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Política, Direito & Economia NA REAL

Enfoque político, jurídico e econômico.

Francisco Petros
terça-feira, 2 de julho de 2013

Política e Economia NA REAL n° 252

Nem tudo são flores, nem tudo é tragédia - 1 São precipitadas a análises classificando como "devastadores" (ou avassaladores) os resultados das pesquisas do Instituto DataFolha apontando que os índices de popularidade da presidente Dilma Rousseff e suas intenções de voto desceram celeremente a ladeira, caindo respectivamente para 27 e 21 pontos em três semanas. Embora a presidente já tivesse perdido oito pontos percentuais numa pesquisa anterior, num espaço de três meses, ou seja, seu governo já estivesse sob observação da opinião pública, é inegável que o levantamento do DataFolha realizado na quinta-feira e na sexta-feira da semana passada foi obviamente influenciado pelo clima emocional criado pelas manifestações de rua dos últimos 25 dias. Tanto do ponto de vista da condução do governo e quanto das pretensões reeleitorais da presidente, os dados ainda mais quando lidos em toda a sua extensão (mostram, por exemplo, que a perda de prestígio é generalizada, não está centrada neste ou naquele segmento) - são preocupantes. Nem tudo são flores, nem tudo é tragédia - 2 No entanto, falta ainda muito tempo para a eleição e para o fim do mandato presidencial, espaço suficiente para que Dilma ponha sua administração no rumo e se recupere. A questão é saber se Dilma e seus assessores, depois do quase terror que os acometeu, estão fazendo a leitura correta dos acontecimentos, se estão encaminhando as soluções mais aconselháveis para o momento e, principalmente, se têm condições gerenciais e políticas de fazer as alterações de rumo que as ruas estão cobrando. Além disso, pode-se observar desde que o governo saiu do torpor inicial, a impressão é que o roteiro traçado não é o mais aconselhável. Primeiro, porque Dilma e os seus parecem acreditar ainda na força do marketing, do discurso e de cenas de liderança explícita como as reuniões que a presidente tem feito nos últimos dias para debater a situação e ouvir sugestões (ver nota abaixo). Ficou-se até agora mais nas intenções e no jogo de promessas que em providências práticas. Segundo porque o caminho prioritário escolhido não é o adequado para responder a tal 'voz rouca'. A presidente oferece uma reforma política, por entender, corretamente, que as passeatas exibiram a insatisfação da sociedade com o universo político e partidário nacional. Nem tudo são flores, nem tudo é tragédia - 3 Porém, a reforma política era uma questão subjacente na ruas. O movimento tem endereços mais certos. Simplificadamente, pode-se dizer que os manifestantes estão pedindo pão e a presidente está oferecendo a eles as sementes para plantar o trigo e nenhum instrumento mais. A reforma política é projeto de médio e longo prazo e de resultados para lá de distantes. As ruas pedem o aqui e agora - sinais imediatos de uma vida que vai melhorar. A pesquisa DataFolha indica com precisão onde está o nó : a avaliação positiva da condução da economia caiu de 49% para 27% ; a expectativa de que a inflação vai aumentar continua subindo : passou de 51% para 54% ; para 44% o desemprego vai crescer, ante 36% na pesquisa anterior ; e para 38%, o poder de compra do salário vai cair - antes eram 27%. Repetindo o que já escrevemos anteriormente : foi este o combustível - nada secreto - que levou os cidadãos/eleitores às ruas. Diante desse quadro, investir energia num tal plebiscito para sondar a população sobre os termos de uma reforma política de resultados etéreos pode ser um erro fatal de Dilma para suas futuras pretensões. Pode deixar o seu governo como um pato manco faltando um ano e meio para o fim de seu mandato. A conta já está chegando Algumas áreas oficiais já demonstram preocupação sobre os efeitos que os movimentos populares, somados a algumas reações pavlovianas e populistas de certos governantes (suspender a rodo, por exemplo, os reajustes de tarifas) possam ter sobre os planos de governo de atrair grande número (e de qualidade) de investidores para a ambiciosa rodada de leilões para concessões de serviços de infraestrutura e de exploração de petróleo marcada para o segundo semestre. Nos últimos dias cresceu muito a busca por parte de empresas e investidores de informações sobre a situação do país, o real alcance das passeatas, o clima político, a sustentação do governo e as formas como ele responderá às pressões das ruas. Outro problema já colocado na mesa para a presidente está na sua relação com o Congresso Nacional e os partidos aliados. Percebendo a "fraqueza" da presidente neste momento, eles se preparam para tirar proveito da situação. As cobranças e exigências serão maiores, ainda mais depois que Dilma botou na roda a reforma política, uma mudança que todos na política apregoam querer, mais ninguém deseja de fato. Finalmente, mais lenha foi colocada na fogueira do "Volta Lula", cada vez mais entoado dentro do PT e cada vez mais audível apesar do sincero esforço do ex-presidente para calar esta algaravia. O estilo Dilma O esforço da presidente para atrair a simpatia para as ações que pretende empreender para responder aos apelos das passeatas, nas reuniões que está realizando em Brasília, pode estar se perdendo no modo como Dilma se comporta e trata os interlocutores. Apesar das dificuldades, a presidente não abandona seu estilo, em poucas palavras, autoritário e arrogante, algo já celebrizado em Brasília. Os governadores e prefeitos das capitais, segundo descrição de muitos deles, entraram mudos e saíram quase calados do encontro convocado pela presidente para, oficialmente, trocar experiências. A reação dos jovens representantes do tal "Movimento Passe Livre" foi de dizer que a presidente está despreparada para tratar do assunto da mobilidade urbana. Com os presidentes das centrais sindicais, Dilma falou ininterruptamente durante 40 minutos, deixou um pequeno espaço para a opinião deles e encerrou a reunião de forma abrupta, sem dar a atenção que eles esperavam às suas reivindicações. PMDB magoado, lamúrias do PT O PMDB ainda está um pote cheio de mágoa porque não foi cheirado nem ouvido, especialmente o vice Michel Temer, sobre a ideia do tal plebiscito para a Assembleia Constituinte exclusiva, aberração jurídica já abandonada. O PT também curte suas lamúrias pelos cantos, pelas mesmas razões do PMDB - não influencia o governo como de fato gostaria. Com um agravante : dele serão cobrados os maiores sacrifícios, sem direito a choro nem vela. Desse modo, Dilma está cada vez mais apegada apenas a seus auxiliares de fé, que até aqui não têm se mostrado os conselheiros mais atilados. Haja vista o vexame do Constituinte exclusiva de um lado e os passos trôpegos da economia de outro. Um plebiscito delicadoEm tempo, foi abortada, segundo voz corrente por influência principalmente do vice-presidente Michel Temer, a insana ideia (curioso : até agora não apareceu o pai ou a mãe) da Constituinte exclusiva para votar a reforma política convocada por um plebiscito. Trocou o plebiscito da Constituinte por um plebiscito sobre os próprios termos da reforma, proposta menos afrontosa juridicamente e mais palatável politicamente. Mesmo assim não é algo fácil de operacionalizar, totalmente livre de riscos. Ainda que, segundo o DataFolha tenha o apoio de 68% dos entrevistados em sua última pesquisa. E esteja sendo aplaudido de público (nos corredores é outra coisa) por praticamente toda a base aliada. Uma coisa é a teoria e o discurso, outra o mundo real O senador Francisco Dornelles, do PP do RJ, fez um cálculo preliminar e chegou à conclusão que o eleitor no plebiscito teria pelo menos 29 hipóteses a analisar apenas de quatro dos itens de comporiam a reforma. O cálculo está subestimado. Uma reforma política que se pretenda minimamente séria teria de abordar pelo menos estas questões: (1) voto obrigatório; (2) cláusula de desempenho ou de barreira; (2) recall; (3) fidelidade partidária; (4) o instituto da reeleição para o executivo; (5) limitação de reeleição para o legislativo; (6) proibição de coligações em eleições proporcionais; (7) extinção dos suplentes de senadores; (7) financiamento de campanha; (8) sistema de eleições, se proporcional ou não; (9) a proporcionalidade nas representações estaduais. Esta é uma lista ainda incompleta. São temas extremamente complexos, a maioria deles com diversas opções de perguntas e respostas. Como fazer isto com segurança e sem manipulações ? Ainda mais no tempo exíguo que a presidente Dilma deseja : até 5 de outubro, para poder valer nas eleições do ano que vem. Pode gerar um novo monstrengo institucional com aparências de legalidade. Assim é mais fácil Há quem esteja vendo na atuação de oposição diante da crise uma grande demonstração de maturidade política e de responsabilidade institucional. Com exceções, faz críticas, algumas até contundentes, apresentou até uma espécie de agenda para enfrentar os problemas mais prementes, mas não está esticando a corda, explorando principalmente o infortúnio que bate à portas do Palácio do Planalto. De fato, tem sido de rara sensatez. Porém, está beneficiada pelo fato de não estar no olho do furacão, tirante no caso de alguns prefeitos e governadores de suas legendas, não tem responsabilidade direta e imediata a respeito de nada do que esta incomodando a população. Assim, fica mais fácil assumir a posição que os oposicionistas estão assumindo. Mas eles não estão assim tão isentos de serem atingidos pela onda. Afinal, fazem parte do mesmo mundo da política tradicional que as ruas estão condenando. Vão precisar mostrar que já mudaram e que podem fazer de fato de modo diferente. Não é à toa que os maiores beneficiados com a queda de Dilma nas pesquisas das intenções de votos sejam duas pessoas não totalmente identificadas com a política que "está aí" : a ex-ministra Marina Silva e o presidente do STF, Joaquim Barbosa. Amigos, amigos, economia à parte Não há uma crise nem um confronto, pelo menos ao que se sabe, mas é cada vez mais distinta a visão que o Ministério da Fazenda e o BC têm no momento da economia brasileira. Mesmo menos entusiasmado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, continua dando luz à sua visão rósea da situação econômica, garante que a inflação e as contas públicas estão sob controle e que o PIB vai subir pelo menos 3% em 2013. No outro extremo, o BC optou por aderir ao realismo (não fantástico) : baixou sua previsão para o PIB do ano para 2,7% e elevou a de inflação para 6%, bem distante do centro da meta oficial de 4,5%. E para completar pespegou o selo de expansionista na política fiscal. Para acompanhar com mais segurança o comportamento das contas públicas, passou a observar, como mostra num anexo do Relatório Trimestral de Inflação, o conceito de "superávit primário estrutural". É o velho de guerra superávit primário (receita menos despesas desprezados os gastos com os juros) expurgado de receitas e despesas extraordinárias, tais como entrada de recursos não previstos nos cofres públicos e a já manjada contabilidade criativa. É importante saber com qual das duas visões a presidente Dilma Rousseff está comungando. Afinal, é ela a verdadeira ministra da economia e é de sua cabeça que saem as decisões. Os números não mentem A presidente Dilma Rousseff e o ministro Guido Mantega insistem que a política fiscal (gastos públicos) está absolutamente sobre controle. Não é o que acredita o BC : nos seus últimos comunicados - o mais recente semana passada, o Relatório Trimestral de Inflação - a autoridade monetária classifica esta política como expansionista, isto é, gastadeira. E não é o que mostram os números do desempenho das contas públicas até maio : - em 2012, a receita foi de R% 360 bilhões, em 2013, R$ 387,3 bi - um aumento de 7,3%. Mas a despesa subiu mais : 12,8% (R$ 314 bi em 2012 contra R$ 354 bi em 2013). - as despesas com a previdência saltaram de R$ 122,1 para R$ 139,4 bilhões, um acréscimo de 14,3%. - os gastos com pessoal também subiram : R$ 74,1 bi para R$ 80,0 bi, mais 7,1%. - as despesas de custeio (as da máquina administrativa) quase explodiram : de R$ 58, 3 bi para R$ 72 bi, aumento de 23,5%. - os investimentos também subiram, porém muito menos : 2,3%, de R$ 26,2 bi para R$ 26,4 bi. Brigar com os números não é a melhor receita para retomar a confiança na política econômica. O que se espera de fato Não se pode mais imaginar um crescimento do PIB de 3%. Estamos, de fato, caminhando para algo entre 1% e 1,5% nesse ano. Um resultado que reflete toda a incompetência governamental para ligar com expectativas e ambições do setor privado, esse patinho feio que o governo construiu intramuros. Ademais, a queda dos preços das commodities e a saída de recursos externos apontam para um câmbio bem mais para R$ 3,00 que R$ 2,00. A queda do Ibovespa, já na casa de 25% este ano pode atingir mais de 50%. O Brasil perdeu a onda externa favorável por força da incompetência do governo, em larga medida, e pela vaidade dos moradores dos palácios de Brasília. Os mensaleiros no telhado Está se esfumaçando a esperança dos mensaleiros e seus patrocinadores jurídicos de conseguirem no STF a redução de suas penas e, para alguns, livrar-se até de um período atrás das grades. A expectativa positiva dos condenados na AP 470 - alguns pensavam poder até se livrar totalmente da pena - era plausível até um mês atrás, antes do início das passeatas por todo o país. Os sinais de mudança do ambiente são claros : 1. A rapidez, depois de um tempo em convalescença, do STF de encerrar o julgamento, por corrupção, do deputado Natan Donadon (PMDB/RO) e mandá-lo para a cela da penitenciária da Papuda. O Supremo demorou um tempão para julgar os embargos apresentados pelos advogados do deputado, condenado a 13 anos de reclusão em regime fechado. 2. A presteza, maior ainda, da Câmara dos Deputados em abrir o processo de cassação do mandato de Donadon - segundo o desejo do presidente Henrique Eduardo Alves tudo estará terminado antes do recesso parlamentar o meio do ano. 3. A popularidade, cada vez maior, do presidente do STF, Joaquim Barbosa. Barbosa só se tornou uma figura pública admirada e aplaudida depois de sua ação durante o julgamento do mensalão. 4. As declarações do mais novo ministro da corte, Luís Roberto Barroso, no dia sua posse, dizendo que não se pode ficar surdo aos apelos da população. Antes, na sabatina no Senado, Barroso havia dito que o julgamento do mensalão havia sido um ponto fora da curva, o que encheu de esperança os condenados e seus defensores. 5. Para completar, o PT e o ex-presidente Lula, pelo menos publicamente, cada vez se envolvem menos no assunto, provavelmente para evitar desgastes eleitorais. Teste de sinceridade O Congresso e o governo terão esta semana a oportunidade de comprovar na prática suas juras de fidelidade aos anseios e necessidades da população na prática, sem demagogia. Deve ser colocado na pauta de votação do Legislativo um projeto que acaba com a multa de 10% no Fundo da Garantia por Tempo de Serviço dos trabalhadores demitidos sem justa causa, além dos 40% de praxe, dinheiro que vai diretamente para o assalariado. Esse adicional foi criado há alguns anos para ajudar nas contas do FGTS e aumentar os recursos para o financiamento imobiliário. Deverá render este ano R$ 3 bilhões ao Tesouro Nacional. É um custo para as empresas, já quase degoladas nas suas responsabilidades fiscais e trabalhistas, e não beneficia, nem indiretamente, o trabalhador. O dinheiro não está sendo incorporado ao FGTS, mas usado para engordar o superávit primário de responsabilidade do governo Federal. Com a corda no pescoço nas suas contas, para não perder esta receita o governo vai tentar apresentar uma emenda ao projeto a ser votado mantendo a multa adicional de 10% destinada agora ao "Minha Casa Minha Vida". Radar NA REAL 28/6/13   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta estável/alta - Pós-Fixados NA alta estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3057 estável baixa - REAL 2,2206 baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 47.457,13 baixa baixa - S&P 500 1.606,28 estável/alta alta - NASDAQ 3.403,25 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 25 de junho de 2013

Política e Economia NA REAL n° 251

Primeiro, a eleição, depois os fatos - 1 "O diabo nas ruas, no meio do redemunho" (João Guimarães Rosa, "Grande Serão Veredas") A presidente Dilma Rousseff e seus conselheiros, formais e informais, demoraram mais de uma semana para perceber que o ruído que saía das ruas era muito distinto de um barulho como o das caxirolas que um dia, imprudentemente, ela resolveu tocar em pleno Palácio do Planalto com o músico baiano Carlinhos Brown. Era um barulho político, no seu melhor sentido. Quando o Planalto percebeu o que estava a ocorrer, depois das manifestações da segunda-feira da semana passada, tocou no diapasão errado. Em lugar de mobilizar seu governo para tentar entender o fenômeno e apresentar algumas respostas razoáveis às ruas, tentou em "caco" incluído num discurso sobre o Código de Mineração. Em seguida, partiu para SP para reunir-se com seu comitê eleitoral : o ex-presidente Lula, o ministro (nas horas vagas) da Educação, Aloizio Mercadante, o presidente do PT, Rui Falcão, e o ministro (sem pasta) de Assuntos de Propaganda, o marqueteiro João Santana. Não é, de modo algum, embora Lula palpite sobre tudo no governo de sua pupila, o grupo mais adequado para discutir as questões postas pelas ruas. Primeiro, a eleição, depois os fatos - 2 Era óbvio que a preocupação, naquela altura, era com os estragos que as passeatas poderiam causar nos planos reeleitorais da turma. A turma reeleitoral ainda demorou mais dois dias - somente depois das agitações de mais de um milhão e meio de pessoas nas ruas na quinta-feira - para perceber a gravidade do problema. Para perceber que o que estava no ar, muito além das reivindicações pontuais, era uma completa condenação do modo de fazer política e de gerir a coisa pública no Brasil, sem distinções partidárias e de credos. Mais uma vez, porém, Dilma reagiu pelo lado errado. Foi certa, por óbvia, a decisão de fazer o chamado "pronunciamento à Nação". O dito foi apenas correto, protocolar. Mas, há ressalvas : (i) tenta passar, sem tanta sutileza, a maior responsabilidade pelo que não foi feito até agora e está sendo cobrado nas ruas para o Congresso Nacional, os governadores e os prefeitos ; (ii) como não acenou com propostas objetivas, o discurso pareceu um requentado do que está parado em algum lugar dos escaninhos públicos ou promessas de longa duração ou difícil aplicação. Soluções para agora ? Falar em reforma política no Brasil soa como tergiversação. Se nossa memória não nos falta, quem primeiro falou sobre o assunto foi Dom João VI. Por ora, basta ver o projeto que anda hoje no Congresso, melhor que não venha, pois está mais voltado para os interesses dos partidos e dos políticos do que da população. Será mais um entrechoque entre representantes e representados. Relembrar a proposta de destinar obrigatoriamente 10% dos royalties do pré-sal não traz soluções imediatas. Esses royalties vão demorar a entrar em grande quantidade nos cofres públicos. O dinheiro que pode entrar agora, como o pagamento pela concessão do campo de Libra, cujo leilão está previsto para outubro, vai ser reservado para ajudar a cumprir a meta de superávit primário deste ano. O mundo político, governo central à frente, parece não ter percebido que o movimento popular trazia em seu bojo um inescapável sentido de urgência. As respostas terão de ser rápidas. Há poucos meses, num discurso no Nordeste, a presidente Dilma disse que para se ganhar uma eleição era admissível "fazer o diabo". O diabo que está agora nas ruas, "no meio do redemunho" não é certamente o que ela pretendia despertar. "É sempre uma questão eleitoral", por José Márcio Mendonça - clique aqui "Perplexos, atônitos, bestializados", por José Márcio Mendonça - clique aqui E agora, o pacto No terceiro acorde (ou terceira reação) o tom ficou também abaixo do necessário. A proposta de um pacto de cinco pontos, feita depois de uma reunião com 27 governadores, 26 prefeitos de capital e um punhado de ministros e assessores foi aplaudida por quem já estava com as mãos prontas e coçando para bater palmas. As primeiras reações externas (deixe-se a oposição de lado) se não foram de ceticismo, foram de expectativa. Ficou-se ainda no terreno dos compromissos, das promessas. De nada que foi dito ficou-se sabendo o "como fazer". E de muita coisa nem bem o que se propôs de fato a fazer-se. A questão apresentada como o ponto central do pacto, o plebiscito para uma constituinte exclusiva para a reforma política, por exemplo : ficaram dúvidas sobre a viabilidade jurídica e sobre sua viabilidade política. E é desnecessária : o Congresso tem poder constituinte e o governo tem ampla maioria para aprovar o que bem entende por lá. Uma proposta dessas, mesmo que viável, jogaria a reforma somente para 2016 - ano que vem para eleger os constituintes, 2015 para aprová-la. E como as ruas mostraram, as questões postas na mesa são um pouco mais urgentes. O mesmo se pode dizer sobre o pacto fiscal, ou de ajuste fiscal. Ele já exista há anos, nas metas de superávit primário. Porém, de uns tempos para cá, deixou de ser cumprido de fato, maquiado por uma contabilidade altamente criativa. Até o BC tem sido cético em relação a ele em suas últimas manifestações oficiais, como na mais recente ata do Copom. Cumpri-lo é uma questão de convicção. Pacto nenhum obriga ninguém a fazê-lo. A pressa dos ministros escalados para explicar depois o que estava decidido, tentando livrar-se rapidamente dos repórteres no Palácio do Planalto, com respostas confusas e repetitivas, é o indicador mais claro de que o pacto de cinco pontos ainda está no terreno da comunicação apenas. Sem respaldo da economia Conforme já dissemos nas colunas das últimas semanas, o cenário econômico do Brasil piorou sensivelmente do ponto de vista das expectativas e observados alguns fundamentos. A economia está atolada num processo inercial de crescimento entre 2%-3% no máximo, fruto da ausência de competitividade sistêmica do país (custo de mão de obra, elevados impostos, incipiência tecnológica, educação ruim, criminalidade alta, etc.), da fraqueza estrutural do desenvolvimento industrial e da dissociação da pauta política e econômica. Além da palidez da equipe econômica, da Fazenda às empresas públicas, passando pelo Ministério do Planejamento e o BNDES. O cenário atual será caracterizado pela desvalorização do real (e seus consequentes efeitos inflacionários), por um crescimento do PIB próximo de 2%, por uma situação fiscal sem maiores riscos, mas com deterioração qualitativa das contas públicas e por uma política monetária relativamente dependente dos humores do Palácio do Planalto. Falta à política econômica credibilidade interna e externa. Risco Brasil Até agora não houve, da parte dos investidores, mudança substantiva na avaliação de risco soberano do Brasil em função das manifestações ocorridas na semana passada. Diante de tanta perplexidade em relação à evolução das manifestações públicas na semana passada é improvável que o risco país do Brasil sofra alterações no curto prazo, por parte das agências de avaliação de risco (rating agencies), mesmo porque o nível das reservas internacionais é satisfatório e a deterioração fiscal não implicou em um aumento substantivo do endividamento público. Todavia, a continuar o ambiente político conturbado, a preocupação dos investidores, sobretudo externos, haverá de influenciar decisivamente a visão das agências em relação ao Brasil. Note-se que, mesmo que as rating agencies estejam sob forte ceticismo desde a crise de 2008, a nota dada aos países tem forte influência sobre a avaliação do risco no mercado de títulos. Risco China Não é apenas o Brasil que está com o mercado acionário prejudicado. Quase todos os países emergentes estão com os seus mercados acionários com desempenho anual negativo. Esta conjuntura deve provavelmente se acentuar nos próximos meses em função da queda da atividade da economia chinesa. O BC daquele país está emitindo sinais claros de que está reduzindo os riscos na área de crédito do sistema financeiro, bem como está apertando a política monetária. De fato, tenta um "pouso suave", o que é sempre difícil de se realizar, pois as expectativas dos agentes acaba por "acelerar tendências" e não suavizá-las. O momento é particularmente de risco para a China e os emergentes não apenas por este motivo. Há, adicionalmente, a questão da transparência das contas públicas e dos bancos estatais chineses. Muitos analistas e investidores têm severas dúvidas sobre a credibilidade das autoridades chinesas no que tange a este tema. Mesmo que poucos se arrisquem a vir a público para discuti-lo. Medo das reações do regime comunista de Pequim. Risco EUA Foi a melhora substantiva dos indicadores macroeconômicos da maior economia do mundo que fez com que o presidente do FED anunciasse o fim dos (enormes) estímulos monetários usados para recuperar a economia norte-americana. A reação imediata dos diversos segmentos do mercado foi negativa. Ações caíram, títulos de renda fixa tiveram suas taxas majoradas e o dólar se fortaleceu. Efeitos de curto prazo à parte, são boas as chances da economia continuar se fortalecendo. Assim sendo, a queda das ações são oportunidade de compra. Para o Brasil o maior risco, conforme já analisamos em colunas das últimas semanas, é a valorização do dólar que põe combustível na inflação brasileira, mesmo que ajude no médio prazo as exportações. Quando vai parar ? É provável que os atuais movimentos arrefeçam a partir desta semana, exceção para algumas manifestações já marcadas. Não há fôlego para manter pessoas permanentemente mobilizadas. É a natural fadiga de materiais. Porém, há sinais de que a chama não se extinguirá tão facilmente por uma simples razão : o despertar, apesar de induzido pela campanha contra o aumento das tarifas de transporte urbano, teve várias motivações. Foi um grito (para lembrar um velho lema petista) contra "tudo que está aí". Portanto, pode voltar quando outras coisas desagradáveis entrarem no ar. E há um grande leque de "motivações" no gatilho : a conclusão do julgamento do mensalão, a PEC 37, uma proposta que tenta também submeter decisões do STF ao Congresso, manobras para diminuir os efeitos da lei da ficha limpa, a tentativa fisiológica de dificultar o nascimento de novos partidos... E, naturalmente, o mal estar com a economia. O que fazer ? De todas as respostas que o governo precisa dar ao clamor das ruas nenhuma é mais urgente que combater os desarranjos da economia. As questões políticas são um tanto quanto fluídas, embora mereçam atenção, a razão econômica é material. Se o ambiente econômico estivesse melhor, com a inflação mais comportada, se não houvesse um sentimento generalizado de medo de perda do poder de compra e consumo, talvez as manifestações das duas últimas semanas não tivessem ganhado as proporções que ganharam. A expectativa é saber como o governo vai atacar nesse front. Não foi sem razão que na esteira das passeatas, Brasília andasse povoada de boatos sobre possíveis alterações na equipe econômica, muito especificamente do ministro Guido Mantega. É improvável que Dilma, por tudo que se conhece dela, vá tomar uma atitude dessas. Mas a disseminação da boataria indica as dificuldades que o governo está tendo - e elas são anteriores aos movimentos populares - de dar respostas aos desarranjos que apareceram na política econômica. "Menas", Lula, "menas"... As confusões dos últimos dias, quando a presidente teve de correr a SP para se aconselhar mais uma vez com o ex-presidente Lula, mais uma vez comprova a "dependência" que Dilma tem. Não foi a primeira vez que Lula teve de dar a mão à pupila. Provavelmente, não será a última. Porém, Lula faz questão, direta ou indiretamente, de mostrar que esta "dependência" existe. Esta exibição de influência acaba por prejudicar a presidente, pois admitam os amigos dela ou não, enfraquecem a posição do Palácio do Planalto. E causam confusão. A conversa de Lula com o ex-presidente do BC, Henrique Meirelles, em plena efervescência das ruas, por exemplo, ajudou a alimentar os boatos da substituição de Guido Mantega no Ministério da Fazenda. Sem contar que o ex-presidente reuniu-se com os líderes das centrais sindicais para ouvir deles queixas contra o tratamento que recebem da presidente. Nada mais inoportuno. Sem contar que o Instituto Lula é também o desaguadouro das lamúrias petistas. Não é à toa que o coro de "volta Lula" está ficando mais encorpado. Para gosto do lembrado. Um mar de especulações Na onda de descontentamento da presidente Dilma com os percalços de seu governo na economia e em outros campos, como no Congresso, ampliados pela "voz rouca das ruas", Brasília está tomada por um vagalhão de especulações a respeito de uma reforma ministerial que ela fará em breve. A oportunidade seria o recesso do Congresso Nacional, a partir de 15 de julho (se os parlamentares aprovarem a lei de diretrizes orçamentárias para o Orçamento de 2014) e, naturalmente, o arrefecimento das manifestações populares. Afinal, reza um ditado da política nacional, governo não age pressionado. Uma bobagem, age sim. Haja vista, no caso Dilma, a série de demissões no início do governo levadas pelas denúncias de irregularidades envolvendo nada menos que sete ministros, todos devidamente mandados então para casa. Dilma aproveitaria a ocasião para tentar dar mais eficiência gerencial à sua administração, livrar-se de auxiliares pouco efetivos e melhorar sua interlocução com o Congresso e alguns setores da sociedade - agentes econômicos e movimentos sociais e sindicais. Dilma também anteciparia a saída de alguns ministros que em abril de 2014 devem sair para concorrer a governos estaduais. Imagina-se que 14 deles estariam na boca de espera. Inicialmente esta mudança está prevista para o fim do ano. Antecipada, Dilma já teria a equipe com que pretende terminar este mandato e lugar por mais quatro anos no Palácio do Planalto. A partir desse pano de fundo, há especulação para todos os gostos. O primeiro nome especulado é o do ministro Guido Mantega, da Fazenda, pela óbvia necessidade de o governo recuperar a confiança das chamadas classes produtoras e do dito mercado financeiro. Foi o que provocou os boatos da ida de Henrique Meirelles para o Ministério (ver nota acima). É improvável, por enquanto, ainda mais com Meirelles, mas ajustes na equipe econômica são bem viáveis. Há sinais de fumaça dando indicações de que Aloizio Mercadante, cada vez mais um assessor político e eleitoral da presidente e cada vez menos um ministro da Educação, poderia ser transferido para a Casa Civil, para melhorar a coordenação do governo e relações do Palácio com o Congresso e os partidos. Esta especulação já andou no ar no início do ano e é tudo que Mercadante quer. Gleisi Hoffmann voltaria ao Senado, onde assumiria uma das lideranças do governo, ou a do Senado ou a do Congresso, tidas como pouco eficientes. Ela ficaria com mais tempo também para preparar sua candidatura ao governo do PR. Dá-se também como possíveis beneficiários de um bilhete azul o secretário geral da presidência da República, Gilberto Carvalho e o chefe da ABIN, general José Milito. O primeiro por falhas na interlocução com os movimentos sociais e o segundo por falhas na detecção das insatisfações populares. O terreno é ainda de meras especulações, mas que há fumaça há e não de pneus queimados por manifestantes contra os aumentos de transportes ou contra os gastos com a Copa do Mundo. Não viu quem não quis A insatisfação contra o mundo político e burocrático que explodiu nas praças, ruas e avenidas nos últimos dias já estava latente há algum tempo e só não viu seus sinais quem não quis. Um deles foi dado nas eleições municipais de 2012, na qual tivemos um recorde de não votantes nos últimos anos no país : o total de votos brancos, nulos e abstenções (ou seja, de quem rejeitou todos os candidatos e partidos) chegou a quase 40% do eleitorado inscrito para votar. Outro dado : caiu para menos da metade, desde que esta possibilidade foi incluída em nossa legislação eleitoral, o número de jovens com idade entre 16 e 18 anos, que tiraram seu título de eleitor. Votar nesta idade é facultativo e o interesse deles diminuiu. Não é preciso perguntar a razão. Silêncio constrangedor Nunca se viu tanto tão falantes políticos calados como nesses dias, a começar pelo ex-presidente Lula que fala muito em gabinetes a portas fechadas. Os que se arriscaram, partiram para obviedades - ou bobagens. Mas nada mais constrangedor nesse quadro do que o silêncio da oposição, a mostrar que tanto quanto o governo em Brasília ela não esperava o que se passou e não sabe o que fazer. Esqueçam o que eu escrevi É comovente ver o esforço de um grupo de economistas de peso para reescrever o que disseram nos últimos tempos sobre a política econômica levada adiante nos últimos anos e para explicar porque ignoram sinais de que a inflação não era apenas um soluço, porque não viram a "contabilidade criativa" que minava a política fiscal e porque não perceberam que a política cambial estava matando a indústria, porque não sentiram que havia um exagero na política de crédito de fato e incentivo ao consumo e outras coisinhas mais... Radar NA REAL 21/6/13   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta estável/alta - Pós-Fixados NA alta estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3108 estável baixa - REAL 2,2306 baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 47.056,04 baixa baixa - S&P 500 1.592,43 estável/alta alta - NASDAQ 3.357,25 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 18 de junho de 2013

Política e Economia NA REAL n° 250

Ler para entender - 1 Já deu para se ler e ouvir um pouco de tudo a respeito das manifestações de rua em SP, RJ e outras cidades brasileiras, tendo como motivação o aumento das tarifas de transportes públicos. Condenações ao "vandalismo" dos manifestantes e/ou à "violência" policial, tentativas de entender "sociologicamente" o explodir de movimentos sociais comandados, aparentemente, pela juventude, etc. e tal. Porém, vale também uma interpretação mais chã. E quem não souber ler o que está escrito nessas estrelas, pode afogar-se em urnas. Quem se deu à paciência (e a certa coragem) de passar, mesmo que um tanto distante e discretamente, pelas proximidades das manifestações em SP pode perceber claramente, especialmente na quente quinta-feira, que lá não estavam mais apenas os organizadores e propagadores, jovens estudantes. Havia povo, sim, no meio. Ler para entender - 2 É obtusidade córnea ou má fé cínica (lembrando Machado de Assis) acreditar que evento de tal magnitude (e crescente) seja sustentado apenas por um aumento de 20 centavos na passagem de ônibus. Para o "povão" esse dinheiro faz falta, mas não motivaria saída às ruas. Para os jovens de classe média, menos ainda. O fato real é que há um sentimento ainda difuso de insatisfação, temor do futuro que criou o caldo de cultura para as manifestações ainda em curso. E outras que começam a aparecer, como o que ataca os gastos com a Copa do Mundo. A vaia que a presidente Dilma Rousseff recebeu sábado em Brasília na festiva abertura da Copa das Confederações é galinha do mesmo balaio. É alerta para os governantes de todos os quadrantes nacionais. Esta sim é uma questão política real. Ver para entender - 1 A presidente Dilma Rousseff, com seus consultores para questões político-eleitorais, criaram o mantra de um "terrorismo informativo" para explicar esse clima de insatisfação que tomou conta de certa parte da sociedade brasileira e ficou explicitado na queda de avaliação de seu governo, segundo a mais recente pesquisa DataFolha. Traduzindo : a oposição e os meios de comunicação exageram no pessimismo ao pintar as dificuldades econômicas presentes e acabam influenciando a opinião pública. A realidade, segundo o observatório do Palácio do Planalto, é bem distante : tudo vai bem, no melhor dos mundos possíveis. Se elas existem, são facilmente contornáveis. Ver para entender - 2 A realidade, segundo o observatório da planície, é um pouco distinta. Para a maioria da população - que segundo a interpretação abalizada do ex-presidente Lula não lê jornais - é sentida por outra métrica : o que ela gasta no caixa de supermercados e nas barraquinhas das feiras. Este é o mundo real e ele não está nada cor de rosa. Nem sempre é inteiramente refletido nos índices de inflação - sempre uma representação dos preços médios em geral. Para quem gasta quase tudo que ganha para morar, comer e se deslocar para o trabalho, os preços estão muito mais salgados. Talvez fizesse bem à turma dos gabinetes um "choque de realidade" andando pelas ruas. Quem não souber ver, vai pagar caro - nas urnas. Mudar é difícil É cada vez maior o número de economistas, simpáticos ou não simpáticos ao governo, receitando mudanças nos rumos da atual política econômica de Dilma. São propostas de mudanças substanciais, como uma maior atenção aos gastos públicos, que correram muitos frouxos desde a campanha eleitoral de 2010. Mas, parece difícil que alterações radicais venham a acontecer, além de alguns ajustes superficiais e da ação isolada do BC, por três razões : 1. O governo não parece convencido de que está errado e que precisa mudar. 2. Alterar profundamente o que estão em curso é confessar que a política adotada até agora foi um fracasso. Não é do perfil de Dilma. 3. As mudanças podem exigir sacrifícios e um tempo de maturação longa, o que não combina com o timing eleitoral do Palácio do Planalto. De outro lado, porém, não ousar pode significar uma deterioração mais rápida do ambiente econômico e, em consequência, também do político. É uma equação realmente complicada de ponderar quando o grande horizonte que se tem é o eleitoral. Ver para crer - 1 A presidente Dilma Rousseff, diante do clima econômico existente, tem insistido que a inflação e as contas públicas estão sob controle. O ministro da Fazenda (e arauto do otimismo oficial) diz o mesmo e na semana passada garantiu que o governo entregará um superávit primário este ano de 2,3% do PIB. É o recado da busca da austeridade fiscal abandonada e da confiança perdida. Os agentes econômicos, porém, não estão comprando tais afirmações pelo valor de face. Até porque nas duas últimas semanas o governo tomou algumas decisões que vão na direção de mais gastos que de mais poupança. Relembrando : dinheiro do Tesouro para capitalização do BNDES e da Valec, recursos do Tesouro para a Caixa Econômica bancar subsídio do programa "Minha Casa Melhor", verbas para o BNDES antecipar ao Tesouro Nacional receitas futuras de Itaipu. Ver para crer - 2 O discurso não bate com a prática e o mercado está esperando ver de fato para crer. Confiança não se conquista - ou se reconquista - apenas no gogó. É preciso também ações. O governo precisaria agir com vontade em três frentes para recobrar a confiança da sociedade que está se esvaindo : 1. Acertar sua vida política com o Congresso e com os aliados. 2. Ser mais firme na política econômica, especialmente na questão dos gastos públicos. 3. Mostrar mais eficiência gerencial e executiva. Impressões que ficam Observadas as últimas semanas, a imagem da Administração, no Brasil e no exterior sofreu revezes substantivos e levam a concisas conclusões : 1. O governo está perdendo a capacidade de iniciativa e liderança na agenda nacional; 2. O governo está cada vez mais refém da sua própria base aliada, mesmo que a oposição não lhe cause maiores percalços; 3. A imagem da presidente como "gerente eficiente" não passa de uma caricatura. 4. O Brasil não é mais estrela no cenário do mercado financeiro. Este lugar é dos EUA. Está batendo a saudade Foi só o governo vacilar no Congresso Nacional e a economia brasileira apresentar alguns solavancos para as paredes partidárias, mormente do PT, começaram a entoar o canto de "volta Lula". O ex-presidente, no entanto, parece alheio a tal burburinho. Parece cada vez mais distante do Lula que pensava um dia voltar à presidência e acompanhou com indisfarçável alegria o movimento de alguns companheiros, quando ele ainda estava na presidência da República, para aprovar a emenda do terceiro mandato consecutivo. Há razões objetivas para isto, que não estão ligadas a seus já vencidos problemas de saúde : 1. Admitir a candidatura é admitir o fracasso de sua aposta em Dilma e isto seria cobrado nos palanques. 2. Lula está ainda em lua de mel com o eleitorado de vez que as marolas da economia no momento não atingiram seu prestígio. Por que ele sairia desta zona de conforto ? 3. A pesquisa DataFolha mostrando que ele poderia perder uma eleição para Geraldo Alckmin em SP indica que mesmo nos melhores horizontes há nuvens perigosas. Para Lula hoje é Dilma ou Dilma, até porque o PT não tem outra opção e os parceiros não são tidos como dignos de ocupar este lugar. Por isso ele está trabalhando como nunca nos bastidores para armar o melhor dos mundos para Dilma. Esperando, esperando... Há informações de que Eduardo Campos e Aécio Neves têm se falado com alguma frequência, assim como assessores dos dois têm se encontrado. Anuncia-se que o governador pernambucano e o governo mineiro terão um encontro aberto, público, na semana que vem. O recado que eles pretendem passar é claro : se o governo e seus aliados apertarem demais o pescoço dos adversários, a união entre eles será inevitável. Agora eles estão "em compasso de espera" : para ver como o governo vai agir com ele e também com Marina Silva e para ver o que vai dar na economia. Não vão esticar mais a corda e centrar suas críticas na condução da economia. Mas, segundo interlocutores dos dois, com cuidado para não parecer que estão torcendo pelo fracasso da política econômica. Pepinos à vista Não são poucas as pedras que o Congresso Nacional pode atirar nos próximos dias em direção ao Palácio do Planalto. Resumidamente : 1. A discussão da nova forma de votar os vetos presidenciais e a votação de alguns deles - o dos royalties do petróleo, os do novo Código Florestal e os da lei dos portos. 2. A votação da proposta que extingue a cobrança adicional de 10% de multa do Fundo da Garantia quando das demissões sem justa causa. O dinheiro era para o FGTS, mas está no Tesouro para ajudar no fechamento das Contas. Se cair a proposta serão R$ 3 bi a menos por ano para segurar o déficit público. 3. A proposta de tornar obrigatória - Orçamento impositivo - a liberação do dinheiro das emendas dos parlamentares. 4. A discussão sobre mudanças na tramitação das MPs. Henrique Eduardo Alves e Renan Calheiros garantem que todos esses assuntos entram na pauta ainda antes do recesso de julho. Nesse ambiente a principal operadora política do governo, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti resolve dizer que o Congresso "às vezes" faz "chantagem" com o governo. É comprar briga na hora errada. É casuísmo sim - 1 Tudo indica que o STF na quarta-feira, por folgada maioria, derrubará a liminar do ministro Gilmar Mendes que está impedindo o Senado de votar o projeto que inibe a criação de novos partidos ao limitar o acesso deles ao tempo eleitoral no rádio e na televisão e aos recursos do fundo partidário. O último a ter a festa permitida foi o PSD de Gilberto Kassab, que teve esse direito assegurado pelo mesmo Supremo. Um observador mais ingênuo perguntaria : o STF está sendo muito rigoroso agora ou foi mais solto com o ex-prefeito de SP ? É casuísmo sim - 2 De todo modo, a maior parte dos especialistas entende que a liminar concedida por Gilmar Mendes a pedido do PSB não tinha mesmo cabimento do ponto de vista jurídico. De todo modo também, entende-se que a lei a ser votada pelo Senado - cuja aprovação é dada também como certa - é um puro ato de oportunismo político. Como assinalou a vice-procuradora-Geral eleitoral Sandra Cureau em recente artigo : "A pressa na votação do projeto de lei 4.470/2012 tem destinatários facilmente identificáveis : o Rede, de Marina Silva, o Solidariedade, de Paulo Pereira da Silva, e o Mobilização Democrática, de Roberto Freire". Toffoli e a economia Não se conhece completamente o "notório saber jurídico" do ministro Dias Toffoli. É ainda uma tarefa a ser desempenhada pelos observadores, conforme passam os anos e seus votos. Todavia, ao propor dois meses de férias para todos os trabalhadores, Sua Excelência parece ter pisado em polpudos tomates econômicos... A ideia de isonomia do ministro importaria em elevados custos para a economia nacional e a imagem de "país exótico" ganharia mais alguns pontos. Perdeu a chance o ministro de apenas falar no plenário e de toga sobre assuntos jurídicos. Rifando a granel - 1 Os dados da pesquisa DataFolha que colocaram algumas minhocas eleitorais nos aliados mais próximos de Dilma Rousseff estão levando seus conselheiros a repensar algumas estratégias eleitorais, pensadas ainda para o tempo em que a reeleição parecia caminhar para um passeio numa tarde ensolarada de domingo. Se as alianças com o maior número de partidos, principalmente pelo tempo eleitoral, já era considerada importante para garantir uma vitória no primeiro turno, agora ela se tornou essencial para exorcizar o risco de um embate perigoso com algum oposicionista. Assim, vai haver um endurecimento com aliados recalcitrantes e um esforço para atrair ovelhas desgarradas. Rifando a granel - 2 Na primeira linha, alguns nomes mais salientes, que ameaçam palanques regionais amplos, serão devidamente enquadrados. Já é dado como certo, por exemplo, que a candidatura de Lindbergh Farias ao governo do RJ será rifada. A troca de amabilidades entre Dilma, o governador Sérgio Cabral e o vice (e candidato do PMDB) Pezão sexta-feira foi o sinal. Há grupos também que voltaram a defender que se rife a vaga de vice-presidente na chapa de Dilma, hoje com Michel Temer, para atrair de volta o "insubordinado" governador de PE, Eduardo Campos. O argumento : Campos (vide nota acima) pode se unir a Aécio e tirar votos de Dilma em um de seus principais colégios, o Nordeste. E o PMDB, apesar dos esperneios e alguns laivos de rebelião no Congresso, não tem para onde correr. Precisa ter as benesses oficiais para ajudar a garantir a manutenção de seu principal patrimônio : alguns governos estaduais e bancadas partidárias numerosas na Câmara e no Senado. Bolsa e dólar Observados os desempenhos da taxa de câmbio e da bolsa de valores nas últimas semanas está consolidada a visão de que a primeira engatou uma marcha de alta no longo prazo (pelo menos 12 meses) e as ações estão na rota de queda, acentuadas pela fragilidade da atividade econômica e pela ausência de interesse dos investidores relativamente à classe de investimento dos "emergentes". O caminho dos investidores está marcado : os EUA e sua reação à crise iniciada em 2008 são o "porto seguro" do momento para os investidores. Além disso, os investidores locais e estrangeiros (estes mais recentemente) se convenceram de que o governo brasileiro não irá reagir aos riscos crescentes na velocidade requerida. Faltam-lhe atributos políticos e "gerenciais" para tal. É o que pudemos apurar em conversas com investidores nas últimas semanas. Mantega e o amor ao curto prazo A remoção do IOF sobre a entrada de recursos externos para aquisição de títulos de renda fixa deve aumentar a volatilidade da taxa de câmbio no curto prazo, pode haver até uma queda desta, mas não muda a tendência de depreciação do real no médio e longo prazo. Ademais, os efeitos da medida propugnada pelo governo sob a batuta de Guido Mantega são unicamente resultado do fato de que o retorno em renda fixa dos títulos brasileiros são muito mais altos que os dos países equivalentes em termos de risco. Dentre as economias que tem nota de risco com grau de investimento, o Brasil é campeão em taxa de juros. A Coreia do Sul, por exemplo, paga 12 vezes menos que o Brasil em juros externos. Portanto, o aumento do ingresso de recursos externos não é sinal de melhores fundamentos. É parte do jogo do mercado, sempre atrás de retornos maiores com grau de risco compatível. Coisa de curto prazo, é claro. Radar NA REAL 14/6/13   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta estável/alta - Pós-Fixados NA alta estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3334 estável baixa - REAL 2,1588 baixa baixa Mercado Acionário - Ibovespa 49.332,34 baixa baixa - S&P 500 1.626,73 estável/alta alta - NASDAQ 3.423,55 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 11 de junho de 2013

