Migalhas Quentes

STJ: Foro em ação de guarda é definido de acordo com interesse da criança

Conflito de competência trata de disputa internacional pela guarda de filho que voltou da Noruega ao Brasil com a mãe após relato de violência doméstica.

12/11/2025

A 2ª seção do STJ firmou entendimento de que, em ação de guarda, deve prevalecer o foro do local onde a criança vive e mantém vínculo afetivo, especialmente quando há indícios de violência doméstica.

Acompanhando o voto da relatora, ministra Nancy Andrighi, o colegiado reforçou que o princípio do juízo imediato, previsto no art. 147 do ECA, se sobrepõe à regra da perpetuação da competência, garantindo uma prestação jurisdicional mais próxima e adequada ao melhor interesse da criança.

O caso

No caso, uma mãe ajuizou ação de modificação de guarda em Araçatuba/SP após retornar ao Brasil com o filho, alegando ter sido vítima de violência física e sexual, juntamente com a criança, praticada pelo pai, que havia obtido guarda unilateral concedida pela Justiça da Noruega.

Paralelamente, o genitor também ajuizou ação de busca e apreensão do filho, afirmando ser o detentor da guarda.

O juízo de Araçatuba havia declinado da competência em favor da vara da Infância e Juventude de Natal/RN, ao entender que naquela comarca já tramitavam ações anteriores envolvendo a mesma criança, inclusive uma decisão que havia reconhecido situação de risco e fixado a competência de Natal para processar todas as demandas relativas ao menor.

Melhor interesse da criança define o foro em ações de guarda.(Imagem: Freepik)

Voto da relatora

A relatora, porém, ressaltou que, de acordo com o art. 147, incisos I e II, do ECA, o foro competente é o do domicílio do responsável ou onde a criança reside, “buscando entregar às crianças e aos adolescentes uma prestação jurisdicional célere e eficiente”.

Nancy Andrighi lembrou que a 2ª seção do Tribunal já reconheceu que essa competência tem natureza absoluta e que o princípio da perpetuatio jurisdictionis pode ser mitigado em favor do melhor interesse do menor.

A ministra também citou entendimento do STF nas ADIns 4.215 e 7.686, que reconheceu que a exceção ao retorno imediato da criança por risco grave à sua integridade física, psíquica ou situação intolerável, aplica-se em hipóteses de violência doméstica contra a mãe, ainda que a criança não seja vítima direta, desde que demonstrados indícios objetivos e concretos da situação de risco.

Para S. Exa., essa interpretação reforça a necessidade de proteger o ambiente familiar como espaço seguro de desenvolvimento.

Diante de cenário em que a mãe modifica o seu domicílio com os filhos em razão de indícios de violência doméstica perpetrada pelo pai, é aconselhável que a criança permaneça com a mãe, desde que lhe sejam garantidas condições de moradia digna e frequência escolar”, pontuou.

Ao final, a relatora concluiu que o juízo de Araçatuba é o que “apresenta melhores condições de ter pronto acesso à criança, dirimir todos os conflitos relacionados a este grave contexto familiar, incluindo-se a ação de modificação de guarda e demais ações de busca e apreensão, além das medidas protetivas direcionadas ao próprio menino”.

Diante disso, votou para que o juízo da 2ª vara da Infância e da Juventude de Natal/RN remeta ao juízo da 1ª vara de Família e Sucessões de Araçatuba/SP todas as ações que lá tramitam envolvendo o contexto da guarda do menor.

O entendimento foi acompanhado por unanimidade pelo colegiado.

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Leia mais

Migalhas Quentes

Juiz fixa guarda unilateral para atender melhor interesse de crianças

5/9/2025
Migalhas Quentes

TJ/GO permite ação de guarda no Brasil mesmo com menor nos EUA

26/5/2025
Migalhas Quentes

STJ: União pode propor ação de regulamentação de visita internacional

5/11/2024

Notícias Mais Lidas

STJ recebe lançamento de coletânea em homenagem a Nelson Luiz Pinto

3/12/2025

Editora Fórum apresenta os destaques editoriais de novembro no Direito

3/12/2025

Sorteio da obra "Código da Propriedade Intelectual - Conforme os Tribunais"

3/12/2025

TSE manda retomar bloqueio de bens e valores de escritório de advocacia

3/12/2025

Trabalhadora alvo de piadas de chefes por ser autista será indenizada

3/12/2025

Artigos Mais Lidos

A força da jurisprudência na Justiça Eleitoral

3/12/2025

Edição gênica e agronegócio: Desafios para patenteabilidade

3/12/2025

Abertura de empresas e a assinatura do contador: Blindagem ou burocracia?

3/12/2025

Como tornar o ambiente digital mais seguro para crianças?

3/12/2025

Recuperações judiciais em alta em 2025: Quando o mercado nos lembra que agir cedo é um ato de sabedoria

3/12/2025