examinemos.
Causas
a) “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro definido por Trump como “líder altamente respeitado”.
Qualificou o processo penal contra ele de “vergonha nacional” e uma tentativa de perseguição política.
b) alegação de censuras de mídias sociais dos EUA.
Acusa o STF de ordenar censura “secreta e ilegal” contra plataformas americanas como Meta e X prejudicando a liberdade de expressão dos americanos.
c) seguidas provocações do presidente Lula ao Trump, desde início de 2023 combatendo a moeda americana, insistindo na adoção de moeda no âmbito do Brics.
Donald Trump repetiu reiteradas vezes que sancionaria com tarifas pesadas os países que defendessem a nova moeda para substituir o dólar no âmbito do BRICS.
Por isso, China e Rússia, cautelosamente, não foram à reunião da cúpula do Brics no Rio de Janeiro nos dia 6 e 7 de julho de 2025.
Apenas Índia, um país sem expressão, compareceu à reunião.
O presidente Lula, ignorando as advertências de Trump, fez sérias críticas ao dólar como moeda padrão internacional.
Do alto do seu desconhecimento sobre a matéria bradou: quem disse que o dólar deve ser a moeda de referência internacional?
É claro que foi o mercado que elegeu o dólar como moeda padrão, pelo seu elevado teor de confiabilidade ao logo dos séculos.
Alimentou de novo a ideia de criar moeda de troca nos comércios entre os países do Brics. Rússia, parceira do Brasil, dedou o presidente Lula informando por meio do chanceler Sergei Lavrov que foi Lula quem originalmente lançou a ideia de criar uma moeda alternativa no âmbito do BRICS.
O governo norte-americano, então, cumpriu a promessa e impôs a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.
O presidente Lula logo bradou com a aplicação da lei de reciprocidade para retaliar o tarifaço americano.
É claro que o país não tem força econômica para contra-atacar a economia americana quinze vezes maior que a nossa. Seria a briga de um pinscher contra um pitbull.
Há tentativas de grupos empresariais buscando canal de comunicação com o governo americano para sentar à mesa de negociações.
Mas, o presidente brasileiro continua fustigando os EUA dizendo que eles estão interferindo na soberania brasileira.
Esse discurso é muito estranho partindo de alguém que violou a soberania do Peru mandando um avião militar resgatar uma presa por corrupção nas operações da Odebrecht, e concedendo o asilo político, como se ela fosse uma presa política, e não uma criminosa comum de alta periculosidade.
Mais recentemente, o presidente Lula foi a Buenos Aires e visitou outra presa por atos de corrupção, a Cristina Kinchner, ex presidente argentino, ostentando cartaz para libertá-la.
A tarifa de 50% no caso brasileiro nada tem a ver com a balança de pagamentos que até acusa um superávit para os EUA.
Essa tarifa tem o sentido de sanção político-ideológica.
Trump quer punir o governante brasileiro que se alia com países ditatoriais como Cuba, Nicaragua, Venezuela, China, Rússia, Irã, além de simpatizar com grupos terroristas como hamas e hezbollah, além de pretender minar o dólar americano.
Logo, não há como as autoridades brasileiras demonstrar surpresas, sendo absolutamente inútil buscar explicações desse tarifaço no plano econômico.
Diz o velho ditado extraído da Bíblia “quem semeia vento colhe tempestade”.
Se o presidente continuar brandindo a espada contra a maior potência econômica do mundo poderá provocar a imposição de uma tarifa ainda maior, como aquela imposta à China em março de 2025 que acabou afugentando os empresários americanos para EUA ou outros países como Vietnan, Coreia do Sul etc., e as fábricas chinesas tiveram que fechar suas portas, causando a maior insatisfação da população desempregada.
China, então sentou na mesa de negociações e firmou um acordo pela qual promete importar os produtos agrícolas dos EUA e baixar a sua tarifa de importação. Isso significou o redirecionamento da importação de produtos agropecuários brasileiros.
Com esse tarifaço de 50% o setor de agronegócios mergulhará em uma crise profunda, arruinando o único setor econômico que vinha dando certo.
É lamentável que isso venha a ocorrer por conta de diferenças ideológicas.
Ideologias diferentes, por si só, nunca foram barreiras para desenvolvimento de comércio entre os diferentes países. O que não é admissível é que um governante de um país ataque e ridicularize o governante de outro país, importante parceiro comercial há mais de um século, por questões puramente ideológicas.