Política e Economia NA REAL n° 249

É a economia, a economia, a economia... - 1 Não é nada que não possa ser revertida (a perda de 8% na avaliação da presidente Dilma). Porém, vai exigir da presidente e de sua equipe uma extraordinária e real disposição - para além do simples discurso de boas intenções - para mudar os rumos de condução da política econômica até aqui determinado por ela. Todos os sinais da pesquisa mostram que a avaliação presidencial foi abalada por um fato básico : a inflação persistentemente acima do razoável, já afetando o poder de consumo da população. Outros fatores, tais como os desarranjos com a base aliada e o Congresso, a lambança do bolsa-família e a questão indígena afetaram os índices apenas marginalmente. Estes dão mais a sensação de um governo perplexo e desarranjado, o que pode afetar a aceitação de Dilma mais à frente, não neste instante. É a economia, a economia, a economia... - 2 O foco agora foi o bolso e o medo adicional do desemprego. A dúvida é saber o quanto o governo está disposto e tem condições políticas de "dar um cavalo de pau" mais forte na economia. O BC, aparentemente com a concordância de Dilma, já entrou mais firme com a arma de que dispõe para combater a alta de preços - a elevação dos juros, que promete prosseguir daqui para frente. Promete-se também dar um peteleco mais forte nos investimentos. A dúvida, no caso, é sobre a capacidade executiva do setor público, um dos gargalos até aqui da gestão Dilma, apesar de sua vendida imagem de "gerentona" durona e eficiente. Um ponto frágil ainda é o dos gastos públicos, mesmo com as juras do ministro da Fazenda Guido Mantega assegurando, a cada minuto, que a gestão fiscal está sob controle. Não é o que pensa o BC, que na ata da última reunião do Copom, ainda que na sua linguagem meio tortuosa, não mostrou entusiasmo com esse lado da política econômica. É a economia, a economia, a economia... - 3 Também não é o que anotam os investidores externos, como mostrou a decisão da Standard & Poors de colocar viés negativo na nota de risco do Brasil. E não é principalmente o que apontam os fatos. O superávit primário, tido por dez entre dez economistas não oficiais como essencial para ajudar o BC a segurar a inflação, é cada vez mais uma incógnita. O que se conseguiu até abril está bem abaixo do prometido. No mesmo dia em que surgiam as suspeitas do BC e dos agentes externos quanto à disposição real do governo de aderir realmente a um plano de austeridade fiscal, o Palácio do Planalto editou uma M - a 618 - altamente suspeita. Entre outras coisas, ela permite ao Tesouro Nacional emitir R$ 30 bi em títulos da dívida pública para capitalizar o BNDES e a Valec. Não é propriamente um sinal alentador para a economia. Leia mais : (1 - clique aqui) - (2 - clique aqui) Agências de risco e seus sinais Como já ficou provado ao longo de duas décadas de riscos e crises sistêmicos, as agências de risco têm papel limitado e, sobretudo, chegam quase sempre atrasadas nas suas avaliações, além de cometerem erros grosseiros. Sua utilidade prática é duvidosa, mas sua influência para "guiar" certos segmentos de investidores é relevante. No caso da sinalização negativa sobre a economia brasileira a agência S&P parece estar no timing certo, pois a deterioração é visível e coloca riscos substantivos no médio prazo. Contudo, o mesmo não se pode dizer da "retirada" do alerta sobre a economia dos EUA. Lá, a evolução tem sido muito favorável, conforme pudemos comentar em várias notas nos últimos meses. Porém, haveremos de convir que a confusão política entre democratas e republicanos na questão do orçamento dos EUA, bem como os sinais dúbios que o Fed vem emitindo em relação à política de expansão monetária são sinais de alerta gigantescos para que se afaste, numa análise de crédito soberano, o risco sistêmico do país. A S&P agiu movida por percepções e não indicadores. Rudimentar, meu caro Watson Quando Palocci ainda era ministro da Fazenda do governo Lula, por sugestão do ex-ministro e ex-deputado Delfim Neto, ele apresentou ao presidente Lula a sugestão de um programa econômico para zerar o déficit público nominal em alguns anos, dois ou três. Ou seja, o governo passaria a gastar de fato apenas o que arrecada, incluindo pagamento dos juros da dívida. A proposta foi fulminada pela então já poderosa ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com uma simples expressão : classificou-a de rudimentar. Delfim Neto, que não é suspeito de nenhuma má vontade com governo e até atua como conselheiro presidencial, voltou a defender enfaticamente esta posição em entrevista este fim de semana ao jornal "O Estado de S. Paulo". Como reagirá Dilma agora ? Com um "rudimentar" ou um "elementar", meu caro Watson. Inflação aleija, câmbio mata O título desta nota relembra a frase do saudoso ministro Mário Henrique Simonsen. Como se sabe (e pregamos há alguns anos nesta coluna), sem a reversão da valorização do real é quase impossível a reintrodução da economia brasileira num cenário verdadeiramente competitivo nos próximos anos. Setores necessários à indústria, sobretudo aqueles que agregam conteúdo tecnológico, necessitam de uma relação mais favorável do ponto de vista cambial entre a produção local e a importação. O governo sabe disso e já incorporou esta variável na política econômica. Contudo, terá de correr riscos. Para um governo (este e o anterior) que correu pouco risco na política econômica a solução do risco cambial não será tarefa fácil do ponto de vista político - do econômico é muito difícil. Pode até ser adiada a solução para o próximo mandato. Pode, inclusive, "custar um mandato inteiro" como foi o caso do segundo mandato de FHC. Novilíngua Até entre auxiliares e conselheiros da presidente da República já começa a circular a expressão "moderação salarial", que, bem traduzida, quer dizer simplesmente o seguinte : é preciso diminuir a massa salarial para ajudar no combate à inflação e garantir maior índice de produtividade para as empresas brasileiras. Resta saber se é um processo que se dará naturalmente pelo desenrolar das atuais dificuldades econômicas ou se terá de ser apressado no curto prazo. Neste caso, quem colocará o guiso no pescoço do gato em plena efervescência eleitoral ? É a eleição, a eleição, a eleição... Todas dificuldades que a presidente Dilma vem enfrentando com os aliados, com reflexos no Congresso Nacional, têm uma única causa : as eleições do ano que vem. E não propriamente a sucessão presidencial. Mas as eleições estaduais e para o legislativo, que são as que garantem de fato força dos partidos para disputarem a divisão do poder em Brasília. Partido fraco, sem bons governos estaduais, sem bancadas de bom tamanho, fica apenas com migalhas do poder. Além de se desmilinguir com o tempo. É este o jogo que está sendo jogado e que põe Dilma na berlinda política. A eleição presidencial neste caso vira um detalhe. Até porque não há uma absoluta correspondência entre o voto presidencial e os outros votos. Armadilhas no Congresso Não bastassem as dores de cabeça da economia, suficientes para tirar o sono presidencial por longas noites, Dilma terá pela frente nas próximas semanas uma pesada agenda na Câmara e no Senado. O cardápio dos deputados e senadores até o recesso de julho é indigesto para o Palácio do Planalto : 1. Novas regras para tramitação e votação de MPs, que limitam em parte o poder do governo de editar tal instrumento. 2. Novas regras para votação dos vetos presidenciais, também complicando a vida da presidente. Há casos delicados na pauta como os royalties do petróleo e a lei dos portos. 3. O fim do voto secreto em diversas votações no Congresso, inclusive para cassação de parlamentares. Isto dói no coração governista por causa dos "mensaleiros". 4. A obrigação de o governo liberar as emendas dos parlamentares no Orçamento. São todas providências que fortalecem o Congresso. E algumas muito caras aos parlamentares como a liberação automática de suas emendas. Para barrá-las Dilma terá de jogar pesado. Capitanias Hereditárias Renan Calheiros prepara a candidatura de Renan Calheiros Filho ao governo de AL. Jader Barbalho faz o mesmo com Helder Barbalho no PA. Ambos pelo PMDB e com o desejo de apoio do PT e de Dilma. Não para já, mas Edison Lobão no MA, dono de um subclã do clã Sarney, prepara a candidatura do senador Lobão Filho ao governo estadual. A política brasileira está cada vez mais um direito hereditário. Carne e couro Como vai ficar o BNDES depois da compra de negócios de carne e couro da Marfrig pela JBS Friboi ? Afinal, o banco estatal é sócio - e que sócio ! - das duas empresas. BNDES intacto O BNDES e seu presidente estão em quase todos os lugares e participam de quase todos os negócios relevantes da República. O seu desempenho, contudo, não é objeto de maiores considerações, seja no âmbito da fiscalização política e social, seja no âmbito do próprio governo. Sem "papel desenvolvimentista" revelou-se no financiamento de negócios na área de petróleo, frigoríficos, indústria automobilística, etc. Pouco se vê em setores "modernos" da necessitada economia industrial. Quais seriam os vetores a influir nas decisões daquela casa desenvolvimentista ? Que tipo de análise revela as estratégias de seu presidente ? Por que há tantos consultores rodeando as decisões tomadas por ali ? Outra questão O nosso leitor já percebeu como andam acesos os "negócios internacionais" do país quando estão envolvidas empresas estatais, especialmente a Petrobras ? Nota-se este vigor especialmente quando estamos a tratar de Argentina, Venezuela, países africanos e outros latino-americanos. Quais seriam os interesses ao redor de toda essa movimentação que envolve a alta cúpula petista, incluindo o ex-presidente Lula, e próceres governistas ? Teriam essas movimentações relação com a tal da "CPI da Petrobras" ? Esta coluna pouco sabe a respeito. E os seus leitores ?  Obama, um terceiro membro da família Bush ? As "descobertas e vazamentos" sobre as atividades espiãs do governo norte-americano revelam, além dos próprios fatos, um presidente bem conservador, arraigado a uma visão vencida do império que preside. Barack Obama é daqueles que pareciam ser uma novidade e não passa de uma peça no antiquário da política norte-americana. Fosse John McCain ou outro republicano de estirpe nobre, a política seria a mesma. Obama não é inovador. É apenas marqueteiro mesmo. Menos natural em seu papel que George W. Bush, o amigo de Lula. Radar NA REAL 07/06/13   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta estável/alta - Pós-Fixados NA alta estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3227 estável baixa - REAL 2,1450 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 51.618,63 estável/baixa baixa - S&P 500 1.643,38 estável/alta alta - NASDAQ 3.469,22 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano 
terça-feira, 4 de junho de 2013

Política e Economia NA REAL n° 248

Mudança no rumo econômico Pode anotar aí : a divulgação do fraco PIB na semana passada, a elevação mais acentuada da taxa de juros básica e a alta do câmbio são evidentes sinais de mudança dos rumos da economia brasileira. Não é que estejamos valorizando strictu sensu os dados. O que estamos a dizer é que estes indicadores são uma espécie de corolário do fracasso da política econômica oficial. A desconfiança aumentou de vez. Há alguns praticando o argumento de que não pode haver falta de confiança quando a Petrobras emite um volume enorme de títulos de renda fixa, a BB Seguridade emite ações em larga escala e houve sucesso nos leilões de áreas de exploração de petróleo. Os dois primeiros fatos estão relacionados com o momento do mercado lá fora e ao pricing das operações. O mercado financeiro atende a relação de risco versusretorno no curto prazo e com uma rationale própria. Nada diretamente relacionado com o PIB e com o futuro no médio prazo da economia brasileira. Quanto aos leilões, o sucesso é óbvio, mas estamos a tratar de uma commodity, segmento no qual o Brasil é um dos campeões mundiais. A frase serve mais ao proselitismo político que à análise dos fatos econômicos. A hora dos "fatores estruturais" O momento econômico do país mostra mazelas e variáveis muito mais inquietantes : (i) um processo de desindustrialização acentuado, sem a incorporação de segmentos modernos e necessários à sustentação do crescimento, (ii) perda da dinâmica interna do crescimento pela impossibilidade de incorporar mais consumo oriundo de gastos públicos, (iii) falta de competitividade sistêmica pela ausência de reformas (tributária, infraestrutura, educação, tecnologia, violência urbana, ineficiência judiciária, etc.) e (iv) a antecipação da corrida eleitoral e o aumento dos riscos correspondentes. Há quem veja nestes pontos uma "linha estrutural" perturbando o desempenho conjuntural. Isto é uma questão de visão ou de metodologia. O fato é que os agentes ambicionam ver estas variáveis tomando o rumo certo e, assim, mudando as expectativas. O que de fato se vê é uma completa inoperância do país (não somente do governo) no sentido de iniciar a solvência destas variáveis. Prevalece a letargia do Palácio do Planalto e seus 39 ministérios, a política "feijão com arroz" do ministro Mantega e o Congresso voltado aos seus interesses mais corporativos (na falta de outra palavra). O poder não admite vácuo. Por ora, é o que se vê. Câmbio vai desvalorizar ? Os problemas estruturais podem ser muitos, mas são todos passíveis de solução, mesmo que não sejam fáceis. Todavia, consolida-se a ideia de que a atual valorização do real inviabiliza qualquer passo mais certeiro na direção do crescimento sustentado. Como se sabe, é preciso que a taxa real de câmbio venha a se desvalorizar para que a competitividade do país aumente. Isso necessita de três movimentos que não dependem integralmente do governo : (i) a própria alta da cotação nominal do câmbio, (ii) da inflação residual provocada pela alta da taxa de câmbio, (iii) da inflação externa e os efeitos dos termos de troca (quantidade de mercadorias exportadas/importadas e seus respectivos preços). A "solução da valorização cambial" é delicada e provoca num primeiro momento mais desorganização no sistema econômico do que benefícios. FHC manipulou erroneamente o câmbio e o custo foi um segundo mandato medíocre em termos de crescimento. De toda a forma, apostar na alta das moedas estrangeiras frente ao real nos próximos meses faz muito sentido. Assim como, nos seus efeitos negativos do ponto de vista da inflação, salários e atividade econômica. Nessa ordem. Em busca da credibilidade ameaçada - I Por mais que o governo tenha reagido "olimpicamente" aos maus indícios vindos do fronte econômico na semana passada, com o PIB diet de 0,6% no primeiro trimestre e a elevação dos juros básico pelo BC de 0,5 ponto percentual - com uma esticada do dólar de mais de 7% em menos de uma semana - a realidade é que o nível de estresse no Palácio do Planalto e adjacências chegou a seu nível mais elevado desde que Dilma assumiu a presidência da República. As cabeças mais coroadas da República e seu espectro político não conseguem entender porque, apesar de todas as medidas adotadas nos últimos meses - foram nada menos que 18 pacotes - de incentivo ao consumo e desoneração fiscal, a economia não deslancha. O mistério está indo além da vã filosofia oficial. O que se viu - a começar por um ministro da Fazenda Guido Mantega desacorçoado, anunciando que o governo não terá novas medidas - foi um governo perplexo, quase atordoado. Em busca da credibilidade ameaçada - II O revés que boa parte dos analistas - alguns próximos do oficialismo, com entradas palacianas - havia previsto, mas Dilma e os seus preferiam não ver. A reação agora, salvo recaída de última hora, parece mais realista. Definitivamente desistiu-se de perseguir um PIB de mais de 3% este ano, aceitando-se a tese do BC de que o problema imediato a combater é a inquieta inflação. Não fosse por nada, pelo tudo de estragado que a indisciplina dos preços já causou em décadas passadas no Brasil, pelo recado muito bem dado pelo próprio PIB de janeiro, fevereiro e março : a estagnação (aumento de apenas 0,1%) no consumo das famílias é reflexo direto da rebeldia inflacionária. Aliás, como o BC já havia tentado provar em outras ocasiões e havia sido rechaçado com ceticismo por seus pares governamentais. Em busca da credibilidade ameaçada - III É cruel admitir, porém, para Alexandre Tombini e seus subordinados de BC, o raquítico PIB inaugural de 2013 veio mais do que em boa hora : permitiu à autoridade monetária recobrar um pouco a credibilidade que estava se esvaindo por causa de tergiversações anteriores e, o mais importante, pudesse iniciar o combate à renitente inflação antes que o processo inflacionário começasse a fugir totalmente do controle. O mundo político oficial, aparências à parte, engoliu sem deglutir direito a "ousadia" do BC de acelerar o ritmo de elevação da taxa Selic, mas provavelmente lá na frente vai agradecer muito à Tombini e sua turma. Pior seria deixar os riscos correrem frouxos agora e chegar ao período mais agudo da campanha eleitoral, em 2014, com a inflação mais nervosa e comendo a renda e o emprego dos trabalhadores. De forma alguma não foi esta motivação da autoridade monetária, mas a maior contribuição até agora para a campanha reeleitoral de Dilma foi dada pelo BC contrariando o senso comum político. Quem diria ! A voz do PT ? José Dirceu ainda expressa em boa medida o que se poderia chamar de o "pensamento do PT". Em seu blog, o líder petista expressou a sua leitura sobre a atual política monetária : "Para nossos adversários é preciso mudar o modelo e não apenas subir os juros para reduzir a inflação. Até porque o dragão da maldade já dá sinais de recuo. Basta ler os editoriais dos jornais da direita conservadora. Não nos iludamos, o que está em jogo é nosso projeto político de desenvolvimento nacional e não apenas uma questão de política monetária e/ou da autoridade e autonomia do Banco Central (BC)". Cabe reflexão o enunciado de Dirceu.  Um ensaio ? O programa compulsório do PSDB no feriado de quinta-feira no rádio e na televisão, estrelado por Aécio Neves, teve alguns sinais de que o partido pode estar mudando seu discurso eleitoral para questões mais objetivas e mais de alcance do eleitorado. O foco na inflação é proposital : há pesquisas de que os preços já começam a mexer com parte da confiança da população na política econômica. É este o eleitor a ser disputado. O próprio PT já detectou este flanco. Segundo interpretação do presidente do partido, Rui Falcão, uma voz que ouve muito os assobios de Lula antes de se expressar, as conquistas sociais já não são suficientes para reeleger Dilma. O que explica o porquê, mesmo se como estivesse indo para o cadafalso, do mundo político oficial aceitar a demonstração de autonomia do BC aumentando para 8% a taxa básica de juros e indicando que novas doses do amargo remédio podem ainda ser aplicadas este ano. É bater a inflação ou bater a inflação. Por que a ressalva ? Resposta do presidente de Lula em entrevista ao jornal colombiano "El Tiempo" a uma pergunta que questionava o fraco desempenho atual da economia brasileira : "Sem arrogância, eu acho que as perspectivas de crescimento são tão promissoras que, ainda que o governo cometa erros, tudo sairá bem". (grifo da coluna). Cometer erros quem ? Quais erros ? A "nova competência" do governo - I O choque do PIB raquítico parecer ter dado um solavanco no governo : desde quarta (e a imprensa foi pródiga de informações oficiais sobre isto nos últimos dias) só se fala agora em Brasília "ancorar" o crescimento da economia nos investimentos. O crescimento deste item no PIB no primeiro trimestre já trouxe um novo ânimo, porém o carro-chefe deverá ser o pacote de concessões na área de infraestrutura : portos, aeroportos, rodovias, ferrovias e, obviamente, o pré-sal. Já se fala até em uma "overdose" de leilões no segundo semestre, a partir de setembro : mais de 30 terminais portuários, os aeroportos de BH e RJ, sete de trechos de rodovias, pelo menos duas ferrovias, entre estas o encantado trem bala, o promissor campo petrolífero de Libra... Dinheiro e concorrentes. A "nova competência" do governo - II A questão é saber se o governo terá fôlego para tanto e se vai fazer alterações em seus projetos iniciais capazes de atrair mesmo investidores. Embora tenha anunciado, por exemplo, mudanças nos leilões de rodovias, muitos interessados ainda estão reticentes. O ativismo inicial do governo, na base da Lei de Gerson, querendo levar vantagem em tudo, causou muitas desconfianças e vai ser preciso ainda um bom esforço para esta situação ser revertida. O trem bala rola há mais de dois anos e somente na semana passada a Empresa de Planejamento Logístico, responsável por tocar o projeto, passou a admitir aumentar a Taxa Interna de Retorno, uma das reivindicações dos possíveis concorrentes. Além do mais, há uma questão mais prosaica : o governo vai começar a mostrar mais "agilidade no fazer" e "competência na execução". O pacote de infraestrutura foi lançado em agosto passado - e até agora está nos prolegômenos. Antes isto era motivo apenas de discursos da oposição e comentários velados de alguns empresários. Agora, a dita "inapetência gerencial" do governo Dilma está na boca até de alguns de seus mais fiéis aliados. A base aliada inquieta - I Político profissional - ou de carreira - é, a começar pelo mais tolo deles, um bicho racional de faro afiadíssimo, capaz de sentir antes de qualquer radar a direção do vento. A maioria no Brasil tem seu GPS completamente direcionado para os endereços palacianos. Ora, a presidente Dilma desfruta, no momento, de uma das mais altas popularidades jamais desfrutada por um governante no Brasil, com índices acima de 80% rivalizando com os do próprio ex-presidente Lula, indubitável campeão de audiência no país neste quesito. Apesar dos vacilos da economia o grau de satisfação dos eleitores, medido pelo trinômio emprego-renda-poder de consumo da maioria dos cidadãos-eleitores, sequer foi arranhado. E, de acordo com bons especialistas nos ramos da ciência econômica e da ciência política, dificilmente o será até a chegada de 2014. A base aliada inquieta- II A sobrevivência da maioria quase absoluta da classe política está umbilicalmente ligada a quem tem tais cabedais, com o amparo dos imbatíveis Diário Oficial e uma caneta cheia de tinta. É, no entanto, é cada vez maior a insatisfação dos aliados tradicionais com a presidente Dilma e seu governo. Sem distinção de partidos, embora alguns estejam mais tristes com ela do que outros. Até no PT os amuos já são públicos - e de gente com boa assinatura em cartório. A falta de carinho, de verbas, de cargos, explica em parte as queixas. Porém, isso tudo é relevado quando a companhia é garantia de sobrevivência. É estranho o que está no ar. Será que sua sagacidade no mundo político profissional com praça assentada em Brasília está vendo jabuti em árvore ? Pobre oposição No "Globo News Painel" de sábado passado, o competente jornalista William Waack conduziu um debate sobre os rumos da política brasileira - as vacilações do governo no Congresso, a rebeldia da base aliada, a imagem da gerente Dilma, a avaliação do governo da presidente e, naturalmente, a sucessão presidencial. Presentes, três dos mais respeitados analistas da cena nacional : o professor Bolivar Lamounier, Murilo Aragão, da Arko Advice, uma consultoria com sede em Brasília, e o cientista político e professor do Insper, Carlos Melo. Foi quase uma hora de boa e ilustrativa conversa. Pois bem. Em todo esse tempo, em nenhuma ocasião o nome do tucano Aécio Neves, provável candidato ao lugar de Dilma, foi citado. O de Marina Silva passou batido. E o de Eduardo Campos, também já dado como candidato oposicionista, foi falado en passant. Dilma "nadando de braçada" A opinião do grupo é a mesma da maioria dos analistas e da política : o mar eleitoral está todo para Dilma. As piranhas que podem ameaçar o nado seguro dela em direção ao segundo mandato são, principalmente, os desarranjos da economia. E adicionalmente seus próprios aliados e os desarranjos de seu próprio governo. A oposição, se não mudar seu discursos ou sua prática, será mera espectadora. Ou se beneficiará de coisas para as quais ela não contribui. Será caudatária de circunstancias políticas e econômicas. Radar NA REAL 31/05/13   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta estável/alta - Pós-Fixados NA alta estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3074 estável baixa - REAL 2,1277 baixa estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 53.506,08 estável/baixa baixa - S&P 500 1.630,74 estável/alta alta - NASDAQ 3.455,91 estável/alta alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 28 de maio de 2013

Política e Economia NA REAL n° 247

Menor crescimento, juros mais altos Amanhã teremos ocasião de verificarmos que duas variáveis serão o corolário do atual momento brasileiro. O BC deverá aumentar a taxa básica de juros para 7,75%. Por detrás desta decisão há que se reconhecer que uma incômoda taxa de inflação corrói as perspectivas econômicas, não propriamente em função da taxa em si (algo entre 6,5% e 7,0%), mas porque a maioria dos preços caminha para uma gradual (e perigosa) indexação. Também nesta quarta-feira saberemos o resultado do PIB do primeiro trimestre. Seja qual for o resultado, pode-se antecipar com certa segurança que o PIB brasileiro está muito aquém daquele que deveria ser. Isso, em larga medida, devido a incompetência governamental e legislativa para estimular o investimento. A pesquisa Focus mostra que os agentes estimam o crescimento em 2,93% para este ano. Como se sabe, prognósticos econômicos são como horóscopo - cada um lê naquilo que lhe interessa. Todavia, para aqueles que acreditam que os governos tem de "administrar expectativas", um resultado ruim do PIB jogará mais pessimismo na economia e mais desconfiança no governo. A responsabilidade de Dilma O que era motivo para comentários reservados entre empresários e conversas entre políticos mais enfronhados em Brasília, agora virou assunto público, comentários de analistas políticos, reportagens em jornais, artigos no exterior : o modo de administrar da presidente Dilma. Começou a incomodar - e a ser responsabilizado em parte pela inapetência gerencial do governo - o estilo centralizador, excessivamente detalhista, birrento e não raras vezes ríspido e aterrorizador da presidente. O que parecia prudência, cautela, portanto como bons princípios de gestão, é visto agora como empecilhos. Do ponto de vista dos fatos, não há porque não se cobrar da presidente os resultados sofríveis da economia e da política. Do ponto de vista político, teremos de verificar se a letargia econômica se refletirá em declínio em popularidade. Afinal, é inegável que Dilma tem junto ao povo uma solidariedade substantiva. Confiança : Petrobras, BB Seguridade, etc. Questiona o governo e/ou pessoas próximas a este se é possível falar em desconfiança no país no exato instante em que (i) a Petrobras faz uma mega operação de colocação de títulos no exterior (R$ 22 bilhões) e o (ii) BB Seguridade lança ações (R$ 12 bilhões). É claro que ambas as captações de empresas estatais é um bom sinal de solvência das empresas e do país. Todavia, cabe lembrar que operações com títulos de renda fixa e de renda variável são analisados em função da sua taxa de juros e preço de emissão, respectivamente. Ora, a taxa de juros média obtida na operação (3,79% ao ano) para um prazo de 10 anos é elevada frente ao rendimento dos títulos soberanos de países emergentes e de primeiro mundo. Daí o vigoroso interesse de investidores ávidos por rendimentos acima da inflação norte-americana. No caso das ações da BB seguridade, a demanda foi boa, mas não foi excepcional. Operações de mercado devem ser vistas apenas como uma referência das expectativas sobre uma empresa e sobre o país. Sabe-se que o "tal do mercado" exagera (não estamos dizendo que é o caso da Petrobras e do BB), para cima e para baixo, como nos ensinam inúmeros exemplos, dentre os quais, o desempenho das ações do Facebook, os títulos subprime, a bolha de tecnologia, as ações russas em 1998, a crise brasileira de 1999, as ações de tecnologia em 1999 e assim vai... Desunidos venceremos Mais uma vez a presidente Dilma Rousseff teve de acionar Michel Temer e os seguidores do vice-presidente da República no PMDB para barrar mais um "ataque especulativo" dos peemedebistas aliados no Congresso Nacional. Duas semanas atrás, o "Super Temer", homem das negociações políticas oficiais, com a ajuda do presidente do Senado, Renan Calheiros, ajudou a aprovar a Medida Provisória dos Portos, que o líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha, pretendia "avacalhar". Agora, a ameaça vem do pedido de convocação, já protocolado na Câmara, de uma CPI para investigar negócios da Petrobras no exterior. O patrocínio agora foi do deputado Leonardo Quintão, peemedebista de MG e contou com a assinatura de 52 dos 80 deputados do partido liderado por Temer. Não será difícil conter a CPI. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, tem instrumentos legais para deixá-la engavetada por um bom tempo, até que se perca o interesse. Mas ao governo interessa mesmo é liquidar o requerimento, o que será tentado esta semana. Enquanto ela continuar lá, como um fantasma insepulto, o Palácio do Planalto estará sujeito (para usar uma expressão crua) a chantagens de seus aliados, entes de pouca confiança. É disto que Dilma quer se livrar Impressionou a facilidade com que as assinaturas para a formação da CPI da Petrobras foram colhidas no PMDB e na base aliada (120 das 199 que apoiaram o pedido) como já havia impressionado a facilidade como a pífia oposição conseguiu 41 horas de obstrução na votação da MP dos Portos. São fatos que estão enchendo de minhoquinhas as cabeças coroadas do oficialismo e do PT : como o comando do PMDB, que recebe todas as honras da República, não consegue controlar seus parlamentares e depois é preciso sair correndo para apagar incêndios, com os custos que se vê ? A cada uma dessas "rebeliões" corresponde uma "dívida de gratidão" da presidente Dilma com algum peemedebista coroado. Pode não ser, mas desconfia-se dessa desunião em muitos cantos de Brasília. O lema do PMDB parece cada vez mais ser : "Desunidos venceremos". Ou : "O PMDB desunido jamais será vencido". Ilusão à toa É ingenuidade atribuir as dificuldades que o governo enfrenta no Congresso a este ou aquele parlamentar ou grupinho. "O inimigo número um" do Palácio do Planalto, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, não existe sozinho. O novo adversário, o também peemedebista, Leonardo Quintão, menos ainda. Não há notícias de que ele tenha colocado a adaga no pescoço de 120 governistas, dos quais 52 (de 80) deputados do PMDB do vice-presidente da República, para assinarem a CPI da Petrobras. Bloco do eu sozinho, só no Carnaval. O governo e a presidente Dilma devem procurar os bodes expiatórios em suas próprias hostes. Mais coincidência ainda A CPI da Petrobras não deve sair, mas o simples movimento para investigar as atividades da estatal já provocou dois movimentos defensivos do governo : (1) Sem muitas explicações, a empresa anunciou que não aceitou propostas para vender parte de seus negócios na Argentina. É parte do plano de "desinvestimento" da Petrobras, tido como essencial para reforçar o caixa da estatal para os grandes negócios do pré-sal. Este plano é o objeto de investigação da CPI. (2) O governo decidiu antecipar em um mês - de novembro para outubro - a primeira licitação para a exploração de uma província do pré-sal. E colocou no jogo o campo de Libra, um mega campo. Tem tudo para ser um grande sucesso, e obscurecer as críticas à Petrobras. Vai mudar a regra ? Alguns analistas, dado o tamanho dos investimentos necessários, acham que o governo poderá mudar uma ou duas regras estabelecidas para as novas licitações na área petrolífera, agora sob o regime de partilha. A Petrobras não teria recursos para entrar no negócio com os 30% estabelecidos pela lei e a exigência de elevado conteúdo nacional poderia dificultar alguns negócios. É esperar para ver : ou o governo torna essas regras mais flexíveis ou vai precisar ajudar a capitalizar a Petrobras. Temer na berlinda ? Pode ser apenas mais uma mera coincidência - embora, mera coincidência em política seja coisa de amadores - mas, é curioso que no momento, mesmo em que a "desunião" esteja provocando tantos suores noturnos ao governo, três das mais bem informadas colunas de Brasília tenham dados notas dando conta da possibilidade de o vice da chapa reeleitoral de Dilma ser trocado. Por alguém do próprio PMDB ou - a conversa de novo - para acomodar o governador Eduardo Campos. O real é que é grande o desagrado palaciano com o PMDB. O recado de Dilma foi dado quando, depois de confirmar, ela deixou de comparecer a um jantar com peemedebistas ilustres no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice Michel Temer. Quanto mais depende do PMDB, mais Dilma deixa o PMDB na berlinda. Mas o PT não ajuda Dilma poderia ficar menos amarrada ao PMDB se tivesse mais ajuda de seu partido no Congresso. O PT não cria os problemas de outros aliados, embora também não esteja satisfeito com o tratamento que recebe do Palácio do Planalto, muito diferente dos tempos gloriosos com Lula no poder. É disciplinado. Porém, é apático, não reage, deixa o protagonismo dos grandes momentos no Congresso para o PMDB e outros aliados e a oposição. No caso da MP dos Portos, por exemplo, assistiu a tudo quase calado. Parece ainda tomado da "síndrome do mensalão". Troféu Bravateiro-mor - capítulo II Provavelmente esta semana ainda o senador Renan Calheiros, presidente do Senado, terá a oportunidade de mostrar que é homem político capaz de cumprir a palavra empenhada : devem chegar ao Senado pelo menos duas MPs aprovadas pela Câmara com prazo de vencimento inferior aos sete dias que ele disse que passaria a exigir para votá-las na casa dos senadores. Palavra dada palavra empenhada ? Ou senador Calheiros, expoente do peemedebismo autenticamente governista, vai aderir ao "princípio da irrevogabilidade" de Aloizio Mercadante ? Gato escaldado O governador Eduardo Campos, depois de uns dias de retiro para respiro, começou a estrilar publicamente contra o cerco que o governo está fazendo em torno de sua candidatura. A ordem é matar por asfixia. O perigo é que gato encurralado tem reações inusitadas e agressivas. Mais uma ilusão à toa - I Pelos últimos movimentos tucanos, percebe-se que os mentores da candidatura Aécio Neves esperam colher frutos nas desavenças entre os aliados de Dilma, especialmente no PMDB, às turras com o PT em vários Estados e preocupado com possíveis perdas de espaço nos Estados e no Legislativo Federal. As reações do governador do RJ, Sérgio Cabral, à candidatura do petista Lindbergh Farias ao governo fluminense, contra o vice peemedebista Pezão, deram alento a esta esperança. Tem tudo, porém, para ser uma ilusão, um sonho. Mais uma ilusão à toa - II O PMDB, cuja vocação ao governismo é irrefreável e incurável não vai largar o barco federal de graça. Fará o sacrifício que for necessário para ficar bem postado nele, tirando dele todos os benefícios possíveis. Só pulará fora se a reeleição de Dilma estiver ameaçada, o que parece pouco provável se a economia não degringolar. E se degringolar, Aécio - ou Campos, ou Marina - não precisarão fazer nenhum movimento para ter o PMDB em seu regaço. A eleição competitiva para os tucanos passa menos por esses apoios partidários e mais por o partido ter propostas claras, simples e factíveis para melhorar a vida dos brasileiros. China, EUA e o resto... O presidente da China Xi Jiping afirmou na última sexta-feira que "a China não sacrificará o meio ambiente para assegurar o crescimento de curto prazo". Depois do país injetar gases pela atmosfera global, de não respeitar mínimas condições de trabalho, de agir contra a liberdade pessoal de seus cidadãos, desrespeitar as patentes de produtos, de adotar práticas comerciais duvidosas, eis que o presidente chinês vê-se moralmente constrangido entre o meio ambiente e o desenvolvimento econômico. Bem, muito mais provável acreditar que há um superestoque de produtos chineses que não podem ser absorvidos pelo mundo que na boa vontade do líder chinês para com o meio ambiente. Todavia, uma coisa parece consolidada : a China vai crescer bem menos, quiçá em torno de 5% ao ano e não mais 10% nos próximos anos. De outro lado, este declínio da China no curto prazo favorecerá os EUA, os quais estão em plena recuperação econômica, reduzindo riscos e aumentando a produtividade. Bom para os lucros e para os investidores que cada vez mais se animam em retornar para a Terra das Oportunidades. As bolsas sinalizarão este movimento. Enquanto isso, a Bovespa vai continuar patinando à espera de crescimento... Radar NA REAL 24/5/13   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta estável/alta - Pós-Fixados NA alta estável/alta Câmbio ² - EURO 1,2933 estável baixa - REAL 2,0545 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 56.406,23 estável/queda estável - S&P 500 1.650,51 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.549,41 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 21 de maio de 2013

Política e Economia NA REAL n° 246

O estado da Política A Política, essa mesma com "P" maiúscula, existe como prática que facilita a solução e encaminhamento de conflitos de interesses dos cidadãos de uma comunidade determinada, seja um país, seja um condomínio. Nesta acepção específica da Política, o Brasil está vivenciando um momento particularmente "perigoso". Os interesses econômicos e sociais estão sendo solucionados por meio de uma classe política movida por interesses eleitorais, quando não por interesses pessoais, e os agentes deles ou desconfiam, ou se aproveitam, quando não fazem as duas coisas. A votação da chamada "MP dos Portos" na semana passada foi mais uma expressão do caos político que vivemos : interesses privados legítimos se misturaram a formas nefastas de interferência política, interesses públicos foram difusamente defendidos ou na base do "toma-lá-dá-cá", o governo viu-se chantageado, bem como chantageou, e assim foi. Isso tudo num contexto de votação de medida essencial ao desenvolvimento brasileiro. Este é o estado da Política. O estado da Política - II Afora a demonstração da semana passada no Congresso, vê-se que a corrida eleitoral iniciada pela presidente Dilma e seu tutor, o ex-presidente Lula, deve inviabilizar quaisquer reformas mais substanciais até o ano que vem. Os partidos que apóiam o governo sabem dos anseios palacianos e destes extraem as mais variadas formas de aproveitamento político. Não há coloração ideológica e nem nome de partido que não participe deste caro convescote do Poder Legislativo. A oposição, de outro lado, mostra-se débil, pouco programática e com articulação sofrível. Basta ver a patética (e simbólica) ação política do senador Álvaro Dias (PSDB/PR) flagrado pela Folha de S.Paulo ao apresentar uma emenda à votação da MP dos Portos igual à de um colega do PT, o deputado Luis Sérgio. Neste contexto, preocupa o acúmulo de pautas na agenda nacional : da violência urbana ao controle da inflação, da educação à desindustrialização do país, tudo está pendente de soluções estruturais. Isso enquanto a classe política está ilhada em seus próprios interesses e jogos políticos. Perigo à vista. Para quem quer ver, é claro ! O estado da economia Procuramos não fazermos previsões categóricas, porquanto estas não são passíveis de serem feitas quando o assunto é economia e política, ou vice-versa. Afinal, a política depende da economia e vice-versa, mesmo que não faltem oráculos soltos no mundo. De todo o modo é possível perceber tendências, até mesmo quando estas não estão visíveis, a partir do exercício do espírito crítico da análise política e econômica. Pois bem : os números recentes da produção industrial e do consumo indicam que o PIB brasileiro este ano está mais para o número pífio do ano passado que para algo entre 3% e 3,5%. De outro lado, é praticamente certo que a fragilidade das relações políticas no Congresso não permitirá nenhum avanço institucional capaz de sanar os problemas estruturais que barram o desenvolvimento. A MP dos Portos foi a grande reforma do ano (vide as duas primeiras notas desta coluna). O estado da economia - II Preocupação que deve ser redobrada é a possibilidade de o país vivenciar uma onda de desinvestimento externo, num contexto em que os EUA se recuperam com certa rapidez - basta ver o desempenho das bolsas daquele país - e a Europa dá alguns pequenos sinais de avanços. Além dos avanços na Índia e China (de novo). As melhores expectativas em relação ao Brasil estão no passado por conta dos poucos avanços alcançados pelo atual governo e pelos riscos que decorrem da equação que combina valorização cambial, inflação em alta, desindustrialização e queda dos preços das commodities. Poucas variáveis estruturais do país estão sendo mexidas politicamente para melhor. Quase nenhuma, se observadas as principais (reformas tributária e previdenciária, incentivo à tecnologia, educação e aumento da eficiência da infraestrutura). Felizmente ou infelizmente, as políticas adotadas pelo país têm de atender as expectativas dos agentes econômicos para a taxa de investimento subir. O que se vê é um governo voltado de costas para o capital, sustentado pelo eleitorado mais pobre e encalhado pelos seus presumidos aliados. A economia segue este ritmo. PSDB e Aécio : agora, o "como fazer" Aparentemente - em política as aparências costumam enganar, ainda mais se tratando de tucanos de plumagens reais - o PSDB, sob a clara liderança do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uniu-se em torno de um projeto comum e da candidatura presidencial de Aécio Neves. Até a seção paulista do partido, a mais reticente em relação às pretensões do ex-governador e senador mineiro, parece ter aceitado as regras do jogo, em que pesem as demonstrações de caturrice política do ex-governador José Serra. Em princípio, o PSDB está centrando sua campanha na recuperação do legado da gestão Fernando Henrique Cardoso - estabilização monetária (derrota da hiperinflação), reforma do Estado (especialmente as privatizações) e início das políticas de renda (depois aprofundadas e radicalizadas, no bom sentido, pelo governo Lula). Herança que os tucanos abandonaram nas três campanhas presidenciais em que foram derrotados e que defenderam muito envergonhados. PSDB e Aécio : agora, o "como fazer" - II Pode ser um bom começo para aquecer as forças partidárias para o embate eleitoral e solidificar a unidade agora exibida, alcançada a duras penas (coloridas, como só cabe a tucanos de extirpe). Não basta, porém, até porque, até agora, a estabilidade monetária já é uma conquista do país, a memória nacional quase perdeu o seu mentor, e as conquistas sociais estão definitivamente incorporadas ao patrimônio petista. Que, aliás, sabe incorporar muito bem os seus feitos - e também os não-feitos. Além de esconder os malfeitos. Aécio, para se mostrar competitivo, terá de passar da celebração do passado e das críticas à atual condução da política econômica para uma etapa mais avançada do que fazer e como fazer para melhorar a situação atual. PSDB e Aécio : agora, o "como fazer" - III Os percalços que a economia nacional está registrando nos últimos meses, como temos comentado em nossas colunas mais recentes, ainda não chegaram com força até as classes que têm o maior cabedal de votos e que decidem de fato no Brasil qualquer eleição : os extratos D, E e a chamada "nova classe média" ou "classe média de Lula". É para esses que os tucanos precisam arranjar um "discurso" e propostas concretas - e principalmente factíveis - para manter a estabilidade da moeda e melhorar a qualidade de vida da população. Os eleitores do que se convencionou também de chamar de o "andar de cima" do extrato social, tirante em algumas camadas, já são votos anti-petistas por natureza. O próprio PT já sabia disso e nas últimas eleições tem feito esforços para mudar isto. A candidatura vitoriosa de Fernando Haddad à prefeitura de SP teve tal viés. Agora, Lula busca novos "Haddads" para concorrer a alguns governos estaduais, especialmente ao de SP. Os tucanos terão de descer de seus poleiros engalanados e pular ao rés do chão se quiserem ser competitivos em 2014. Ficar simplesmente esperando a economia desandar pode significar mais quatro anos de relento na esfera Federal. Um agravo para Dilma e para as expectativas econômicas Como comentamos na nota anterior, o "andar de cima" nunca foi de depositar a maior parte de seus votos nos candidatos petistas ou por ele apoiado. Inclusive o empresariado - ele até financia as campanhas, no velho modelo de botar ovos em várias cestas, porém no silêncio das urnas costuma ser mais conservador. Aliás, aqui como acolá, mundo afora. Porém, impressiona como estão se deteriorando rapidamente as expectativas do mundo empresarial no governo Dilma, puxada pelos percalços que a economia vem apresentando e a forma como a política econômica vem sendo conduzida. Essa perda vem sendo registrada, paulatinamente, pelos índices de confiança mais recentes levantados tanto por instituições como a FGV como por entidades empresariais tipo CNI e Fecomércio. Um agravo para Dilma e para as expectativas econômicas - II O mais recente sinal dessa deterioração foi retratado por uma pesquisa realizada na semana passada pelo jornal "Valor Econômico". Levantamento feito com presidentes de 97 das 200 maiores empresas do país, durante o Fórum da Associação Brasileira de Recursos Humanos, revelou que 66% deles (56% na sondagem anterior) se revelaram dispostos a votar em Aécio Neves contra apenas 12% para ela, 11% para Eduardo Campos e o restante para Marina Silva e outros. A boa notícia para a presidente é que 68% dos entrevistados dizem que ela será eleita, o que significa que os empresários não acreditam que a deterioração do ambiente econômico que está elevando a insatisfação deles vá chegar à maioria dos eleitores. Um agravo para Dilma e para as expectativas econômicas - III De todo modo, a insatisfação dos empresários com o cenário macroeconômico é um dado complicador para a gestão econômica, no momento em que o governo busca reconquistar a confiança deles para ampliar os investimentos na economia nacional. E a política eleitoral está de tal maneira embaralhada com a economia que torna todo o quadro ainda mais confuso. Mais sobre a MP dos Portos no blog "A política como ela é" (Clique aqui). O jogo político-partidário ficou mais delicado As forças de informações governamentais dão como uma vitória do governo a aprovação, catimbadíssima como se diz na gíria esportiva, da MP dos portos, sem modificações "destrutivas" ao projeto original e ao parecer do senador Eduardo Braga (PMDB/AM). As distorções mais graves impostas pelos rebeldes aliados nas madrugadas de votação na Câmara, garantem as ministras Ideli Salvatti e Gleisi Hoffman, serão extirpadas por vetos presidenciais. É meio fato esta interpretação oficial. Ao final da maratona, o que se viu é que está totalmente desprestigiada a chamada "coordenação política do governo" e as relações do Palácio do Planalto com seus aliados. O jogo político-partidário ficou mais delicado - II Não funcionam nem as resistências de Dilma em não ceder mais do que ela entende do que seria razoável - ceder ela cede, basta ver o rosário de nomeações de aliados - nem ceder além disso, com verbas para as emendas parlamentares e outras promessas sendo liberadas de última hora. O governo fica sempre a mercê do Congresso nos grandes momentos. Diz-se que o grande rebelde desta vez, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, foi derrotado pelas forças governistas. Ora, se o foi, por que a necessidade de vetos ? E se os vetos podem gerar novas insatisfações e novos embates. A realidade é que a presidente Dilma saiu deste embate, infelizmente para ela e para boa parte dos brasileiros, um pouco mais dependente do PMDB no Congresso. Na última hora o socorro veio para ela de Henrique Alves e, especialmente, de Renan Calheiros. Parecia até que o PMDB jogou afinado para valorizar seu passe : enquanto Eduardo Cunha e sua turma batiam, o comando peemedebista assoprava. Com dois agravantes : o PT não gostou dessa afinação peemedebista. E uma parte do petismo não gostou nada do projeto aprovado. Dilma vai ter de mudar muito seu modo "político" de agir, tanto com o Congresso como internamente. Já começam a pipocar de todos os lados - e não apenas dos discursos da tímida oposição - críticas e observações negativas ao estilo presidencial de ser e de governar. FT : frustração e o estilo "mandão" de Dilma Vejamos os dois extratos do editorial do FT de ontem : "(...) corre o risco, mais uma vez, de frustrar imensas expectativas". "A aparente sensação de bem-estar do Brasil é uma fachada. O crescimento da economia no ano passado foi de menos de 1%, pouco melhor que a zona do euro. Este ano, o Brasil está crescendo menos que o Japão. A inflação está corroendo a confiança do consumidor e há uma sensação de mal-estar. A causa é o abrandamento do investimento, tendência que começou em meados de 2011 e continua. Mais investimento é exatamente o que o Brasil precisa para manter os empregos e tornar-se a potência global a que aspira ser". (...) "O estilo 'mandão' dela não é adequado para a persuasão colaborativa exigida pelo tipo particular de política de coalizão do Brasil. A tomada de decisão tem sido centralizada, o que evita a corrupção, mas retarda o processo. Dilma também tem evitado consistentemente as reformas orientadas para o mercado em favor do protecionismo de alguns setores preferidos e seus lobbies, como as mimadas montadoras"(...) Para quem tem dúvidas sobre a deterioração da imagem do país, meio editorial basta. O vencedor é... Renan Calheiros tornou-se candidato imbatível este ano ao "Troféu Bravateiro-Mor do Brasil", disputa no Brasil que na seara da política sempre teve uma boa centena de pós-doutores aptos a abocanhar o laurel. O senador alagoano e presidente do Senado já ganhou a corrida depois que alardeou que na votação da MP dos portos foi a última vez que a Casa fará algo de afogadilho como fez quinta-feira e que de agora em diante o Senado não votará MPs que lhe cheguem com menos de sete dias antes de caducar. Calheiros fará o que seu senhor - ou melhor, sua senhora - mandar. Escrevam para conferir. Traduttori, traditori Só pode ter sido uma traição - ou um grave equívoco do tradutor - a afirmação atribuída ao ex-presidente Lula no evento comemorativo dos dez anos do PT na presidência da República, em Porto Alegre, na presença de Dilma. Não pode ser para valer : "O político ideal que vocês desejam, aquele cara sabido, aquele cara probo, irretocável do ponto de vista do comportamento ético e moral, aquele político que a imprensa vende que existe, mas que não existe, quem sabe esteja dentro de vocês". Como diz o aforismo italiano, traduttori, traditori. Lençóis maranhenses Desculpem a ignorância, a falta de informação desses escribas, mas ficamos, por dizer assim, estupefatos, ao descobrirmos que no Maranhão existe um município batizado de Governador Edison Lobão. No futuro devemos esperar também um com o codinome "Ministro Edison Lobão" e uma série de outras municipalidades com o sobrenome "Sarney", uma família que é uma espécie de donatários da província, e à qual Lobão é agregado. Mais notícias dos lençóis maranhenses Informações de um blog local - "Blog Marrapa" - reproduzidas pelo blog do jornalista Ricardo Noblat, de Brasília, na semana passada : "A governadora Roseana Sarney passou pelo maior vexame durante a passagem do governo itinerante por Governador Edison Lobão. Confrontada sobre a qualidade de ensino por um aluno da escola pública, Roseana se viu encurralada. - Se as escolas não têm qualidade, você tem que cobrar isso dos professores - respondeu a governadora, se esquivando da responsabilidade. Esperto, o estudante retrucou : - Eu estou falando é de infraestrutura da sala de aula, escola com estrutura adequada. Sem reação, ela tenta desviar do assunto : - Ei, ei, ei, olha aqui. Eu quero saber qual foi sua nota do Enem. Nisso o estudante desmascara Roseana mais uma vez e acusa a situação do ensino público oferecido pela rede estadual : - Eu ainda não fiz o Enem, tô sem aula, e tô correndo risco de não fazer o Enem porque não tem professor na sala de aula". Como diria Millôr Fernandes, pano rápido. E sem comentários, por desnecessários. O Índice de Desenvolvimento Humano o Maranhão já diz tudo. Radar NA REAL 17/5/13   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta estável/alta - Pós-Fixados NA alta estável/alta Câmbio ² - EURO 1,2983 estável baixa - REAL 2,0380 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 55.164,27 estável/queda estável - S&P 500 1.667,47 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.498,97 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 14 de maio de 2013

