I. Análise por continente
I.I. Ásia
A Ásia, particularmente o Sudeste Asiático, é altamente exposta a eventos físicos como ciclones e inundações. Essa exposição resulta na diminuição do IED, devido à instabilidade operacional e à destruição de ativos (CHEN et al., 2022). Adicionalmente, os riscos de transição, como a necessidade de descarbonização, elevam os custos de capital para indústrias intensivas em carbono, incentivando um redirecionamento de investimentos para economias desenvolvidas (FOURNE; LI, 2024).
I.II. África
Na África, a combinação de riscos físicos, como secas e desertificação, com a fragilidade econômica, acentua os riscos de inadimplência soberana. Países com alta exposição climática são significativamente mais propensos a um default de dívida (THOMPSON et al., 2024). Essa dinâmica desestimula o IED em setores-chave como agricultura e infraestrutura, criando um “duplo desafio clima-dívida” que limita a capacidade de adaptação e perpetua a dependência de empréstimos externos (BUHR et al., 2018).
I.III. América do Sul
A América do Sul enfrenta riscos físicos como incêndios e inundações, que impactam setores sensíveis, como o agronegócio e a energia. A percepção de risco nesses setores eleva o custo de capital, reduzindo o acesso ao financiamento (MENESSES CERÓN et al., 2024). Isso contribui para um deslocamento de capital em direção a países considerados mais resilientes dentro da própria região, intensificando desigualdades regionais (CHEN et al., 2022).
I.IV. América do Norte
Apesar de enfrentar eventos extremos, a América do Norte demonstra maior resiliência devido à sua robusta infraestrutura e capacidade de resposta. Os custos associados a esses eventos são em parte mitigados pela capacidade de adaptação e pelo redirecionamento de capital para setores de baixo carbono (KPMG, 2023). A região mantém seu atrativo para o investimento, com impactos mínimos nos ratings de crédito soberano (LOMBARD ODIER, 2025).
I.V. Oceania
A Oceania, particularmente as nações insulares, é severamente afetada pelo aumento do nível do mar e secas, que reduzem o IED e elevam os custos de empréstimos (CHEN et al., 2022). A Austrália, apesar de mais resiliente, também experimenta a realocação de capital de setores vulneráveis a incêndios para indústrias menos expostas (LOMBARD ODIER, 2025).
I.VI. Europa
A Europa beneficia-se de políticas climáticas avançadas que canalizam capital para energias renováveis, minimizando os impactos de riscos físicos sobre sua estabilidade financeira (CAPPIELLO et al., 2025). Internamente, há um deslocamento de investimentos para o norte do continente, em detrimento do sul, mas a região como um todo permanece um destino de capital atraente, com menor instabilidade financeira em comparação com outras partes do mundo (LOMBARD ODIER, 2025).
II. Considerações
A análise demonstra que os riscos climáticos funcionam como um vetor de desigualdade, direcionando o capital de regiões vulneráveis para as resilientes. Para romper esse ciclo, é imperativo que o sistema financeiro se torne um motor de soluções pragmáticas. Isso inclui a implementação de mecanismos como fee-and-dividend schemes, que incentivam a eficiência econômica (KÁLLAY, 2022), o uso de blended finance para mitigar riscos de investimento em adaptação climática (CLIMATEWORKS FOUNDATION, 2022) e a adoção de uma perspectiva de triplo dividendo de resiliência, que foca em evitar perdas, reduzir riscos e gerar benefícios econômicos (FELBERMAYR et al., 2022). Tais abordagens financeiras são essenciais para superar obstáculos ideológicos e promover a estabilidade financeira global (LIU et al., 2024).
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BUHR, B. et al. Climate change and the cost of capital in developing countries: assessing the impact of climate risks on sovereign borrowing costs. London: Imperial College London; SOAS University of London; UN Environment, 2018.
CAPPIELLO, L. et al. From words to deeds: Incorporating climate risks into sovereign credit ratings. CEPR, 2025. Disponível em: https://cepr.org/voxeu/columns/words-deeds-incorporating-climate-risks-sovereign-credit-ratings. Acesso em: 26 ago. 2025.
CHEN, Y.; ZHANG, D.; WU, F. Climate risks and foreign direct investment in developing countries: the role of national governance. Sustainability Science, v. 17, p. 1723-1740, 2022. DOI: 10.1007/s11625-022-01199-8.
CLIMATEWORKS FOUNDATION. Using the right mix of financial instruments to provide and mobilize climate finance. 2022. Disponível em: https://www.climateworks.org/wp-content/uploads/2022/11/Using-the-Right-Mix-of-Financial-Instruments-to-Provide-and-Mobilize-Climate-Finance_iGSTFinance_Nov2022.pdf. Acesso em: 26 ago. 2025.
FELBERMAYR, G. et al. The Triple Dividend of Building Climate Resilience: Taking Stock, Moving Forward. World Resources Institute, 2022. Disponível em: https://www.wri.org/research/triple-dividend-building-climate-resilience-taking-stock-moving-forward. Acesso em: 26 ago. 2025.
FOURNE, M.; LI, X. Climate Policy and International Capital Reallocation. BIS, 2024. Disponível em: https://www.bis.org/events/cgfs_ibfsws5/3a_Li_paper.pdf. Acesso em: 26 ago. 2025.
KÁLLAY, L. Are fee-and-dividend schemes the savior of environmental taxation? A review of the literature. Environmental Science & Policy, v. 131, p. 1-10, 2022. DOI: 10.1016/j.envsci.2022.01.009.
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LIU, H. et al. Impact of climate risk on financial stability: Cross-country evidence. International Review of Financial Analysis, 2024. DOI: 10.1016/j.irfa.2024.103096.
LOMBARD ODIER. The rising cost of climate catastrophes – how should investors respond as extreme weather becomes the new normal? 2025. Disponível em: https://www.lombardodier.com/insights/2025/june/the-rising-cost-of-climate-catastrophes.html. Acesso em: 26 ago. 2025.
MENESSES CERÓN, L. Á. et al. Climate Risk and Its Impact on the Cost of Capital—A Systematic Literature Review. Sustainability, v. 16, n. 23, p. 10727, 2024. DOI: 10.3390/su162310727.
THOMPSON, J. et al. The link between physical climate risk and sovereign default. ICE Sustainable Finance, 2024. Disponível em: https://www.ice.com/insights/sustainable-finance/the-link-between-physical-climate-risk-and-sovereign-default. Acesso em: 26 ago. 2025.