Política e Economia NA REAL n° 245

Uma questão de confiança ? A semana passada chegou ao fim com um clima ainda menos otimista entre os chamados agentes econômicos depois de mais alguns índices desfavoráveis relativos ao desempenho da economia brasileira. Entre outros, mais um "vexame" da indústria em que pesem os seguidos incentivos que o governo vem distribuindo. Agora não são apenas aqueles tidos como pessimistas profissionais ou os "jogadores do mercado" que já não acreditam que a economia nacional vá crescer mesmo modestamente como as autoridades constituídas acreditam - ou torcem para tal. Uma questão de confiança - I As contas oficiais vão dos 3,5% do ministro da Fazenda Guido Mantega, o mesmo índice adotado na primeira revisão orçamentária do ano, até 3,1% do mais comedido BC de Alexandre Tombini. No mundo fora do oficialismo, porém, as previsões já estão se fixando em 2,5% ou até menos. É o número predominante nas empresas, entre os "mercadistas" a aposta é menor. Há alguns, ainda com algum exagero, que já falam em menos de 2%. A única certeza - e algum consolo - é que, a não ser que sobrevenha um desastre, o PIB deste ano, ainda um PIBinho, será melhor que o PIBzinnho de 0,9% de 2012. Uma questão de confiança - II O que impressiona nesses sinais de descrédito do setor produtivo da economia nacional é que estes ocorrem mesmo diante do ativismo retórico do governo Federal, da presidente Dilma, do ministro Mantega e de outros menos votados, que dia sim, outro também, juram de mãos erguidas que o PIB vai se recuperar ali na esquina. Já foi em janeiro, já foi em fevereiro, já foi em março, pode ter sido em abril, vai ser certamente em maio... Além disso, impressiona também a atividade econômica não ter dado sinal de sua graça apesar de todos os pacotes com que tem sido agraciada. Todo esse ambiente indica, na realidade, que o sistema produtivo nacional - e mesmo os agentes privados, o cidadão comum consumidor - está perdendo a confiança na capacidade do governo de mudar para muito melhor os rumos da economia. E já não dá nota 10 para o que o governo diz e promete. Há algo de novo no ar Um dos maiores desafios teóricos e práticos da atual conjuntura é a conjunção de fatores "híbridos" que se somam para formar um cenário obscuro. Vejamos : temos emprego elevado, fraqueza de demanda, estabilidade do custo de crédito, inflação em alta, câmbio muito valorizado, injeção de recursos fiscais na economia e indústria cambaleante. Além disso, os investimentos externos estão vindo, mas pouco contribuem para o PIB crescer. O interessante é que o governo, detentor do maior número de informações sobre todos estes temas, não é capaz de organizá-los e torná-los matéria-prima para uma política econômica digna deste nome. Em meio a tudo isso há mudanças na Fazenda e no Desenvolvimento. Semana cheia A agenda desta semana está repleta de eventos no exterior. China, EUA, Japão e Zona do Euro divulgam dados relevantes sobre suas atividades econômicas e níveis de inflação, desemprego e indústria. O Brasil ocupa pouco espaço na agenda dos investidores, mas há um dado relevante para a economia nacional. Na próxima quarta-feira, o IBGE divulga o desempenho do varejo em março. A expectativa é de queda de cerca de 0,50%. O BC vai divulgar esta semana também sua prévia do PIB de março, o IBC BR. Uma coisa é certa : o mercado financeiro e de capital lá fora está eufórico. Parecem empolgados com qualquer indicador minimamente favorável. Os mecanismos que criaram a "bolha" de 2008 estão intactos e operando em larga escala... A revolta do "subs" Pode ser apenas uma coincidência, ou questões de relações pessoais, profissionais e funcionais, mas o fato real é que dois principais funcionários da área econômica do governo estão insatisfeitos e podem pular fora do barco. Segundo informações brasilienses, o secretário Executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Alexandre Teixeira, e o secretário Executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, pediram demissão. Coincidentemente, ambos são de extrema confiança da presidente Dilma e ambos também têm dificuldades de convivência com seus chefes diretos, o ministro Fernando Pimentel e o ministro Guido Mantega. Mas como o céu em Brasília, por causa do ambiente econômico, não está para voos de brigadeiro, não é improvável que os dois - ou um deles - e quem sabe outros mais percam a cabeça para justificar o que já está acontecendo. Quando as coisas vão mal, a tese do bode expiatório sempre entra em ação. Afinal, no mundo da burocracia tem de haver sempre um responsável por erros ou equívocos. E ele não pode ser o chefão ou chefona. Faltou dizer a razão - I O poderoso - não é formalmente ministro, mas manda formalmente muito mais que a maioria deles - Bernardo Figueiredo, presidente da Empresa de Planejamento Logístico, anunciou em evento organizado pela FIESP que o pacote de concessões de rodovias está finalmente pronto e os leilões deverão começar a ocorrer a partir de setembro. O pacotão logístico - inclui, além de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos - foi lançado pela presidente Dilma Rousseff, em um evento com toda a pompa e circunstância marqueteira oficial em agosto passado. Portanto, os leilões vão abrir-se quase um ano depois, após a primeira tentativa de conceder lotes da BR-040 e da BR-116 ter fracassado em janeiro por falta de interessados. É tempo demais para um país que já tem quase 20 anos de experiência em concessões de rodovias. O próprio governo petista já fez as suas. Faltou dizer a razão - II Figueiredo não explicou os motivos de tanta demora nem foi perguntado sobre isso. Não precisava, porém. A razão é simples e clara : a forma envergonhada com que o governo Dilma avança nas privatizações (prefere o apelido de "concessões"), a tentativa de manter tudo sobre controle oficial e a visão de que os concorrentes privados só querem ter lucros abusivos e precisam ser vigiados. Um dos exemplos desse ativismo estatal é a tentativa de tabelar o lucro do negócio. O governo foi avisado várias vezes de que isto afugentaria concorrentes. Deu de ombros. Só na semana passada, depois de anunciar várias vezes que o faria e recuado, admitiu que a Taxa Interna de Retorno das rodovias passasse de 5,5% para 7,5%. Também para tornar o negócio mais atraente, está facilitando investimentos com dinheiro público, principalmente com o generoso coração do BNDES. Talvez tenha de ceder mais porque está colhendo a desconfiança que plantou a seus reais propósitos de fazer de fato parceria com o setor privado. A abertura dos portos Conceitualmente o governo tem toda a razão de querer pressionar o Congresso para não sucumbir aos lobbies que estão a operar na votação da MP dos portos. Tentam os atuais operadores evitar a concorrência e, assim, operar com os atuais altos custos (e lucros). Neste sentido, a ministra Gleise Hoffman tem toda razão ao afirmar que as negociações não podem descaracterizar os objetivos da MP. O conceito está correto. Todavia, do ponto de vista de gestão governamental há questões inquietantes : (i) por que o governo demorou tanto tempo para implementar estas mudanças ? (ii) por que o governo mantém uma base tão elástica se quando requer apoio tem de negociar quase tudo que quer implementar ? Há ainda uma questão estranhíssima : a ministra Ideli Salvatti, recém-adepta da "privatização" dos portos, pregava no parlamento, quando lá estava, contra aquilo que o governo quer fazer. Haja contorcionismo... Momento decisivo O PSDB escolhe esta semana seu novo diretório nacional. O candidato único - por enquanto - é o senador Aécio Neves, também favorito para ser o candidato do partido ao lugar da presidente Dilma Rousseff. O mineiro tem o apoio de alguns dos principais líderes do partido, entre eles sua figura maior, o ex-presidente FHC. É o preferido também da maior parte dos diretórios estaduais e dos parlamentares da legenda. Tem, porém, pedras no caminho. O principal, que não esconde de ninguém suas birras, é o ex-governador e ex-ministro José Serra. Com ele, o dito "serrismo", cuja verdadeira dimensão no tucanato ninguém conhece em profundidade. Outra incógnita é o governador Geraldo Alckmin, cujos sinais são contraditórios - ora num sentido, ora no outro, como quem às vezes pensa no lugar de candidato presidencial, numa composição (pouco provável) com Serra candidato a governador. A força de Aécio no partido hoje é inegável, mas se ele não conseguir desde a eleição para o diretório uma união para valer das forças tucanas, começa sua trajetória presidencial muito fragilizado. Além de um "discursinho" equivalente ao "PIBinho". A crença de Lula e Dilma - I Mais da fragilidade dos possíveis concorrentes do que em tudo está hoje concentrada a principal estratégia reeleitoral de Dilma. As análises oficiais, para consumo interno, indicam crescimentos mais generosos da economia. PIBãos apenas num possível segundo mandato. Uma situação dessas, de economia rateando, influi no espírito das camadas mais informadas da população e é um fator eleitoral negativo para Dilma. Ela vinha colhendo alguns frutos nesta seara, mas é um território no qual o PT nunca foi benquisto. Portanto, incomoda menos. A crença de Lula e Dilma - II A atenção toda está voltada para evitar que os tropeços da economia atinjam o eleitorado preferencial de Lula-Dilma, o que ocorreria se eles atingissem o emprego e o poder de compra dos assalariados. A economia deve ser embicada nesta direção. Foi o que ensinou o secretário do Tesouro, Arno Agustín, em entrevista há dez dias ao "Valor Econômico". A chance de se segurar esta situação, sem solavancos, até outubro do ano que vem, é grande. Depois, bem... depois a eleição terá passado. Por via das dúvidas, porém, é de bom tamanho esvaziar a oposição. A divisão do PSDB, incentivada por alguns elogios antes negados a José Serra, e a divulgação de pesquisas informais dando o ex-governador com um bom cabedal de votos (o que é fato nas circunstâncias atuais) é um deles. A crença de Lula e Dilma - III É esta também a motivação dos movimentos para garrotear as candidaturas de Marina Silva e Eduardo Campos, não só com as mudanças ensaiadas na legislação eleitoral como com a conquista, a troco de benesses, de possíveis aliados dos dois. O cerco sobre a ex-ministra do Meio Ambiente e o governador de PE deve se fechar cada vez mais até, se possível, deixá-los respirando politicamente por aparelhos. Aécio também não será poupado, na hora certa. A estratégia é ter o mineiro como adversário único da Dilma, totalmente enfraquecido e com a imagem desgastada. A crença de Lula e Dilma - IV É por essas e muitas outras que o ex-presidente Lula está cada vez mais ativo e todos os pudores que procuravam manter certa distância entre ele e a presidente Dilma Rousseff foram inteiramente abandonados. Eles estarão cada vez mais próximos, discutindo cada passo político e administrativo a ser dado, na aliança governista e no governo, sem se importarem com as fofocas de que o Brasil vive um copresidencialismo. A crença de Lula e Dilma - V Em poucas palavras, o governo tem o arrojo eleitoral que não tem na gestão governamental... É a festa Quem está gostando de tudo isso são os partidos da base aliada, exceção talvez do PT, a quem está reservado o papel de ceder para não desagradar os parceiros. Os outros aliados nunca estiveram tão valorizados. E estão sabendo cobrar a sua parte. Radar NA REAL 13/5/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta estável/alta - Pós-Fixados NA alta estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3073 estável baixa - REAL 2,0080 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.447,77 estável/queda estável - S&P 500 1.633,77 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.438,79 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 7 de maio de 2013

Política e Economia NA REAL n° 244

A "leoa" vai rugir ? Denominada pelo secretário geral da presidência da República como uma "leoa" no combate a inflação, a presidente Dilma está prestes, segundo indicações de Brasília, a rugir bravo nos próximos dias - ou horas. Rugir para dentro do governo, com cobranças a seus auxiliares, e para fora, com alguma nova medida econômica e, naturalmente, com críticas aos "pessimistas" e aos de má vontade. O alvo não vai ser apenas a inflação. A "leoa" vai rugir ? - II A semana do feriado do Dia do Trabalho não foi das mais felizes para a presidente, pelo contrário. Dois pontos, principalmente, "balançaram o coreto" do otimismo brasiliense : 1. Novamente o crescimento da indústria em março, de apenas 0,5%, quando a expectativa geral era de um crescimento em torno de 1,3%. Isto levou a uma revisão imediata, por parte de muitos analistas, de suas previsões para o crescimento do PIB este ano. A equipe do economista-chefe do Bradesco, Octávio de Barros, por exemplo, uma das mais ponderadas e com bom grau de acerto, já reviu suas projeções de 3,5% para 2,7%. 2. A deterioração do déficit comercial está se acelerando - foram mais de US$ 6 bi no primeiro quadrimestre, com as importações crescendo bem mais que as exportações. Também nesse item não se acredita mais em saldo positivo, mesmo assim contando-se com extraordinária recuperação nos 8 meses daqui até dezembro. A "leoa" vai rugir ? - III Para mal dos pecados da presidente, com o 1º de maio a inflação subiu definitivamente nos palanques eleitorais. Agora com riscos de produzir caraminholas na cabeça dos eleitores, pois os preços estão pegando direto no bolso do consumidor. Desde que o Plano Real botou um freio na inflação cronicamente elevada que assolava o país desde o fim dos anos de 1970, nunca mais a dança dos preços tinha ocupado lugar de destaque no debate político-eleitoral. No discurso do Dia do Trabalho, pela quarta vez em menos de dois meses, Dilma viu-se forçada a enfatizar seu "desamor" pela inflação, principalmente depois que a oposição passou a acusá-la de "leniência" com a rebelião dos preços e o tema entrou também no foco das centrais sindicais. A "leoa" vai rugir ? - IV Mesmo a CUT, mais governista que suas rivais no movimento sindical, fez referências ao tema na sua festa do Trabalho em São Bernardo. Amanhã, o IBGE anuncia o IPCA, a medida oficial da inflação, de abril. A previsão é que o índice virá mais alto que o de março. A inflação medida em 12 meses, no entanto, deverá ficar abaixo dos 6,5%. Mas não será um grande alívio - as incertezas são muitas e, ao contrário do que se previa, os preços dos alimentos estão resistentes. A "leoa" vai rugir ? - V Dilma, segundo as informações que seu auxiliares vazaram nos dias que antecederam o discurso de 1º de maio, pretendia aproveitar o evento para anunciar outra bondade para os trabalhadores. Seria uma espécie de "kit mobília" : o programa Minha Casa, Minha Vida passaria a financiar também a compra de geladeiras, fogões, máquinas de lavar. Por razões não explicadas, o pacote não saiu e Dilma perdeu o discurso para a oposição. Aguarda-se o troco esta semana. O sono não deve estar sendo muito tranquilo nas cercanias do Palácio do Planalto e dos ministérios econômicos. A voz das ruas A persistência da inflação em níveis que incomodam o BC e o desempenho da economia brasileira como um todo, abaixo do oficialmente e extraoficialmente esperado, não surpreendeu quem, além das consultas às estatísticas, pesquisas, indicadores antecedentes e outros oráculos, frequenta a voz rouca das ruas. Passagens por feiras livres, supermercados, shoppings e lojas de rua, uma visita de vez em quando, por exemplo, ao Ceasa em SP, teria completado as análises de gabinete com boas indicações de que a carestia não quer ceder e as pessoas já estão comprando menos. Só uma indicação de quem está todo dia no campo : o preço dos alimentos não está pressionado apenas por razões sazonais. Há falta de mão de obra no campo e os salários subiram. Por isso, está se plantando menos e cobrando mais. Quem está nesse negócio há muito tempo duvida que os preços da comida básica retornem ao nível de um ano ou seis meses atrás. O que é ? Há algo de muito errado quando um país com a extensão territorial, a qualidade das terras e o clima como o Brasil precisa importar tomate da China. Oposição ocupa espaços vazios com discurso vazio Nos últimos dias, a oposição, especialmente o PSDB, avançou perante o governo, teve mais presença na mídia e mostrou que pode se articular com vista a 2014. Todavia, ainda está devendo uma razão clara, evidente e o porquê o distinto eleitor deve votar em Aécio, Marina ou no neo-oposicionista Campos. O governo petista nunca esteve tão fraco desde o mensalão e o desempenho da oposição parece débil frente a esta fraqueza. Não há propostas e nem arranjos sociais, apenas os encontros partidários, longe do povo e de suas lideranças. Não se sabe o que pensam a turma da oposição. Do governo pelo menos se sabe o que ele faz. O Brasil perdeu a oportunidade Convenhamos : há oportunidades seculares que, quando se perdem, são lamentadas por um bom tempo. Veja-se, a título de ilustração, o Brasil e a Coreia do Sul no início dos anos 1970. Eram ambos "países emergentes" com PIB semelhantes, nível educacional parecido, dimensão de comércio exterior mais ou menos igual. O Brasil era o gigante do "milagre econômico" do regime militar e a Coreia do Sul, um país pequeno também sujeito a uma ditadura. Pois bem : olhado o resultado depois de 40 anos, vê-se a oportunidade perdida. A Coreia do Sul toca os indicadores dos países centrais e o Brasil ainda discute o fim do analfabetismo. Da mesma forma é o que se vê hoje : um país paralisado politicamente por um pacto de poder que se calça na ambição de permanecer mandando. Enquanto isso, a indústria está capenga, a criminalidade impera, a educação mostra suas cáries e assim vai. O Brasil saiu forte da crise de 2008. Agora está se enfraquecendo quando o mundo começa a melhorar. Seria risível, não fosse trágico. EUA : uma boa aposta Observados os indicadores da economia norte-americana no último mês, estamos reforçando a nossa visão de que aquele país é uma ótima oportunidade de investimento, a despeito do extraordinário avanço das cotações das ações nos últimos 12 meses. Os desafios ainda são enormes, mas as políticas de expansão monetária e de estímulos governamentais estão dando resultado. Além do fato de que não há nada como se financiar as taxas de juros negativas pagas aos estrangeiros que para lá destinam a suas poupanças. Saia justíssima A programação orçamentária (em bom português : correção do Orçamento aprovado pelo Congresso) divulgado na sexta-feira revela que há ainda um rombo de R$ 25 bi para o governo fechar suas contas mais ou menos equilibradas, com alguma sobra para pagar parte dos juros da dívida, o chamado superávit primário. Normalmente, esse ajuste é feito na mesma ocasião do anúncio da programação orçamentária, com o "contingenciamento" das despesas excedentes - no caso, este ano, os R$ 25 bi. Porém, excepcionalmente, o Ministério do Planejamento deixou para anunciar o contingenciamento em outro dia, provavelmente no dia 22/5. A razão é muito simples : o dinheiro a ser cortado tem praticamente o mesmo tamanho do das emendas dos parlamentares. E cortar R$ 25 bi das expectativas de deputados e senadores num momento em que a presidente Dilma tem projetos importantíssimos a serem votados no Congresso é risco de desagradáveis surpresas. Dúvida A dúvida é saber se os experimentados parlamentares vão engolir a manobra. Já há uma insatisfação grande na base aliada, a falta desse "alpiste" deve aumentar a grita. Há partidos doidinhos para dar um susto no Palácio do Planalto. Muitos podem aproveitar a MP dos Portos para dar o seu recado. Há uma parcela do PMDB que não se aguenta de tanta coceira para uma traiçãozinha. PMDB : é um porto seguro ? A cúpula do PMDB velha de guerra armou-se tão bem - aproveitando-se também das divergências petistas - que hoje a presidente Dilma Rousseff depende cada vez mais de sua boa vontade para não ser surpreendida desagradavelmente no Congresso Nacional. A MP dos Portos é um exemplo. O PMDB tem Eduardo Cunha como expoente, em conluio com alguns governadores, especialmente o de PE, Eduardo Campos. Ele está se armando para aprovar um texto nada palatável para os propósitos de modernização do setor pretendido pela presidente. PMDB : a esperança de Dilma A esperança de Dilma é a interferência direta - e da apregoada liderança - de Renan Calheiros, José Sarney e Michel Temer - a quem ela apelou na semana passada para ajudar a conter os peemedebistas mais rebeldes. Mas quem conterá os outros aliados também insatisfeitos com o projeto ? O fato é que a coordenação política de Dilma no Congresso está falha, é capenga, e o experiente PMDB está sabendo bem se aproveitar disso. O PT já está, nesse aspecto, em segundo plano. Judiciário ativo, Legislativo omisso O Congresso Nacional se queixa, como recentemente, às vezes com razão, de um certo "ativismo político" do STF, da "judicialização da política", ou seja do Judiciário "invadindo" as prerrogativas do Legislativo. Antes de gritar, no entanto, a Câmara e o Senado deveriam atentar para os motivos que estão alimentando esse processo. Basicamente, são três : 1. A baixa qualidade das leis produzidas no Legislativo, muitas induzidas pelas MPs impostas pelo Executivo. Depois então que se passou a usar as MPs como "barriga de aluguel" para todo o tipo de proposta, a coisa degringolou. Há certas leis, de tão confusas, que só uma Comissão Internacional de Juristas para entendê-las e interpretá-las. 2. A omissão do Congresso, que deixa muitas coisas por fazer e outras faz pela metade. Veja-se que até hoje há várias normas da Constituição sem regulamentação. Caso, por exemplo, do direito de greve do funcionalismo público. Outro é o da fidelidade partidária, imposta pelo Judiciário porque o Congresso não se definiu. 3. A interferência dos próprios parlamentares. A maior parte das decisões do Supremo que incomodaram o Congresso por "invadirem" suas prerrogativas foi provocada pelos próprios parlamentares ou partidos. Casos da fidelidade partidária e, agora, da suspensão da votação da lei que dificulta a criação de novos partidos. O problema, diga-se, não está restrito apenas à seara da política. Há também queixas contra a "judicialização da economia" e contra a "judicialização da saúde". Do jeito que a carruagem anda no Congresso, a tendência é só piorar. Radar NA REAL 7/5/13   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA alta estável/alta - Pós-Fixados NA alta estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3073 estável baixa - REAL 2,0096 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 55.429,88 estável/queda estável - S&P 500 1.617,50 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.392,97 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 30 de abril de 2013

Política e Economia NA REAL n° 243

Crise institucional ? - I A construção do Estado Brasileiro do qual a Constituição é uma corolário, bem como a legalidade (ou seu "espírito") historicamente são usados no proselitismo político como os meios racionais para atingir o chamado bem comum. Convenhamos, o que se fez de melhor na história brasileira foi a completa confusão entre a ideia de república e os interesses privados. Aí, temos fronteiras bem flexíveis. A classe política tem sido a exata representação desta "cordialidade" brasileira. A recente crise entre os poderes deve ser vista neste contexto. O que se vê não é uma cizânia política com raízes sociais. O Brasil parece, de fato, deitado em seu já famoso berço esplêndido à espera, quem sabe, do futuro. Nossa maior fonte de pacificação social não advém da ordem jurídica ou da excelência do funcionamento dos Poderes Estatais. Vejamos. Crise institucional ? - II A sociedade brasileira está pacificada por uma mistura de Estado-provedor (mas, não desenvolvedor) com o Estado-burocrático, este último aparelhado pelas estruturas de poder que tomaram de assalto (sem trocadilhos) a chamada res publica. Isso não vem de agora, mas agora mostra seus dentes sem a vergonha dantes. Judiciário, Legislativo e Executivo são parte do mesmo jogo. Cada um com seu quinhão cumpre seu papel de descaso com a sociedade. Neste contexto, e apenas a partir dele, é que se pode entender o que está em jogo entre o Congresso e o Judiciário. Crise institucional ? - III O PT (e seus aliados) acha que o Judiciário avançou muito em sua seara. Estamos falando de interesse público ? Não. Estamos falando do jogo eleitoral e policial (mensalão) que ronda o Poder nos últimos meses. A intervenção do Judiciário limitou os espaços de acordos com vistas a 2014, além de certa dose de vingança que o petismo quer impor pela condenação de José Dirceu e sua tropa. De outro lado, depois das revelações recentes sobre "como se faz um juiz do STF" alguém pode achar que o Judiciário vai esticar demasiadamente a corda do Legislativo ? Ora, se há uma coisa certa no noticiário é que não há crise institucional nenhuma. O que há é que os quinhões do Poder Estatal se realinham para atender a seus interesses imediatos. Pode sair alguma fumaça, mas não há fogo. Afinal, não há nada de interesse público nofront. Dilma, Lula e a arte de desistir Sinais de fumaça nos céus brasilienses dão indicações de que a presidente Dilma e, por extensão, o ex-presidente Lula teriam desistido de trazer de volta ao redil presidencial o rebelde governador de PE, Eduardo Campos. O neto de Arraes tornou-se um caso perdido, irrecuperável para as boas práticas petistas depois do programa eleitoral do PSB no rádio e na televisão quinta-feira passada. O presidente nacional dos socialistas teria se excedido nas críticas ao governo e suas políticas. Foram decibéis acima do aceitável para um aliado - ainda mais um aliado com cargos no governo - e que sempre teve grande apoio de Brasília para governar seu Estado. Dilma, Lula e a arte de desistir - 2 O tiroteio foi mais pesado que o desferido pelo tucano oposicionista Aécio Neves. Assim, Dilma e Lula (ou seria o contrário) preparam-se para desidratar a presença de Campos na burocracia Federal. E, de quebra, desidratar sua força no PSB. Até o fatídico programa de quinta-feira, a ideia era não "punir" o governador pernambucano para não transformá-lo em vítima e também porque ainda havia esperanças de seu retorno aos braços aliados. Agora, aguarda-se apenas a oportunidade política para o tiro de misericórdia. Dilma, Lula e a arte de desistir - 3 Esta semana, com o feriado de amanhã que esvazia a capital da República e desarma os espíritos políticos, parecia o ideal para o acerto com o governador pernambucano. Porém, as escaramuças entre Legislativo e Judiciário aconselham certa prudência em lances político-eleitorais que podem acirrar os ânimos oposicionistas e gerar mais solidariedade entre os candidatos a adversários de Dilma. Um dos motivos do estranhamento entre o Congresso e o STF foi exatamente a liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes suspendendo a tramitação de uma proposta pensada para dificultar o nascimento de novos partidos. De interesse do governo, a medida prejudicaria especialmente a ex-ministra Marina Silva e o neto de Arraes e, por tabela, também o senador Aécio Neves. Dilma, Lula e a arte de desistir - 4 De todo modo, passada a tormenta, um pouco talvez à sorrelfa, Campos - e o PSB que segue sua orientação - serão apeados de postos que ocupam na Chesf, na Sudeco e na Sudene. Ao mesmo tempo, o ministro Fernando Bezerra, indicação dele para o ministério da Integração Nacional assinaria a ficha do PT, partido pelo qual se tornaria o candidato petista à sucessão do próprio Campos. Já os dissidentes, dentro do PSB, irmãos Cid e Ciro Gomes, manteriam com Leônidas Cristino, a Secretaria (com status de ministério) dos Portos, sem dar bola para Campos. E se o governador de PE resolver complicar a vida dos dissidentes do PSB, o PSD de Gilberto Kassab já foi posto de sobreaviso para abrigá-los. Semana passada Kassab esteve em Fortaleza oferecendo sua legenda a Cid e Ciro. O governo quer fazer as manobras com alguma cautela e sutileza para mostrar que não é Eduardo Campos que está saindo do governo, mas o governo que está desistindo dele. Desistiram o Mercadante Com um ar que não escondia um misto de conformismo com constrangimento, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, anunciou ter desistido de disputar o governo de SP nas eleições de 2014. Alegou o ministro que faz essa renúncia para ficar na pasta porque a educação é "a grande prioridade estrutural do país e seu maior desafio". O desafio da educação é fato, porém o motivo alegado por Mercadante para não trocar o ministério pela disputa pelo lugar de Geraldo Alckmin se choca com os fatos reais. Não foi Mercadante que desistiu, foram Lula e Dilma que desistiram dele. Assim como Marta Suplicy, outra que já "foi desistida" pela dupla de suas pretensões paulistanas e paulistas, o ministro da Educação não preenche o requisito do "novo na política" que desde o sucesso das candidaturas da própria Dilma e de Fernando Haddad, Lula adotou para escolher os candidatos do PT aos governos municipais e estaduais que mais interessam ao partido. Interesses superiores É óbvio que haverá exceções, porém a regra geral será esta. A outra é a ordem unida que estabelece que o partido deve ceder aos aliados nos Estados sempre que eles exigirem para garantir o apoio ao interesse maior - a reeleição de Dilma. Veja-se o caso do senador Lindbergh Farias no RJ : o "novo" terá de ceder ao meio esclerosado PMDB. Pode até, com rebeldia, firmar sua candidatura. Contudo, não terá as bênçãos oficiais. Como ele e Mercadante, tem muita gente ainda para "ser desistida" até 2014 na seara petista. Oposição sem voz Marina Silva, Aécio Neves e Eduardo Campos andam ativos, "discurseiros" num tom bem crítico ao governo Dilma e às estripulias institucionais do PT. Porém, observam alguns analistas, as críticas se concentram no óbvio e não apontam caminhos. Não apontam alternativas ao que criticam. Diz um desses observadores, com malícia : "Parecem o PT dos tempos de oposição. Só criticava.. Os cinco anos de Aécio Não há segredos nas intenções reais da defesa que o senador mineiro passou a fazer do fim da reeleição para a presidente com um mandato de cinco anos para valer já a eleição de 2014. É abrir mais uma porta para um entendimento com Eduardo Campos, num possível segundo turno contra Dilma ou, em caso de emergência, caso as pressões do governo para barrar concorrentes da presidente, leve os adversários a um acordo já no primeiro turno. O modelo é simples : o mais cotado vai disputar a presidência em 2014 e o outro disputa em 2019. Como o governo, o PMDB e o PT estão fazendo tudo para aproximar Campos, Aécio e Marina, o que parece impossível uma hora pode se tornar viável. Em tempo : (i) Em outros tempos, antes de aportar no Palácio do Planalto, o PT era contra a reeleição ; (ii) A reeleição presidencial no Brasil é cria do tucano FHC. Desafios para a liderança de Temer Em vozes amigas, o vice-presidente Michel Temer tem sido apontado como o grande - e discreto - articulador político da presidente Dilma. Por conta desses informantes, alguma dificuldade que aparece para o governo no Congresso e/ou na base aliada e lá está Temer cumprindo uma missão de paz. E sempre, segundo ainda essas informações, com extraordinário sucesso. Nos próximos dias ele terá novas oportunidades de exercitar-se nessas missões quase impossíveis e três ameaças no Congresso aos interesses oficiais, todas, por curiosidade, com o dedo do PMDB, partido do qual o vice-presidente é presidente licenciado e inconteste líder : 1. A MP dos portos, aprovada em Comissão do Senado com emendas que contrariam o que o governo quer. O relator foi o peemedebista Eduardo Braga, líder do governo no Senado, e um dos maiores "agitadores" pelas mudanças de desagrado do Planalto é o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha. 2. Animada por alguns peemedebistas, segue a colheita de assinaturas para a instalação de uma CPI para investigar a situação da Petrobras. A ordem oficial é barrar a iniciativa, mas seus patrocinadores até agora não ouviram os recados. 3. Há também as digitais peemedebistas, a começar pela disposição do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, de colocar a proposta em votação, o projeto que obrigará o governo a liberar automaticamente todas as emendas dos parlamentares. Elas não poderão mais ser suspensas ou anuladas pelo chamado "contingenciamento orçamentário". O ministério da Fazenda não dorme só de pensar nessa possibilidade. Na linha de frente aqui também o sempre onipresente Eduardo Cunha. Excelentes ocasiões para o vice Temer mostrar seu controle sobre o partido que preside e para o PMDB demonstrar sua tão decantada fidelidade à presidente Dilma. Superávit! Que superávit ? Preços ! Que preços ? A entrevista do secretário do Tesouro Nacional, Arno Agustin, um dos principais interlocutores econômicos de Dilma no governo, ao jornal "Valor Econômico" de segunda-feira, e o resultado tido como fraco das contas federais em março e no trimestr, acabaram com qualquer dúvida. Aliás, Agustin deixa isto bem claro : o governo abandonou de vez seus compromissos em manter um superávit primário robusto, com base em uma certa austeridade fiscal, e condiciona isto ao movimento do PIB. Se o PIB fraquejar, vai gastar mais. Para Agustin, será assim em 2103 e 2014. E, se Dilma for reeleita, nada improvável, em 2015 e 2016 também. A meta não é a inflação, que, segundo o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, já subiu para o nível de 5% a 5,5% por longo tempo. A questão é saber como se sentirá o BC, que de uns tempos para cá começou a dar cada vez maiores sinais de "desconforto" com a inflação. E como se sentirão os próprios preços. Curioso é que hoje, também no "Valor", outro consultor econômico de Dilma, este externo, o ex-ministro Delfim Neto, diz que a "situação fiscal e o equilíbrio externo apresentam alguns sinais nebulosos cuja evolução exige cuidado". Radar NA REAL 29/04/13   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3099 estável baixa - REAL 2,0048 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.151,15 estável/queda estável - S&P 500 1.594,20 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.310,96 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 23 de abril de 2013

Política e Economia NA REAL n° 242

O novo "pacote de abril" ou...recordar é viver - I Era o ano de 1977, mês de abril, "o mais cruel dos meses" como escreveu o poeta T.S. Eliot. Agastado com as dificuldades de aprovar no Congresso Nacional - pelo menos no papel inteiramente governista - seu projeto de reforma do Judiciário, o general-presidente Ernesto Geisel fechou o Legislativo e baixou uma série de medidas que foram além das mudanças na Justiça - atingiram também o sistema político-partidário. Foi o que se chamou de "A Constituinte do Alvorada" - a Constituinte de um general. O decreto ficou conhecido como o "pacote de abril" e gerou o bloco carnavalesco mais animado de Brasília até hoje : o Pacotão. A desculpa era o Judiciário, mas Geisel visou mesmo manter a força e o domínio do governo, por meio do partido oficial - a Arena (o da oposição era o MDB, hoje transformado nessa coisa amorfa que está aí, o PMDB) - no Congresso e garantir a eleição de mais um general-presidente em 1978. O novo "pacote de abril" ou...recordar é viver - II Em 1974 o MDB havia tido um extraordinário desempenho nas urnas e aumentara substancialmente suas bancadas na Câmara e no Senado. Se a carruagem continuasse andando como estava, principalmente porque a economia, depois da primeira crise do petróleo não vinha mais nos seus melhores dias, a tendência seria a oposição chegar perto e até ultrapassar a Arena. Geisel mudou tudo. Seriam eleitos dois senadores em 1978. Ele criou então um senador biônico, eleito indiretamente pelas Assembleias Legislativas. Aumentou também o número de deputados dos Estados menores, mais submissos à vontade de Brasília. Manteve também a eleição indireta para governadores de Estado. E alterou o quorum para aprovação de emendas constitucionais, que passou de dois terços para maioria absoluta. O novo "pacote de abril" ou...recordar é viver - III Tudo isso para assegurar "tranquilidade" a seu sucessor na área legislativa - que viria a ser o general João Figueiredo. Nem tudo funcionou. Figueiredo perdeu o controle geral, engoliu na Arena um candidato que não era do seu paladar - Paulo Maluf - e viu por fim o Congresso rebelado escolher para a presidência o oposicionista Tancredo Neves, do já renomeado PMDB, para seu lugar. O novo "pacote de abril" ou...recordar é viver - IV Os movimentos do PMDB e do PT, com o claro incentivo do Palácio do Planalto e da presidente Dilma, para impedir que os novos partidos que surgirem no Brasil a partir de agora não tenham direito a tempo na televisão e ao dinheiro do fundo partidário proporcionais ao número de deputados que conquistarem, carregam todas as semelhanças e coincidências com o "Pacote de Abril" dos generais. Só o modus operandi é distinto : não sai do Palácio, vai pelo rolo compressor oficial no Congresso. Em tese, o objetivo alegado é até correto - é preciso botar um fim na farra de criação dos partidos no Brasil. Em parte essa bagunça partidária é incentivada pelos "bens de raiz" do horário eleitoral e do fundo partidário. Dá para o partido sobreviver sem muitos votos e ainda fazer barganhas na propaganda eleitoral. Porém, não é este o "nobre" propósito que move PT, PMDB e o Planalto. Meses atrás eles não se incomodaram com as mesmas pretensões do então prefeito de SP de criar um novo partido. O PSD, esta nova agremiação, nasceu robusta, com o amparo nada discreto deles. Ganhou até na Justiça seus "bens de raiz". Mas era interessante : Kassab vinha para fraturar a oposição. Bebeu boa parte de seus correligionários com mandato nesta seara, especialmente no DEM. O novo "pacote de abril" ou...recordar é viver - V Agora, a ameaça é outra. Os novos partidos que estão para nascer - o Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, o Solidariedade, de Paulinho da Força, e o Movimento Democrático (MD), fusão do PPS e do PMN - estão do outro lado. O Rede garante a candidatura de Marina. O Solidariedade pode ir para Eduardo Campos ou cobrar caro um apoio à reeleição. E o MD irá com Campos ou Aécio Neves. E todos devem buscar adeptos em insatisfeitos aliados. De Geisel a Dilma, da Arena ao PT e PMDB, cada um tem o pacote de abril que merece. O jornalista Ruy Fabiano, de Brasília, também abordou este tema em seu artigo semanal no "Blog do Noblat". Vale lê-lo. (clique aqui) Recordar não é viver Mais um pouco de história. Em 1980, quando o governo do general Figueiredo impôs uma reforma partidária, abrindo espaço para o fim do bipartidarismo, um grupo de políticos filiados ao então MDB, liderados por Tancredo Neves, da face mais moderada do partido, juntou-se a descontentes do partido militar, a Arena, e fundou o PP, Partido Popular. O PP chegou a ser visto como linha auxiliar do governo, para esvaziar o crescimento da oposição liderada por Ulysses Guimarães, político odiado pelos militares de um modo geral. A ilusão do PP de que o jogo era para valer durou pouco. Meses depois o general Figueiredo baixou um pacote de reformas eleitorais proibindo as coligações partidárias e estabelecendo o voto vinculado (o eleitor deveria votar apenas em candidatos de um mesmo partido) para evitar novos avanços da oposição. Sem saída, Tancredo e seu grupo fizeram uma convenção e aprovaram a incorporação ao PMDB. Com ele, ganharam o Colégio Eleitoral que elegeu exatamente Tancredo Neves como sucessor de Figueiredo. Como na lição do "Pacote de Abril", mágicas eleitorais costumam ser tiro pela culatra. A quem interessa ? O inquérito administrativo a respeito das estripulias de Rosemary quando era a poderosa dona do gabinete presidencial em SP, nos tempos de Lula, correu em sigilo e em sigilo estava. De repente, não mais que de repente, vazou para a revista "Veja". Como não é possível que nenhum jornalista tenha surrupiado o documento das gavetas do Palácio do Planalto e nem que alguém da oposição o tenho feito, a conclusão é lógica : o vazamento é oficioso. Ou seja, é fogo amigo. A quem interessava fazer e quem é o alvo ? Não é preciso ser nenhum Sherlock para descobrir as respostas. Governo vai afrouxar a política fiscal Está anunciado que o governo não mais se comprometerá em cobrir a parte que cabe aos Estados e municípios no cumprimento da meta de superávit primário. Na prática, com as mágicas dos últimos anos, fica totalmente abandonada a meta de economia de 3,1% do PIB de economia de gastos para cobrir a conta de juros. Há muitos analistas que acham que realmente o Brasil não precisa agora de um superávit tão grande. Mas a opinião unânime é que alguma disciplina fiscal é necessária. Caso contrário, uma hora o BC vai ter de ser mais duro nos juros. Para entender a razão, veja-se o que escreveu o ex-ministro Delfim Neto, conselheiro da presidente Dilma, no "Valor Econômico" : "Uma leitura mais atenta do último Relatório de Inflação (março 2013) mostra que o Banco Central tem uma visão mais complexa do nosso processo inflacionário, e sabe que o seu controle efetivo e definitivo está fora do seu alcance, sem o apoio de sólida política fiscal e aprovação pelo Congresso de medidas que aperfeiçoem as instituições e dêem suporte : 1) à superação dos mecanismos protetores de grupos privados com poder de mercado maior do que o razoável ; e 2) promovam a redução dos benefícios exagerados de que se apropriaram os servidores públicos que controlam Brasília". A decisão do COPOM Conforme previsão geral da nação, o BC aumentou a taxa básica de juros para 7,5%, um aumento de 0,25%. Optou a autoridade monetária por um "caminho suave" frente a uma inflação que ameaça se espalhar pela economia. O governo e o BC, unidos, tentam conciliar dois objetivos difíceis de operarem no mesmo sentido : alta dos juros para controlar a inflação e aumento da atividade econômica. Não à toa os agentes econômicos se posicionam do lado mais provável : baixo crescimento e meta de inflação sob risco. Prevalecerá a mediocridade governamental na política econômica assentada na falta de oposição política e social ao baixo crescimento. Quantos votos eles têm mesmo ? - capítulo dois O jornalista Josias de Sousa, em seu blog no UOL, deu a notícia da inscrição de um dos donos do grupo JBS Friboi, freguesão do BNDES, José Batista Junior, no PMDB de GO quando já se tinha como certa sua entrada no PSB de Eduardo Campos, com o seguinte título : "Goiás : Temer e Lula tiram palanque de Eduardo". Mais objetivamente o título deveria ser : "Temer e Lula tiram um 'cofre' de Eduardo". Outro "cofre" muito assediado pelos dois, este em Minas, é o do filho do ex-vice-presidente José Alencar e presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva. Eike e a sua "salvação" A proposta empresarial de Eike Batista, ninguém pode negar, foi a de uma espécie de "capitalismo puro", de alto risco, uma aposta severa nas expectativas futuras. Agora vê-se que, depois de uma queda de quase 90% do valor de mercado do grupo do empresário carioca, deslocam-se empresários do setor de petróleo para se aproveitar do evento. Nada mais justo. Resta saber o papel da Petrobras neste processo. Que interesses a estatal brasileira está protegendo ? Será que serão os interesses brasileiros e de seus acionistas ? Ou estuda-se por debaixo do pano um socorro ao ex-milionário-mor do país ? Maduro e a Petrobras Em vista da fragilidade política evidente de Nicolás Maduro à frente da Venezuela, não são poucos os interessados em saber a exposição dos investimentos da Petrobras na Venezuela, bem como os outros investimentos privados. O destino do país nos próximos anos ficou incerto e o retorno dos investimentos mais incerto ainda. Ademais, esta preocupação corre solta nos corredores diplomáticos. Chacrinha mandou lembranças Alguns setores e algumas empresas, refazendo suas contas, já consideram que não é vantagem trocar a contribuição de 20% sobre a folha de salário para o INSS por um percentual de 1% a 2% do faturamento, dependendo da atividade da companhia. A troca é obrigatória, mas muitas já estão se preparando para pedir alguma mudança na nova regra, pois vão pagar mais que pagam agora. Tudo depende do faturamento, do número de empregados, que varia muito dentro da mesma atividade. Portanto, o que veio para ser uma desoneração, no decantado discurso do ministro Guido Mantega, pode virar uma "oneração". Não teria sido mais fácil, mais simples, cortar direto na alíquota ? Por exemplo, de 20% para 18% ? Aliás, é o que sugere o ex-ministro do Trabalho, Edward Amadeo, em recente artigo. Mas se fosse assim, não seria um ação da burocracia brasiliense. Afinal, se dá para complicar, porque simplificar. Política remendada Não é de se surpreender que se constate que medidas de desoneração não funcionam como Brasília imagina. Mas, este não é o principal problema das iniciativas governamentais. Este reside na falta de uma visão verdadeiramente macroeconômica da economia brasileira. Sabe-se que a sociedade brasileira está atolada em impostos, ineficiências estatais, falta de educação, tecnologia incipiente, corrupção e outras mazelas. No seu conjunto tornaram o país pouco dinâmico, sem torque para crescer o investimento. De vez em quando, quando o crédito se torna farto e os juros baixos, cresce o consumo. É a mesma síndrome do "voo de galinha" tão apregoado pelo petismo na era de FHC. Com o agravante que como naquele governo, Dilma e seus asseclas erram na excessiva valorização cambial. Todos parecem esperar docemente o que virá. Mesmo que não haja razão para se imaginar que seja coisa boa. Investigando a Copa e as Olimpíadas Triste o parlamento que não está sintonizado com o povo. No Brasil, isso é especialmente notório. A Copa do Mundo e as Olimpíadas são eventos adornados de dinheiro público e suficientemente relevantes para impactar a imagem do país, para o bem ou para o mal. O grau de supervisão política neste caso beira a irresponsabilidade. Há problemas de todos os lados, infraestrutura, segurança pública, estádios, etc. Tudo fica na órbita do Governo, da FIFA e dos interessados mais próximos. Quem está preocupado com o chamado interesse público ? Romário, sozinho na área ? Radar NA REAL 22/4/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3063 estável baixa - REAL 2,0199 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.151,15 estável/queda estável - S&P 500 1.562,50 estável/queda estável/alta - NASDAQ 3.233,55 estável/queda estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 16 de abril de 2013

Política e Economia NA REAL n° 241

Muito além do tomate O festival de números econômicos que alimenta as análises de especialistas e ajuda nas decisões das autoridades produziu, como sempre, números para diversos gostos nas duas últimas semanas. E para sabores e interpretações. Há o da inflação do IPCA de março, menor que o de fevereiro e menos disseminado, e o IBC-Br, espécie de prévia do PIB, de fevereiro, negativo, mas menor do que se esperava na praça. A conjunção dos dois, segundo uma parte dos analistas, deve levar o BC a manter a "cautela" que seu presidente, Alexandre Tombini, vem apregoando, e não tocar na taxa de juros na reunião do Copom hoje e amanhã. Para outros analistas, porém, a indicação é para que as autoridades monetárias comecem já uma nova etapa de aperto monetário. Será ? Muito além do tomate II No governo, o que acendeu mesmo o sinal vermelho - por coincidência a mesma cor do fruto na ordem do dia - foi o preço do tomate. Ele caiu na boca do povo como símbolo da nova inflação. Mas o otimista Guido Mantega acha que não é uma inflação ainda de preocupar, são aumentos sazonais, passageiros de preço. Se olharmos, contudo, que o mapa astral do governo Federal desde já prevê a conjunção da economia com as eleições de 2014, e aposta no trio - juros baixos, emprego elevado e renda do assalariado em dia para o consumo - o governo deveria estar olhando para outro número, oficial, divulgado na semana passada. Vejamos. Muito além do tomate III Trata-se do comportamento do varejo. Segundo o IBGE, as vendas neste segmento caíram 0,4% de janeiro para fevereiro, em volume. Mas subiram mais de 7% em faturamento. Este é o resultado perverso da inflação que, segundo uma área de Brasília, não preocupa : as pessoas estão gastando mais e levando menos mercadorias para casa. Ou seja : estão tendo sua renda corroída, seu poder de compra está menor. Pode ser um furo no discurso eleitoral que o ministro sem pasta João Santana está preparando para Dilma. E já está nos palanques de Aécio Neves e Eduardo Campos. Preocupa sim A presidente da Petrobras, Graça Foster, depois de ter dito pelo menos duas vezes nos dois últimos meses que a Petrobras precisa ainda de mais aumento nos combustíveis (uma opinião mais ou menos generalizada e que o balanço da empresa corrobora), apareceu segunda-feira nos jornais dizendo que não haverá mais aumento de gasolina e óleo diesel este ano. Isto, sem que as condições que a levaram a defender novos reajustes tenham mudado interna ou externamente. A verdade é que a Petrobras vai continuar com o sacrifício de contribuir para a política anti-inflacionária do governo - indicação de que a alta dos preços preocupa mais do que admite a vã filosofia de Brasília. Recordar é viver No início dos anos 1980, quando a inflação andava bem assanhada, nem tão assanhada quanto depois, nos governos Sarney, Collor e um pedaço da gestão Itamar, o czar da economia de então, o ministro do Planejamento Delfim Neto, compareceu ao Congresso Nacional para um depoimento sobre as condições econômicas e a escalada inflacionária. Para inquiri-lo, o na época deputado em primeiro mandato Eduardo Suplicy preparou uma encenação : levou para a tribuna do plenário da Câmara um desses caminhõezinhos de brinquedo, cheio da tomates como uma alegoria para o aumento dos preços da cesta básica que comia o salário dos trabalhadores. Desastrado, Suplicy não conseguiu segurar sua alegoria direito no púlpito, o brinquedinho virou e espalhou tomates pelo plenário, provocando uma gargalhada geral. Irônico, Delfim Neto aproveitou o tropeço do deputado para "pisotear" (simbolicamente) sobre os tomates e todas as críticas que os despreparados parlamentares tinham à política econômica por ele conduzida. Por ironia, como um dos principais conselheiros da presidente Dilma, Delfim vê o tomate tornar-se o símbolo da inflação brasileira do governo petista. Copom : Possibilidades teóricas e práticas Inflação em ascensão e disseminada de forma generalizada no sistema econômico recomenda um aumento mais forte na taxa de juros imediatamente e um posterior balizamento do ritmo do aperto monetário depois de a autoridade monetária "mostrar os dentes" para os agentes. Esta recomendação é a ideal, especialmente depois de se verificar que o BC "ficou para trás" no que tange às expectativas. Esta situação teórica pode ser enquadrada quase à perfeição com o que está a ocorrer na economia brasileira nestes últimos meses, marcadamente neste último. A alternativa é a autoridade iniciar uma escalada de aumentos, a qual será graduada conforme o andar da inflação. Nesta política a vantagem é que o custo inicial pode ser menor e, ao invés de uma "freada", o BC tenta conter os preços pouco a pouco, em pequenas pisadas no freio. O risco, contudo, é considerável : a política de juros pode ir correndo na "rabeira" das expectativas e a credibilidade da autoridade política vai sendo ainda mais corroída. Copom : Possibilidades teóricas e práticas II Ao que tudo indica, o governo, como um todo, e o BC, em particular, devem optar pela gradação do aperto monetário. Afinal, dizem os formuladores da política, a atividade econômica está capenga e são os preços dos alimentos e dos combustíveis que alavancam a inflação corrente. Talvez subestimem as autoridades o fato de que haverão mais à frente, dos aluguéis aos transportes, passando pelos eventuais efeitos dos reajustes salariais em tempos de pleno emprego. Como se sabe a economia segue a política e não vice-versa. A escolha política de Dilma está feita : o aumento deve ser gradual e o período deste aumento é que será a variável a ser controlada. Até quando ? Eis uma aposta que não vale a pena ser feita. Inflação se controla com aumento de desemprego e será a tolerância a ele o fator a definir o tempo aceitável do ponto de vista eleitoral. Não devemos esquecer o câmbio Sempre se debate o lugar certo das taxas cambiais. Um longo e, até agora, inconcluso debate acadêmico. Se a dúvida não tem solução até hoje, sabe-se ao menos que países periféricos ao sistema econômico mundial sempre se desenvolveram à sombra de moedas desvalorizadas no longo prazo. Assim foi com a América Latina nos anos 1960 e 1970, e o Japão pós-guerra até o final da década de 1960. O mesmo vale, mais recentemente, para a China. A história mostra que a industrialização e a mudança de padrões tecnológicos não ocorrem num contexto de moeda valorizada. A "mão invisível do mercado" na realidade não funcionou para não dizer que os países que se sujeitam às liberdades cambiais usualmente sucumbem em termos de desenvolvimento. O Brasil terá de fazer uma escolha : ou tenta desvalorizar o câmbio ou viverá espasmos de crescimento industrial. A inflação no curto prazo indica que nada será feito logo. Assim, a desindustrialização prosseguirá. China e a situação dos mercados O governo central chinês está fazendo valer a sua previsão e o país está reduzindo a atividade econômica e ajustando as variáveis fiscais, de crédito e de inflação. Se haverá sucesso na empreitada do governo comunista de Pequim o tempo dirá. Uma coisa é certa : depois da forte alta das ações nos principais mercados dos países centrais do capitalismo, especialmente os EUA, o ritmo de alta está cedendo e é possível que um período de "realização de lucros" venha a prevalecer nas próximas semanas. Pode ser um ajuste relevante, no exato momento em que o Brasil acumula um bom número de variáveis e notícias negativas. Há tempo de se plantar e este tempo vindouro parece o tempo de colheita. Especialmente para o mercado acionário. A tomatada de José Dirceu O ex-ministro, ex-deputado e ex-líder estudantil José Dirceu sempre foi um político sagaz e audaz, duas qualidades que ninguém nega a ele. Porém, talvez em função de sua condenação pelo STF no processo do mensalão e a possibilidade cada vez mais próxima de passar um período atrás das grades, parecem tê-lo feito perder essa sagacidade. A audácia continua, porém a perspicácia, o faro, parecem prejudicados. Só isto, o desespero de ver chegada a hora de vestir a roupa de presidiário explica algumas de suas declarações semana passada ao jornal "Folha de S.Paulo", especialmente a revelação de que foi procurado pelo ministro Fux para pedir apoio à candidatura dele a uma vaga no Supremo com a promessa de que votaria pela absolvição do petista no processo do mensalão. A tomatada de José Dirceu - II Com algumas poucas frases Dirceu : 1. Complicou a imagem de todos os ministros do Supremo escolhidos por Lula, depois da instalação das investigações do mensalão, deixando dúvidas se eles, assim como ele diz de Fux, não foram escolhidos pelo critério da absolvição. 2. Complicou a imagem da presidente Dilma (e também do ex-presidente Lula) pela mesma suspeita. 3. Complicou a escolha do próximo ministro do Supremo, substituto de Ayres Brito, prestes a ser divulgado. Por todas essas e mais algumas outras, está se dizendo em Brasília que não foram das mais aplaudidas no Palácio do Planalto as declarações do Dirceu. Popularmente diz-se que o ex-ministro pisou no tomatal inteiro. Quem tem medo ? É inegável que alguns excessos são cometidos aqui e acolá, mas a realidade é que o trabalho do MP, a partir dos poderes conquistados a partir da CF/88, é um dos grandes avanços institucionais do Brasil em décadas. Ajuda a tornar o Brasil mais limpo e a administração pública mais republicana. O balanço de lucros e perdas é extremamente favorável à sociedade, objeto primeiro e último da gestão da coisa pública. Há, no entanto, um crescente movimento nos meios políticos, burocráticos e mesmo de categorias profissionais - alguns mais abertos, outros mais envergonhados - para conter o trabalho dos procuradores. É o caso de se perguntar, sem ofender : Quem tem medo do MP ? Dá para explicar ? Causa surpresa o empenho do PMDB, com envolvimento direto do vice-presidente da República, Michel Temer, para a aprovação da nova lei dos portos apresentada ao Congresso pela presidente Dilma em forma de MP. Os peemedebistas estão mais empenhados até que o próprio partido da presidente : parte do PT tem alguma dificuldade no caso, por causa da posição contrária dos trabalhadores no cais. Uma das razões para o gosto peemedebista, segundo uma fonte de Brasília, pode ser o fato de há muitos anos o partido dividir com alguns aliados o comando do porto de Santos, em SP. Reserva de mercado Depois de ajudarem o ex-prefeito de SP, Gilberto Kassab, a fundar seu PSD e a conseguir ficar com o fundo partidário e o tempo no horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão proporcionalmente ao número de deputados que angariou em outros partidos, o governo, todas as legendas, com empenho maior do PT, do PMDB e do PSD, armam-se para impedir que os novos partidos que surgirem daqui para a frente possam ter a mesma vantagem. Semana passada, por pouco uma proposta para fechar esta "mamata" aos novos não passou em primeira votação no Congresso. Foi, aliás, uma sessão vexatória a que pretendia aprovar o regime de urgência para o projeto, com grandes trocas de "elogios" e "amabilidades" segundo registrou em seu blog o jornalista Josias de Sousa, e que acabou não dando em nada. Reserva de mercado II A turma promete voltar ao ataque esta semana, porque eles têm pressa em barrar outros concorrentes que estão se preparando para dividir o mercado do tempo na televisão e o do fundo partidário : (1) o Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, (2) o Solidariedade, de Paulinho da Força Sindical, e (3) o partido resultado da fusão do PPS com o PMN. Essas novas legendas, pelas normas vigentes, como aconteceu com o PSD, permitem que parlamentares troquem de partido sem perda de mandato. O que está assanhando muito marmanjo no Congresso e nos partidos e, segundo alguns, abrindo mais uma temporada de "negócios" e chantagens. Há partidos com o PSDB, o próprio PSD, o PMDB e até o DEM com medo de perder deputados e senadores para os novos três parceiros. A alegação para se tentar esta "reserva de mercado" é evitar a proliferação de partidos no Brasil. Atualmente são 30, realmente algo incomum. Mas por que não pensaram nisso antes ? E por que não criar regras para a diminuição do número já absurdo de hoje ? Radar NA REAL 12/04/13   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3067 estável baixa - REAL 1,9837 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 55.053,30 estável queda estável - S&P 500 1.584,85 estável/queda estável/alta - NASDAQ 3.344,94 estável/queda estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 9 de abril de 2013

Política e Economia NA REAL n° 240

Inapetência e ativismo, as "saúvas" do Brasil Em "Macunaíma", o retrato de um brasileiro sem nenhum caráter, Mário de Andrade avisava que "ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil". A saúva, nome de várias espécies de formiga, era uma praga, hoje controlada, que costumava dizimar plantações. O escritor paulista, porém, utilizou a formiga como uma alegoria para condenar a politicalha existente na ocasião na vida nacional. Aliás, como antes e como sempre. Inapetência e ativismo, as "saúvas" do Brasil - II A vida burocrática brasileira, também tem as suas saúvas - aliás, muitas - dentre as quais a inapetência gerencial e o ativismo político-ideológico. Essas duas pragas, que grassam na esfera pública, principalmente nos gramados e no concreto de Oscar Niemeyer, viraram, com a politicalha, uma séria ameaça ao desenvolvimento do país. Nada exemplifica melhor o poder destrutivo dessas pragas que o programa de concessões de obras e serviços de infraestrutura do governo Federal. Já lá se vão mais de oito meses que a presidente Dilma lançou, com toda a pompa e circunstância que é capaz de produzir "o ministro sem pasta para assuntos de propaganda" [o marqueteiro João Santana], um pacote de concessões nas áreas de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Avaliado no total em mais de três centenas de bilhões de reais, era, segundo a propaganda oficial, o fim dos apagões logísticos que ameaçam sedar a economia, alguns bem visíveis neste momento exato em que mais uma safra nacional recorde começa a sair do campo. Inapetência e ativismo, "as saúvas" do Brasil - III Assim como os caminhões agora parados na beira das estradas nas portas dos portos, nada andou de lá para cá. Um caso gritante é da concessão de trechos da BR-040 (ligação Brasília-Rio de Janeiro, passando por Minas Gerais) e da BR-101, uma das estradas de integração nacional. O leilão foi suspenso às vésperas de sua realização e não tem data para acontecer. Também não há data certa para outros leilões na área de ferrovia e nas outras. As razões para tanta demora podem ser resumidas em duas : 1. A proverbial e conhecida dificuldade do setor público brasileiro para executar suas obrigações. As próprias concessões agora previstas nasceram depois que o Brasil finalmente admitiu que, além de não ter dinheiro suficiente para bancar os projetos, tem insuficiente capacidade de execução para levá-los adiante. Mesmo assim, não consegue soltar as amarras, tal a quantidade de órgãos indiretamente envolvidos no processo - há os ministérios respectivos, a Empresa de Planejamento Logístico com mais poder que alguns ministros, o BNDES com seus palpites e o ministério da Fazenda. Sem contar que nada sai do lugar sem o "aprovado" da presidente Dilma, cada vez com a cabeça dividida entre gestão e eleição. 2. O ativismo político e econômico do governo - e certa vergonha de "privatizar" - que o levam a tentar manter as concessões sob seu controle direto ou indireto e, por isso, a criar regras que acabaram afugentando possíveis investidores nacionais e estrangeiros. Inapetência e ativismo, "as saúvas" do Brasil IV O leilão das BRs 040 e 101 foi adiado porque não apareceram interessados de peso. Desde que anunciou o pacote, em agosto, já foram anunciadas várias mudanças nos editais, para contornar as resistências dos investidores. Um dia a notícia vem do presidente da EPL, Bernardo Figueiredo, no outro do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, no seguinte do ministro da Fazenda, Guido Mantega - e, de vez em quando, até de algum outro ministro. Não há um modelo fechado e, nesta altura, dificilmente qualquer obra nessas áreas será iniciada em 2013. Mais um ano perdido de investimentos. Para atacar as saúvas biológicas, a receita é formicida. Que tipo de formicida pode-se aplicar para matar as saúvas da burocracia ? Banco Central em transe Desde que seu presidente do BC, Alexandre Tombini, foi escalado para corrigir o barulho provocado pelas declarações meio destrambelhadas da presidente Dilma na África do Sul a respeito de inflação, crescimento do PIB, juros e mais outros assuntos, o BC parece tomado de um transe - reafirmar sua condição de autoridade monetária independente de condicionantes políticas. Tombini, em mais de uma ocasião, fez juras de amor à política de combate à inflação sem concessões - se necessário com elevação dos juros, tido como um dos tabus eleitorais de Dilma. O Boletim Trimestral de Inflação, além de contrariar as previsões "manteguianas", também faz menções críticas à algumas políticas fazendárias. Uma delas passou despercebida, incluída num anexo, desvendada pelo jornal "Valor Econômico" : o BC passou a considerar um novo cálculo para o superávit/déficit primário das contas federais, expurgando em boa parte as mágicas fiscais dos últimos anos que garantiram no papel um superávit na contabilidade oficial que não aconteceu no mundo.A primeira leitura desses movimentos é que "os incômodos" do BC com a inflação são maiores do que transparece a vã filosofia brasiliense. A outra é a de que Tombini e sua turma precisam dar uma satisfação, ainda que pro forma aos agentes econômicos de que não apenas está vivo como também ativo. A especulação é de que a resposta viria com um aumento de 0,25 ponto percentual na Selic na semana que vem. Inflação : o curto prazo Não é apenas de tomates que a elevada inflação vive. O que se vê é um sistemático e generalizado processo de aumento de preços. Já comentamos nesta coluna (na semana passada) que o problema não é apenas o fato da inflação ser 6% ou 6,5%, mas o conjunto das informações (alta generalizada de preços, câmbio valorizado, baixo crescimento, etc.). De fato, ponderados a política e a economia, a equação macro e microeconômica não fecha. Afora estes aspectos estruturais, o IPCA a ser divulgado amanhã vai "furar" a banda superior da meta de inflação. Um mau sinal que apenas mostrará que a água está subindo e o BC persiste de mãos atadas, seja pela presidente, seja pela conjuntura - o PIB que capenga não justificaria uma taxa de juros mais elevada. O mais estranho é a passividade da classe política, em geral, e da oposição em particular. A crise é emergente, mas também é imanente - a politicagem não pode ser distinguida da fragilidade da política econômica. Tudo deve continuar na mesma toada enquanto o desemprego não mostre seus dentes. O que pode demorar até o eleitor depositar o seu voto e descobrir que foi traído pelas aparências. Recordando Lula 2002 "Mas é preciso insistir : só a volta do crescimento pode levar o país a contar com um equilíbrio fiscal consistente e duradouro. A estabilidade, o controle das contas públicas e da inflação são hoje um patrimônio de todos os brasileiros". (Carta aos Brasileiros, 22 de junho de 2002) Enquanto isso, nos EUA... Todos os mais importantes sinais vitais da economia dos EUA são positivos, exceto o desemprego que deve permanecer elevado (acima de 7%), talvez por mais alguns anos. De outro lado, o crédito cresce, o país se reindustrializa (em novas bases), a produtividade cresce, e o consumo e produção, pouco a pouco, começam a dar sinais de vigor. Logicamente, o endividamento público (e privado) é elevado, mas o dólar, tantas vezes "enterrado" como sendo uma moeda decadente, permanece forte e o mundo financia docemente a América. Enquanto isso, Barack Obama estimula sua tropa palaciana a debater alternativas para a política econômica. Estuda-se desde o aprofundamento do quantitative easing (política monetária frouxíssima) até o estabelecimento de novas metas para o Federal Reserve (meta de PIB nominal ao invés de meta de inflação e crescimento). O mais importante é que o mundo assiste a evolução dos fatos nos EUA com maior otimismo, enquanto no campo interno os consumidores voltam às lojas e os investidores à bolsa de valores. Algo além de aviões de carreira Em menos de quatro dias, a presidente Dilma bateu continência duas vezes para o ex-presidente Lula. Na quinta-feira, ela veio a SP, para uma conversa de cerca de 7 horas - tempo suficiente para se fazer um bom resumo da Bíblia - com seu mentor, compartilhada em parte com o presidente do PT, Rui Falcão, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e o ex-ministro e o "consultor privado" Antonio Palocci. Uma reunião do apostolado petista, como se vê. No sábado, voltou à capital paulista para um jantar, na churrascaria Rodeio, ex-reduto tucano, em comemoração ao aniversário da ex-primeira dama, Marisa Letícia, na presença de uma parte da elite petista paulista. Os compromissos eram privados, mas Dilma cortou os ares entre Brasília e SP nos jatos oficiais. As reverências à Lula indicam que no ar da política também há algo a preocupar mais do que o normal dos "aviões de carreira". Podem apostar numa cesta que inclui inflação, crescimento econômico e as eleições presidenciais. O fantasma Eduardo Campos e o crescimento das críticas dele e de Aécio Neves ao governo estão fazendo caraminholas na cabeça do mundo oficial. Anotem : vem aí mais aperto contra os adversários e mais bondades na economia. Aos amigos tudo... ...aos inimigos o rigor da lei. Este é um lema político-administrativo atribuído a Getúlio Vargas no Brasil, mas que por essas plagas tupiniquins não haja governante que não tenha abraçado. E seu peso agora começará a cair sobre a cabeça do governador de PE, Eduardo Campos. Plumagens em alvoroço Muitas penas tucanas começaram a voar depois que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em duro recado durante um encontro promovido pelo PSDB paulista, manifestou a sua inconformidade com as divisões de seu partido. Plumas devem ter voado principalmente no território paulista do tucanato, embora o aviso de FHC tivesse destino generalizado. Assim, não parece ter sido à toa a entrevista do presidente nacional do PSDB Sérgio Guerra, pernambucano ligado também ao governador Eduardo Campos, ao jornal "O Estado de Minas" de segunda-feira, elogiando Aécio Neves e até traçando um roteiro básico para sua campanha. Desconfiada, a turma mineira achava que Guerra poderia estar com um pé em dois barcos. Será ? Se depender das entrevistas em jornais - duas exclusivas apenas na sexta-feira - de matérias positivas e notinhas em diversos veículos e das poses de papagaio de pirata com frequência ao lado da presidente Dilma não há menor dúvida de que o ministro da Educação, Aloizio Mercadante (também conhecido por alguns, não se sabe a razão, como o "José Serra do PT") já é o candidato petista ao governo de SP. Não se sabe ainda se isto foi combinado certinho com Marta Suplicy, Alexandre Padilha, José Eduardo Cardozo, Luiz Marinho e, principalmente, com o ex-presidente Lula. De todo forma, se confirmado, é o melhor presente que Geraldo Alckmin gostaria de receber para 2014. Quantos votos eles têm mesmo ? José Batista Junior, dono da Friboi, da produtora de celulose Eldorado e do Banco Original (dirigido por Henrique Meirelles), bem como um dos fregueses mais importantes do BNDES, estava cobiçado pelo PSB de Eduardo Campos para candidato do partido ao governo de GO e dar um palanque recheado ao governador de PE no Estado. Por razões que os interesses empresariais explicam, acabou fisgado pelo PMDB do vice-presidente e poeta Michel Temer e, desta forma, vai engordar o palanque de Dilma, ou como candidato à sucessão de Marconi Perillo defendendo as cores do peemedebismo ou numa vice com o PT. Em MG, Josué Gomes da Silva, filho do ex-vice presidente José Alencar e principal acionista da Coteminas, uma das maiores indústrias têxteis do Brasil, é disputado pelo PT e pelo PMDB para a sucessão ao governo mineiro, ou como candidato titular ao Palácio da Liberdade ou como vice numa chapa encabeçada pelo ministro petista Fernando Pimentel. O que tem em comum o Junior e o Josué além de serem neófitos em política e bem sucedidos empresários ? O risco de serem seduzidos para rechear arcas dos oposicionistas. Em casos assim, o que menos importa são os votos que eles podem carregar para as urnas de seus partidos-hospedeiros. Thatcher, ideologia e realidade Pode-se falar tudo da primeira-ministra do Reino Unido Margaret Thatcher, menos o fato de que a Iron Lady não era uma política definida ideologicamente. Verdade que vivíamos a denominada Guerra Fria, mas a definição da cepa política de um homem público ainda tem seu valor, muito embora seja coisa rara no globo. No Brasil, ultrapassa-se o limite entre esquerda e direita, liberal e conservador, socialista e capitalista, numa velocidade para além do jornalista Clark Kent quando sair das cabines de telefone. A identidade dos empresários brasileiros com os ideais do PT e sua aliança mostram que o ex-partido operário está ocupando não apenas espaços políticos, mas também contribuindo para que espaços econômicos sejam ocupados com galhardia pelos capitalistas, no passado, "nefastos" para o petismo. Seria difícil explicar para a Dama de Ferro a conjuntura política brasileira. Dirceu e a Rede Globo Comentário no blog do ex-ministro José Dirceu : "Em editorial, o jornal carioca apoia uma outra "regulação" e, a pretexto de defender a cultura nacional, visa a impedir a concorrência com grandes sites e teles estrangeiras. O Globo ainda insiste em demonizar a proposta de uma verdadeira regulação, alegando desrespeito à princípios constitucionais. Mas é a própria Constituição que trata da necessidade da regulação." Não são poucas as pressões que o ministro das Telecomunicações Paulo Bernardo (e marido de Gleise Hoffmann) vem sofrendo de dentro do PT para regular a mídia no Brasil. Resta saber o que pensa a presidente sobre o tema. Ela que é próxima do casal. Jabuti não sobe em árvore Marco Feliciano, o deputado-pastor, é mesmo uma excrescência, uma aberração, na presidência na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Porém, ele não chegou lá sozinho. Seu partido, o PSC, nem número de deputados tem para ocupar a presidência de uma comissão permanente, segundo a praxe da casa. O lugar, tradicionalmente, é do PT, que por razões da política dos políticos, abriu mão dele. Ninguém no Congresso, em sã consciência, pode negar que sabia das posições de Feliciano. Ele nunca negou isto e tem todo o direito de ter as posições que tem. Ele foi indicado por seu partido e votado pelos membros da Comissão, de diversas legendas. Não subiu sozinho nesta árvore. E ninguém se deu conta da aberração antes das críticas vindas de fora ? As reações do Congresso e dos partidos agora são pura hipocrisia, daquelas que consagraram grandes escritores... Radar NA REAL 05/04/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3003 estável baixa - REAL 1,9888 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.873,12 estável queda estável - S&P 500 1.553,45 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.202,74 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 2 de abril de 2013

Política e Economia NA REAL n° 239

É a eleição, estúpido - I Se havia alguma dúvida de que a inflação preocupa mais do que o governo dá a entender, ela foi dissipada com a decisão oficial de não acabar mais com a isenção do IPI para os automóveis neste ano. Pelo cronograma estabelecido no fim de 2012, o IPI dos automóveis e caminhões voltaria ao normal em três etapas : janeiro, abril e meados de 2013. Só a de janeiro foi implantada. No meio do feriado da Semana Santa, com direito a entrevista exclusiva no "JN", o ministro da Fazenda, juntamente com a divulgação de uma nota oficial, anunciou que os novos reajustes estavam suspensos. O inusitado do anúncio, em hora e dia poucos propícios para o marketing presidencial - tanto que a primeira edição dos jornais de domingo nem traziam a informação - mostra que foi uma decisão de última hora. É a eleição, estúpido - II O mote foi outro : a inflação está fazendo mais que simples "cócegas" como Mantega e sua equipe apregoam. Além do mais, dois eventos registrados na semana forçaram o governo a dar uma satisfação : primeiro foi a entrevista da presidente Dilma, quando ela deu mais do que a entender que seu governo não sacrificará o crescimento econômico pela inflação. A reação dos agentes econômicos - não apenas do chamado mercado - não foi nada boa, e Dilma organizou um "tour de force" governamental para tentar desdizer o que havia dito, com todo o alfabeto e seu estilo incisivo e cara de quem não admite contestações. O dito ficou dito porque até o labrador herdado de José Dirceu, com o qual costuma caminhar aos domingos, sabe que é exatamente isto que Dilma pensa. O que o governo persegue em primeiro lugar é um "PIBão", nem que seja de meros 3% em 2013. É a eleição, estúpido - III A segunda razão foi o Relatório Trimestral de Inflação do BC divulgado nas vésperas da Paixão, convalidando praticamente a expectativa de aumento dos preços dos analistas de mercado ouvidos para o Boletim Focus, situando-o em 5,7% em 2013 e indicando que durante o governo Dilma o centro da meta formal de 4,5% não será alcançado. O governo precisava dar um rápido sinal de que vai continuar segurando a inflação, na marra, mais na base de tapas (improvisos e medidas pontuais) do que de beijos (medidas estruturais) para evitar ruídos. Outras medidas nesse teor virão, sempre atacando mais os índices que a inflação. Não será nenhuma surpresa se nos próximos dias for prorrogada também a redução do IPI dos eletrodomésticos da linha branca - fogões, geladeiras, máquinas de lavar... No entanto, a desconfiança não deve ser rompida, pois como já está evidente e ficou claro na excelente entrevista exclusiva do ex-presidente Lula ao jornal "Valor Econômico" quarta-feira passada, vale qualquer sacrifício para reeleger Dilma. Diria o ministro sem pasta, marqueteiro da presidente e do PT : "É a eleição, estúpido...". Inflação em novo nível Na ata da última reunião do Copom, o BC informou que estava atento ao novo movimento dos preços uma vez que os aumentos de produtos do IPCA estão cada vez mais disseminados. A dúvida do BC, então, era se um movimento sazonal ou se a inflação havia mudado de "patamar". No Boletim Trimestral da Inflação, o primeiro deste ano, o BC praticamente sanciona esta mudança de patamar, ao admitir que a inflação este ano ficará em 5,7%, mais para o teto do que para o centro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. Sem contar que não promete preços comportados também para 2014. Não é à toa, portanto, que imediatamente a essas revelações e em seguida à polêmica e explosiva entrevista de Dilma, surgissem os movimentos para alterações na meta inflacionária, elevando os índices hoje de 4,5% com tolerância de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo. Puxou o bloco o professor e economista Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos principais interlocutores de Dilma para assuntos econômicos. Os jornais desta semana certamente trarão outros artigos na mesma linha ou, no mínimo, explicando, com grandes elucubrações teóricas, que a inflação está longe de se rebelar e que um nível de preços mais elevados nesta altura não faz mal a ninguém, pois garante o dinamismo do PIB. O mesmo que Dilma disse que não disse na África do Sul. Quem esperar lerá essas preciosidades. A inflação não é apenas alta. É uma cilada. Voltemos a uma definição básica : inflação não é o fenômeno de aumento de preços. Trata-se do aumento constante de preços. Ou seja, uma alta de preços que se propaga no período seguinte e assim por diante. Daí o caráter inercial da inflação. Neste sentido estrito e técnico, não resta dúvida de que a inflação no Brasil é "perigosa", mesmo que relativamente baixa - reconheça-se que 6%per se não é algo intolerável. Sendo a inflação atual de caráter inercial, há de se quebrar tal inércia. Pode-se discutir muita coisa em economia, mas há largo consenso de que a melhor política num cenário como esse é aumentar a taxa de juros. Contudo, há que se considerar outra realidade : a atividade econômica no Brasil é débil e o mercado de trabalho está apertado, em pleno emprego. Isso tudo junto faz com que a política monetária do BC não seja tão fácil de ser executada. O que fazer ? Ora, a escolha é de natureza política, de escolha de prioridades. É aí que o governo como um todo se enrola. Para crescer as políticas de estímulo ao investimento deveriam estar sendo eficientes. O que se vê é que as estratégias governamentais não passam no teste fundamental do tema : confiança e competência técnica. No tema do combate à inflação a estratégia do governo oscila entre as bravatas da presidente e do ministro da Fazenda e a adoção de medidas paliativas que distorcem ainda mais o cenário, i.e. desoneração setorial. No meio disso tudo está o frágil BC, vítima da cilada do governo e na qual docemente cai. Câmbio, como no passado Já não são apenas meses, mas anos que se usa a taxa de câmbio para combater a inflação. Alija-se uma variável estrutural para servir as benesses conjunturais. Como no governo de FHC, o governo brinca com a taxa de câmbio com a autoridade de quem não sabe das coisas. Se soubesse veria que a desindustrialização do país é gritante : as empresas produzem com baixo conteúdo tecnológico e competem com uma taxa de câmbio desfavorável. Argentina : até quando esperar Inflação alta e em alta, câmbio desalinhado, medidas protecionistas por todos os lados, política fiscal inconsistente e assim vai. É a Argentina deste dias (e de sempre). O problema é que o Brasil é sócio do Mercosul e a parceira do sul está mais para algoz do que vítima nas relações bilaterais com o Brasil. A paciência de Dilma parece bem calibrada em relação a sua colega sempre enlutada. O que ocorre, contudo, é que o contencioso com a Argentina está enorme. O Itamaraty já mandou o recado para o Planalto, e este permanece mouco e mudo. Superávit primário, o próximo passo Não será surpresa também, depois da divulgação de que as contas públicas tiveram em fevereiro um déficit de mais de R$ 3 bi, se emergir nos próximos dias um alarido oficioso defendendo a revisão também da meta de superávit primário deste ano, estabelecida para todo o setor público - governo Federal, governos estaduais e governos municipais - em R$ 155,9 bi, cerca de 3,1%. O argumento será o de que não é possível exigir tamanho sacrifício das contas públicas para pagar juros, quando a medida de adimplência do setor estatal, a relação dívida/PIB está numa situação razoável, e o país implora por investimentos em infraestrutura para evitar um apagão geral no país. A amostra dos caminhões parados à beira dos portos dá calafrios em Brasília. Aliás, já gera prejuízos, com o cancelamento de uma grande compra de soja brasileira por uma empresa chinesa há dez dias, por atraso na entrega da mercadoria. A justificativa é plausível. Só é totalmente defensável, contudo, se o governo demonstrar capacidade de gastar mesmo em investimentos os recursos que ficarem a sua disposição. Nos últimos três anos, frise-se, ele não executou boa parte do dinheiro alocado no Orçamento para investimentos. Este ano está indo pelo mesmo caminho. Já os gastos correntes, com folha de salários, manutenção da máquina, viagens, publicidade, este são infalíveis - são plenamente executados. E crescem sempre. Um curso de dicção para Dilma A presidente Dilma está necessitando passar, urgentemente, por um curso de oratória com seu mentor político, o ex-presidente Lula. Ela já pegou, com o auxílio do ministro plenipotenciário da propaganda, João Santana, alguns cacoetes para encantar as plateias mais populares. Está, por assim dizer, com o verbo mais solto. Falta, porém, aprender a não dizer o que não quer dizer - como nas opiniões sobre política econômica na África do Sul que tanto barulho e confusão causaram aqui dentro. Lula não teria dito nada que tivesse de desdizer, mesmo que algumas declarações suas possam parecer estranhas ou fora de propósito. A entrevista para o "Valor", citada acima, é um modelo. Lula distribui recados, com aparente simpatia e tom de conselhos, para todos os lados - o PT, os aliados, Eduardo Campos e até para a presidente Dilma. E mais : reafirma que ele e a eleição presidencial têm tudo a ver. Que dela não se afastará jamais. Para bons discípulos, fica o recado : nada será como ele não quiser na seara oficial. Lula, nada além das eleições Há quem considere o métier do ex-presidente Lula o de estadista, um daqueles que se "preocupa com as próximas gerações e não com as próximas eleições", na palavra de Churchill. O ex-sindicalista, contudo, continua atuando como se o país fosse um clube social no qual para ser candidato a sua presidência tem de sentar com os diversos grupelhos para auferir apoio raso e, é claro, tempo de TV e rádio. A natureza de Lula provavelmente não mudou desde os tempos das greves do final dos anos de 1970 e início dos de 1980. O seu aggiornamento ideológico é muito propalado, mas devia ser apenas uma casquinha frente ao verdadeiro talento do ex-presidente para a sedução de "pequenos napoleões" perdidos nas fileiras de partidos políticos, do Partido Comunista do Brasil (vejam que piada !) até o PP do sempre ativo Paulo Maluf (este procurado pela Interpol). Se nos clubes sociais temos "o grupo da boccia" e a "turma da sauna", na política brasileira temos outras turmas : a da Petrobras, dos Transportes, da Pesca, das Minas e Energia, etc. - são 39 ministérios. A grana, diga-se, é do povo, mas o acordo é de Lula e dos partidos. A hora da chantagem Dilma já está pagando o amargo preço de ter precipitado com tanta antecipação a campanha eleitoral de 2014. A fatura maior, como era mais do que previsível, não vem da oposição oficial do PSDB, do DEM e do PPS, nem da oposição oficiosa do governador Eduardo Campos, do PSB, mas de seus próprios aliados. A temporada de "chantagem" está oficialmente instalada em Brasília, e as faturas partidárias estão ficando cada vez mais salgadas. O PDT de Carlos Lupi retomou o ministério do Trabalho, porém mantém uma "amizade colorida" com Eduardo Campos e já avisou que noivado oficial, com aliança e tudo mais, somente ano que vem. O PR não deixa por menos. O PTB também está com a fatura pronta : um ministério é o limite mínimo. Até o PSC e os evangélicos entraram na reza : se o PT e o governo não protegerem o direito humano do pastor deputado Marco Feliciano de continuar presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, eles vão orar em outra freguesia presidencial. E o PMDB... Bem, o PMDB é o PMDB. Cuidado, perigo à vista Com o aval entusiasmado de Lula, para quem, agora, o financiamento privado de campanha deveria ser considerado crime "inafiançável" (um aval ao Supremo no caso do mensalão ?), vai à votação na Câmara, na primeira quinzena do mês, um projeto de reforma política fatiado, com alguns pontos considerados urgentes pelos partidos. Com outros avais no Congresso, até da oposição, traz o de sempre : financiamento público de campanha e voto em lista. É este o perigo : desta vez parece que pode ir. Chipre e Coréia do Norte Convenhamos : o bochechudo ditador da Coréia do Norte é um perigo e tanto. Aquele fedelho de menos de 30 anos herdou um país de seu pai também ditador e fica brincando de chamar a atenção do mundo com armas atômicas. Até a China, país sempre aderente aquele país comunista, está tomando certas preocupações em relação ao adolescente que teima em fazer política externa como quem joga vídeo jogo. Chipre, detentor de um PIB equivalente ao da próspera e bela cidade de Campinas, não é causa de medo verdadeiro a ninguém. O pessoal do mercado fica chamando atenção para "o precedente aberto por Chipre" no confisco (ou na mordida ?) das contas bancárias. Uma piada e tanto. Afinal, naquele continente europeu a lista de confiscos é tão longa que não vale comentários. A questão mesmo é a turma da Rússia que ancorou seus recursos na bela ilha mediterrânea. Sabe-se disso, mas poucos realmente deixam de pautar o assunto como ele é. Quisera Deus, o bochechudo fedelho coreano fosse apenas o presidente de Chipre. Não poderia brincar com coisa séria... Brasil, da Copa e das Olimpíadas O RJ persiste dando provas de que o jeitinho brasileiro será, muito brevemente, convertido em jeitão. Afinal, o Rio joga o seu campeonato estadual de futebol sem estádio digno das tradições dos times fluminenses. Não fosse "apenas um detalhe" preocupa a situação da criminalidade, da mobilidade urbana, da rodoviária, do metropolitano, das vias esburacadas, da sujeira, etc. E o resto do Brasil assiste passivamente a tudo. O seu quintal não é diferente. Radar NA REAL 25/3/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,2856 estável baixa - REAL 2,0128 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.873,12 estável queda estável - S&P 500 1.551,99 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.235,30 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 26 de março de 2013

Política e Economia NA REAL n° 238

Dilma : popularidade, eleição e economia Com as três pesquisas divulgadas semana passada - uma sobre o governo dela e outras duas sobre as eleições de 2014 - a presidente Dilma, ainda em estado de graça papal, entrou também num nirvana eleitoral. A interpretação generalizada entre os especialistas é a de que, mantidas as atuais condições de temperatura e pressão econômica, a presidente pode preparar o modelito para a posse em mais um mandato de quatro anos a partir de 2015. Seria até um passeio na raia eleitoral, sem os adversários terem ao menos o direito a um segundo turno. Uma façanha que o PT ainda não alcançou : antes de chegar ao governo, Lula perdeu duas vezes para Fernando Henrique Cardoso logo de cara ; depois, Lula disputou o segundo turno contra José Serra (2002) e Geraldo Alckmin (2006) e Dilma Rousseff bateu-se duas vezes em 2010 contra Serra. Dilma : popularidade, eleição e economia - II A expectativa dos principais concorrentes hoje colocados na liça - Eduardo Campos, Aécio Neves e Marina Silva - é que a divisão de votos acabe levando a um segundo turno. Marina em 2010 evitou a vitória de Dilma na primeira rodada. Depois, resta a torcida de cada um deles para que seja ele o segundo colocado na primeira rodada. Do ponto de vista político, a estratégia de Dilma e do PT daqui para frente será apenas fechar o curral aliado para conter rebeliões de parceiros insatisfeitos - daí as concessões ministeriais e outras que virão em estatais e sem segundo escalão. Nessa linha, os partidos valem quanto pesa o tempo de cada um no horário eleitoral obrigatório no rádio e na televisão. Em outra ponta, cabe manter também o mais amplo possível os palanques regionais. O que pode exigir do PT sacrifícios em muitos Estados, cedendo a primazia das chapas aos governos estaduais e ao Senado. Fazer esta harmonia, lembrando aos petistas o princípio do "centralismo democrático", é a principal missão hoje do ex-presidente Lula. É a economia, estúpido Para Dilma, a missão principal ficou a de conduzir a economia sem muitas marolas, visando, fundamentalmente : 1. Não deixar o nível de emprego cair. 2. Não deixar cair a renda média real do trabalhador. E qualquer coisa será feita nesse sentido, com embasamento técnico ou artificialmente. Assim, por exemplo, o BC, apesar dos arroubos de seu presidente Alexandre Tombini de anunciar dia sim, outro também, que a autoridade monetária está pronta para combater a inflação, só terá "autorização" para aumentar a taxa básica de juros, a Selic, se os preços ameaçarem fugir demais do controle. O BC pode até aumentar a Selic em uma das suas duas próximas reuniões (no início de abril e no fim de maio), mas se o fizer será, segundo bons e insuspeitos analistas, em apenas 0,25. Um "efeito demonstração". Para não deixar que a inflação fure demais o centro da meta de 6,5%. (Nesta semana deve ser divulgado o Boletim Trimestral de Inflação quando o BC dará sua versão do andamento da economia no mundo e no Brasil). A política econômica continuará sendo conduzida com pacotes pontuais, ora para incentivar o consumo, ora para induzir os investimentos, ora para tentar segurar os preços. Já foram 15 pacotes neste sentido lançados pela presidente nesses seus 27 meses de governo. A confecção dos embrulhos ganhou mais velocidade recentemente. Pelo menos mais um virá esta semana. E a moeda ? Uma variável importante nesse jogo é o dólar. Semana passada ele voltou a estourar a barreira dos R$ 2,00, informalmente admitida no Ministério de Fazenda como seu "ponto de equilíbrio". Muito acima deste patamar bateria na inflação, muito abaixo prejudicaria mais do que ela está sendo prejudicada a indústria brasileira. O BC vai correr ou vai deixar o bicho pegar ? Espírito animal, espírito operacional De um empresário até simpático ao governo, porém com algum espírito crítico, o que fala a alguns de seus colegas, principalmente em entrevistas abertas ao público : "A presidente e cia têm apelado para o 'espírito animal' dos empresários no sentido de animar os investimentos no país. Nada mais correto. Porém, seria muito útil ela despertar também o 'espírito operacional do governo'. A fila de caminhões à beira dos cais é a maior prova de que o animal governista está adormecido em berço esplêndido". Dá para entender o silêncio público dos empresários quando se trata de falar do governo : Dilma não é de levar desaforo para casa. Saindo de forma constante O governo que não conte com a parceria da turma dos "investimentos em portfólio", aqueles que investem no mercado de capitais brasileiro. A grana está saindo das ações e outras securities. A direção é o norte, mais exatamente os EUA. Notável é a ação dos fundos hedge, aqueles que são mais ágeis para acompanhar e, sobretudo, fazer a tendência do mercado. O capital é covarde como se sabe. Ele é esperto também. Fenômeno mais amplo O Brasil é um dos líderes da queda de preços das ações dos mercados emergentes. Todavia, não é o único que cai. A queda é generalizada. Não à toa, neste ano, os mercados emergentes apresentaram o pior retorno desde 2008 e estão em patamares bem inferiores se comparados aos principais mercados acionários mundiais. Os emergentes estão perdendo dinheiro e charme. A hora é da América. Imobilidade na Copa Os projetos de mobilidade urbana para a Copa do Mundo caíram na real (sem trocadilhos). As obras estão indo, sem grande eficiência em termos de calendário de execução. Todavia, estão tropeçando em algo inicialmente nada esperado : não há como encomendar ônibus a tempo para acrescer as frotas urbanas de novas unidades para os torcedores e turistas. A indústria não tem como entregar as encomendas. Indústria a ver navios Já se sabe sobre a fragilidade imensa da indústria brasileira sem competitividade sistêmica e tecnológica. No âmbito da conjuntura a situação é igualmente perigosa. A crise dos portos pode prejudicar a produção industrial em termos de logística e atrapalhar o já débil crescimento dos últimos anos. O governo tem esta possibilidade no seu radar. Todavia, não sabe ao certo o que fazer. Chipre : tabus e realidade Perde-se um enorme tempo com análises do que ocorre em Chipre, país minúsculo e sem importância para a economia europeia. Chipre é a atual Islândia, país loteado por capitais, digamos, duvidosos, que operavam a partir dali por razões tributárias e da frouxa fiscalização. Ora, o país está quebrando as regras de bom comportamento no mercado porque ali há excelentes oliveiras (de boa qualidade) e não muito mais. Agora está devolvendo um pouco da conta para a tropa russa de capitais e alguns mais. Tal qual fez a Islândia. Nada mais.... A "crise cipriota" gera mais certezas do que incertezas : sobre o que se deve fazer e o que não se deve. "Mercados não tem memória" : Londres 1953 No dia 27 de fevereiro de 1953 foi assinado em Londres um acordo de salvação financeira que incluía (i) o perdão de 50% da dívida externa ; (ii) reescalonamento dos pagamentos para o longo prazo e (iii) ajuste dos pagamentos à capacidade do credor. O país apoiado chamava-se Alemanha Ocidental, que além do acordo acima teve abertas as fronteiras europeias, o que produziu um farto resultado comercial no curto prazo. Isso tudo apoiado pela Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal que não se importaram com o histórico do país (duas guerras mundiais, campos de concentração, destruição de suas economias, etc.). Naquela época, a Alemanha teve a glória de ter à frente da nação um estadista : Konrad Adenauer. Hoje, tem Angela Merkel, etc. e tal... As três faces de Eduardo Campos Depois naturalmente da presidente Dilma Rousseff, que não mais vai se apear do palanque eleitoral (ontem ela esteve em dois deles - Serra Talhada, no sertão de PE, e no Rio, em Petrópolis) o presidenciável mais ativo publicamente tem sido o governador pernambucano Eduardo Campos. O tucano Aécio Neves, além de vestir o figurino menos discreto de seu avô Tancredo Neves e dos políticos mineiros, está às voltas com o turbilhão tucano, nas figuras de José Serra e do PSDB paulista. Enquanto não aparar estas arestas, não poderá cair nas ruas. Marina também está totalmente envolvida na criação de seu partido, o Rede Sustentável, o qual precisa estar homologado na Justiça Eleitoral até fim de novembro para que possa sustentar a candidatura dele ao Palácio do Planalto. Caso contrário, ou não concorrerá ou precisará arranjar uma das legendas já existentes para poder disputar. Razões para a tranquilidade de Campos Campos passeia mais ou menos tranquilo sua candidatura por três razões : 1. Seu partido, apesar das resistências dos renitentes irmãos cearenses Ciro e Cid Gomes, está vendo na candidatura do pernambucano para aumentar sua representatividade nacional e seu poder de barganha Federal e nos Estados. Com o "carro-chefe Campos", o PSB acredita que em 2014 poderá eleger mais governadores do que tem hoje e aumentar suas bancadas na Câmara, no Senado e nas Assembleias Legislativas. Mesmo não ganhando o Palácio do Planalto, Campos e o PSB poderiam sair credenciados para 2018 com um excelente cacife. 2. Para os tucanos, a presença de Eduardo Campos na disputa seria a garantia já de um segundo turno, ainda mais se Marina Silva também confirmar sua presença. O PSDB acredita que ele tirará mais votos de Dilma do que de Aécio, principalmente no Nordeste. Além disso, mesmo governista no momento, o governador de PE será um candidato de oposição ao Palácio do Planalto, mais um do qual Dilma, o PT e os aliados precisarão se defender. 3. Para o PT, pelo menos nesta primeira fase, a presença de Campos no grid de largada presidencial é tida como útil porque, segundo os petistas, ele disputa uma faixa do eleitorado com Aécio Neves - e tiraria votos do tucano e até possíveis aliados do mineiro, com o PPS e os rebeldes do PMDB. Racha inclusive em Minas, onde o prefeito de BH, Marcio Lacerda, é do PSB, mas foi eleito com a ajuda de Aécio. E pode rachar até em SP, onde os socialistas se dão muito com o governador Geraldo Alckmin. Em principio, pelo menos, não é interesse de Lula e Dilma que Eduardo Campos saia da raia. Lá na frente se verá. A rifa de Lula A melhor prova disso é que Lula já está rifando a candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo do Rio, pelo PT. Ele prometeu ao PMDB fluminense e ao governador Sérgio Cabral que não pisará no Estado durante a eleição. Sinceridade É um jogo de feiticeiros. O risco é o feitiço se virar contra algum deles. Do senador e ministro da Pesca, Marcelo Crivella, analisando a política social do governo e os resultados da inclusão social trazida por ela : "A nossa presidenta e o presidente Lula fizeram a gente crescer porque apoiaram os pobres. E o que nos sustenta são dízimos e ofertas de pessoas simples e humildes". Sinceridade - II Seria até uma dádiva para a presidente Dilma Rousseff se as dificuldades que ela está tendo para nomear um novo ministro para a Secretaria de Assuntos Estratégicos tivesse alguma causa nobre. Não tem. Ela já foi recusada pelo PMDB e pelo PSD de Gilberto Kassab. Pelas razões que só a política brasileira explica, como bem demonstra a explicação do deputado do PMDB da Bahia : "É um pasta que não tem orçamento, não tem cargos, não tem órgãos importantes vinculados, não despacha com a presidente, não executa obras, só faz seminários. O partido que assumir nada terá para mostrar, (...) Pensar o futuro é importante ? Mas queremos é executar o presente. Essa coisa de ficar pensando só queima neurônios e não deixa marcas". É realmente um fato inédito no Brasil partidos políticos recusarem ministérios. Se até eles reconhecem a inutilidade da pasta, o que a presidente está esperando para trancar suas portas ? Insinceridade ? Do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista à revista "Época" : "De tudo que ouço do Serra, ele diz que não tem essa pretensão [de candidatar-se mais uma vez à presidência da República]. Nem mesmo de ser presidente do partido. Tenho de acreditar no que ele me diz. O candidato do PSDB será apoiado pelo PSDB de São Paulo. Não tem muita alternativa. É especulação [a hipótese de deixar o PSDB]. Ele nunca me disse isso". Radar NA REAL 22/3/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,2856 estável baixa - REAL 2,0128 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 54.873,12 estável queda estável - S&P 500 1.551,99 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.235,30 estável/alta estável/alta                       (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável
terça-feira, 19 de março de 2013

Política & Economia NA REAL n° 237

A lembrança do México No início dos anos 90, quando se iniciou o ciclo de enorme valorização das ações ao redor do globo, o país mais "charmoso" para a comunidade financeira internacional era o México. País pobre, comandado por uma "elite bem formada", era lembrado por ser país vizinho da maior economia mundial e por estar construindo um acordo de livre comércio poderoso, o que veio a ser chamado de ALCA - Acordo de Livre Comércio das Américas (1994). O país da revolução de 1910, liderada por Emiliano Zapata, tornava-se aos olhos do "mercado" o país com o futuro mais promissor dentre os pobres que se tornavam emergentes. Além disso, contava-se com as imensas reservas petrolíferas que possibilitaram que o país se tornasse o sexto maior produtor mundial. Depois veio uma crise de dívida que foi superada com o apoio norte-americano (1995). De lá para cá, a despeito dos imensos ajustes macroeconômicos, o país apresentou um crescimento de pouco menos de 4% , mesmo que com riscos baixos - tem uma relação dívida/PIB ao redor de 30% e inflação controlada, por exemplo. A lembrança do México - II Todavia, atualmente o México está longe de ser o destaque dentre os emergentes. Ao contrário, as profecias tropeçaram no crescimento da China, país autoritário politicamente, o qual desprezou (e ainda despreza) muitas das "regras" prezadas pelo mercado (controla o câmbio e os juros, bem como regula um pouco o transparente mercado financeiro, para citar apenas dois aspectos). Além disso, faz a maior inclusão social de todos os tempos no globo, enquanto o México persiste em uma das rendas mais desiguais do planeta e um subdesenvolvimento social gritante. O México é rico em matérias-primas, mas frágil em adicionar tecnologia à sua produção doméstica e às exportações. Com efeito, as previsões dos analistas de então sinalizaram um futuro mexicano inconsistente com os seus reais fundamentos, sobretudo em relação à classe política daquele país. De outro lado, quando "descobriram" a China, o país já conquistava o mundo com sua agressividade. O México foi apenas um ícone, distante do mundo real. A China é uma realidade concreta, um risco considerável e um líder do mundo emergente. A bola de cristal estava errada. E o Brasil ? Seria o Brasil a profecia de hoje, equivalente a do México dos anos 1990 ? Muito se fala no mercado, a sua já famosa "bola de cristal", sobre as perspectivas brasileiras nos próximos anos. O que se vê, contudo, é um país limitado nas reformas estruturais, mergulhado na baixa política, com um discurso social e econômico anacrônico, mesmo que com os tais "fundamentos" de curto prazo sem maiores riscos. Vê-se um país com educação sofrível, sem competitividade industrial, com impostos elevadíssimos, juros estratosféricos e uma democracia corrompida por um sistema partidário parasitário ao poder central e com base social irrefletida nas instâncias superiores. Não se deseja um sistema chinês por estes cantos, é certo. Mas, qual seria o "estado da arte" de nossa própria criação política, social e econômica ? Se for o estado atual, estamos caminhando para a permanência de uma desigualdade imensa perante o mundo, na linha do que é o México : um país bem comportado e que não supera a sua própria impossibilidade histórica, criada dentro do país, de ser muito diferente do que é. Sai governabilidade entra "eleitorabilidade" Não é segredo para ninguém, pois tem sido apregoado com orgulho por todos os envolvidos em palanques de 2014, visíveis e invisíveis, que a reforma ministerial, ora em curso, visa única e exclusivamente acomodar aliados descontentes - e ameaçadores - no curral governista. A lógica é : cargos e influência em troca de votos populares que poucos têm e de tempo na televisão - que todos têm, nem que sejam alguns preciosos segundos para que os "marqueteiros" possam brincar de fazer propaganda política do mesmo modo que vendem sabonetes e iogurtes em tempos não eleitorais. O Brasil político já cultiva um vocábulo esdrúxulo - "governabilidade", em nome do qual, ou seja, de garantir ao governo uma certa paz no Congresso Nacional, praticam-se coisas que até Deus duvida. Sai governabilidade entra "eleitorabilidade" - II Agora, entrou em campo outra novidade no léxico político nacional - a "eleitorabilidade", em nome da qual, como se pôde ver pelas primeiras amostras da reforma ministerial que Dilma iniciou sexta-feira, praticam-se coisas que até o diabo dúvida. É em nome dessa eleitorabilidade que Dilma trouxe de volta ao centro do poder a turma do Carlos Lupi, do PDT, na figura do inexpressivo deputado Manoel Martins, sobre cujas credenciais para o Ministério do Trabalho ainda são desconhecidas. Foi por isso também que a presidente afagou o sempre insaciável PMDB, entregando a Moreira Franco, cuja intimidade com a aviação civil não passa de um passageiro comum ; e ao mineiro Antonio Andrade no Ministério da Agricultura, no caso um fazendeiro, mas que ganhou o posto não por seus méritos, mas para evitar que as ovelhas peemedebistas mineiras, famintas, se desgarrassem para a possível candidatura de Aécio Neves. Da mesma forma, o PR, escorraçado do Ministério dos Transportes, quando Dilma ainda vestia o uniforme de faxineira, por suspeita de estripulias no DNIT, na Valec e adjacências, será gloriosamente reabilitado quando a presidente voltar de Roma, onde hoje assiste a entronização de Francisco no trono de Roma. Sai governabilidade entra "eleitorabilidade" - III O risco é a busca excessiva de eleitorabilidade prejudicar, definitivamente, a verdadeira governabilidade que se exige de um governo : ação e competência. Para que se faça a "superação histórica" que o país necessita. Governabilidade, no Congresso, é uma espécie de gazua para os partidos se apossarem de nacos da administração pública. Dura realidade. Não dava para esperar A turma estava com tanta pressa que se abriu um espaço na agenda da presidente no sábado, dia no qual raramente ela dá expediente quando está no Brasil, para a posse dos três novos ministros. Deve ter sido para todos poderem assinar como ministros sua presença na missa de domingo. Tudo tem limites Dilma, respondendo a críticas da oposição e antevendo outras mais, dado o caráter visivelmente fisiológico das mudanças que fez e ainda vai fazer na sua equipe, fez enfática defesa da "coalizão" governista. De fato, alianças para governar em países de sistema multipartidário são naturais. Mas há coalizões e coalizões, alianças e alianças, critérios e critérios. Os aqui adotados, na atualidade, não são dos mais santos. Sério ? Da presidente Dilma Rousseff na posse, sábado, dos novos três integrantes da sua troupe ministerial : "Nós já iniciamos o processo, estou na metade do governo, e precisamos conduzir a bom termo esse processo, que se pauta em transformar os ministérios do nosso país em ministérios profissionais e meritocráticos". Pelo menos os três empossados e seus familiares parece que acreditaram. Não é apenas o número O empresário Jorge Gerdau, amigo de Dilma e conselheiro (não remunerado) com cargo formal no governo, abriu fogo contra o tamanho do Ministério da presidente. Para ele, ter 39 ministros é "uma burrice". Não deixa de ser, não dá nem para a presidente despachar numa periodicidade razoável com todos eles. Há ministros que praticamente só se encontraram com a presidente em solenidades públicas - passam meses sem falar com ela pessoalmente. Não têm muito o que fazer e dizer e a presidente nada deve ter para dizer a eles. O que mostra a falta de importância de boa parte dos ministérios e das secretarias com status ministerial. Só serve para alguma coisa : acomodar aliados. Porém, o problema maior não é o número - é a qualidade. Aquilo que a presidente, num arroubo, chamou de "meritocracia" sábado. Há uma jornalista brasiliense que define bem o deserto de homens e ideias da equipe de Dilma : "O ministério de Dilma é de segundo escalão". Aprendiz de feiticeira Em matéria de política dos políticos, Dilma parece não ter mais nada a aprender com Lula. Ela já havia passado recentemente no teste dos palanques, ao citar diabos e cervejinhas em seus discursos, no melhor estilo do mestre. Agora, supera-se na arte da escalar ministros errados para lugares errados. Em tempo : antigamente, quando alguma criança fazia uma estripulia, dizia-se que ele tinha feito arte, era um arteiro. Não é o caso da presidente. Em estado alfa Justiça se faça : o vice-presidente e poeta Michel Temer saiu-se muito bem no início da reforma ministerial. Conseguiu uma promoção para Moreira Franco, o gato angorá da burguesia carioca como dizia Leonel Brizola, da inútil secretaria de Assuntos Estratégicos para a abonada Secretaria da Aviação Civil (orçamento de R$ 2,7 bi) e com a responsabilidade de tocar as privatizações (ou concessões, como aconselham os preconceitos petistas) dos aeroportos de BH e do RJ. Emplacou também o mineiro Antonio Andrade no Ministério da Agricultura, área que era de sua influência direta e foi perdida quando o paulista Wagner Rossi, por suspeitas de irregularidades, foi substituído por Mendes Ribeiro, um peemedebista gaúcho de confiança de Dilma e fora da órbita do vice. Em estado alfa - II A vitória de Temer só não foi completa por duas razões : (1) Não conseguiu ainda um ministério "de furar poço", expressão cunhada pelo inefável Severino Cavalcanti para definir a poderosa diretoria de Exploração da Petrobras, mas que serve bem ao desejo do PMDB de ter um ministério mais "eleitoral", tipo Transportes, Cidades, Integração Nacional, saúde. (2) Não se arranjou um ministério para o pupilo predileto dele em SP, o deputado Gabriel Chalita, candidato derrotado à prefeitura de SP com inestimáveis serviços prestados ao candidato (o agora prefeito) petista Fernando Haddad. Chalita esteve com os pés no Ministério da Ciência e Tecnologia, porém foi esquecido depois das denúncias de um ex-assessor seu sobre supostas irregularidades quando ele foi secretário estadual de Educação. Uma queda muito comemorada pela comunidade científica brasileira. Desenvolto como o diabo Em conversa com um grupo de 60 empresários em SP, com grande desenvoltura, como o registrado pela colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, o mais que candidato à presidência da República, Eduardo Campos, deu o mote de sua campanha. "Nós podemos fazer melhor". Nessas tertúlias com os empresários, cada vez mais constantes na agenda do governador de PE, ele tem elevado o tom de suas críticas à condução da política econômica de Dilma, mesmo com os elogios que faz a ela. Elogios que estende também aos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique. Com Campos à vontade, os tucanos também estão subindo aos poucos os decibéis de seus ataques ao governo. Um tango argentino Pelo que vem sendo revelado depois de sua escolha, o agora papa Francisco, o argentino Jorge Mario Bergoglio, tem todas as qualidades para ter sido ungido Bispo de Roma. Além delas, segundo muitos vaticanistas (um tanto na berlinda, é verdade, depois que erraram feio em suas especulações) pesou também a capacidade de conciliação de Francisco, num momento em que a cúpula da Igreja Romana estava perigosamente dividida. Observando a saída do conclave, uma analista política nacional pergunta : quem será o "argentino" dos tucanos ? Na medida em que Dilma empurra seu trio elétrico eleitoral por onde pisa e Eduardo Campos já não disfarça seus desejos, os tucanos ainda estão se bicando - e muito. A continuar desse jeito, restará ao tucanato, como naquele conselho de um médico ao poeta Manuel Bandeira quando constatou que a lesão que ele possuía era muito grave e Bandeira queria saber o que poderia fazer : "Tocar um tango argentino". Esperteza A manchete do "Diário do Comércio" de SP diz tudo do PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab, depois que ele admitiu, candidamente, que seu partido não quer ministérios, porém seus filiados podem aceitar algum convite de Dilma : "Kassab sai do governo, mas fica no governo". Só para iniciados O BC tem sido confuso e contraditório em suas comunicações, o que está deixando um tanto quanto desarvorados não apenas a turma do mercado financeiro como também empresários de vários quilates. Junte-se a isto as trombadas com os fatos das autoridades econômicas e está formado o ambiente para as desconfianças sobre os rumos que o governo quer dar mesmo à política econômica. No limite, isto está levando a uma pisada no freio dos investimentos. No fim do mês sai o Boletim Trimestral de Inflação, aguardadíssimo para ver se a comunicação do BC fica mais clara. Semana passada a jornalista Thais Herédia, ex-assessora de imprensa do BC, publicou em seu blog no portal G1 um divertido e útil manual de ajuda aos interessados em decifrar a autoridade monetária : "Como entender o BC em poucas lições". Vale a pena ler - clique aqui. Agora Chipre sacode o mundo Descobriu-se, depois de algum sacrifício físico e mental, que Chipre, 167º em tamanho no mundo e PIB de US$ 25 bi (Campinas tem quase US$ 30 bi) está no euro. Depois se descobriu o que todos sabiam : o belo país mediterrâneo está quebrado. Não bastasse esta percepção aguda do mercado, notou-se que o país não tem saída para solucionar a crise : ou dá um calote nos credores e ajusta o nível de endividamento às possibilidades do país, ou, alternativamente (e simultaneamente), dá um calote interno para se sustentar numa perigosa corda bamba. Os cipriotas optaram, com a anuência dos alemães, a pegar 10% das contas bancárias dos distintos cidadãos para pagar os empréstimos prometidos da União Europeia. Foi o que bastou para os investidores dizerem que "foi criado um perigoso precedente" para a Europa. Como se os investidores nada soubessem sobre calotes e colapsos financeiros. A surpresa talvez seja o fato de os alemães, sempre alertas, estarem por trás de tudo isso. Merkel, como se sabe, é bem heterodoxa, quando lhe interessa. A nossa recomendação é simples : desprezem o assunto e continuem investindo em ações norte-americanas, o atual porto seguro do mercado. Radar NA REAL 15/3/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,2966 estável baixa - REAL 1,9874 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 56.804,76 estável queda estável - S&P 500 1.560,16 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.248,23 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 12 de março de 2013

Política & Economia NA REAL n° 236

Como o diabo gosta (ou a nova Dilma) O "ministro sem pasta" do gabinete da presidente Dilma Rousseff, João Santana, está mais ativo do que nunca. O dedo do marqueteiro João Santana pôde ser visto na semana passada em várias ações da chefe. A principal foi o anúncio da eliminação dos impostos federais da cesta básica, agora acrescida de materiais de higiene pessoal. Foram eliminados o PIS/COFINS e o IPI, no que cabia. É meritória a mudança, isto não se discute. Estava ainda em estudos e a perspectiva oficial era de que fosse lançada no dia 1º de maio, nas comemorações do Dia do Trabalho. O discurso de sexta-feira, dia 8, era apenas para saudar o Dia Internacional da Mulher. Como o diabo gosta (ou a nova Dilma) - II No meio do caminho (ou do dia ?) surgiu uma pedra : pela manhã o IBGE anunciou outro incômodo índice de inflação, o IPCA de fevereiro, de 0,6%, superior a todas as previsões, de fora e de dentro do governo. A inflação anualizada foi jogada para 6,31%, com as previsões já apontando para o estouro do cume da meta (6,5%) em março. Os assessores de Dilma continuaram falando em "paciência" e "prudência", que era preciso esperar os efeitos das medidas adotadas nos últimos meses e que, no segundo semestre, a situação se inverterá. Dilma, porém, está em tempos eleitorais e, assim, entrou em campo a necessidade de combater a má notícia com um ato positivo. Veio, então, a redução dos impostos e o discurso da noite, visivelmente adaptado na última hora. É um movimento que se verá cada vez mais daqui para frente. A questão política condicionando as ações econômicas. A força das palavras Sinal ainda desses tempos é o novo linguajar e o novo estilo de Dilma, visível nos dois palanques que ela ocupou na semana passada : no CE, na quarta-feira, e o televisivo, na sexta-feira. A presidente desfrutou, por assim dizer, momentos de Lula, do melhor Lula em comícios. Como, quando, por exemplo, disse que na hora da eleição se pode fazer "o diabo", que "as casas que o governo está entregando são também boas para tomar uma cervejinha", e quando avisou que "quem está no poder é uma mulher e, por isso, agressores em geral devem tomar cuidado". Sai a gerente tecnocrata entra a política de palanque. Quem ganha e perde com essas mudanças ? Sinonímia "O diabo existe e não existe ?", pergunta Guimarães Rosa no monumental "Grande Sertão : Veredas". Na obra do escritor mineiro os conselheiros de Dilma para os palanques poderão encontrar uma abundante sinonímia da palavra diabo, para enriquecer novos discursos presidenciais. Alguns deles, pela pesquisadora Nilce Sant'Anna Martins em "O léxico de Guimarães Rosa" : "Anhangão, Aquele, Barzabu, Berzebu, Belzebu, Bute, Capiroto, Ele, o Arrenegado, o Austero, o Azarape, o Bode-preto, o Cabrobó, o Canho, o Cão, o Careca, o Carocho, o Coisa-Má, o Coisa-Ruim, o Coxo, o Cramulhão, o Cujo, o Danador, o Das Trevas, Dê, o Debo, o Demo, o Demônio, o Dia, o Diogo, Dos Fins, o Drão, o Dubá, o Dubá-Dubá, o Ele, o Grão Tinhoso, o Homem, o Indivíduo, o Mafarro, o Mal-encarado, o Maligno, o Morcegão, o Nem-sei-que-diga, o O, o Ocultador, o Outro, o Pé-de-Pato, Pé Preto, o Que-Diga, O-que-não-existe, O-que-não-há, o Rapaz, o Satanão, o Sem-gracejos, o Severo-mor, o Solto, o Sujo, o Temba, o Tendeiro, o Tentador, o Tisnado, o Tristonho, o Tunes, O-que-nunca-se-ri, Xu". Em "Noites do Sertão" GR anotou : "Este mundo é diabrável para consumir gente". A política também. A economia, na real Os tropeços do crescimento brasileiro são de natureza estrutural. O Brasil não pode ser o país do consumo de vez que é pobre no salário e no crédito, fruto do subdesenvolvimento industrial neste século da tecnologia. Não é o país do investimento, porquanto cresce pouco e com "voos de galinha" e tem no Estado um freio ao empreendedor e um empreendedor que não sabe gerir. Esta é a economia real. Todavia, há a "economia aparente" que é aquela que é marcada pelos "efeitos estatísticos" : o PIB deste ano pode crescer algo em torno de 3,5%, mas este número é tão sofrível quanto a estagnação de 2012. Além disso, a administração da presidente acumula crescentes inconsistências no que se refere à área fiscal, cambial e monetária - esta última sob risco de uma inflação elevada. O país da "economia aparente" é aquele que é enfraquecido perante as amplas possibilidades que tem. Faz-se anão quando poderia ser um gigante. BC, previsível Conforme comentamos nesta coluna na semana passada, o BC cumpriu o script de fechar, mantendo o juro básico inalterado, o "período da falação". Daqui para frente deverá agir e subir a taxa de juros. A dúvida é a envergadura desta elevação. A nossa aposta é que o juro nominal sobe para algo entre 8,5% e 9% até o final do ano. O que significa que o juro real vai cair, porque a inflação é um fenômeno endógeno (formado pelos agentes) e está dizendo para quem quiser ver que ela está em alta. A boa ideia No momento, a melhor ideia que existe é investir na bolsa dos EUA. O país vive uma crise, mas parece mais apto a superá-la no médio prazo que o Brasil, que não vive uma crise, mas não está apto a crescer consistentemente. Não é desprezível o movimento de saída de investidores daqui na direção do norte. Alta tensão Pelo menos na conta da maioria dos partidos, esta semana a presidente Dilma começa finalmente a definir as mudanças no seu ministério para reforçar os elos de sua aliança eleitoral. O primeiro a fazer as contas será Michel Temer. O partido deverá juntar mais um ministério no seu rosário, para MG, mas não deverá ser o dos Transportes. Como tem políticos e partidos demais, Dilma deve sacrificar alguns "técnicos" para atender a todas as ambições. Secretaria de Aviação Civil é um dos que entrarão na cota dos partidos. Especula-se que vá para Wellington Moreira Franco, peemedebista encostado na inexpressiva Secretaria de Assuntos Estratégicos. O Ministério da Ciência e Tecnologia também esteve para entrar no rol. Porém, a reação da comunidade científica à falência política do deputado Gabriel Chalita (PMDB/SP) salvaram este nicho. O PSD de Gilberto Kassab ganha o novo ministério da Pequena e Média Empresa, provavelmente para o vice-governador de SP, Guilherme Afif. Deve ganhar também alguma diretoria de estatal. Aliás, as estatais também serão usadas para saciar os aliados. A CEF, por exemplo, pode ganhar duas novas diretorias. Na Petrobras, Graça Foster faz de tudo para proteger sua fortaleza da sanha partidária. Haja cargo ! Partidos, longe do palanque No palanque presidencial, como se sabe, não falta a multidão de apoiadores, senadores, deputados, governadores, etc. e tal. Todos prontos para puxar o aplauso da multidão incauta. No Congresso o jogo é, cada vez mais, medíocre. Os partidos ditos "aliados" afiam as facas e operam a pauta congressual em prol de seus interesses. O governo, em alerta, sempre está negociando. A "reforma ministerial" não passa de um ajuste momentâneo de contas mediante pagamento futuro. O passado está pago. São 39 ministérios, afinal de contas. Como antes, como sempre O pastor Marco Feliciano (PSC/SP), contra as minorias, na presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Gabriel Chalita, investigado pelo MP, presidente da Comissão de Educação da Câmara. Paulo Maluf e os mensaleiros José Genoino e João Paulo Cunha membros titulares da CCJ. O Congresso continua olhando a sociedade apenas de esguelha. Estratégia Por enquanto, o governo e o PT vão concentrar seus maiores esforços em boicotar a candidatura de Eduardo Campos, minando suas forças e pressionando aliados a não embarcarem na canoa do pernambucano e em impedir, o quanto for possível, o nascimento do Rede Sustentabilidade de Marina Silva. Se o partido dela não nascer até o fim de setembro, não poderá disputar as eleições do ano que vem e a ex-ministra do Meio Ambiente terá dificuldades de encontrar uma legenda com algum peso para disputar a presidência. Ela e o Partido Verde já não se bicam. A determinação é evitar, de todo modo, as duas candidaturas, pois ambos tendem a tirar mais votos de Dilma do que de um candidato oposicionista. Com os dois no páreo, como já demonstrou a candidatura de Marina e seus quase 20% dos votos em 2010, um segundo turno é inevitável. Estratégia - II Outra providência é tentar incentivar, indiretamente, a dissensões no PSDB, com José Serra. As notícias de que Serra pode vir a ser candidato por outro partido, o PPS, por exemplo, se os tucanos optarem por Aécio Neves, nem sempre partem do grupo serrista ou do partido liderado por Roberto Freire. É cantado também por governistas, discretamente. O Palácio do Planalto, com o "ministro sem pasta" João Santana, prepara uma primeira rodada de pesquisas eleitorais para sentir o ambiente depois que a candidatura de Dilma subiu nos palanques. Em um dos cenários com o nome dos possíveis candidatos, Serra será incluído. A esperança palaciana é que, pelo recall de outras vezes que concorreu, o tucano paulista apareça bem colocado e isto gere confusão no tucanato. Mais confusão do que já está hoje. No fundo, Dilma, o PT e Lula preferem disputar com Serra. O ataque a Aécio vai ser calibrado no ritmo alcançado por sua candidatura. Se começar a crescer e o mineiro aumentar o tom de suas críticas, vai ser também mais combatido. E vai começar por MG, com Dilma dando mais atenção a seu Estado para desfazer a "intriga" de que ela é uma mineira que não liga para Minas. Só na cadeia Em tempos mais duros da política brasileira, costumava-se dizer, com cruel ironia, mas com uma dose de verdade, que a esquerda no Brasil só se unia na cadeia. Os partidos de oposição ao governo Federal no país não são propriamente de esquerda e não há ninguém neles ameaçados de perseguição política, portanto, será muito difícil que eles marchem unidos na sucessão presidencial de 2014. A verdadeira batalha do petróleo O assunto da divisão dos royalties do petróleo ainda vai render muito, e dar muita dor de cabeça a presidente Dilma. Sua estratégia final de não interferir na votação dos vetos no Congresso na semana passada já deixou fraturas. A batalha judicial pode ser longa. Dependendo dos arroubos de cada um, pode assustar os investidores que se preparavam para disputar os leilões de novas áreas de exploração de petróleo, previstos para maio e novembro. Especialmente o de novembro, focado no pré-sal. Nada do que acontecer nessa seara, no entanto, tem o poder explosivo de um outro "abacaxi" (criado por ele mesmo) que o governo precisará descascar para que os leilões previstos se realizem com algum sucesso : equilibrar a situação financeira da Petrobras. A verdadeira batalha do petróleo - II A nova lei de concessões, pelo sistema de partilha, estabelece que a estatal petrolífera brasileira deve participar com pelo menos 30% nos consórcios que ganharem a licitação e deve ser a operadora única do campo. Com que dinheiro, depois dos sacrifícios que lhe foram impostos nos últimos anos para ajudar na política antiinflacionária ? Tão difícil que já especula até que o Palácio do Planalto está apenas esperando um momento político mais adequado para tirar um pouco desse peso das costas das estatais, rebaixando as exigências. Improviso O aumento de 5% no óleo diesel, liberado na semana passada, menos de um mês do último reajuste, mostra, no mínimo como a equipe econômica anda improvisando em suas políticas, conduzidas ao sabor de circunstâncias e conveniências inflacionárias e eleitorais. De remendo em remendo o artesão pode perder a mão. Radar NA REAL 8/3/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3033 estável baixa - REAL 1,9569 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 58.544,79 estável estável - S&P 500 1.556,22 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.252,87 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 5 de março de 2013

Política & Economia NA REAL n° 235

O crescimento além do PIB O resultado do PIB que apresentou um crescimento de apenas 0,9% em 2012 não reflete apenas a realidade objetiva no curto prazo. É direto, espelho de um país que se distancia de suas possibilidades, estas muito mais grandiosas. O problema não é o "estático" desempenho de um ano para o outro, mas a ausência de "dinâmica". O consumo também capenga porque, a despeito do elevado nível de emprego, a população se engalfinhou em dívidas caríssimas no tempo da euforia lulista. A indústria está visivelmente pouco competitiva - 21% dos produtos industriais são importados numa arena cambial onde a indústria local não pode prevalecer. Neste contexto, falta ao governo visão estratégica e à iniciativa privada a vontade política de agir em prol de seus interesses. Todos parecem letargicamente esperar que algo aconteça. Não acontecerá. Enquanto isso, o PIB pode subir 3,0% ou 4,0%, mas a realidade subjacente está sólida e não é nada boa. Copom vai manter juros Num cenário que combina atividade econômica débil e emprego positivo, o BC vai tecer a sua estratégia em relação à inflação extremamente elevada para um país que zela pela sua moeda. O primeiro ato do teatro da autoridade monetária já foi cumprido : Tombini e seus diretores vieram a público para dizer que estão presentes e que a situação será controlada. Foi um calculado (e combinado) jogo de palavras que esclareceu o mercado e alinhou expectativas dos agentes e do próprio governo (que andava meio ausente neste tema). Agora começa a chegar o momento em que o BC terá de passar da prosa para a ação. Todavia, com o PIB lá embaixo e os indicadores de atividade ainda incipientes (no que tange ao crescimento) é provável que tudo fique como está para ver como é que fica. Depois desta próxima reunião do Copom é possível uma alta de juros porque palavras, como se sabe, não movem montanhas (ops !), não reduzem inflação. Perguntas sem respostas Digamos que o PIB deste ano não seja nem 3,0% e muito menos 4,0%. Seja apenas algo entre 1,0% e 2,0%. O que fará a presidente Dilma : removerá a equipe econômica que segue cegamente suas recomendações ? Quem viria a substituí-la ? Mantega e a guerra cambial O ministro Guido Mantega tem sido um exemplar alferes na retórica na qual prega contra a "guerra cambial" que os países centrais (liderados pelos EUA) estariam fazendo contra os emergentes. O Brasil neste tema tem sido o mais loquaz dentre os emergentes - repetiu a dose na última reunião do G-20 em Moscou. A China já pregou há dois anos com mais ênfase em favor da tese da "guerra cambial". Hoje, tem sido mais discreta e prefere cuidar dos vastos interesses cambiais, enquanto o Brasil se consolida como um país exportador de commodities. Em meio a toda esta retórica, Mantega acumula uma contradição substantiva frente ao largo esforço que faz alhures : está fortalecendo o real para manter a inflação baixa. Difícil sustentar argumentos contra os países ricos desta forma. O preço das bravatas O governo tem feito um esforço interno e externo - principalmente externo com as caravanas para atrair investidores nos Estados Unidos sob a batuta do ministro Guido Mantega e à Europa pela palavra da ministra Gleisi Hoffmann - na tentativa de convencer possíveis parceiros de que o Brasil é um porto seguro para quem quer fazer negócios. Não tem sido tão bem sucedido em sua logorréia tanto quanto esperava. Os empresários que ouviram Dilma quarta-feira no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, se publicamente saíram sorridentes, no fundo mantiveram suas reversas. O preço das bravatas - II Lá fora, Mantega e Gleisi também tiveram recepção simpática, mas as perguntas com que eles e outros expositores brasileiros foram bombardeados indicam que o clima de desconfiança e temor permanece vivo. A razão é muito simples : (1) contradições no discurso oficial, (2) certo irrealismo nas análises dos fatos reais da economia nacional e (3) algumas bravatas de governistas e aliados no âmbito interno. O que forma um caldo bem chacrianiano (de Abelardo "Chacrinha" Barbosa : aquele que não explica (ou convence), confunde). No primeiro caso, ainda não foram bem deglutidas, por exemplo, as divergências de ênfase entre o BC e o Ministério da Fazenda em relação à política de juros e à política cambial. Ou, ainda, a respeito da manutenção ou não do tripé macroeconômico que sustentou a economia brasileira desde a última fase do governo FHC até o fim do mandato de Lula antes da eclosão da crise em 2008. O preço das bravatas - III Questões como a confusão provocada pelas mudanças no setor elétrico também pesam nessas análises. O ministro Guido Mantega, na sexta-feira depois da divulgação do PIB de 0,9% em 2012, voltou a dizer que a economia do Brasil sofreu este novo baque por conta da crise externa (sem considerar que vários emergentes foram poupados, em grande medida, dela) e que o país este ano vai crescer 4%, o que nem o BC, por sua última projeção, parece acreditar possível. Tais procedimentos levam os analistas a desconfiar que a equipe econômica nacional não está com um diagnóstico correto da situação e, portanto, não sabe como agir. Ou que quer engambelar o distinto público. É por essas e outras que o prestigioso Financial Times classificou Mantega como um "vaticinador". O preço das bravatas - IV As bravatas são aquelas coisas que os governantes e seus partidos dizem apenas para agradar seu público interno, sem intenções (ou condições) de cumpri-las de fato. Por aqui, não são levadas tão a sério, mas para o estrangeiro, não tão acostumado a certas nuances da brasilidade política, é para valer. Há ainda uma quarta vertente desse estilo : o que se poderia chamar de "Lei de Gerson do setor público" : uma tentativa de levar vantagem em tudo. Isto é visível na atual safra de concessões de serviço público em preparação. Praticamente todos os programas inicialmente preparados para os setores de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos já foram alterados, para melhorar as ofertas feitas aos possíveis concorrentes. O governo Dilma parece estar necessitando urgentemente, além de um choque gerencial, de um choque de realidade. Hora da verdade para o BNDES Anuncia-se que o governo, nos próximos dias, por exigência do TCU, vai divulgar documento o qual torna público os subsídios implícitos nos repasses do Tesouro Nacional para o BNDES. Foram R$ 250 bi desde 2008, captados ao custo da Taxa Selic e emprestados pela TJLP, de taxas menores. Essa diferença não está registrada ainda nas contas públicas. Pode ser o início da hora da verdade financeira também para o BNDES. Os problemas da política de liberalidade e de escolha de "campeões nacionais" do banco já começaram a aparecer. O lucro da instituição caiu 9,55% no ano passado ante 2011. Teria sido ainda pior - de mais de 30% - se o Conselho Monetário Nacional (CMN) não tivesse autorizado a instituição a contabilizar diferentemente de outros bancos, o valor das ações de alguns de seus investimentos em empresas mais complicadas. Já se analisa a possibilidade de o Tesouro injetar mais R$ 8 bi no banco. Como no Soneto da fidelidade ? Quem acompanhou as juras de amor trocadas na semana passada entre a presidente Dilma Rousseff (coadjuvada pelo ex-presidente Lula e o PT) e o PMDB e, ao mesmo tempo, conhece o temperamento da presidente, o pragmatismo de Lula, o apetite do PT e as rusgas às vezes nada discretas entre os dois partidos, logo se lembra dos últimos versos de um dos poemas mais citados de Vinicius de Morais : Eu possa me dizer do amor (que tive) :Que não seja imortal, posto que é chamaMas que seja infinito enquanto dure. Como no Soneto da fidelidade ? - II Uma parcela do PMDB já saiu das festas de núpcias com uma caraminhola na cabeça : apesar de todos os elogios de Dilma e Lula ao PMDB e as referências a Temer, nenhum dos dois ousou confirmar o presidente do PMDB como parceiro (vice, entenda-se) na chapa reeleitoral da presidente. Alegou-se que a não referência direta foi para evitar complicações com a legislação. Ora, desde quando a Justiça Eleitoral é respeitada nesse universo ? Ou não foi Lula quem falou da candidatura de Dilma na festa do PT semana retrasada em SP ? A solidez dessas núpcias será testada logo. Hoje, por iniciativa dos peemedebistas presidentes da Câmara, Henrique Alves, e do Senado, Renan Calheiros, será votado pelo Congresso Nacional o veto presidencial à lei com a nova divisão dos royalties do petróleo. O Palácio do Planalto não queria esta votação agora, pois sabe o poder explosivo que a derrubada do veto pode ter. E se houver votação, o veto cai. Pode rachar a unidade do PMDB e a unidade do partido em torno da presidente. Como no Soneto da fidelidade ? - III É esperado para esta semana também o início da reforma (ou ajuste, como prefere o governo) ministerial imaginada pela presidente. O PMDB quer recompensas por serviços já prestados e por outros serviços que deverá prestar no Congresso. Parece certo já que a seção do partido em MG vai ganhar o Ministério dos Transportes. O PMDB, porém, quer mais, quer mais "cartórios eleitorais", ou seja, postos que ajudem o partido a conquistar votos. Os peemedebistas costumam dizer que os ministérios que eles têm hoje "não elegem nem ao menos um vereador". Verdade histórica Ao contrário do que andam dizendo alguns e escrevendo outros, não foi o ex-presidente Lula o autor do lançamento da recandidatura da presidente Dilma Rousseff. Lula apenas avalizou o que já era fato. Foi a própria Dilma que se lançou, de forma muito pouco subliminar em seu último pronunciamento oficial em rede de rádio e televisão. Lula foi a reboque, com gosto ou sem gosto. Tudo para evitar que Lula crescesse no vácuo da ausência de declarações da presidente. Uma nova Dilma ? Os afagos públicos da presidente Dilma ao PMDB e suas conversas com outros aliados estariam indicando que a presidente Dilma, mesmo sob o risco de desenvolver algumas urticárias, está mais afável aos contatos políticos, sua mais evidente dificuldade na chefia do governo. Talvez não seja sem tempo. O mundo da política não tem a presidente na mesma conta dos eleitores, que dão a ela quase 80% de popularidade no momento. Duas pesquisas recentes realizadas em Brasília indicam que com os deputados e senadores o prestígio da presidente é menor e está em queda. A consultoria Arko Advice constatou que a aceitação de Dilma caiu de 54,7%, em 2011, para 45,8% em 2012. Com 220 entrevistas, a FSB Tracking registrou que a nota dada pelos parlamentares à relação entre o governo Federal e o Congresso caiu de 5,9, em maio de 2011, para 4,4 em dezembro de 2012. Curioso é que a base parlamentar de Dilma conta com 80% dos parlamentares. Como a eleição já está no ar e deputados e senadores só pensam na reeleição, Dilma terá de ser um pouco mais generosa com seus aliados se não quiser colher dissabores. Troféu político Se no Brasil houvesse um troféu para o maior "cara de pau" da política dificilmente em 2013 ele escaparia das mãos do senador Renan Calheiros. Qualquer outro pretendente terá de fazer muito esforço para bater o senador alagoano. E olha que neste país não faltam bons candidatos a este privilegiado título. Desembarque É cada vez mais visível : Lula e o PT estão a cada dia um pouco mais distantes dos companheiros mensaleiros. Solidariedade sim, morrer pela causa, jamais. Agora, os projetos A oposição, com o PSDB, e, ainda na surdina, com Eduardo Campos, assanhou-se com o precipitado lançamento da recandidatura de Dilma Rousseff e está com o flanco adversário aberto para críticas e provocações. Mas, precisa ir além das críticas, como as que Aécio Neves tem feito nos últimos dias, tem de mostrar o que vai fazer para corrigir os erros que aponta. Discurso por discurso, ninguém bate Lula. Radar NA REAL 1/3/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3027 estável baixa - REAL 1,9703 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 56.499,17 estável estável - S&P 500 1.525,20 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.182,03 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Política & Economia NA REAL n° 234

O Banco Central, os juros e o exemplo Como não funcionou totalmente a verborragia oficial para convencer os agentes econômicos, especialmente o mercado, que o BC não tem nenhuma limitação em relação à política monetária e aos juros, começa-se a especular mais fortemente, inclusive nos corredores brasilienses, sobre a possibilidade de a autoridade monetária aprovar na reunião do Copom da próxima semana, ou na do final de abril, um ajuste na Taxa Selic. Seria apenas um aumento pequeno, de apenas 0,25 ponto percentual, apenas para mostrar que o BC continua independente, não sofre "ingerência" nem do Ministério da Fazenda nem do Palácio do Planalto. E mais : que as conveniências eleitorais não batem na porta do imponente edifício meio ocre de grande destaque na paisagem de Brasília, ao lado da Praça dos Três Poderes. O Banco Central, os juros e o exemplo - II O BC só voltaria a mexer nos juros básicos da economia para valer mesmo se as expectativas do governo em relação ao comportamento da inflação não se confirmarem. Pelas contas planaltinas, a inflação anualizada ficará alta até meados do ano, sempre acima de 6% podendo até estourar o centro da meta (6,5%) e depois cairia gradualmente até chegar a 5,5%, a mais recente aposta do ministro da Fazenda, Guido Mantega. O governo não desistiu de usar todos os instrumentos possíveis para fazer este ano um PIB bem melhor que o do ano passado, que deve ter ficado em torno de 1%. Inclusive os instrumentos monetários. Por isso, o ajuste de 0,25 ponto se vier é apenas para dar o recado de que o BC está vivo. Todavia, esse rumo pode mudar muito se os preços continuarem rebeldes no segundo semestre. Por uma simples razão : é melhor fazer o mal agora (aumentando os juros) quando a eleição está relativamente longe do que ter que mexer com um dos principais slogans da campanha de Dilma quando a luta eleitoral estiver pegando fogo. Política econômica e campanha antecipada Esta coluna ouviu de um dos futuros ouvintes das apresentações do Road Show que Mantega, Gleisi Hoffmann, Luciano Coutinho e outros farão no exterior a seguinte análise : "Nenhum empresário, especialmente na área de infraestrutura, faz apostas grandes, quando faz, em ano eleitoral. O governo, ao antecipar a corrida eleitoral, criou um problema para si mesmo. De um lado, pede dinheiro para quem hesita em dar. De outro, amplia as dúvidas políticas sobre os investimentos. Assim, fica bem difícil...". Obviamente que este não é um ponto de vista isolado. De fato, os maiores comentários dos investidores externos sobre o Brasil é sobre o governo e não os negócios. Questionam a interferência do governo nos setores, as disputas políticas e as reformas que não são feitas. "Na China temos dúvidas grandes sobre estes temas, mas o país cresce acima dos 8%. Por aqui, as dúvidas são grandes, mas o país não cresce", assinala o interlocutor. Câmbio real Os economistas costumam se jogar em cálculos de todas as cepas para saber se o câmbio está valorizado ou desvalorizado. Em países onde há liberdade cambial plena, estes cálculos são incertos. Em países como o Brasil e a China estes cálculos são ainda mais incertos. Todavia, se o governo e o BC quiserem uma informação objetiva, basta fazer uma simples pesquisa sobre os custos para a implementação de um projeto no Brasil e compará-los com outras partes do mundo. A resposta deixaria qualquer burocrata do governo preocupado. Investimentos : caminho de volta Sabe-se que o mundo está complicado. Há enormes incertezas, sobretudo nos países centrais. Isso, contudo, não tem impedido que capitais mais ariscos estejam tomando o rumo dos EUA. Por lá, percebe-se que lentamente o país está saindo da escuridão e os preços dos ativos são mais convidativos. Além do fato de existirem Estados com incentivos fiscais verdadeiramente estimulantes. O segredo de polichinelo continua Já foi dito aqui, mas vale repetir : nenhum governante gosta de antecipar sua sucessão, mesmo se ele for candidato à reeleição e estiver bem na fita de largada. É o caso da presidente Dilma Rousseff. A antecipação só traz desvantagens : divide a atenção do gestor ; assanha os adversários que naturalmente aumentam o tom de suas críticas e cobranças e também entram em campanha ; e assanha ainda mais os parceiros, que ganham mais uma arma de barganha para garantir a aliança partidária reeleitoral. É exatamente isto que Dilma está experimentando agora, depois que botou espontaneamente seu bloco na rua e, na semana passada, ganhou o aval de ninguém menos do maior eleitor do país, o ex-presidente Lula. O melhor exemplo são os parceiros que já estão com seus candidatos lançados à ministérios, postos de segundo escalão e boas diretorias de estatais e até de agências reguladoras. A presidente pretendia fazer uma reforma restrita, como já foi comentado aqui. Não vai dar mais. E por mais que ela se esforce, a presidente deixará os "mortos e feridos" pelo caminho. Um custo que poderá ser cobrado nas votações no Congresso e no palanque de 2014. Pergunta e resposta incômoda Por que Dilma correu todos esses riscos, antecipando ela própria o debate eleitoral ? Há várias teorias circulando. Não erra, porém, quem acreditar que um dos alvos tem hoje residência em São Bernardo do Campo. Lupas sobre a gestão de Haddad Não são poucos os petistas de coturno alto que estão preocupados com a gestão de Haddad no prédio do Viaduto do Chá. Estes acham que o tutelado de Lula está condicionado a ficar longe dos holofotes do dia a dia como era o caso do Ministério da Educação. Há severas dúvidas se o prefeito paulistano aguenta uma enchente num dia e um incêndio no dia seguinte. Ele vai nomear também ? Todos os indícios são de que a presidente Dilma "terceirizou" para o ex-presidente Lula as tarefas de manter a base aliada no Congresso unida e obediente e a de formar o grande palanque com o qual ela pretende disputar a reeleição do ano que vem. O objetivo é macro : é aceitável que fiquem de fora apenas o PSDB, o PPS, o DEM e o partido de Marina Silva (se vier a ser criado). Até mesmo o PSB de Eduardo Campos está sendo cercado para, na hora certa, ser cassado e jogado no redil oficial. Tais objetivos exigem amplas (e às vezes inconfessáveis) negociações. Todos estão dispostos a seguir com a presidente desde que sejam regiamente compensados. Com antecipação, nada de contas a pagar em 2015. É aqui e agora. A moeda de troca mais comum chama-se emprego, em ministérios e postos chaves na burocracia Federal. As perguntas são : (1) Lula recebeu carta branca para negociar como bem entender com os aliados ? (2) Pode fazer qualquer oferta ? (3) Ela vai nomear também ou só indicar ? É bom lembrar que parte das indicações de Lula para Dilma no início do governo dela acabou "faxinada". Eles não estão gostando Uma parcela dos petistas, com todo o respeito que tem por Lula e Dilma e entendem que o objetivo maior do partido deve ser o poder maior da República, não está gostando muito dos movimentos para criar um palanque para Dilma inflado como nunca houve antes na história deste país. O temor se justifica : os aliados, como compensação pela adesão, deverão cobrar, além de empregos, apoios petistas para seus candidatos a governador, apoio preferencial a alguns candidatos ao Senado e alianças nas eleições para a Câmara dos Deputados sempre que for conveniente para eles. É a escola PMDB em ação : não disputa a presidência, mas garante algum poder nos Estados e bancadas de peso na Câmara e no Senado, seus dois grandes trunfos de barganha com a presidência. O PMDB, que é o modelo dos outros em menor escala, sonha em ter candidatos competitivos aos governos estaduais em pelo menos 20 dos 27 Estados. Muitos com o apoio do PT. Como no RJ, por exemplo, onde o petismo já está nas ruas com a candidatura do senador Lindeberg Faria. Acomodação difícil Acomodar tudo isto é uma tarefa complicada até para um político da estirpe de Lula. Uma de suas manobras parece já fracassada : a de fazer Eduardo Campos vice de Dilma e do poeta Michel Temer candidato a governador de SP com o apoio do PT. Nem PT nem PMDB gostaram da conversa e ela está sendo dada como encerrada. Nem tudo são flores Aparentemente, o PMDB está apaziguado e em harmonia depois das eleições de Renan Calheiros para a presidência do Senado e de Henrique Eduardo Alves para a da Câmara. Não é bem assim, porém. Está em convulsão nos bastidores partidários novamente, especialmente na bancada da Câmara e em alguns Estados, a insatisfação da "plebe" com o tratamento que recebe do governo Federal, com as relações sempre na base de intriga com o PT, e com os caciques partidários. Este sempre foi um tema recorrente no PMDB nos últimos tempos, mas que Michel Temer e seu grupo conseguiram contornar com habilidade e sem muitos danos, a não ser alguns sustos que os peemedebistas costumam pregar na presidente Dilma. Agora, porém, está diferente. Como já se entrou na reta final das eleições do ano que vem, os peemedebistas querem ser tratados, tanto pelo governo, quanto pelo PT e os manda-chuvas do partido com "mais respeito", como alguns deles andam dizendo abertamente pelos corredores do Congresso. Ameaças de deserção Há ameaças sérias de deserção, como a dos mineiros bandeando-se para a candidatura de Aécio Neves se não ganharem um ministério ou algo nas estatais que valha por isso. De um modo geral, o PMDB quer mais ministérios "eleitoralmente" melhores que os quase decorativos (sem importância ou porque eles não mandam de fato) que têm hoje. Esta insatisfação pode explodir na convenção do partido dia 2, sábado, quando Michel Temer, tido por muitos como mais dilmista e governista que peemedebista, pretende disputar a reeleição para mais um mandato à frente da legenda. Aposta na deserção Aécio Neves aposta sério na deserção. Não à toa ficou escondido quando a dupla Henrique Alves e Renan Calheiros estava sendo eleita para liderar o poder Legislativo. O risco de Aécio é evidente : pode estar tão sintonizado na "pequena política" que pode esquecer-se de que o eleitor está nas ruas. Aparentemente o mineiro percebeu este risco, mas o seu jogo tem limites : não para de pensar nos parceiros de palanque em 2014. Resta saber se haverá público para escutar o que tem a dizer na eleição presidencial. Além disso, o único aliado interno ao PSDB que tem no curto prazo e que tem voz própria chama-se Fernando Henrique Cardoso, com seus méritos e deméritos. Teoria da conspiração 1. Com a campanha na rua, os fantasmas começam a rondar até cabeças bem assentadas. Alguns dilmistas, por exemplo, estão vendo nesta movimentação toda do governador Eduardo Campos para fixar sua candidatura como sendo, na verdade, um movimento em favor da candidatura de Lula. O governador já teria dito a mais de uma pessoa que a única coisa que o faria desistir de concorrer à presidência em 2014 seria o ex-presidente querer concorrer. 2. Outra teoria conspiratória diz que, em contrapartida, os dilmistas poderiam lançar o balão de ensaio de uma candidatura Lula do governo de SP, única forma segura de quebrar a hegemonia tucana de 20 anos em SP. Criaria certamente um fato quase consumado e um constrangimento para Lula. São teorias um tanto quando absurdas. Porém, em política, bruxas há. Quinta coluna Lula começa sua peregrinação pelo país quarta-feira por Fortaleza, no CE, considerado uma fortaleza inexpugnável dos irmãos Gomes. O governador Cid e o irmão sem mandato Ciro prometem prestigiar o evento do PT que Lula vai abrilhantar. Não está acontecendo de graça a escolha de Fortaleza para inaugurar a nova caravana da cidadania de Lula. No fim de semana, Ciro Gomes, político sem travas na língua, já soltou críticas do presidente do PSB, Eduardo Campos. Brasília conta com os irmãos Gomes para minar o prestígio de Campos por dentro da legenda. Conspiração ou quinta coluna Nas últimas semanas o governo já anunciou diversas revisões nos seus planos de concessão (ou privatização) de rodovias, ferrovias e portos. E outras poderão vir. Havia tantos erros assim ? Foram casos de descuido ou ações propositais de quem é contra essas concessões. Sabe-se que há muita resistência na burocracia e nos partidos às "malditas privatizações". Radar NA REAL 22/2/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3069 estável baixa - REAL 1,9820 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 56.617,56 estável estável - S&P 500 1.487,85 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.116,25 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Política & Economia NA REAL n° 233

Os juros, o câmbio, a inflação e a política Depois de trombadas e abalroamentos em profusão, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do BC, Alexandre Tombini (lembrete útil : também tem status de ministro) parecem, finalmente, que afinaram a "logorréia" econômica oficial. Pelo que ficou entendido das declarações de Tombini a respeito do "desconforto" do BC com a inflação e das afirmações de Mantega, na Rússia, de que o câmbio não será usado como instrumento de política anti-inflacionária e que esta função é dos juros, a qualquer momento que julgar necessário a autoridade monetária poderá voltar a elevar a taxa Selic, hoje em 7,25% ao ano. O tal de mercado leu rapidamente o recado e na própria sexta-feira, dia da declaração de Mantega, já começou a elevar as taxas de juros no mercado futuro. Os juros, o câmbio, a inflação e a política II Um pouco de cautela nessas análises é aconselhável. Os dois parecem mais interessados em ajustar as expectativas e ganhar alguma elevação dos juros no mercado futuro sem a necessidade de o BC agir diretamente na Selic. A razão é simples : um dos mantras político-eleitorais da presidente Dilma Rousseff é exatamente poder inflar o peito de orgulho e dizer que nunca neste país os juros estiveram tão baixos. E insinuar que podem - e devem - cair ainda mais. Como as eleições de 2014 já estão desgraçadamente no ar... O plano real As indicações mais confiáveis são as de que o governo pretende concentrar seu ataque ao risco de um descolamento da inflação em novas desonerações da folha de pagamento e na eliminação dos impostos que incidem sobre os alimentos da cesta básica. Isto, mais a redução das tarifas de energia elétrica e o menor efeito do aumento do salário mínimo, mais os bons sinais de que a pressão dos preços dos alimentos está arrefecendo, seriam fatores suficientes para não deixar a inflação estourar o limite superior da meta de 6,5%. Esta é a meta real de inflação no Brasil para 2013/2014 : não passar de 6,5%. Governo faz um "ataque especulativo" Ajustes econômicos nunca são neutros, como se sabe. Há sempre um efeito sobre certa variável macroeconômica quando se altera (ou se tenta alterar) outra variável. Note-se que as expectativas têm valor superior aos fatos (futuros), na medida em que são as primeiras que alteram os preços dos ativos e comandam as ações dos agentes. No momento, a política econômica está sofrendo "um ataque especulativo originado dentro do próprio governo". Afinal, são os próprios gestores da política econômica que tornam as coisas confusas, contraditórias e obscuras. Vejamos o caso do juros e do câmbio : não precisa ser economista para saber que a formação da taxa de câmbio é endógena, ou seja, formada pelo mercado. Assim como a inflação. A variável exógena que influi em relação a ambos chama-se taxa de juros básica. Somente esta última, em termos nominais, é administrada pelo governo. Nem mesmo a chamada "curva de juros" está sob a gestão do governo. Logo, se os agentes não entendem os sinais que vem do governo, formam-se expectativas confusas, erráticas. Assim nasce a volatilidade, fruto deste risco. Mantega, Tombini e sua turma estão freneticamente lançando comentários carentes de unidade lógica que favoreça uma menor volatilidade no mercado. Não lhes falta apenas talento para a comunicação. Falta-lhes conteúdo mesmo. A inflação fora de controle ? Já se sabe que este governo não tem competências intestinais capazes de produzir a confiança para que os agentes se arrojem na tarefa de investir e aumentar, assim, o investimento. Esta seria uma tarefa avançada para uma equipe econômica tão fraca de ideias e de concepções estratégicas. Agora, o governo está brincando com a inflação. Esta alcança patamares preocupantes num cenário de fraqueza de demanda. Imagine-se se o crescimento do PIB fosse mesmo de, digamos, 4%. A inflação não seria os atuais 6,0%-6,5%. Provavelmente, saltaria alguns pontos percentuais e com rapidez. A taxa de difusão dos preços já está acima de 60%. Isto significa que os agentes consolidaram a ideia de que a inflação ganhou dinâmica própria e que 6% é piso e não o teto para a carestia. Muitos analistas têm sido cautelosos para fazer prognósticos sobre a inflação. Isto é natural num país pouco acostumado ao confronto de ideias. Todavia, o país está sujeito a uma perigosa incompetência em relação à inflação. A correção disto pode custar mais que a atual estagnação. Pode ser necessária uma recessão. Expectativas de crescimento exageradas O ex-presidente Lula trouxe à política a "nova pauta" da inclusão social. Nada mais justo num país sabidamente desigual. A distribuição de renda ocorreu num ambiente internacional extremamente favorável até 2008 e, depois da enorme crise instalada no mundo, deixou de ser o "fenômeno" tão apregoado pelo ex-trabalhador. O que se seguiu com o governo Dilma foi a evidência de que o crescimento econômico brasileiro não tem dinâmica - os investimentos despencaram (de fato, nunca cresceram consistentemente) e o consumo encontrou o muro do alto custo dos empréstimos e da limitação da renda para pagar dívidas. Isso tudo com o mercado laboral permanecendo (surpreendentemente) positivo, apesar do vergonhoso PIB de 1% no ano passado - os EUA com toda a crise que enfrentam cresceu 2%. Ora, com a inflação em alta, os ataques especulativos de dentro do próprio governo e a taxa de câmbio valorizada, a aposta do "mercado" de que o crescimento vai ser maior que 3% parece bem otimista. Frase da semana Do jornalista Rolf Kuntz em artigo no "Estadão" : "O papa Bento XVI anunciou a intenção de se isolar depois de abandonar o Vaticano. Dificilmente estará mais distante do mundo num convento do que estaria em Brasília". Trair e coçar, é só começar ! Diriam os pecuaristas que a situação política, em matéria de sucessão presidencial, está daquelas em que o bezerro não reconhece a mãe. Na plataforma de lançamento estão Dilma Rousseff, Marina Silva, Eduardo Campos e Aécio Neves. Dilma já está no jogo e fez algo inusitado na política brasileira : precipitou a própria sucessão, com todos os riscos políticos que isto acarreta. A largada antecipada pode levar, por exemplo, a presidente a tropeçar na economia (ver notas acima). Marina Silva, com o recém-lançado "Rede Sustentabilidade", também é nome certo no grid de largada. Eduardo Campos está no páreo, não esconde que é candidato apesar de algumas ambiguidades, está mais para ir que para não ir, mas ainda analisa riscos e oportunidades. Será força influente, porém. Aécio Neves é aspirante sim, só não concorrerá se não conseguir a unidade de seu partido e uma aliança que pelo menos mantenha com ele o DEM e o PPS. Porém, ao contrário de Eduardo Campos, da mesma geração e com quem tem diversas afinidades, ele testa suas possibilidades para dentro e não para fora. Trair e coçar, é só começar ! II Mas fora dos partidos de origem de cada um dos quatro, este cenário não está consolidado - e ninguém aposta em ninguém, estão todos esperando para ver o sopro do vento. O único dos partidos mais significativos que não terá candidato à presidência e que está com um compromisso mais firme, por interesses imediatos, é o PMDB. O partido quer garantir a vice-presidência, que está ameaçada por movimentos de Lula e Eduardo Campos. Também quer mais espaço no governo. Dilma quer o partido não só para suas necessidades diárias no Congresso como também como uma espécie de contraponto a alguma discordância com o próprio PT. Mesmo assim esse compromisso não está passado ainda "em cartório do céu e assinado por Deus" (Vinícius e Baden, no "Samba da Benção"). O restante está de amizade colorida. Dilma conversou com alguns já, mas de nenhum recebeu a garantia de votar com ela em 2014. Estão com ela no Congresso, a sucessão presidencial é outra conversa, para outro momento. O mesmo vale para Aécio, Campos, Marina. Vai depender das ofertas e das chances mínimas de cada um. O que começa a contar é a tal "expectativa de poder". As bruxarias de Lula Lula já deu demonstrações de que em matéria de política é capaz de fazer, como diria aquela bela canção de Dorival Caymmi ("João Valentão"), "coisas que até Deus duvida". Escapou incólume de todos os problemas de seu governo - mensalão, queda de ministros (Antonio Palocci e José Dirceu) - e posteriores - queda de ministros indicados a Dilma, os "bebês de Rosemary" - e elegeu duas apostas, inicialmente consideradas temerárias para a presidência da República e a prefeitura de SP. Mostrou que é mesmo o próprio "cara". Com tal cacife e sem contestações visíveis na área do governo, está agora pretendendo armar um quebra-cabeças realmente sobrenatural : a) entregar a vice presidência da chapa de Dilma à reeleição para Eduardo Campos do PSB, retirando da cabeça do governador de PE o plano de se candidatar ao Palácio do Planalto ano que vem. b) compensar o PMDB e Michel Temer pela perda da vice-presidência com a candidatura à sucessão de Geraldo Alckmin em SP com as bênçãos do PT. Mesmo para um "milagreiro" como Lula, é santo demais para acomodar. O PMDB aceitaria trocar o que acha certo pelo mais que duvidoso, ainda mais que está totalmente alinhado com Dilma ? O PT aceitaria fazer concessões ? O PMDB e o PSB, conhecendo o parceiro como conhecem, confiarão numa resignação petista ? Se conseguir tal façanha, Lula poderá reivindicar o direito a uma "canonização política". Jogo de cartas marcadas ? Há um enigma em algumas movimentações iniciais do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff da sucessão de 2014. Apesar das diferenças de estilo e de ênfase, em dupla, eles atuam na política e na economia como as mais afinadas duplas caipiras. De público, não há divergências e quando surge algum ruído é logo explicado. Agora, porém, parecem em campos opostos nas tratativas para montar o palanque de Dilma para 2014. Lula trabalha para colocar Eduardo Campos no lugar de Michel Temer na recandidatura presidencial. Dilma tem afirmado que a parceria com o PMDB vai permanecer intacta. Das duas uma : ou eles começaram a divergir ou, o que é mais provável, estão jogando em dobradinha para manter o PMDB e evitar que Campos saia imediatamente do redil oficial e só oficializarão a chapa governista no ano que vem. Enquanto isso, ficam os dois distraídos e na expectativa. Para compensar, a ABL Quem sabe das coisas sabe que o PT nunca abrirá mão de disputar o governo de SP com um candidato próprio, pois nunca ter governado os paulistas é um das frustrações petistas. Assim, ele só abrirá mão dessa vaga para um aliado, no caso alguém do PMDB e, ao gosto de Lula : Michel Temer. Isso se o ex-presidente estiver absolutamente certo de uma derrota. Mas, quem sabe, tal estratégia não seja nada para o peemedebismo. Temer, poeta romântico que é, poderá ser compensado com o apoio de Lula à candidatura dele a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Um vespeiro para Dilma No vai e vem das informações desencontradas sobre a reforma ministerial que a presidente Dilma já está negociando com os aliados, assegura-se agora que a mudança será mais ampla que a inicialmente pretendida por ela. Não virá mais apenas para acomodar compromissos com PMDB e o PSD, assumidos nas eleições municipais. Vai atrair de volta para o curral oficial os partidos que andavam desgarrados das mudanças de 2011 por suspeitas de mal feitos, caso dos "faxinados" PR e PDT. Os dois têm "nomes fantasia" no ministério atual, que não são de agrado dos seus caciques. Dilma terá também de fazer algumas compensações regionais para não abrir fissuras perigosas na sua base. É o caso de MG, especificamente com o PMDB. O PMDB mineiro considera-se credor de um ministério por ter, atendendo a um apelo do onipresente Michel Temer, apoiado a candidatura derrotada de Patrus Ananias/PT à prefeitura de Belo Horizonte. Se não receber a compensação, os peemedebistas mineiros ameaçam abraçar desde já a candidatura presidencial do tucano mineiro Aécio Neves. Um vespeiro para Dilma II Até o próprio petismo mineiro acha que Dilma precisa dar mais espaço a Minas no Ministério, hoje representada apenas pelo solitário Fernando Pimentel no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A imagem de Dilma para uma parte relevante dos mineiros é "a de uma mineira que não gosta de Minas", frase esta já explorada por Aécio Neves na campanha municipal. Dilma não pode se arriscar a um atrito com o segundo colégio eleitoral do país, bairrista como ele só, e no qual tanto Lula (duas vezes) e ela (em 2012) conseguiram expressivas margens de votos sobre os adversários. Desta vez um dos prováveis concorrentes será um mineiro, o que ajuda a recrudescer o sentimento nativista das Alterosas. Ao admitir fazer uma reforma ministerial para atender PMDB e PSD de forma restrita, Dilma mexeu num vespeiro de reivindicações que já extrapolam também para o segundo escalão. Haja cargos ! A festa (e a solidariedade) do PT O PT faz uma grande festa amanhã em SP, tendo como astros de primeira grandeza naturalmente a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula para comemorar os 33 anos de criação do partido e os dez anos de petismo na presidência da República. Em meio à apoteose que deve ser o evento será curioso descobrir como o partido, com outros convidados ilustres no palco, tratará os mensaleiros condenados pelo STF, figuras cruciais na fundação e consolidação da legenda. Haverá um ato de solidariedade explícita aos companheiros em dificuldades com a Justiça ou o assunto será esquecido ou apenas tratado de forma envergonhada ? Tem gato na tuba ? Depois de conquistar a presidência do Senado, com o investigado Renan Calheiros, o PMDB está querendo nada menos do que o comando do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa. Na Câmara, onde pontifica Henrique Alves, quem almeja posição idêntica é o PT, ainda às voltas com seus deputados condenados no mensalão. A pequeneza de Dilma Durante a campanha eleitoral que elegeu a novata em eleições, Dilma Rousseff, o Papa Bento XVI declarou que os eleitores não deveriam votar em candidatos que apóiam o aborto. Ora, nada mais natural que um pontífice se pronuncie em relação aquilo que diz respeito à doutrina de sua religião. A mesma crítica tocou a eleição norte-americana do ano passado. Não foi uma censura direta aos candidatos, um erro primário que o atual Papa não cometeu. A sociedade aberta permite este confronto. Note-se como é discutida a questão da pedofilia de certos religiosos nos EUA e na Irlanda, apenas para citar um incômodo assunto para as lideranças católicas. Pois bem : todos os líderes das principais nações do mundo mandaram mensagens à chancelaria vaticana quando do anúncio da renúncia de Bento XVI. A exceção foi Dilma que se recolheu às próprias mágoas. Radar NA REAL 15/02/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3351 estável baixa - REAL 1,9636 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 57.613,90 estável estável - S&P 500 1.514,14 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.192,03 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Política & Economia NA REAL n° 232

A democracia formal e a real - I Inegavelmente o Brasil produziu avanços institucionais importantes ao longo dos últimos trinta anos, especialmente após a promulgação da CF/88, bem como após a estabilização da moeda ao final da administração Itamar Franco e início da gestão de Fernando Henrique Cardoso. O governo Lula representou o passo determinante na transição do poder militar para o civil : a chegada ao mais alto posto por parte do partido mais arraigado na luta pela popularização da democracia coroou a cena da democracia brasileira. Um partido com importantes raízes nos chamados "movimentos populares" adentrou à cena política como ator principal, liderado pelo segundo líder mais carismático da história brasileira. Desde 2003 fortaleceu-se a democracia brasileira naquilo que de forma singela se pode chamar de "democracia formal", entendida como a resultante de eleições livres e plenas garantias individuais e públicas. Há inegavelmente legitimidade política decorrente da existência desta "democracia formal". Todavia, a democracia não é um fim, mas o meio pelo qual se constrói a República, o interesse público, comum e permanente. É preciso dar à democracia este caráter finalista para que se prove de seus benefícios. A democracia formal e a real - II O que se vê hoje no Brasil é uma perigosa ausência de funcionalidade e de fins verdadeiramente republicanos à "democracia formal" construída com enorme esforço social e político. Vejamos brevemente. O governo é uma colcha de partidos de concepções díspares, objetivos obscuros e lideranças empenhadas na obtenção de parcelas de poder e de recursos, sem o devido comprometimento com o ideal basilar de uma verdadeira República. Por sua vez, é no coração do Poder Legislativo, dos municípios à União, que é engendrado o chamado "governo de coalizão" que soma os tais partidos de diferentes matizes para construir governos disformes, com ar administrativo rarefeito e padrão ético duvidoso, para dizer o mínimo. O projeto de poder dos partidos se serve do processo eleitoral para, logo depois deste, se distanciar da res publica e negociar o interesse de grupos que tomam de assalto o Estado. A sociedade, por sua vez, assiste a tudo com perplexidade, de um lado, e de outro, com surpreendente passividade, apenas resmunga por meio da mídia. O sistema de representação não passa de uma ficção política e uma realidade maquiavélica recheada de personagens e ações que resvalam para a obscuridade da corrupção, prevaricação, clientelismo e todas as piores mazelas que já Aristóteles imaginava desde a Antiguidade. A democracia formal e a real - III A eleição de Renan Calheiros e Henrique Alves para liderar as principais casas legislativas do país nada mais é que mais uma das feições corroídas da democracia brasileira neste tempo. É o lado real de nossa democracia. É a face visível que consagra a nossa já combalida história política, marcada pelo clientelismo e patrimonialismo. Tanto a quem elege, como a quem recebe o sufrágio de votos, pouco interessa o interesse público, a higidez ética necessária à liderança do parlamento, a índole republicana e a imagem pública. Calheiros e Alves simplesmente simbolizam as costas viradas ao povo por parte do Parlamento e, daí por diante, pouco importa a dor de garganta de quem terá de engoli-los. Os políticos assistem a tudo e formalmente consagram os eleitos como se a democracia fosse simplesmente um jogo de legitimação. Meios e fins se misturam e fim de conversa. Está feito. Como se não se tratasse do segundo e terceiro cargos mais importantes daquilo que ousamos chamar de República. Eis a regência que a democracia formal lhe concede no Brasil. Sarney imortal Do discurso de José Sarney, agora ex-presidente do Senado Federal, quando de sua posse na Academia Brasileira de Letras perante o general Figueiredo em 6/11/80 : "Nada melhor para um país do que verificar que os homens públicos prezam os valores do espírito. É possível pensar em Nabuco, em Rui, em Graça Aranha, em Tobias Barreto, João Neves, Otávio Mangabeira, Afonso Pena Júnior e em Afonso Arinos, em Luís Viana, em Alceu Amoroso Lima, em José Américo, em Barbosa Lima, Afrânio Peixoto, Aníbal Freire e em Gilberto Amado sem pensar na política ? Churchill ? De Gaulle ? Mao ?" O que diria o velho senador maranhense sobre a última eleição no Senado e na Câmara ? Depois de Calheiros e Alves A eleição da dupla peemedebista no Legislativo atende a um acordo entre o maior partido brasileiro e o PT há cerca de quatro anos. Os tempos eram outros e o acerto visava atender aos anseios de uma "alternância de poder" entre os dois sócios. Ocorre que a realidade muda. O PSB, duvidoso parceiro do governo no pleito de 2014, lançou candidato alternativo, o mineiro Júlio Delgado e, assim, marcou pontos para Eduardo Campos, o desenvolto governador de PE que anseia dar passos maiores na esfera Federal. No Senado, a eleição de Calheiros foi mais fácil, apesar do candidato ser uma imensa vidraça. Daqui para frente, será relevante observar como andará a aliança entre o PMDB e o PT num novo contexto em que o PT dependerá da caneta de seu maior parceiro. Oposição, Aécio e o futuro Nenhum retumbante discurso enfático da oposição na tribuna do Senado e da Câmara. Nenhuma ação junto à sociedade. Nenhum barulho do presidenciável Aécio Neves contra a eleição no Legislativo Federal. Na surdina, PSDB e parceiros fizeram acordos para sentar na mesa das casas legislativas. Acordos bem pequeninos. Do tamanho da oposição que se diz "alternativa de poder". As eleições de 2014 estão soltas, mas qual a imagem que a oposição quer construir ? Anônima Intimidade Ainda não foi consagrada a nova face poética da República, no caso o vice-presidente Michel Temer, autor de versos verdadeiramente "aéreos". Todavia, não deixa de atiçar a curiosidade de como terá sido a sua atuação na eleição de Calheiros e Alves e sua correspondente articulação com a ocupante do Planalto. Que promessas terão trocado o par neste processo todo ? Como ficará a prometida reforma ministerial ? Serão verdadeiras as versões que dão conta de que o PMDB não ocupará a vice-presidência na chapa de Dilma em 2014 ? Tudo ficou anônimo nesta intimidade do poder. A voz da crítica De Paulo Maluf, citado por Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo do último fim de semana a respeito do livro de poemas Anônima Intimidade do vice-presidente Michel Temer : "Ele imprime uma poesia que vem de dentro da garganta e do coração". Maluf ultrapassa seus conhecimentos mais mundanos quando fala de poesia... Nova estratégia econômica ? E política... I Os últimos sinais emitidos indiretamente pela presidente Dilma Rousseff mostram que o governo mudou sua principal obsessão : não mais persegue a todo custo o "PIBão" que o Palácio do Planalto pediu de presente no ano novo. Por PIBão entenda-se um crescimento da economia entre 4% e 4,5%, a meta que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, continua vendendo ao distinto público nacional, principalmente aos mais desavisados. O governo se daria por satisfeito com algo acima de 3% - naturalmente superior a 2011 (2,7%) e a 2012 (mas ou menos 1%). Não será difícil conseguir, segundo a quase totalidade dos analistas. O Boletim Focus, pesquisa do BC com cerca de 100 analistas de mercado, divulgado ontem, indicou a mediana do PIB para 2013 em 3,10%. Evidentemente, não é o que Dilma sonhou, mas o que o próprio governo descobriu, com má vontade, ser possível nas circunstâncias. Nova estratégia econômica? E política... II A estratégia agora é preparar o campo para 2014, ano das eleições que a presidente vai disputar e que, com riscos para os planos dela, de Lula, do PT e dos aliados, não pode ser marcado pela perversa combinação de crescimento baixo e inflação muito fora do centro da meta. Quatro anos seguidos com um quadro desses pode destruir o grande cabedal eleitoral da presidente : desemprego baixo e renda em elevação, mesmo que não crescendo nos níveis dos últimos anos. Nesta situação, a oposição pode dar adeus às suas pretensões de voltar ao Palácio do Planalto. Assim, até segunda ordem, pode-se prever, com alguma margem de segurança : 1. A inflação será calibrada para não fugir do teto da meta, de 6,5% e o mais próximo possível de 5%. Sem, contudo, medidas que possam segurar a economia. 2. O dólar será mantido na casa dos R$ 2,00, sem grandes variações para cima e para baixo. 3. O BC só será autorizado a subir a taxa básica de juros dos 7,25% se alguma intempérie ocorrer. 4. O superávit primário de 3,1% não será mantido a ferro e o fogo. E o governo, em lugar de passar o ano garantindo que cumprirá este compromisso para em dezembro aparecer com mágicas para fingir que cumpriu, desta vez deverá admitir antes que não precisa tanto deste número para segurar o tamanho da dívida pública em números palatáveis. 5. O incentivo ao consumo será mantido, talvez apenas com um pouco menos de fôlego. 6. Toda a atenção será dada à ampliação dos investimentos, tanto públicos como privados. Os números preliminares do ano passado estão mostrando que, apesar de todo o discurso e apelos, este item das contas nacionais voltou a decepcionar. E enormemente. Não deixa de ser um plano econômico. Mas é também uma grande plataforma eleitoral. A dúvida mais cruel é saber como os agentes econômicos vão receber as novas regras. Embora o prestígio da presidente Dilma esteja ainda em alta, a confiança no governo, na condução das políticas para a economia e, principalmente, na sua capacidade de fazer, continua a desejar. O nó do investimento Para fazer os investimentos crescerem no ritmo que a economia brasileira necessita (lembrar que o BC escreveu na última ata que nosso problema está do lado da oferta, opinião generalizada entre os analistas não oficiais) a presidente Dilma vai atacar em duas frentes : 1. Na área do governo, aumentar a capacidade de "fazer" dos ministérios e órgãos estatais. Como nos anos anteriores, a execução orçamentária do governo Federal ficou muito abaixo do planejado. Não fossem os investimentos da Petrobras e os relativos ao programa Minha Casa, Minha Vida (que tem um boom do setor particular) os investimentos de 2013 teriam sido quase ridículos. 2. Na área privada, a ordem é envolver empresas e investidores nacionais e estrangeiros, comovê-los com os argumentos (corretos) de que o Brasil é um bom negócio e de que o Estado brasileiro é um bom parceiro (com isso muitos têm dúvidas, dado o intervencionismo estatal em muitas áreas ainda). Na frente interna, a presidente Dilma Rousseff iniciou um trabalho de atração de investidores e passou a receber periodicamente grandes empresários nacionais e de empresas estrangeiras aqui instaladas para conquistá-los, para acabar com a desconfiança da maioria. Na frente externa, a presidente está despachando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e outros auxiliares graduados, para road shows nos Estados Unidos, na Europa e em países do Oriente para venderem o Brasil e as possibilidades de investimentos que aqui estão abertas nas áreas de infraestrutura, petróleo e gás. O sucesso dessas empreitadas dependerá do realismo com que o governo apresentar os projetos, como também suas previsões para a economia nacional. Se o espetáculo for mais ou menos parecido com o que Mantega engambela o público brasileiro, o esforço pode não dar em nada. Os interlocutores que a equipe do show vai encontrar estão muito bem informados sobre o Brasil. O governo precisa vender mesmo é credibilidade, confiança. Radar NA REAL 4/2/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3512 estável baixa - REAL 1,9954 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.575,66 estável estável - S&P 500 1.495,71 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.131,17 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Política & Economia NA REAL n° 231

Dilma : 2014 é aqui e agora - I Não foi apenas a oposição que foi surpreendida pelo tom "eleitoral" do discurso da presidente Dilma Rousseff em rede de rádio e televisão quarta-feira passada. Muita gente de boa, até ótima cepa, no governismo também o foi. Uma razão óbvia para o inesperado pronunciamento foi naturalmente colocar o governo na ofensiva, tentar afastar o ambiente carregado na sociedade em relação ao governo - estava se disseminando a sensação de inapetência e incapacidade gerencial de Brasília. Até mesmo entre gente de fé governista. Há informações de que o próprio ex-presidente Lula, em conversa com Dilma no fim do ano passado, teria manifestado sua preocupação com a situação. Por isso, o ativismo presidencial desde o fim das férias. Dilma : 2014 é aqui e agora - II O que intriga é por que, além de mostrar que seu governo não está parado, a presidente também assumiu definitivamente a campanha eleitoral de 2014, quando, poucos dias antes, havia dito que 2013 seria um ano de "arrumação e colher frutos" ? Segundo o repórter Raymundo Costa, do jornal Valor Econômico, ela chegou a dizer a um interlocutor, recentemente, que o mandato dela é de oito anos - uma alusão a seu direito de disputar a reeleição. Assim, o recado do discurso e a antecipação da campanha, que ela não queria porque sabe que embaralha a vida administrativa do governo, não parecem dirigidos à oposição. Esta, além de ainda confusa e de não ter um rumo certo no momento, não contesta o direito reeleitoral de Dilma. Quer apenas, se possível derrotá-la na disputa de 2014 - hoje tem poucas perspectivas de fazê-lo no horizonte atual. O alvo foi o público interno. E logo alguns - ou algum - assumiu a carapuça, dizendo, por meio de auxiliares, que não se pensa numa "canção da volta", como certos movimentos do lulismo davam entender possível. As "viúvas", aqueles companheiros que perderam espaços em Brasília, terão de curtir um pouco mais o seu luto. O poder presente e o poder futuro Há outra razão para o soco na mesa de Dilma : seu mandato entrou na fase de contagem regressiva, como ocorre normalmente com todo governo no Brasil quando ele ultrapassa a metade de sua gestão. Nesta fase o mundo político começa a medir as vantagens entre estar com o poder presente ou namorar o poder futuro. Dilma tem então de mostrar que continua uma boa perspectiva de poder para não começar a esmaecer. Petismo, lulismo e dilmismo O universo governista gira em torno de três ismos : (i) o petismo, que hoje é um apêndice dos outros dois - e cada vez mais dependente deles ; (ii) o lulismo, ainda uma força popular imensa, com ramificações em todos os estratos sociais e saudosistas em todos eles ; (iii) o dilmismo, ainda embrionário, e que quer tirar sua força em dois instrumentos : a caneta e o Diário Oficial. A questão é saber como eles se comporão entre si, uma vez que nem todos os objetivos são os mesmos, e como se comporão com os outros aliados, nas disputas pelo poder no ano que vem. Novos postos De um maldoso de plantão ao observar as novas andanças de Lula, as ordens que anda distribuindo a ocupantes do poder e planos dele como organizar a base aliada de Dilma : "Estão criados mais dois postos na administração pública brasileira : a subprefeito da Praça do Patriarca e a de curador geral da República". O 40º ministério Segundo as contas oficiais, com a futura instalação do Ministério da Micro e Pequena Empresa, a ser destinado ao PSD de Gilberto Kassab e, provavelmente, ao vice-governador de SP, Guilherme Afif Domingos, Dilma baterá o seu próprio recorde emplacando o 40º ministério. A conta está errada. Não de direito, mas de fato, esse ministério número quarenta já existe conforme atestam os bons observadores da cena brasiliense : trata-se de um ministro sem pasta, uma espécie de ministro "plenipotenciário" - o marqueteiro João Santana. Sem o "imprimatur" dele muita coisa não anda lá pelas bandas da República. Ela ainda não despertou A oposição já percebeu que o ponto fraco do governo Dilma está, no momento, na condução da economia e na gestão de seus programas e projetos. A economia ainda rateia e a capacidade executiva de Brasília está vacilante. Porém, a turma do PSDB e parceiros não saem dessas constatações. Não vai para o debate mais aberto e principalmente não aponta alternativas concretas e viáveis. Há promessas de que depois do Carnaval as coisas vão mudar. Será ? Ao modo da oposição brasileira Comentário de um maledicente em circulação por Brasília : "De fato, o PSDB e sua turma resolveram mesmo ser mais ativos, aquecer a oposição, hoje morna, quase gelada, que fazem ao governo Dilma. Por isso apoiam a eleição de Renan Calheiros e Henrique Alves". Desalento Parece inevitável a eleição de Renan Calheiros para a presidência do Senado, e de Henrique Alves, para a presidência da Câmara, ambos do PMDB, apesar da extensa folha corrida dos dois. O Congresso faz questão de ficar de costas para a sociedade - depois não vai se queixar. Para quem ? Diz o vice-presidente da República, Michel Temer, que o senador Renan Calheiros fará uma "belíssima" gestão no Senado. Infere-se, uma vez que Temer é patrono dos dois, que ele pensa a mesma coisa a respeito de Henrique Alves na Câmara. Belíssima para quem ? - é o caso de perguntar, pois nenhum dos dois (Renan ainda nem admitiu publicamente a candidatura) apresentou nenhuma ideia para melhorar o andamento do Congresso. Fala-se em melhorar a imagem da instituição. Como ? Até agora a "campanha" está centrada em aliciar os "eleitores" com promessas corporativas e com o sempre gosto de fisiologismo. O deputado Tiririca pode ser mais uma vez desmentido : pior que está, sempre fica. A liderança de Alckmin O ex-candidato a presidência da República e atual governador de SP Geraldo Alckmin sempre foi uma figura que combinou fidalguia no trato com os seus opositores e ideias políticas relativamente tradicionais. Assim, construiu a imagem de um conservador confiável e administrador prudente. Entretanto, esta imagem vai mudando, desde a sua última eleição ao governo de SP. O governador tem sido uma figura pálida, expressando ideias inacabadas e realizando políticas cujos efeitos ou são demasiadamente limitados ou simplesmente nulos. Veja-se, por exemplo, as idas e vindas de Alckmin na questão dos dependentes de crack e a questão da segurança pública cujo padrão vem caindo nos últimos dois anos. Além disso, o governador paulista parece precocemente empenhado em formar um amplo espectro de apoio político - à moda brasileira - para garantir a sua reeleição nas Terras Bandeirantes. Desta forma, Geraldo Alckmin perde a credibilidade política para criticar as políticas do governo central e perde a chance de firmar como liderança nacional. BC, um rebelde com causa ? A ata do Copom divulgada quinta-feira pelo BC surpreendeu. Nas entrelinhas - algumas mais que visíveis - a autoridade monetária faz críticas veladas à condução da política econômica e dá alguns recados ao grupo do Ministério da Fazenda e adjacências. Os destaques : o problema da economia brasileira no momento não é de consumo e sim de oferta ; não haverá mais queda na taxa de juros ; no superávit primário cheio (inicialmente previsto de R$ 159,9 bi) é essencial para ajudar no combate à inflação ; a inflação está resistente e disseminada ; a recuperação da economia está mais lenta que o esperado ; sem a retomada dos investimentos o PIB não deslancha. O BC subiu o tom e causou inquietação em muitos gabinetes de Brasília. Erro ou puxão de orelha ? É possível, sempre há esta possibilidade, que o BC tenha errado no seu cálculo ao anunciar que a energia elétrica no Brasil ficará apenas 11% mais barata este ano quando a presidente anunciou cortes nas contas que vão de 18,2% para residências e comércio e até 32% para a indústria. O departamento econômico do BC tem uma extraordinária estrutura, tem sido muito correto em suas avaliações e não cometeria um equívoco tão primário. Tanto que quando anunciou sua projeção para a energia em 2013 ele avisou que já tinha considerado os descontos anunciados pelo governo. Como Dilma não gostou nada de ver uma de suas plataformas positivas contestadas (ou diminuídas) horas depois de soltar suas previsões, o BC prometeu revisá-las na próxima ata do Copom, em março. Tipo da emenda que virá pior que o soneto. Sinuca de bico do BC A continuar a letargia econômica brasileira, fruto de uma série enorme de fatores, dentre os quais se destaca a incompetência governamental em engendrar uma taxa de investimento crescente, a autoridade monetária brasileira ficará sozinha e sem alternativa de fazer políticas consistentes. Vejamos : (i) a estagflação atual cria um paradoxo perigoso para o BC. Para controlar a inflação tem de subir a taxa de juros, o que é contraditório com o fato de a atividade econômica estar deprimida ; (ii) o total de crédito concedido pelo sistema financeiro no Brasil está caindo pouco a pouco. O motivo pouco tem a haver com a política do BC - mesmo porque o spread continua elevadíssimo -, mas tem relação direta com a ausência de confiança nas políticas do governo ; (iii) a economia persiste em pleno emprego, o que recomendaria taxa de juro mais alta. Todavia, a economia está atolada e não vai à frente. Basicamente, o BC assistirá inerte aos movimentos do mercado laboral. Concluindo... Atualmente o liquidificador da economia brasileira gira com quatro ingredientes que costumam não combinar : elevado emprego, inflação em alta, crescimento frágil e consumo relativamente aquecido, mas declinante. O que vai dar esta combinação ? O que o governo vai fazer de efetivo para fazer que os ingredientes se misturem sem desandar a receita ? Virada no mercado Claramente o cenário do mercado acionário norte-americano é positivo. A tendência altista está se firmando por conta de quatro fatores básicos : (i) está muito firme a convicção de que a taxa de juros vai ficar mesmo baixa até meados de 2015, mesmo que a inflação se eleve acima dos 2% ao ano ; (ii) os indicadores econômicos mostram demanda para cima, mesmo que num ritmo ainda moderado ; (iii) os resultados corporativos do último trimestre do ano passado mostram lucros com crescimento acima do esperado, com problemas de crédito relativamente limitados e sinalização de lucros ainda maiores no futuro por parte do management das empresas ; e (iv) investidores externos comprando ações americanas. A somatória de melhores fundamentos e fluxos positivos faz da América o lugar preferido dos investidores neste momento. Radar NA REAL 25/1/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3445 estável baixa - REAL 2,0352 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 61.167,97 estável estável - S&P 500 1.502,96 estável/alta estável/alta - NASDAQ 3.149,71 estável/alta estável/alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Política & Economia NA REAL n° 230

Guerra de Barack Obama não é fiscal Muita ênfase tem sido dada à "guerra fiscal" que o presidente norte-americano travará no Congresso daquele país a partir das próximas semanas. De fato, o tal do "abismo" nas contas públicas sobre o qual tanto se fala é um jogo político entre aqueles que acreditam que estímulos fiscais e monetários devem ser a essência das medidas necessárias à recuperação da atividade econômica e, de outro lado, a turma que acredita que a intervenção do governo é o "freio" que não permite a recuperação. Como se vê, um velho jogo entre os pregadores do "livre mercado" e os que creem que o Estado tem de suprir a demanda que falta aos agentes econômicos. Alguém que minimamente conheça história sabe que esta questão já foi decidida : o "livre mercado" é uma construção ideológica desprovida de base na realidade econômica do mundo hodierno no qual se combinam monopólios, oligopólios e "neuroses" capitalistas de todos os lados, do efeito "rebanho" dos investidores à "covardia do capital" (termo batizado por Lord Keynes). Apesar da evidência histórica, nos EUA de Barack Obama a luta continua e muito forte. Uma derrota do presidente no Congresso, implica uma redução de pelo menos 2% no PIB. Uma vitória alarga as chances das coisas se arrumarem nos próximos anos. Europa : o pior já passou ? O desemprego na Europa meridional está batendo recordes. A Espanha calcula em 6 milhões o montante de desempregados (26% da mão de obra ativa do país). A Grécia tem 25% de desempregados e desesperados. Todos os países da zona do euro estão com desempenhos sofríveis ou recessivos em termos de PIB, inclusive a Alemanha de Merkel que tem sido surpreendida pela fraqueza dos indicadores de atividade econômica do país. Mesmo diante de tanta dificuldade na Velha Europa, a discussão acadêmica começa a se deslocar de temas sobre a recessão para "se o fundo do poço foi tocado". Ora, sabe-se que é muito difícil saber quando a recessão chegou ao máximo, os níveis de preços das ações bateram no mínimo e a tendência cambial mudou. Todavia, o que se verifica é que está se formando um estranho consenso de que o pior já passou na Europa. Afinal, alguns preços já se movem para cima (imóveis no Reino Unido), os leilões de títulos públicos estão mais demandados pelos investidores (Itália, Espanha, Irlanda) e as novas regras de supervisão do sistema financeiro por parte do Banco Central Europeu tiraram os maiores temores sobre a estabilidade dos bancos, sobretudo os espanhóis. Neste contexto, os mercados acionários estão se movendo para cima e o euro mostra certa fortaleza. Apesar destes tênues sinais de melhoras há um outro perigoso consenso entre os especialistas : o pior pode ter passado, mas as mazelas da crise serão curadas durante muito tempo. Brasil, o país do artigo indefinido Assim, de repente, não mais que de repente, de fontes sempre mantidas ocultas, fica-se sabendo, entre outras coisas que a presidente Dilma Rousseff não gostou do aval dado pelo assessor especial Marco Aurélio Garcia aos arranjos da Venezuela para empossar Hugo Chávez em um novo mandato de corpo ausente ; do imbróglio provocado pelas mágicas fiscais do fim de ano para maquiar o superávit primário ; das escolhas do PMDB para comandos na Câmara e no Senado, especialmente a possível indicação do deputado fluminense Eduardo Cunha (RJ) para a liderança do partido na Câmara ; e outras cositas mas. Traduzindo, nada que não tenha boa repercussão agrada à presidente. É uma nova versão do que "é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde" do ex-ministro Rubens Ricupero : "o que deu certo é meu, o que deu errado é dos meus auxiliares". Ou o lema de alguns treinadores de futebol : "eu ganho, nós empatamos, vocês perdem". Só que esta versão desmente outra que os assessores presidenciais fazem questão de divulgar de Dilma : a gerentona competente que tudo vê, tudo sabe, tudo cobra, "espanca" coisas mal feitas, não perdoa vacilações. A pergunta é : em que lugar estava esta "onipresença e onipotência" quando os feitos desagradáveis foram perpetrados ? A insatisfação da presidente fica no atacado, no artigo indefinido. Há culpas, mas não há culpados. Afinal, pelo seu zelo, todas as políticas são dela. Como culpar alguém de modo definido, no mínimo com um puxão de orelha público e no máximo com a demissão ? Novos rumos A impressão que o governo em Brasília passa é a de que está sentindo o golpe : a imagem de eficiência da presidente, pelas razões expostas acima, está também sendo atingida. Por isso, é visível neste início de ano a postura mais ativa, para fora, da presidente. A abertura do Palácio do Planalto para conversas públicas, individuais, de Dilma com empresários, rara nos dois primeiros anos de mandato, faz parte desta postura. Desde tempos imemoriais esses encontros nunca funcionaram : as empresas não agem na base da lábia, nem de versões : mas de fatos e ações. Porém, as cenas ajudam a criar a impressão de muita azafama na capital da República. O calendário de viagens da presidência, iniciado com a visita ao Piauí na sexta-feira passada e que deverá, até março, contemplar o Nordeste com mais cinco viagens, foram outras em outros Estados, como a SP, na capital, na sexta-feira, para a festa de aniversário da cidade, tem o mesmo foco. O terceiro ponto deverá ser apressar algumas medidas concretas para, na expressão oficial, "destravar" a economia. Como pano de fundo, cada vez mais notícias de cobranças a ministros e auxiliares, de broncas privadas. Sempre na base do "artigo indefinido". Velhos problemas Os problemas fundamentais do governo da presidente Dilma não são a política fiscal, a monetária e nem a cambial. Muito embora nestes itens tenham faltado vigilância cabível ao administrador público, os problemas tem soluções disponíveis e relativamente rápidas (coisa de meses e não anos como nos tempos da inflação alta e insegurança cambial). Além disso, é difícil imaginar no curto prazo (1 ano) que a economia perca um razoável perfil. O problema essencial do governo Dilma é a quase absoluta ausência de prioridades estratégicas e boa capacidade de execução de planos, obras e programas. Não à toa é o investimento o item mais capenga da equação do crescimento uma vez que aí reside a necessidade de presença do governo como bom estrategista e executor. Só assim, a iniciativa privada será seduzida a acompanhar o governo na tarefa de jogar o PIB para cima por meio de investimentos e não consumo. E o que se vê ? O ministro Mantega anuncia a cada semana medidas de estímulo ao consumo, uma clara evidência da falta de sentido estratégico do governo. Até mesmo o "acelerado" setor de construção civil recebe benefícios do governo quando se sabe que nem engenheiros se tem em suficiência para atender a demanda. E onde estão as medidas estratégicas pró-investimento ? Provavelmente, não estejam sequer nas gavetas da burocracia brasiliense. BC na encruzilhada Nem toda unanimidade é burra como pregou Nelson Rodrigues no passado. Todavia, as unanimidades merecem sempre atenção. O BC decidiu, por meio de uma votação unânime, que a taxa de juros básica fica em 7,5% ao ano. Bem, há muito mais razões para a taxa não subir que justificativas para a alta do juro básico. A principal razão para uma taxa de juros baixa é o fato de que a demanda anda fraca e o país está estagnado. Assim como no mundo, o Brasil afrouxa as garras monetárias e, em menor medida, as fiscais. Ocorre que o BC está assistindo passivamente a inflação permanecer em níveis altos, deteriorando o poder de compra da moeda no médio prazo e estimulando pouco a pouco a que os agentes fiquem na defensiva com o acúmulo de (muita) inflação. Assim como nos parece razoável que o juro básico não suba, cabe-nos perguntar o que farão os diretores do BC diante de uma inflação que incomoda a todos ? Aparentemente, a razão principal do silêncio dos diretores da autoridade monetária em relação à matéria é que, para analisar a questão, eles terão de tocar em certos assuntos que incomodam a Esplanada dos Ministérios e o Planalto : aumento dos combustíveis, crise energética, fraqueza dos investimentos, etc., etc. Meia palavra não basta neste caso. E o emprego ? Embora acredite que, ainda que tenha de plantar um pouco mais está na hora de colher os frutos que já semeou (tom do discurso de Dilma no Piauí), o governo está com toda a atenção voltada para duas possíveis assombrações : os níveis de emprego e da renda. Com alguma razão, enquanto esses dois pilares do prestígio de Dilma e do governo não forem abalados, não há riscos de sismos eleitorais. A questão é como manter isto se a inflação ficar mais indisciplinada e a atividade econômica permanecer rateando. Em números : uma inflação próxima de 6% mais um ano e um crescimento entre 3% e 3,5%, como está na média das previsões, são suficientes para manter o mercado de trabalho aquecido e a receita média no mínimo nos mesmos níveis atuais ? Esta é a fonte mais importante da popularidade da presidente. O olho em 2014 Um dos focos das últimas ações de Dilma Rousseff é organizar 2013 para os embates de 2014. Lula será consultado pessoalmente no dia 25 em SP sobre as estratégias políticas daqui para frente. O marqueteiro João Santana também palpita sobre formas - e até conteúdos. As viagens com prioridade inicial no Nordeste têm o claro objetivo de tentar neutralizar a crescente influência do governador Eduardo Campos na região. A nova "caravana da cidadania" que Lula promete reavivar a partir de março, abril, deverá se concentrar inicialmente em rebater Aécio Neves, o principal rival na eleição de 2014. Enquanto o mineiro e o PSDB estiverem ainda nos ensaios iniciais, eles não serão alvos-diretos. O governo espera primeiro ganhar a "batalha da comunicação" para depois enfrentar os adversários. Alguns analistas oficiais acham que não há nada de muito errado nas políticas e ações governamentais, o que há é incompreensão, falhas na comunicação.Depois que o Carnaval passar Agora, parece definitivo. Se é que seja possível dizer que uma decisão tucana, temperada com certo sabor mineiro, é definitiva. O PSDB, em que pese os amuos do sempre amuado José Serra, vai colocar o bloco da candidatura de Aécio Neves na rua depois da quarta-feira de cinzas. Inicialmente, com dois focos : de um lado, tentando manter o PT e o ex-presidente Lula na defensiva, ainda com o "mensalão" e com o "rosegate" ; de um outro, atacando as dificuldades operacionais e gerenciais da presidente Dilma Rousseff. O foco será no segundo ato. Fala-se até que o partido deverá voltar a defender as privatizações do governo FHC para contrastar com as dificuldades (e algumas resistências) de Dilma de deslanchar as concessões/privatizações na área de infraestrutura. O desgaste já ficou Dificilmente ocorrerá coisa diferente na semana que vem no Congresso que não a eleição de Renan Calheiros (PMDB/AL) e Henrique Eduardo Alves (PMDB/RN) para as presidências da Câmara e do Senado, respectivamente. Porém, a avalanche de denúncias que apareceram contra os dois nos últimos dias - e que poderá crescer até o dia da eleição no legislativo - já tornou o comando deles nas duas casas bem fragilizado. Tanto Alves quanto Calheiros terão de se desdobrar para atender ao seu público interno, sempre muito competente para cobrar as fraquezas dos parceiros, o que pode tornar mais difícil ainda a operação do Palácio do Planalto com o Congresso. Para atender ao baixo e ao alto clero (cada vez em menor número) parlamentar, os dois precisarão, em plena efervescência eleitoral, contrariar interesses do Palácio do Planalto. Basta ver que a plataforma informal e o mundo de promessas lançados pelos dois candidatos contemplam assuntos que Dilma não quer ver nem pintados de verde evoluindo na Marquês de Sapucaí. Possivelmente - se isso ainda é possível - teremos o pior momento do Congresso Nacional em algumas décadas. Radar NA REAL 18/1/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3314 baixa/estável baixa - REAL 2,0402 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 61.920,73 estável estável - S&P 500 1.485,98 estável estável - NASDAQ 3.134,71 estável estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Política & Economia NA REAL n° 229

Revisionismo em Dilma ? Nos primeiros dois anos de mandato de Dilma dá para contar nos dedos das duas mãos a quantidade de empresários que passou pelo "confessionário" do Palácio do Planalto, ou seja, que teve a glória de ter uma audiência, pública ou privada, com a presidente. A exceção é Jorge Gerdau, da copa e cozinha presidencial, escolhido por Dilma para comandar um programa de busca de eficiência no governo Federal. De repente, em dois dias a presidente recebeu em seu gabinete seis potentados do que se costumava chamar antigamente de classe produtiva. O objetivo da mudança da postura da Dilma, confessado, é induzi-los a investir mais no Brasil para afastar o país da "armadilha do crescimento" (expressão cunhada pelo economista José Roberto Mendonça de Barros) em que se encontra. No fundo, trata-se de tentar recuperar a confiança desses agentes na atual política econômica, abalada por uma série de sinais contraditórios emitidos de Brasília nos últimos meses. A questão não é apenas ouvir. É também "escutar", procurar entender e, principalmente, fazer a máquina andar na direção e no ritmo certos. A realidade, até agora, é que certo autismo se apoderou de Brasília na gestão Dilma, com excesso de auto-suficiência. Um pouco mais de realismo Segundo alguns analistas, para completar esse "revisionismo" o governo deveria também ater-se mais aos fatos como eles são, marcar mais encontros com a realidade. Entre outras coisas, ajustar suas previsões em matéria de economia, conter seu gosto por promessas e marketing em limites razoáveis, admitir falhas e fracassos, quando for o caso. O episódio da maquiagem do superávit primário, absolutamente desnecessário, é exemplo do que não se deve fazer. A insistência em dizer que o processo inflacionário está dentro dos limites da normalidade também não. O modo como está sendo tratada a questão elétrica, idem. Fontes oficiais chegaram a informar, anonimamente, que um surto de realismo bateria no governo Federal depois da volta da presidente a Brasília, antecipada em alguns dias por causa das conversas sobre uma possível falta de energia. Não foi o que se viu. O esforço brasiliense foi para dizer que tudo vai bem nas barragens das hidrelétricas. Melhor teria sido dizer que o risco de racionamento está muito distante, mas aconselhar à população moderação no uso de energia elétrica. Antes prevenir que remediar. Alhos e bugalhos Na trilha sonora federal do "olha como estou contente", o presidente do BC, Alexandre Tombini, explicou que o resultado da inflação do ano passado não foi um desastre, porque, além de ter ficado abaixo do teto da meta (embora bem acima do centro) foi menor do que em 2011 - 5,84% contra 6,5%. A comparação, no entanto, não é totalmente pertinente. No início de 2012, por razões técnicas totalmente explicáveis e aceitas, o IBGE alterou a ponderação dos itens que compõem a cesta pesquisa para apurar o IPCA. Reduziu, por exemplo, o peso dos serviços, item que nos últimos anos andaram empurrando para cima o índice inflacionário. De acordo com um estudo do economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC, com a ponderação antiga o IPCA de 2012 teria batido em 6,54%. Logo, Tombini está comparando alhos com bugalhos. Enganos e tramoias De Adam Galinski, PhD em Psicologia Social pela Universidade de Princeton e professor da Columbia Business School, citado pelo editor do jornal argentino La Nación, cuja carapuça cabe em muitas outras cabeças coroadas da América Latina, além da destinatária em Buenos Aires : "Os poderosos são mais propensos a enganar e quebrar as regras, até mesmo as que eles mesmos estabeleceram. Quem detém o poder sente-se psicologicamente invisível. Assim, liberado do olhar dos outros, faz o que lhe dá na telha. Por isso, os poderosos se sentem com o direito de fazer tramoias e tomar o que querem. Esse sentimento de 'ter direito' os torna hipócritas : ao mesmo tempo em que agem imoralmente, sentem que podem exigir dos demais um padrão estrito de moralidade e autocontrole" (Traduzido pelo jornal "O Estado de S. Paulo"). O que o BC vai escrever ? Há uma grande expectativa sobre o que o BC vai dizer na nota explicativa posterior à reunião do Copom de hoje e amanhã e, principalmente, no texto mais alentado da ata do encontro, só liberado uma semana depois. O grupo liderado por Alexandre Tombini vai se deparar com duas realidades econômicas que estavam apenas esboçadas em seus comunicados anteriores : a persistência da inflação em níveis elevados e bastante espalhada e as manobras contábeis do Tesouro Nacional para fingir que entregou o prometido superávit primário cheio (3,1%) em 2012. Quanto à questão fiscal, o BC já vinha fazendo sutis alertas para a política expansionista do governo Federal. Agora não há mais sutilezas. Como o BC vai se virar ? Sua comunicação com os agentes econômicos já anda um pouco cheia de ruídos. E o Palácio do Planalto insiste em equilibrar-se entre a agenda econômica e agenda político-eleitoral. Como o BC vai se virar nessa corda bamba ? Dançando de sombrinha, como na canção da anistia, "O Bêbado e o Equilibrista", de João Bosco e Aldir Blanc, imortalizada por Elis Regina ? Dilemas monetários Conceitualmente o Brasil vive um processo de inflação relativamente elevada comparativamente às principais economias e uma taxa de crescimento equivalente ou inferior a vários destes países. Mais que um processo de estagflação, trata-se de um processo estrutural de perda de competitividade na medida em que grande parte desta inflação não é "repassada" à taxa de câmbio ou, ainda, esta última se valoriza mais. A política fiscal expansionista ainda tem efeitos menores no curto prazo, mas pouco a pouco está destruindo a reputação ordeira de nossas contas públicas, apesar da relação dívida/PIB ser muito saudável (35%). Neste contexto, há de se reconhecer que o papel do BC brasileiro não é nada fácil. Subir a taxa de juros num contexto de estagnação seria inadequado. Deixar a inflação "correr solta" também não pode, mas o custo de elevação da taxa de juros seria um exagero frente aos benefícios em termos de inflação. Além dos efeitos de valorização cambial. Portanto, mais que o contorcionismo que o BC terá de fazer em seus documentos públicos será necessário que Tombini e seus diretores, no uso de sua autoridade sobre a moeda, diga como vê os dilemas perante os quais se defronta. Vocação para o poder Não dá para saber com certeza quem será o próximo presidente da República : se Dilma Rousseff, a favorita atual, se um oposicionista disfarçado como Eduardo Campos, um oposicionista moderado como Aécio Neves, uma oposicionista mais radical, como Marina Silva, ou alguém que venha a emergir de surpresa. Todavia, já se pode assegurar, desde hoje, sem nenhuma possibilidade de erro, que um dos principais partidos da aliança que sustentará o futuro governo no Congresso, qualquer que venha a ser o seu comandante, será o PMDB. Desde os tempos do velho PSD, nunca se viu um partido com tanta vocação para o poder como o dos peemedebistas. O imortal Sarney Ex-presidente da Arena, partido que sustentou a ditadura, do qual usou a catapulta do Colégio Eleitoral para virar um aliado do PMDB, o partido de oposição à ditadura, José Sarney continua aos 82 anos a sua trajetória vitoriosa. A exposição de fotos de suas quatro gestões como presidente do Senado Federal é digna das lembranças do "culto a personalidade" dos tempos do stalinismo. O vice-rei do Maranhão permanece na sua posição anfíbia. Quando submerso, age com absoluto silêncio para alcançar o que quer. Quando na superfície, empola a linguagem, suaviza as palavras e, assim, disfarça as grandes ambições que tem. Não à toa domina áreas inteiras do território do poder. Com a aquiescência do PT, o Partido dos Trabalhadores e da presidente que se esforçou para deixar o velho senador se sentar na cadeira da presidente quando de sua viagem ao exterior e na ausência do sempre alerta Temer. Quanta doçura a de Sarney. Tudo pela pátria. Vocação para a derrota ? Bem ou mal, tendo como maior amálgama a caneta e o "Diário Oficial" e a perspectiva de poder futuro, as forças governistas de hoje em Brasília vão se mantendo mais ou menos unidas - à parte os pontapés e golpes abaixo da cintura nos bastidores. Já a oposição formalmente representada no Congresso parece vocacionada para o ostracismo. Vira e mexe o DEM fala em desligar-se dos parceiros. O PPS anda a procura de um autor. E no PSDB o clima é quase de conflito. Fernando Henrique trabalha pela unidade, mas Aécio fica "se fingindo de morto" o que intimida certos parceiros, Serra emburra e fala em fundar um partido novo, Alckmin sai de seus pagos de governador paulista num momento delicado de sua gestão para tumultuar o ambiente pregando prévias para a escolha do candidato presidencial do partido. A seguir este caminho, a oposição estará entrando na antessala de mais uma derrota. Ou, caso Dilma se enrole nas questões econômicas, abrindo espaço para outros oposicionismos, como o de Marina Silva e outros, mais ou menos visíveis. Será ? A depender de boa parte dos caciques tucanos, Aécio Neves assumirá a presidência nacional do partido como primeiro passo para consolidar sua candidatura presidencial. Pelo menos até pouco tempo atrás não era esta a estratégia do senador mineiro ? Terá mudado de posição ? É melhor esperar como São Tomé. Óleo de peroba Em conversa informal com alguns jornalistas na semana passada, o ex-governador José Serra disse não saber a origem da informação, publicada em primeira mão pelo jornal Folha de S.Paulo de que ele cogita fundar um novo partido, diante das dificuldades de viabilizar mais uma candidatura presidencial no PSDB. Para ter uma dúvida dessas, Serra não deve estar se olhando no espelho nem conversando consigo próprio. Se estivesse, saberia perfeitamente quem está espalhando esses "balões" e outros como o de que ele poderia ainda se transferir para o PPS ou para o PSD de Gilberto Kassab. Silêncio no mercado O Brasil ainda é uma sociedade na qual as pessoas temem, de forma quase que absoluta, divergir publicamente da opinião oficial dos poderosos de plantão. É este também o comportamento dos banqueiros e investidores que resmungam palavras de horror contra as políticas governamentais nas reuniões privadas, mas que dão entrevistas de apoio ao governo diante dos jornalistas. Todavia, não deve se enganar o governo : a quebra de confiança dos "poderosos econômicos" é profunda e, talvez duradoura. No mercado de capitais, são os títulos de renda fixa das empresas que lideram as emissões externas. Além da estrutural liquidez internacional fruto da crise profunda em que se encontram as economias centrais, o aumento das emissões se deve a antecipação de operações que seriam feitas no futuro. A razão é simples : temem os empresários que ao final do ano as perspectivas do país esteja piores que as atuais. Mensalão. Ainda. Tudo que vemos na imprensa sobre os embargos a serem interpostos pelos causídicos que defenderam os mensaleiros não passam de especulações, "balões de ensaio", para testar certos ânimos dos ministros do STF. Nenhum sinal da parte dos ministros foi emitido nestes tempos de férias da Corte Maior.Radar NA REAL 11/1/13 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3364 baixa/estável baixa - REAL 2,0308 estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 61.490,68 estável estável - S&P 500 1.464,06 estável estável - NASDAQ 3.110,46 estável estável (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 227

Governo em alta ansiedadePara a presidente da República, neste conturbado fim de ano, chega como um bálsamo a pesquisa CNI/Ibope divulgada na semana passada, contando que apesar dos percalços econômicos e das complicações políticas de parceiros e aliados com as quais está tendo de se meter sem querer, sua popularidade e a aceitação de seu governo continuam altas - e em alta. Há na pesquisa alguns sinais de alerta, como o aumento da desaprovação das políticas de saúde e de segurança e diminuição da aprovação da política anti-inflacionária e de juros, mas nada ainda há de preocupar - e que não possa ser revertido. Permanecendo tal situação - que gera uma sensação geral de bem estar - a presidente pode seguir sua marcha batida para entrar em 2014 como favorita para mais quatro anos de Palácio do Planalto. Aliás, como registrou outra pesquisa divulgada pelo Instituto DataFolha no domingo. O nó é fazer a economia acelerar, o que sua equipe econômica parece estar com mais dificuldades de fazer. Tanto que ao mesmo tempo em que diz que as medidas de reativação das atividades vão começar a dar certo, expele semanalmente novas providências. O governo diz que os agentes econômicos andam apressados. Porém, a alta ansiedade é dele. Dilma e as duas reputações Além de botar a economia no rumo em 2013 - um ano pré-eleitoral decisivo para 2014 que já começou - para botar seu bloco reeleitoral na rua sem atropelos, sem riscos de "atravessar o samba", Dilma terá de cuidar de duas reputações. A primeira é a do ex-presidente Lula, ainda o maior cabo eleitoral do país, queira-se ou não, afetada pelo "rosegate" e pelas revelações de depoimento recente do publicitário Marcos Valério ao MP. Vale dizer que atingir Lula respinga em Dilma. A presidente sabe tanto disso que já acionou sua mais profunda solidariedade, mesmo sob o risco de engolfar seu governo em histórias que nada têm a ver com ele. Está sendo uma solidariedade pessoal, de amizade, mas também política. Segundo, deve a presidente cuidar de sua própria reputação de "gerentona", seu principal capital político e o mais usado por Lula para elevá-la até o Palácio do Planalto. O governo dá - e já são cada vez mais visíveis - sinais de desarranjo e quase paralisia. Os comentários de que a irritação natural da presidente com seus auxiliares vem crescendo são indicações diretas de que ela está notando esse desgaste em sua imagem. Vejamos na nota que se segue. Atrasos e ineficiências Os fatos são claros. O governo demorou um ano anunciando que o modelo de concessão dos aeroportos de BH e do RJ seriam diferentes, mais aperfeiçoados do que os dos aeroportos de Campinas, Guarulhos e Brasília. Esta semana divulgou que será igualzinho. Quase um ano decorreu entre o primeiro leilão fracassado do trem bala e o novo edital. E mesmo assim a primeira licitação só sai daqui a quase um ano. Isto porque está tudo agora nas mãos de um dos homens fortes de Dilma, o presidente da EPL, Bernardo Figueiredo, uma espécie de ministro de fato da infraestrutura no governo. Os investimentos oficiais, essenciais para puxar as inversões privadas, também estão atrasados. Segundo levantamento do site "Contas Abertas", especializado em contas públicas, até 11/12, o governo tinha conseguido investir apenas R$ 40 bi dos R$ 90 bi previstos no Orçamento Geral da União. Não é por outra razão que o parceiro - e talvez futuro adversário - de Dilma, o governador de PE, Eduardo Campos, está dizendo que os primeiros 90 dias de 2013 serão decisivos para a presidente e seus planos políticos. Novo modelo A presidente Dilma está buscando, a partir de planos gestados no Palácio do Planalto, encontrar uma nova fórmula para gerir o PAC. A fórmula anterior estava intrinsecamente ligada à própria presidente quando ela era a ministra poderosa do governo Lula. Agora, Miriam Belchior não consegue se desvencilhar da árdua tarefa. Assim, a presidente busca uma solução para o problema a partir de duas premissas : (i) tornar os projetos mais afáveis ao capital privado e menos suscetível aos "papéis" de regulador do Estado e (ii) negociar politicamente com outras áreas do Estado, especialmente com o TCU (ligado ao Legislativo), para agilizar a realização de projetos e obras. O grande problema desta mudança da estratégia presidencial é a pouca disponibilidade de recursos humanos próximos à presidente para tornar esta estratégia geral em planos concretos. O tempo de Guido Mantega Eis o que ouviu esta coluna na semana passada de fonte próxima à presidente Dilma : "O tempo para Guido Mantega mostrar que a economia vai andar não é tão curto quanto quer o mercado, mas não é tão longo como muitos na Fazenda imaginam". Nova fórmula para atacar o spread Como se sabe a taxa primária de juros foi reduzida com sucesso comparativamente ao que achava a maioria dos analistas e agentes econômicos. Mesmo a inflação não estando enquadrada da melhor forma possível no modelo de metas estabelecido pelo governo (vide nota a seguir), deve-se reconhecer que controlar a inflação não é a prioridade mais importante de nenhum banco central relevante ao redor do globo. É a atividade econômica a variável mais crítica. Neste contexto, constata-se que o sucesso em torno da queda do juro primário não se refletiu no âmbito dos juros do crédito disponibilizado pelo sistema financeiro. A presidente e o BC estão passando da observação para a ação efetiva em relação ao tema. A criação de um mercado de títulos (securities) de empresas privadas de capital fechado (mesmo as limitadas) é um dos passos imaginados pela autoridade monetária para tornar o elevado spread bancário brasileiro menos relevante para a recuperação da economia. O outro aspecto que cada vez mais chama a atenção do BC e da presidente é que depois de tantas fusões e privatizações, o mercado financeiro brasileiro se tornou excessivamente oligopolizado. Inflação e câmbio O presidente do BC explicitou sem rodeios o dilema que o governo vive : deixar o câmbio se ajustar mais para cima para ajudar o setor industrial brasileiro ou segurar o dólar para não aquecer mais a inflação. Até dez dias atrás, inclusive com referência explícita de Dilma ao jornal "Valor Econômico", a opção era pela desvalorização do real. A pressão dos empresários era para que a moeda americana chegasse a, pelo menos, R$ 2,40. Agora, a direção é outra e o BC está agindo para o câmbio não fugir dos R$ 2,10. Simples a explicação : a inflação voltou a incomodar. É preciso deixar espaços para o aumento dos combustíveis, pois senão a Petrobras deixa de respirar. Excesso de indexação Há excesso de títulos indexados na economia brasileira. A indexação da dívida pública (cuja demanda é crescente) será, nos próximos anos, uma das barreiras que o BC enfrentará e terá de adequar o combate à inflação a um adequado financiamento da dívida pública. Os títulos indexados à inflação estão no limite superior do Plano Anual de Financiamento da dívida pública, enquanto os títulos pré-fixados estão na média da meta do referido plano. Um sinal de que o mercado não confia na estabilidade monetária. Sinais externos : deterioração Colecionados os principais indicadores de desempenho da atividade das mais importantes economias mundiais chega-se a conclusão de que o começo de 2013 pode gerar ainda mais pessimismo para os agentes econômicos. A produção industrial do Japão se aproxima dos patamares mais baixos de 2011. Na Europa, a indústria cai pelo terceiro mês seguido, sendo que a Alemanha também caminha para a recessão por força da queda das exportações. Os dados manufatureiros dos EUA voltaram a dar sinais de fragilidade o que motivou a nova expansão monetária promovida pelo Federal Reserve. Na China dois dados preocupantes : o governo terá dificuldade em manter a nova meta de crescimento (+8%) e as atividades de comércio externo estão caindo, como pode ser constatado pelo volume de carga transportado internamente no país. Neste contexto, não há nenhuma ação política e de gestão econômica que seja capaz de reverter tão grave cenário. Os governos estão acomodados e sem visão e os eleitores ainda oscilam na sustentação de políticas conservadoras, apesar da evidência de que estas não estão funcionando. Um cenário semelhante ao dos anos 30 do século passado. Obama e as mudanças no secretariado Deve-se olhar com muito esmero as mudanças que Barack Obama fará no seu secretariado e no Fed e SEC (Securities Exchange Commission). Como se sabe o presidente norte-americano é um conservador em matéria econômica e foi muito pouco ousado no trato da crise atual. Além disso, não foi capaz de mudar a regulação relacionada com os desmandos cometidos pela turma de Wall Street. As mudanças que estão por vir podem confirmar a personalidade política de Obama ou mostrar que há fatos novos que podem alterar esta personalidade. O recado de Lula Embora tenha aparecido como um "caco" (não estava no script) num discurso que Lula fez em Paris, não foi gratuito o aviso que o ex-presidente fez de que se o incomodarem muito pode ir para as ruas em uma campanha que pode virar campanha presidencial. Foi um recado direto para a oposição que ainda tem medo do ex-presidente. Mas também não deixou de ser um aviso indireto à presidente Dilma e aos dilmistas, sejam eles petistas ou de outros partidos. Algo como : "Não me deixem só !". Alguém pode imaginar o que acontecerá se Lula realmente, reativar seus palanques ? O caso do gás O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que a próxima meta do governo para garantir maior competitividade às empresas brasileiras, depois da redução da conta de eletricidade, será a diminuição do preço do gás, outra reivindicação do setor industrial, principalmente do setor químico. Mantega disse ainda que o governo só não sabe ainda como fazer. Mas não deverá ter dificuldades. Afinal, quem manda no gás no Brasil é a Petrobras... Mel para governadores e prefeitos Para tentar conter um pouco a insatisfação dos prefeitos e governadores com a perda de receitas, em parte por culpa das políticas de isenções fiscais adotadas por Brasília, o governo deve anunciar esta semana a mudança no indexador das dívidas que eles têm com a União. Na prática significa que Estados e municípios vão pagar menos juros e terão mais dinheiro para investir. Era um antigo desejo deles. Com isso, Dilma espera desarmar um movimento, pelo fortalecimento dos Estados e municípios em andamento e que, como já comentamos em outras colunas, era uma das bandeiras que seus oposicionistas já estavam agitando, com grande possibilidade de sucesso. É possível que ela consiga uma trégua, mas não total. Os governadores querem mais, principalmente no caso dos Estados mais fracos economicamente. E na área municipal, o alívio só vem para os grandes, como SP, RJ e outras capitais. Os pequenos e médios municípios, os mais encalacrados, não terão esse alívio porque não rolaram suas dívidas. E eles querem é mais dinheiro - ao vivo e em cores. Natal e Ano Novo Agora é período de festas, de meditações - e de descanso : afinal, como dizia a poeta pernambucano Ascenso Ferreira, "ninguém é de ferro". Aos novos bravos e persistentes leitores desejamos ótimas comemorações, 2013 feliz como nunca. Voltaremos em 8/1. Como agradecimento por nos terem seguido por mais um ano, deixamos este poema : Desejo, de Carlos Drummond de Andrade Desejo a você... Fruto do mato Cheiro de jardim Namoro no portão Domingo sem chuva Segunda sem mau humor Sábado com seu amor Filme do Carlitos Chope com amigos Crônica de Rubem Braga Viver sem inimigos Filme antigo na TV Ter uma pessoa especial E que ela goste de você Música de Tom com letra de Chico Frango caipira em pensão do interior Ouvir uma palavra amável Ter uma surpresa agradável Ver a Banda passar Noite de lua Cheia Rever uma velha amizade Ter fé em Deus Não ter que ouvir a palavra não Nem nunca, nem jamais e adeus. Rir como criança Ouvir canto de passarinho Sarar de resfriado Escrever um poema de Amor Que nunca será rasgado Formar um par ideal Tomar banho de cachoeira Pegar um bronzeado legal Aprender uma nova canção Esperar alguém na estação Queijo com goiabada Pôr-do-Sol na roça Uma festa Um violão Uma seresta Recordar um amor antigo Ter um ombro sempre amigo Bater palmas de alegria Uma tarde amena Calçar um velho chinelo Sentar numa velha poltrona Tocar violão para alguém Ouvir a chuva no telhado Vinho branco Bolero de Ravel... E muito carinho meu. Radar NA REAL 14/12/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3155 baixa/estável baixa - REAL 2,0887 baixa/estável baixa Mercado Acionário - Ibovespa 59.604,92 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.413,58 estável/abaixa estável/baixa - NASDAQ 2.971,34 estável/baixa estável/baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 226

Questões na virada do ano Diante da enorme expansão monetária das principais economias mundiais, associada à crise gravíssima do desemprego, fruto do baixo consumo e do fraco investimento, o principal dilema mundial está em como combinar uma política monetária suficiente para controlar os problemas da débil atividade econômica com as perspectivas preocupantes relativamente à estabilidade fiscal e monetária futura. Em palavras mais singelas, duas variáveis estão a preocupar os gestores econômicos : a recessão e a inflação futura. Em períodos "normais", este dilema é resolvido pela manipulação adequada da taxa de juros. Num momento em que as economias mundiais margeiam a depressão (Europa) ou a recessão continuada (EUA), as dúvidas são enormes. Com um agravante : a debilidade política dos líderes dos países, a despeito dos recentes eventos eleitorais (EUA, França, Espanha, etc.). Assim sendo, 2013 será provavelmente um ano em que o choque de ideias entre os preocupados com a inflação/situação fiscal e os focados no desemprego há de deixar marcas de volatilidade por todo o mundo. Talvez a volatilidade seja ainda maior que em 2012. China, a incógnita da vez Os últimos dados da economia chinesa mostram uma desaceleração contínua e substantiva comparativamente aos padrões anteriores do país. Agora, sob nova direção do partido e do governo comunista (Xi Jinping), o desafio chinês será o de "trocar" investimento por maior consumo. Um momento delicado, portanto. As exportações chinesas foram até novembro apenas 2,9% superiores ao mesmo período do ano anterior. As importações de matérias-primas, tão vitais para países como o Brasil, estão desacelerando, mesmo que mantenham um patamar bem acima da dos produtos manufaturados - o consumo de ferro, por exemplo, está no patamar acima de 8%, enquanto as importações como um todo (dados de novembro) estão estáveis. Outro aspecto importante é que o país comunista começa a ter de lidar com um desemprego maior (8,1% de desemprego urbano, segundo dados oficiais). Politicamente, a despeito do duro controle social exercido pelo Partido Comunista Chinês, este dado é muito preocupante. Por fim, há uma série de dúvidas sobre a higidez do sistema financeiro chinês. Este é um assunto tabu, daqueles que fazem os agentes reagirem rapidamente e de repente quando têm dúvidas. Brasil : fragilidades à mostra Não resta dúvida de que o Brasil padece dos efeitos externos sobre a sua economia. Todavia, considerando-se que o nosso país é relativamente fechado em termos de comércio externo (baixa participação das exportações+importações no PIB), os problemas de crescimento brasileiros estão muito mais ligados com a gestão interna da política econômica. Como aspecto mais relevante, temos a constatação de que a taxa de investimento está baixa, muito aquém daquela que seria necessária para nos colocar numa classificação segura de "país emergente". Ademais, os investimentos públicos são baixos e ineficientemente administrados - o PAC é um fracasso de gestão. O último fato a justificar a debilidade dos problemas relacionados com a taxa de investimento é a fraca articulação do setor governo com o privado. Os objetivos de cada um não são harmonizados por negociações. Ao contrário, o governo toca a coisa pela via da intervenção, como se ele fosse dotado da "última razão" em matérias que merecem atenção e cuidado. Vide a crise do setor elétrico, esta que veio para ficar. Aqui e ali (veja o caso da influente revista The Economist) já despontam vozes contra a política econômica e o ministro da Fazenda Guido Mantega. Esta é apenas a ponta do iceberg. Afinal, é a presidente que tem autoridade e gosto especialíssimo em mandar e desmandar na política econômica. É a presidente que tem a legitimidade política para tal e será ela a ser avaliada pelas urnas. Todavia, até lá o crescimento deve continuar na toada da letargia, como os agentes esperando algo que não sabem bem ao certo o que é. Ainda sobre o paradoxo "emprego versus crescimento" Estamos repisando, mais uma vez neste espaço, que há uma incompatibilidade lógica entre o nível de emprego (elevado) e a atividade econômica (em baixa). A nosso ver, o desemprego já poderia ter se elevado. O fato de não ter acontecido assim foi o principal fato a manter o PIB positivo, mesmo que fraquíssimo (gravitando em torno do 1%). A nosso ver, será a fragilidade (ou não) do mercado laboral que irá sinalizar se entraremos no campo negativo em termos de atividade econômica. Não cremos numa mudança estrutural da taxa de investimento, no curto prazo. De outro lado, será o maior desemprego (se ocorrer) que irá mostrar as entranhas da política brasileira : o governo, até agora relativamente forte perante o Congresso, terá de dobrar joelhos e aí a habilidade presidencial para lidar com este cenário será testada. O governo deve saber disso, mas parece pouco propenso a ser mais atrevido (e menos temido) para mudar o cenário. A luta cambial Ao mexer no prazo para antecipação de operações cambiais, o governo deu sinais de que não tolerará altas severas do câmbio frente ao dólar. Como se sabe, a política cambial é a variável mais fora de controle de qualquer governo. Este pode até controlar a taxa nominal (como no período do primeiro governo de FHC), mas a taxa real (fruto das variações externas das moedas internacionais e da inflação aqui e lá fora) está totalmente fora do controle do governo. O governo aparentemente está mais preocupado com a inflação, no curto prazo, que com a competitividade externa do país. Faz sentido. Afinal, a inflação acumulada nos últimos anos é alta, comparativamente a outros países, bem como há inflação represada, especialmente no setor de petróleo. De todo modo, os agentes estão cautelosos. Sabem que o governo deve conseguir seus intentos imediatamente, mas que as incertezas mediatas estão aumentando. Melhor cuidar-se e se proteger contra flutuações mais agudas no valor do real. Bolsa : investidores e gestores inquietos Estes colunistas têm se encontrado com muitos gestores de ações nas últimas semanas. O que é informado é que está muito difícil estabelecer uma política coerente com os objetivos de cada investidor ou fundo. O cenário muda rapidamente e a análise está cada vez mais focada no curto prazo, mesmo em relação a empresas tradicionais. Isso porque setores importantes da bolsa sofreram mudanças estruturais por força da política governamental (energia, petróleo) e porque outras empresas estão emitindo sinais cada vez mais instáveis sobre as suas perspectivas. Um ambiente nada amigável para quem faz política de investimento de médio e longo prazo. Assim sendo, o ajuste mais natural seria os preços caírem face ao risco. Em alguns casos isso já ocorreu (energia, de novo), mas no geral (refletido no índice Ibovespa) isso não ocorreu porque não há aqui no Brasil e no exterior (para os investidores externos) muitas alternativas mais atraentes. Todavia, os fundamentos do mercado estão muito deteriorados comparativamente ao período pós-2008. Assim, o mercado poderá tomar um rumo mais negativo, caso surjam alternativas às ações brasileiras, ou os investidores finais acabem por sucumbir à ideia de que os retornos são incompatíveis com os riscos. É Dilma ou Dilma As relações entre o PT e a presidente da República são conflitantes : de respeito e de desconfiança. De ambas as partes. Há um certo PT, que perdeu espaço no governo Dilma, que não está satisfeito com ela. E talvez fique menos ainda depois das mexidas que ela pode fazer no ministério e nas lideranças governistas do Congresso em janeiro e fevereiro. Dilma também sabe que este PT está com ela porque ela tem a caneta, o Diário Oficial e uma popularidade que, mantidas as atuais condições de temperatura e pressão econômica, dão-lhe extraordinária oportunidade de se reeleger daqui a dois anos. Mas que se pudessem, gostariam de estar com outra pessoa. Só que as circunstâncias mensaleiras e secretariais fecharam esta porta. Portanto, é Dilma ou Dilma. O que explica a cautela com que o PT trata de temas delicados, como o mensalão e o rosegate, para não envolver a presidente em casos nos quais seu governo não tem nada a ver diretamente. De toda forma, Dilma trata de criar suas próprias bases. Se se notar, ela não mais se socorre do PT ou do próprio Lula para tratar com os aliados. Merece também registro o fato de o ex-marido da presidente e um de seus mais importantes interlocutores, Carlos Araújo, ter deixado o PT e voltado para o PDT, partido no qual ele e a presidente militaram depois que saíram da clandestinidade. É Dilma ou/e... Nunca se viu o PMDB, nos últimos anos, pelo menos publicamente, tão cordato como agora. A presidente manifestou um simples desejo, o PMDB comparece, sem reclamar. Se cobra, se esperneia, é a boca pequena. Com seu faro afinado, o partido que já foi liderado por Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, quer firmar-se como grande aliado de Dilma, tão ou mais importante que o PT. Aproveitando-se exatamente do vácuo deixado pelas vacilações petistas. As razões : (1) defender-se dos ataques do PSB de Eduardo Campos, que tem como uma de suas opções para 2014 expelir o PMDB da condição de vice de Dilma (a outra, é uma candidatura própria); (2) conquistar, discretamente, mais e melhores espaços no governo, conquistando mais "cartórios eleitorais", capazes de lhe garantirem mais votos para a Câmara dos Deputados, o Senado e as Assembleias Legislativas (o PMDB teme perder a condição de maior partido no Congresso para o PT e até para o PSB). Porém, a "fidelidade" peemedebista tem prazo de validade : a recuperação da economia brasileira no ritmo que o ministro da Fazenda há meses vem garantindo que ocorrerá no mês seguinte. O PMDB está e estará onde sempre esteve desde que a ditadura militar acabou : no governo, onde ele estiver e seja quem for. É o dinheiro, estúpido ! As discussões sobre a nova divisão dos royalties do petróleo, as confusões com alguns governos estaduais por causa das regras de prorrogação das concessões de energia elétrica e a queda das receitas dos Estados e municípios - em parte pelo fraco desempenho da economia, mas em parte também pelas isenções tributárias concedida pelo governo Federal com a ajuda dos cofres dos governadores e prefeitos - despertou uma serpente que havia algum tempo era chocada no ventre do Estado brasileiro : a desigual divisão de recursos entre o governo Federal, os governos estaduais e os governos municipais. Presidente rico, governador remediado, prefeito pobre Tecnicamente, é a discussão do chamado pacto federativo, tema que está além dos interesses partidários - na realidade, une bancadas estaduais contra Brasília. Por mais que teorias políticas digam o contrário, deputado sabe perfeitamente que sem apoio de prefeito e/ou governador, sua eleição/reeleição fica muito difícil. Não impossível, mas delicada. Este será o grande tema de 2013, ano pré-eleitoral. São os mantras que Eduardo Campos e Aécio Neves já estão ensaiando enquanto se aquecem para entrarem em campo na sucessão presidencial. Qual será a resposta de Dilma com todos os compromissos existentes no Orçamento Federal ? Falar em "pacto federativo" não comove o eleitor. Batizá-lo como "falta de dinheiro para saúde, segurança..." certamente agita. Cavalos de tróia - I O governo está tratando a pão de ló e vai tratar melhor ainda os irmãos cearenses Cyro e Cid Gomes. Eles são vistos como os únicos capazes de botar algumas pedras no caminho dos planos políticos do governador Eduardo Campos no PSB. Cavalos de tróia - II Não há indicações de que o governo esteja procurando o mesmo na oposição. Tanto que já está incorporando inteiramente o PSD de Gilberto Kassab em sua base política, ignorando as relações do partido com os tucanos paulistas. Por enquanto, não precisa mesmo : os cavalos de tróia do PSDB estão mesmo recheados de tucanos : a vaidade os impede de se entenderem. Radar NA REAL 07/12/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,2906 baixa/estável baixa - REAL 2,0793 baixa/estável baixa Mercado Acionário - Ibovespa 58.487,32 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.418,07 estável/abaixa estável/baixa - NASDAQ 2.978,04 estável/baixa estável/baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 225

A decepção do PIB e a ação do governo Para quem acompanha o mundo real da economia e não apenas o mundo das estatísticas, não foi de todo surpresa do PIB de apenas 0,6% no terceiro trimestre em comparação com o período maio-junho. No entanto, para o governo parece ter sido, tal o susto e o estupor que tomou conta de Brasília. De todas as decepções oficiais, a maior foi em relação aos investimentos - 2% menos entre julho e setembro, o quinto semestre consecutivo de queda, mais de 5% em relação ao mesmo período do ano passado. Estava escrito nas estrelas esse desempenho : as inversões oficiais estão empacadas por inapetência ; e as privadas, por falta de confiança, em parte pelos temores do intervencionismo oficial, tema comentado mais de uma vez neste espaço. Haja vista a confusão do setor elétrico. Quem conversa com empresários sob a garantia de sigilo, não ouve palavras de entusiasmo. Há até boas expectativas, mas o lema é "esperar para ver". É isso que explica o que está deixando perplexa a presidente Dilma : o porquê, apesar de todos os incentivos, a economia brasileira continua quase de ré. Mais do mesmo outra vez Diante desse quadro e sem ter condições políticas (nem de gestão) para atacar com rapidez os verdadeiros entraves ao crescimento do país, o governo deve começar a abrir esta semana sua velha caixa de ferramentas, que, aliás, já mostrou seu caráter limitado. O BNDES deve anunciar novas facilidades de crédito para investimentos, o PSI para máquinas será prorrogado, assim com a isenção de IPI de carros e linha branca, novas desonerações em folha de pagamento surgirão. Será um fim de ano de grande atividade na área econômica, porém, tudo indica, sem nenhuma criatividade. Por essas e outras, em falta de desculpa melhor, as orelhas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltaram a arder. E ainda tem o dólar O mercado começa a apostar que o governo vai soltar um pouco mais a moeda norte-americana - ou seja, deixar o real se desvalorizar, para ajudar a empurrar a economia. Os empresários do setor industrial voltaram a falar abertamente na necessidade de um câmbio de R$ 2,40 por dólar. O problema é saber como isso vai bater na inflação. A redução da conta de luz daria uma folga para alguns reajustes, mas a prioridade é acertar a conta da Petrobras com a gasolina e o diesel. De tantos artificialismos aplicados na economia nos últimos tempos, o governo está ficando na situação de "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come". Se o emprego cair... Mesmo diante de um quadro econômico tão opaco e sem "drives", sorte tem o país e, por conseguinte, o governo que não houve aumento da taxa de desemprego. É apenas a boa situação no mercado laboral que está a sustentar o PIB num patamar positivo. Ainda mais quando se verifica no sistema financeiro o aumento da inadimplência relativamente aos empréstimos e o destino de recursos recebidos nestas festas de final de ano para saldar dívidas e não contrair novos compromissos. O Natal deste ano deve ser anêmico e as perspectivas é que o desemprego aumente no ano que vem. Como estamos a chamar a atenção de nossos leitores nestes últimos meses, será este o fator econômico que mais irá afetar o desempenho político do governo. Apesar de tudo, o governo ainda aposta num cenário estável no mercado de trabalho, o que é muito otimismo frente à realidade. Brasil, o pior entre os BRICs e melhor que o Paraguai Dentre os países mais importantes entre os "emergentes", simbolizados pela midiática marca de BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o Brasil tem o pior desempenho em termos de atividade econômica. Da mesma forma, o Brasil é o país com crescimento menos entre os mais importantes da América Latina. O Paraguai é o único que tem queda do PIB nos últimos 12 meses, 1,5%. Resta saber o que dá autoridade suficiente a nossa presidente para distribuir sugestões e conselhos a seus colegas da Europa, e das Américas sobre como tocar a gestão econômica. Parece muita pretensão em vista de nosso fraco desempenho. Mas será isso suficiente para retirar a arrogância desta postura ? Uma revoada, mesmo que não grande... A explicação para a alta da moeda norte-americana nestas últimas semanas se deve, sobretudo, à partida dos investidores estrangeiros que estavam há muito posicionadas em títulos e ações brasileiras. Buscam portos mais promissores em outras terras, mesmo que lá fora isso pareça muito difícil no curto e médio prazo. Daí que este movimento não é mais brusco. Todavia, o movimento do dólar deve ser para cima nos próximos meses. Não muito para cima, mas para cima. FMI de papo novo Se existe uma entidade que mostrou sua profunda ineficácia para resolver ou, no mínimo, propor soluções para os problemas críticos das economias, esta entidade foi o FMI. Desde a sua criação na famosa reunião de Bretton Woods, em 1944, o famoso "fundo" nunca funcionou a contento e com o objetivo concebido pelo brilhante John Maynard Keynes. Nas décadas que se seguiram à II Guerra Mundial, o FMI não foi usado para compensar mudanças abruptas nas taxas cambiais, função pensada por Keynes, e passou a ser o vigilante e atrapalhado "auditor" dos principais atores do sistema financeiro internacional. Na crise de 2008, sua utilidade voltou-se para a salvação de bancos e países, sobretudo os europeus. Enquanto seus burocratas atacam o Welfare State, os seus diretores se ocupam de adornar bancos e investidores com a sua caricata aparência de emprestador de última instância. Uma distorção gigantesca. Pois bem : agora a managing director Christine Lagarde, está a defender, citando Brasil e Filipinas, que cabe controle de capitais para sanar a valorização excessiva das moedas. Quem pregasse isso até 2008 seria chamado grotescamente de intervencionista, conspirador contra o livre mercado, incompetente e daí para frente. Por estes tempos, isto soa como um "ovo de Colombo" do velho fundo... Eles não vão ajudar O maior drama da presidente Dilma é que numa hora tão delicada como essa na economia, ela não pode contar muito com seu universo político. O PT, que ainda nem se recuperou com o baque dos resultados do julgamento do mensalão, vê-se agora totalmente desarvorado com a história da secretária Rosemary e seus bebês - não entende, não explica. Os outros parceiros estão preocupados apenas em disputar, com o PT, novos espaços na administração pública. E prontos para criar novos problemas : o irresolvido caso dos royalties, que ainda vai dar muita dor de cabeça, a votação do Orçamento, a MP do setor elétrico. É só aparente É muito maior do que aparenta a preocupação do Palácio do Planalto com o desenrolar da Operação Porto Seguro. Ninguém sabe o que vai sair desta "caixa preta". A tsunami de informações novas que saem na imprensa todos os dias indicam claramente que há uma "operação vazamento" em plena atividade na PF. Passado o susto, haverá uma rearrumação na área - e não será surpresa se cabeças perderem o pescoço quando a poeira baixar. Antes, porém, o governo deverá dar uma resposta "institucional" à sociedade. Fala-se em instituir uma lei da ficha suja para indicação de cargos comissionados. Se vier, já vem com mais 500 anos de atraso. A solução, porém, exige mais audácia : acabar com o aparelhamento político partidário na administração pública, reduzindo, ao mínimo do mínimo os cargos de confiança preenchíveis sem concurso público. E voltar as agências reguladoras a sua origem : com autonomia e independência técnica e financeira. Com gente apropriada para isso. Haverá condições políticas para tal ? Fim de um sonho ? Em princípio, o "romance da secretária", como muitos estão chamando a "Operação Porto Seguro", parece ter sepultado o plano B do PT para a sucessão presidencial de 2014, caso algo venha a colocar a presidente Dilma fora do páreo - a questão econômica, por exemplo. Como dizia o secretário-geral da Presidência Gilberto de Carvalho, antes mesmo da posse de Dilma, o PT entrava no jogo com um atleta extraordinário na reserva, para não dar nenhuma chance à oposição. FHC de volta Não se sabe ainda se por decisão própria ou se provocado por companheiros, a verdade é que o ex-presidente FHC voltou à liça política do dia a dia com grande apetite. Tem falado mais sobre questões efetivas que em tese e já instiga o senador Aécio Neves, ainda "mineiramente" em dúvida, a assumir imediatamente a candidatura presidencial em 2014. Participou de eventos do partido e está concentrando suas críticas na política econômica da presidente Dilma. Aliás, o PSDB vai tirar o foco de seus ataques a Lula e concentrar no governo, explorando as dificuldades econômicas e políticas atuais. Não será surpresa se os chamados "economistas tucanos" elevarem o tom de suas vozes. Edmar Bacha deu o ritmo em entrevista ao "Estadão" de domingo. O que pensa Aécio ? Há ainda outra questão em torno das provocações dos tucanos, liderados por FHC : o que pensa e sabe o candidato oficioso do PSDB sobre como tirar o país da atual letargia ? Até agora, o senador mineiro não passa de um animal político com ideias pálidas e ocas sobre a realidade brasileira. Calculadora emperrada Mesmo com as constantes demonstrações de "evasão gerencial" no governo é difícil entender que ele tenha se equivocado (ou simplesmente errado) no cálculo das indenizações que pretendia pagar às companhias hidrelétricas que têm contrato de concessão vencendo entre 2015 e 2017. Pelo que se diz em Brasília, os estudos para a edição da MP 597 foram exaustivos, envolveram muitos burocratas qualificados e até consultores externos. A discrepância entre o que foi oferecido e as empresas acham que têm direito era brutal - algo entre R$ 20 bi e R$ 50 bi. Até a estatal Eletrobrás chiou - antes de ser convenientemente silenciada. Agora, o Palácio do Planalto recuou e admite novos valores. O que demonstra, como em tantas outras decisões, é que houve, no caso, um misto de autoritarismo e do jogo do "se colar, colou". Agora vai ? Com a pressão que exerceu sobre suas estatais e o recuo tático de mudar o valor das indenizações, é possível que a maior parte das empresas elétricas atingidas pela MP de prorrogação das concessões aceite agora a proposta oficial. O que garante o principal - e mais valioso - objetivo da medida que a redução da tarifa de energia elétrica a partir de fevereiro entre 16,2% e 28%, média de 20%. Mas o modo de agir no caso deixou grave sequela na confiança dos investidores que Dilma terá de trabalhar muito para recuperar. Apesar do tal de mercado, em princípio, não ter memória, como ensinam os entendidos em teoria de finanças. Lavagem de dinheiro Está despertando muito mais preocupação não só nos meios jurídicos mais também empresariais a nova "Lei de Lavagem de Dinheiro no Brasil", em vigor desde junho. Nem todos parecem ter percebido até agora seu alcance. E que é uma posição irreversível do governo brasileiro - aliás, mais : uma questão de Estado. Este foi um dos pontos que Dilma ressaltou ao mostrar aspectos positivos do Brasil em sua recente visita à Espanha. A regulamentação da lei, pelo COAF, já está no site da entidade e entra em vigor em março. Dificilmente o governo recuará de suas posições. Uma boa ideia Está tramitando no Senado uma proposta para impor limites à duração dos mandatos de dirigentes de entidades esportivas. O mandato poderia durar apenas quatro anos. A punição a quem desobedecer seria a proibição de repasses de recursos públicos a clubes, associações, federações e confederações. Uma excelente ideia a ser aplicada também ao mundo político : restringir a dois mandatos consecutivos apenas, o mandato de senadores, deputados Federais, deputados estaduais e vereadores. Assim como para os cargos Executivos de presidente, governador e prefeito, o direito a apenas uma reeleição. Liquidam-se indesejáveis feudos e eles poderiam se submeter a uma reciclagem, a um processo de "reeducação" no mundo real. As declarações de Fux Ainda precisariam ser esclarecidas com lentes mais esclarecedoras as declarações de Fux sobre como foi a sua "campanha" para ser escolhido como membro da Suprema Corte brasileira. Há algo de "realismo fantástico" nas palavras do ministro do STF. Uma operação política que inclui de José Sarney, o nosso eterno político-acadêmico, até João Pedro Stédile, líder do MST, passando pelo ex-ministro Delfim Netto e pelo outro José, o Dirceu, condenado por corrupção e formação de quadrilha, é uma operação inimaginável, até mesmo, por parte de um escritor do porte de Gabriel Garcia Márquez. Qual foi, dentre estes personagens, aquele que teve a maior influência sobre a escolha da presidente Dilma ? Uma questão enigmática, não é mesmo ? Além disso, fica mais uma questão : o que motivou Fux a focar neste tema em sua entrevista à Folha de S.Paulo ? Teria sido o medo de revelações de alguns dos personagens envolvidos naquela longa e estranha articulação ? Uma lição Do professor Victor Gabriel Rodríguez, professor doutor de Direito Penal da USP e membro da União Brasileira de Escritores em artigo no "Valor Econômico" : "Escrever com regularidade a um jornal diário de ampla repercussão fez notar o quanto é árido o cotidiano dos jornalistas, esses que nós juristas amamos criticar. Construir com velocidade um texto curto e preciso, com a responsabilidade de desnudar-se para um público atento, que nota com facilidade erros lógicos e preconceitos que o próprio autor ignora, é uma responsabilidade e tanto. Um risco, melhor dito. Depois de todo o esforço, ver seu texto desatualizar-se e perder sentido em questão de horas, como um pão amanhecido, tampouco é a melhor das experiências. É só mais uma lição de respeito que a vida nos dá diariamente, a que todos já deveríamos estar habituados. Mas não estamos." Radar NA REAL 30/11/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,3066 baixa/estável baixa - REAL 2,1181 baixa/estável baixa Mercado Acionário - Ibovespa 57.312,62 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.416,18 estável/abaixa estável/baixa - NASDAQ 3.011,84 estável/baixa estável/baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ___________
terça-feira, 27 de novembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 224

Economia e percepção opacas A permanência do paradoxo da economia brasileira pelo qual a economia vai se atolando no baixo crescimento, na ausência de competitividade externa, na fragilidade tecnológica e, surpreendentemente, mantendo uma taxa de desemprego baixa, esconde no curto prazo o cenário opaco para os próximos anos. De fato, mudanças estruturais no Estado, na educação, na produção de novas e avançadas tecnologias, no sistema tributário, na forma de gestão da coisa pública, na eficiência do Judiciário e assim por diante, são as únicas alternativas que podem dar consistência a sustentação do desenvolvimento. Apenas dessa forma, o cenário deixará de ser opaco no longo prazo. Nem mesmo um crescimento maior em 2013 e 2014 evita que planos mais arrojados do setor privado sejam deixados de lado ou moderados. O que preocupa o setor privado mais dinâmico é a ausência de regras mais estáveis e a confiança nos investimentos necessários do Estado - este deveria investir/poupar pelo menos 4% do PIB para que a taxa de investimento relativamente ao PIB ficasse consistentemente ao redor de 22% ou mais. Enquanto o país permanecer no pleno emprego, a percepção social e política sobre o tema fica tão opaca quanto a economia está empacada. Investidores no mercado acionário Não fosse o mundo tão confuso quanto nestes tempos de desesperança no Velho Continente e incertezas na maior economia mundial, os investidores estrangeiros nas ações brasileiras já teriam partido em outra direção. De um modo geral, os reguladores do mercado e as autoridades econômicas brasileiras estão subestimando o humor dos investidores. As mudanças de regras desastradas do governo no setor elétrico, as incertezas em relação a Petrobras e o temor de que mais e mais intervenção estatal reduzam a visibilidade do cenário à frente, bem como a lucratividade das empresas são motivos de sobra para afugentar o capital. A exuberância dos fluxos para o país já cessou. As saídas estão aumentando (não à toa há efeitos sobre a taxa cambial), mas a debandada não ocorreu porque as alternativas são piores no momento. Todavia, que não se tenha ilusão : o desempenho do mercado acionário pode sair da letargia atual para algo pior. Dilma e a regulação Sabe-se que a imagem de "gerente" agrada a presidente Dilma. Todavia, se o uso desta serve a certos predicados políticos, aos olhos dos investidores e empresários é uma imagem que começa a incomodar. São duas as razões básicas para este desagrado : (i) o excesso de intervenção presidencial sobre temas econômicos, regulatórios, financeiros, etc. cria um regime de insegurança crescente dos interlocutores ministeriais e de escalões abaixo da administração pública ; (ii) quando a presidente erra a correção do rumo ou é difícil ou é impossível. Não há a quem recorrer. Um empresário carioca com bom trânsito no Planalto sumarizou as dificuldades para a coluna : "Os burocratas com os quais se fala escutam, mas silenciam. A presidente quando fala, quem escuta, silencia, sai da sala e não tem para quem ligar". As comparações com o tempo de Lula são inevitáveis. O presidente era tido como mais liberal com seus ministros. Talvez fruto de sua inapetência gerencial (ou algo assim) e volúpia política. O que pensa Gerdau ? O que pensa o empresário gaúcho Jorge Gerdau, que tem um gabinete no Planalto, perto da presidente, sobre o despencar das ações do setor elétrico na bolsa de valores ? Suas empresas são grandes consumidoras de energia e podem ser favorecidas pelas medidas do governo. Em compensação, os acionistas das elétricas carregam um prejuízo e tanto para casa. E não tem gabinete palaciano. A Espanha é a nova Grécia ? A pequena Grécia tem o seu futuro comprometido por talvez uma geração. A irresponsabilidade de seus governos nas últimas décadas, somada ao carnavalesco mundo da especulação financeira destruiu suas finanças e economia. Por ora, o belo país mediterrâneo está sujeito ao "padrão alemão", a política econômica de Angela Merkel. A economia grega tem níveis de desempenho semelhantes aos da Alemanha antes da escuridão de Hitler e seus comparsas. A Espanha caminha por um caminho semelhante ao dos gregos : o PIB despenca, o desemprego atinge patamares acima de 25% da força de trabalho, o Judiciário faz greve, a Catalunha faz um plebiscito sobre sua independência, as greves se multiplicam e a mão de obra é exportada (inclusive para o Brasil). O governo tenta saídas. Uma delas é absorver algo entre US$ 115 e 120 bi de "ativos tóxicos" do sistema financeiro. Além disso, imagina-se algo entre US$ 70 e 90 bi de necessidade de capitalização dos bancos espanhóis depois desta "limpeza" com o dinheiro da viúva. Para a segunda parte do plano espanhol, a velha Europa terá de ajudar, mas quem surge no cenário ? Angela Merkel ! Ela diz que a limpeza do sistema financeiro dos países em crise é um "problema nacional". Tal qual fez com a Grécia, Portugal, Irlanda, a líder alemã manda bananas aos necessitados parceiros europeus. A Espanha está mergulhada numa crise econômica generalizada. Seus efeitos políticos ainda podem se tornar mais assustadores que os que ocorrem no país que fundou a ideia de democracia e humanismo. Os liberais modernos Não deixa de ser curioso ver os políticos liberais, defensores do livre mercado pregando mundo afora (e por aqui também) o desmantelamento do Estado do Bem Estar Social (wellfare state) e, de outro lado, com o pires (bem fundo) na mão pedem que o Estado salve as estruturas de seu bem estar nada social. Coisas do aparelhamento ou a "Quadrilha" de Drummond A mais nova história de "estripulias" no governo Federal, a partir do gabinete da presidência da República em SP, parece repetir conhecido poeta Carlos Drummond de Andrade. Parafraseando o mineiro : "Dirceu conheceu Lula que nomeou Rose secretária da presidência que indicou os irmãos Vieira para o governo...". Assim, não surpreende mais uma cadeia de malfeitorias instaladas no governo Federal : é fruto puro do aparelhamento do Estado brasileiro, da escolha de pessoas para trabalhar na base do apadrinhamento, do compadrio, do quem indica. Como a prática foi habitual e a regra nos últimos anos - haja vista as tratativas em curso para futuras mudanças ministeriais -, não será surpresa se outros "casos Rose" (ou DNIT, para lembrarmos um mais antigo) ocorrerem. E, embora não atinja diretamente nenhuma figura de alto escalão, cabem as perguntas : quem nomeou e se baseando em quais critérios ? A verdade é uma só : aparelhamento, sem meritocracia, é porta aberta para a corrupção. Marketing e não a política Nestes tempos a escassez de políticos capazes de estarem em sintonia com os anseios sociais e econômicos é notória. Aqui e alhures. Obama, Merkel, os comunistas de Pequim ou os pálidos latino-americanos são figuras que não movem e não comovem na velocidade que os problemas globais e nacionais exigem. Em compensação, os "marqueteiros" vão ocupando espaços e tornando a política uma res da propaganda, como se projetos e animais políticos fossem apenas "produtos de consumo". João Santana, o marqueteiro petista não foge à regra e manda recados de todas as cepas na sua entrevista à Folha de S.Paulo desta última segunda-feira. A principal já está comentada por todos os lados : Lula como candidato a governador de SP. Mas, o mais notável talvez seja a afirmação de que "o mensalão é o maior reality show da história jurídica não do Brasil, mas talvez do planeta". José Dirceu sentiu o afago e comentou em seu blog. O termo reality show merecia ser melhor explorado junto ao marqueteiro. Talvez signifique coisas bem distintas das ideias ditas "republicanas" feitas por políticos que chegaram ao poder pregando diferente do que praticaram... O marqueteiro e Kassab Outra coisa que poderia ser perguntada a João Santana : o que ele acha de ter feito uma campanha de oposição contra Kassab em SP e ver o atual alcaide paulistano virar governo no plano Federal ? Há razões que até o marketing pode desconhecer... Coincidência. Coincidência ? Sexta-feira, dia 30, a presidente Dilma decide, impreterivelmente, sobre a nova divisão dos royalties do petróleo. Uma briga suicida entre Estados e municípios para um dinheiro gordo. Prefeitos e governadores que ainda não tem direito ao bolo, para não serem produtores de petróleo, não veem a hora de botar a mão nesse tesouro. Os governadores do RJ e do ES e um pouco mais de 50 municípios produtores ameaçam mundos e fundos e mais alguma coisa se perderem suas vantagens. A presidente está naquele jogo, politicamente, do perde-perde. Não tem para onde correr. O que vier a fazer desagrada os aliados e provoca mais barulho no Congresso e, talvez também, no STF. De quebra, vai reacender a queixa de governadores e prefeitos a respeito da concentração de recursos nas mãos de Brasília e sobre a penúria em que vivem eles. Por coincidência, no mesmo dia, o governador Eduardo Campos, um político em ascensão Federal e em busca de uma boa colocação para a 2014, realiza uma pajelança na capital da República reunindo os 443 prefeitos eleitos (ou reeleitos) em outubro pelo PSB. Mais coincidência : o mote do discurso de Campos será "o novo federalismo". Federalismo, para prefeitos e governadores, tem um único significado : dividir melhor o dinheiro dos impostos entre eles e o governo Federal. O PMDB na muda De público, o PMDB nunca esteve tão contente com suas relações com a presidente Dilma e, de tabela, com seu novo amigo de infância, o PT. Nos bastidores não é tão róseo assim. As orelhas petistas nas vozes peemedebistas ardem cada vez mais - é o partido com pretensões sempre hegemônicas, que não sabe dividir. Além do mais, permanece a desconfiança de que, dependendo as circunstâncias (por exemplo, um crescimento exponencial de Eduardo Campos), o partido possa deixar de ser o parceiro preferencial de Dilma e do PT. Por enquanto o PMDB está na muda, não pode fazer marolinha para não prejudicar suas pretensões de presidir a Câmara e o Senado no ano que vem, compromisso que a presidente e os petistas garantem que cumprirão, embora dentro do PT haja muita gente com uma vontade danada de trair. Depois da sucessão no Congresso - ainda mais se não tiver todas as suas pretensões ministeriais devidamente atendidas - o PMDB pode voltar ao velho estilo, o de "está e não está", ao mesmo tempo. Com a entrada de atores com mais peso no jogo, como o PSD de Gilberto Kassab, e o próprio reforçado PSB, os peemedebistas temem por seus espaços. Agora e principalmente no futuro : os comandados de Michel Temer sabem que será difícil para eles, em 2014, manter a condição de maior partido no Congresso, somados os votos na Câmara e no Senado. Depois dos tempos gloriosos da oposição aos governos militares, o partido sempre se faz com o auxílio das máquinas governamentais. Daí a inquietação hamletiana que vai na alma de seus caciques : ser ou não ser governista. A ferro e a fogo. A oposição não muda Passados quase dois meses das eleições municipais - nas quais se não teve um desempenho pífio como ela própria temia, mas também não foi nada brilhante - a oposição formal ao governo Federal está tão perdida quanto estava antes das urnas. Não tem um discurso, não tem propostas, é uma soma de individualidades, vaidades e muita mágoa. Nem ao menos conseguiu traçar um roteiro, fazer uma reunião, para uma análise (ou, como se dizia no passado, uma autocrítica) de seus erros e omissões. É neste espaço que começa a transitar, cautelosamente para não ferir suscetibilidades federais, o governador pernambucano Eduardo Campos. Quando a oposição acordar, se houver espaço para um candidato de oposição da Dilma e Lula em 2014 este lugar pode ser do neto de Miguel Arraes. Por ironia (veja-se nota acima) com um vice do PMDB velho de guerra. Não vão gostar Está para ser julgada no STF uma representação pedindo a proibição das doações "ocultas" da campanha - aquelas que são feitas aos partidos diretamente, mas carimbadas para determinados candidatos. A ministra do Supremo e presidente do TSE, Carmem Lúcia, é um pouco mais radical nesta questão : ela é favorável à proibição de financiamento eleitoral por parte de pessoas jurídicas. Não vai cair no gosto dos partidos. No fundo do poço Poucas vezes o Congresso caiu tão baixo como no episódio ainda não encerrado da CPI Cachoeira-Delta. E não tem emenda para um soneto tão mal ajambrado desde o início. Sem graça De repente, não mais que de repente, sem que nada de novo e substancial surgisse na área, a presidente da Petrobras, Graça Foster, depois de meses defendendo o reajuste da gasolina e do óleo diesel como essencial para recuperar a capacidade de investimento da companhia, descobriu na semana passada que o caixa da empresa vai muito bem, obrigada. Não é o que pensam, nos últimos meses, as pessoas que compram ações da Petrobras. Economia, seu nome é política A força de uma reticência Diálogo da presidente Dilma Rousseff com as repórteres do jornal "Valor Econômico", Vera Brandimarte e Cláudia Safattle, em entrevista concedia em Madri : Valor : E a questão da energia, está uma grande confusão e a Eletrobras está se queixando... Dilma : Você acha que eu quero quebrar a Eletrobras ? Agora, entre quebrar a Eletrobras e ela querer ganhar uma renda que não é dela, que é das empresas brasileiras e da população... Para bom entendedor, uma reticência basta. E tome relação de causa e efeito : os investimentos no Brasil, que caíram já quatro semestres consecutivos, segundo alguns analistas voltaram a recuar no terceiro trimestre do ano. Como os investimentos federais não deixaram de patinar, as previsões para de crescimento para 2013, apesar do otimismo do ministro Guido Mantega, não param de cair : há duas semanas, no Boletim Focus (opinião de cerca de 100 especialistas da área financeira) estava em 4% ; esta semana caiu para 3,94%. Uma tendência ? Radar NA REAL 23/11/12 TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA estável estável/alta Câmbio ² - EURO 1,2970 baixa/estável baixa - REAL 2,0844 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 57.531,68 estável/baixa estável/baixa - S&P 500 1.409,15 estável/abaixa estável/baixa - NASDAQ 2.964,97 estável/baixa estável/baixa (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________
terça-feira, 13 de novembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 223

E ele, em que lugar estava ? Nos últimos dois anos sete bancos foram liquidados ou sofreram intervenção do BC. A razzia começou com o Banco Panamericano, repassado para a Caixa Econômica e o BTG, e seguiu com o Cruzeiro do Sul, o Matone, o Prosper, o Schain, o Morada e, no mês passado, o BVA. O caso Panamericano ainda hoje dá dor de cabeça e seus controladores, especialmente a Caixa, que entrou no negócio, como todos sabem, por uma decisão política de Brasília. E sem ter sido alertada das fraudes que por lá havia, pelo menos é isto que seus dirigentes alegam quando cobrados. Em todos esses bancos foram encontradas fraudes, algumas mais outras menos grossas, que se realizaram ao longo de um bom tempo, não nasceram na antevéspera da intervenção. As revelações que a imprensa vem trazendo a respeito dos negócios do Cruzeiro do Sul são, no mínimo, cabeludas. No mercado também se comenta assustadamente as coisas que se passavam no BVA. Coisas medidas em bilhões de reais, um bom naco com os fundos de pensão das estatais. A pergunta que não quer calar é simples : por onde andava a fiscalização do BC todo esse tempo ? Mais benefícios Na semana passada o governo fez mais uma modificação na regra dos compulsórios. Pode servir como uma luva num banco muito comentado atualmente, até por suas histórias paralelas no mensalão : o mineiro BMG. Curiosidade aguçada Depois dos balanços do trimestre encerrado em setembro dos três maiores bancos privados nacionais - Bradesco, Itaú e Santander - e do maior banco público, o BB, todos com resultados inferiores ao esperado, a grande expectativa do mercado é com os resultados da CEF. A CEF tem sido mais audaciosa que os bancos privados e até que o BB, não só na política de rebaixamento dos spreads, como também na concessão de empréstimos. O BB aumentou seus empréstimos mas teve reduzido seu lucro. A Caixa vai dar uma aula para todos os concorrentes ? O etanol em pane O endividamento das usinas de açúcar e álcool subiu quase 25%, e está próximo dos R$ 52 bi. E a previsão é de que pode subir ainda uns R$ 5 bilhões nos próximos meses. O setor está querendo um fôlego oficial qualquer para ultrapassar a tempestade e não surgir alguns calotes. O problema mais sério está ligado ao preço da gasolina, usado pelo governo como uma das âncoras da política antiinflacionária, mas que ajuda a deprimir o preço do álcool e o caixa das usinas. Será que vai subir ? Há dias, o ex-ministro e ex-deputado Delfim Neto, insuspeito de qualquer tipo de oposicionismo no momento, fez coro com a direção da Petrobrás, dizendo que está mais do que na hora de o governo permitir um aumento no preço da gasolina e do diesel para não garrotear ainda mais o caixa da estatal. Mas não há sinais de fumaça no ar que o reajuste esteja a caminho. Os suspiros da inflação, embora pequenos, incomodam Brasília. O espaço para o aumento dos combustíveis está sendo preparado pela redução das tarifas de energia, entre 16% e 28%, média de 20%, prometido pela presidente Dilma para fevereiro. Uma novela : as tarifas de luz Dilma terá mais trabalho do que imaginava para aprovar a MP 579, de prorrogação de contratos de energia elétrica, somado a redução nas contas de luz. As reações das empresas ao valor das indenizações que terão de receber e ao novo valor da tarifa, não foi das melhores. Até a Eletrobrás está chiando. Dilma diz que não admite que a MP seja desfigurada no Congresso, porém há pressões fortes das empresas e de algumas bancadas estaduais. Nos últimos dias, sinal de que o jogo pode ir longe, quem sabe numa batalha judicial, o ministério de Minas e Energia passou a admitir, por exemplo, reabrir o prazo para a estatal mineira Cemig aceitar a prorrogação de todas as suas usinas com contratos vencendo. Se abrir uma exceção para a Cemig receberá outras reivindicações. Já há quem diga que talvez a redução das contas de luz venha a ser bem menor do que o projetado. Um alerta A votação da redistribuição dos royalties do petróleo, quando a Câmara não atendeu a pelo menos dois desejos da presidente Dilma - destinar o dinheiro em sua totalidade para a área de educação e só adotar novos critérios para o petróleo novo, não incluindo o que já está licitado e em produção - é um alerta para o governo para as dificuldades que ele pode encontrar na hora de votar a MP 579. A Congresso jogou uma bomba no colo da presidente : se vetar desagrada, se não vetar, desagrada também. E nos dois casos o fim da confusão pode ser o STF. Porém, dependendo do correr da briga no Judiciário, o governo pode ficar impedido da realizar, no tempo prometido, licitação de novas áreas de exploração de petróleo, tanto nas áreas do pré-sal como nas outras. Há sete anos não ocorre nenhum leilão, o que está levando à diminuição das reservas nacionais e até a uma estagnação da produção brasileira. Um adiamento desses leilões já marcados - maio e novembro - mais a confusão na área elétrica, não seriam nada agradáveis com os investidores, já ressabiados com o que muitos chamam de excesso de intervencionismo e outros de excesso de voluntarismo do governo brasileiro. Dilma e 2014 A prioridade da presidente Dilma, como ficou claro nos últimos dias, é reorganizar suas alianças políticas com vistas à disputa pela reeleição. As mudanças ministeriais em vista - a presidente diz que não é reforma, serão apenas ajustes - terá apenas este sentido. Não virá para melhorar o desempenho da equipe de governo, embora, em algum momento possa trazer tal benefício. E tudo está sendo feito de comum acordo com o presidente Lula, com quem ela teve, na terça-feira à tarde, no Palácio da Alvorada, uma conversa de longas quatro horas. Como o esquema está fechadíssimo, Brasília, que normalmente já é um poço de boatos, está fervilhando. Certo mesmo é que o prefeito Kassab ganha um Ministério - para ele ou para alguém do PSD - e o PMDB terá mais uma cadeira na Esplanada. Não é a oposição... ...no momento a preocupação de Lula e de Dilma. PSDB, DEM e PPS precisarão primeiro encontrar um rumo antes de incomodarem o Planalto. A fera a ser acompanhada se chama Eduardo Campos. E a tática do governo parece ser dividir seu partido. A cunha são os irmãos cearenses Cid e Ciro Gomes. Ao contrário, por exemplo, do que aconteceu com o PT e o PMDB, que tiveram todas as suas cúpulas reunidas num jantar com a presidente, a conversa de Dilma com o PSB foi dividida em duas : um jantar com Eduardo Campos e um almoço com o governador do Ceará, Cid Gomes. E Dilma parece apostar que o PSD e do B vá domar o PSB. Semana vazia Afora os ajustes da presidente Dilma com seus aliados - ontem ela jantou com o grupo do prefeito Gilberto Kassab - a semana política, mais até do que a semana, com o feriado nacional de 15/11, e o feriado em muitos municípios do dia 20 (Dia da Consciência Negra) vai esvaziar Brasília. Afinal, como ensinava o poeta pernambucano Ascenso Ferreira, "ninguém é de ferro". Pelo menos não todos os brasileiros. Com isso, o Câmara e Senado, ficarão com pouco mais de 30 dias corridos (contando os sábados e domingos) para aprovar, entre outras coisas urgentes, algumas MPS que vão caducar até janeiro, o Orçamento Geral da União e as novas regras para o Fundo de Participação dos Estados. Dificilmente, na correria, sairá uma coisa de alta qualidade.
terça-feira, 6 de novembro de 2012

Política & Economia NA REAL n° 222

  Obama, Romney, China e Dilma Obama pode perder a eleição porque a economia cresce pouco, algo como 2% neste ano. Diga-se de passagem, é mais do que o Brasil crescerá no mesmo período. Afora a evidente ironia, há outro paradoxo na eleição estadunidense. A eleição de Mitt Romney pode aumentar as tensões comerciais entre os EUA e a China e direta e indiretamente ajudar o Brasil. Isso porque o candidato republicano defendeu abertamente maior intercâmbio comercial com a América Latina. O tema foi recorrente, mesmo que obscuro do ponto de vista prático. De outro lado, temos a eleição do presidente chinês a se concretizar entre os comunistas de alto coturno do Partido Comunista que estarão no congresso a partir desta semana. O Brasil acompanha tudo de perto, mesmo porque diante dos evidentes sinais de desaceleração da maior economia emergente, a questão econômica ocupará uma boa parte da festança dos vermelhos chineses. Há alas tecnocráticas do partido que defendem ajustes macroeconômicos que reduzam o crescimento no curto prazo para evitar colapsos de crédito no futuro. Dilma, sabe-se, torce por Obama nos EUA, apesar deste nunca ter trazido muitos benefícios para o Brasil. A questão parece mais ideológica. Quanto à China, a torcida é pela manutenção da política econômica de crescimento que tanto ajuda o preço das commodities brasileiras. Nada à vista, por enquanto, na economia A produção industrial brasileira em setembro caiu 1%. Sinal amarelo com mutação para vermelho em relação à política econômica. A política de estímulos tributários e redução de juros encontrou limite evidente : não há no âmbito privado crença de que esta política seja sustentável no longo prazo. Isto sacrifica o investimento no curto prazo. Ademais, há os planos de investimentos públicos os quais estão escaldados por lerdeza e denúncias de mau uso de verbas, além de carência de visão estratégica e gerencial. O próximo ano pode ser recheado de surpresas negativas no que tange à atividade econômica : a inflação persiste sendo uma incógnita e o desemprego (por ora, baixo) pode subir quando se perceber que o crescimento vai ficar modesto. O risco político da política econômica sobe gradualmente. Mas sobe consistentemente. Duda Mendonça de volta Na última quinta-feira, a conta de publicidade do Senai foi parar nas mãos de Duda Mendonça, depois de longa licitação. Um montante de R$ 200 mi deve ser gastos para divulgar a imensa gama de serviços da entidade. Duda Mendonça foi inocentado no mensalão e já voltou a brilhar na sua área de especialização. De outro lado, volta a ter ligações com Paulo Skaf, o timoneiro da FIESP, com o qual o baiano trabalhou durante sua investida nas eleições estaduais passadas quando Skaf foi candidato ao governo paulista. Todas estas coincidências mostram que Mendonça é um homem abençoado. Agora poderá sair de sua fazenda no Pará e reassumir o seu latifúndio publicitário. Duda é inocente no mensalão, mas não tem nada de ingênuo. Mensalão e a dosimetria Joaquim Barbosa é esperado, no plenário do STF, mais saudável depois de seu tratamento germânico. Resta saber se a tal da dosimetria das penas do mensalão será finalmente menos sofrida para o público. Afinal, a confusão nas primeiras doses foi uma dose para elefante para quem assistia à sessão da alta Corte. Durante a ausência de Barbosa as conversas entre os ministros foram intensificadas pelo brevemente aposentado Ayres Britto. Se saberá no plenário se houve consenso sobre uma metodologia eficiente e, ao mesmo tempo, absolutamente legal, para o cálculo das penas dos mensaleiros. O fato novo ocorrido na ausência de Joaquim Barbosa foram os muitos editoriais de importantes jornais pedindo que as penas sejam "justas" e que não haja "abuso político". Exorcizando Eduardo Campos - I Os dois mais novos amigos de infância, agora de papel passado, o PT e o PMDB, sob as bênçãos da presidente Dilma e do ex-presidente Lula, comemoram hoje o que, para eles, é uma eterna aliança - até que os votos os separem. Dilma recebe todos no Palácio do Planalto para discutir a nova relação e acertar os ponteiros até a travessia de 2014, quando os dois partidos pretendem estar mais unidos do que nunca, com Dilma e Temer na passarela. Naturalmente, será uma união com "comunhão de bens", um sujeito nada oculto deste encontro. O PMDB vai feliz em busca do dote que acredita fazer jus pelos serviços prestados ao PT, mormente em Belo Horizonte (mesmo com a derrota) e no segundo turno em São Paulo. Uma das noivas peemedebistas a serem contempladas no altar ministerial é Gabriel Chalita. Os do PMDB de Minas Gerais também querem sua compensação. Exorcizando Eduardo Campos - II Outro dote será a confirmação, definitiva enquanto durar, de que as presidências da Câmara e do Senado, no biênio 2013/2014, serão do PMDB, com Henrique Alves (RN) e Renan Calheiros (AL). Porém, nenhum Judas mais oculto será tão malhado na festiva noite palaciana que o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos. A demonstração de eterna felicidade que PT e PMDB vão exibir em público, com direito a fotos e imagens para a imprensa, é um recado direto ao neto de Arraes de que não chegou a hora ainda de pensar em altares mais elevados para ele e o seu PSB. Ou se enquadra ou nem é convidado para qualquer boda oficial. Depois desse recado subliminar, estuda-se quem vai avisar diretamente a Campos. Enquanto isto, prepara-se também uma cizânia no PSB, explorando as tensões entre o governador pernambucano e os neocoronéis do Ceará, os irmãos Cid e Ciro Gomes. Mais lugares... Como há candidato demais e postos de menos, ainda mais que quem está lá não quer largar nem uma lasquinha do osso, a presidente Dilma botou entre as prioridades do governo para o Congresso este ano a criação do ministzério da Pequena e Média Empresa, há tempo no compasso de espera no Legislativo. Na última vez que se falou sobre ele, no início do ano, especulava-se que ele seria destinado à empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza. Ela chegou a ter uma reunião sobre o assunto com Dilma no Palácio do Planalto. Agora, será direcionado a algum partido. Dá uma vontade de trair... O PMDB vai sair da reunião com Dilma e Lula certo de que já poderá mandar fazer os ternos novos para as posses de Henrique Alves e Renan Calheiros no comando do legislativo Federal. Pode, em parte, gastar pano à toa. O PT que não é de cama, mesa e banho oficial, cúpula, principalmente o da Câmara, está incomodado com os acertos com os peemedebistas. Ponha-se nesta lista : Arlindo Chinaglia e Marco Maia. Tal insatisfação pode pregar uma peça em Dilma, Lula e companhia. E pode ser o troco do PSB que costura, com a oposição, a candidatura de Julio Delgado (MG) à Câmara. A manobra para enquadrar Eduardo Campos tem riscos e precisa ser feita com grande cautela pelo poder de fogo que ele adquiriu. Definição mais que perfeita Do professor de ética e filosofia política da Universidade São Paulo Renato Janine Ribeiro : "Perguntem a quase qualquer partido político brasileiro o que ele quer ser quando crescer, se crescer, para crescer. É quase certo que, se ele for sincero, responderá : 'PMDB'. Chamo de 'PMDB' um partido de pouca definição ideológica, capaz de sustentar um governo de direita ou esquerda, mas formado por tantas alianças regionais que consegue um bom retorno da União em troca de seu apoio." (...) "Por mais que o modelo PMDB ofereça ganhos tangíveis e certos, os dois partidos que, somados, ou melhor, brigados, chefiam o Estado há quase 20 anos, só conseguiram isso porque não foram nem são PMDB. Nosso grande partido-ônibus é vantajoso para apoiar, não para liderar. Lutar pela hegemonia, como fazem PT e PSDB, tem um custo. Você pode perder. Já fazer alianças com qualquer lado (exagero um pouco no 'qualquer') tem suas vantagens, mas traz um custo : você não disputa a final do campeonato. Pode até se manter na primeira divisão, mas não chega à final do Brasileirão." Um discurso, por favor O problema principal da oposição, definitivamente, não é a falta de líderes, nem de votos, nem suas idiossincrasias e vaidades, nem de falta de figuras coroados. É mesmo de conteúdo, de um discurso coerente, crível, alternativo ao do governo. Simples assim. Com seu gosto pela ironia, o ex-governador Leonal Brizola, na campanha presidencial de 1989, quando cobrado sobre seu programa de governo, costumava responder dizendo que o difícil é criar as condições políticas para governar e aplicar seus planos : "Depois, a gente encomenda uma pelo reembolso postal (a internet ainda não existia) a alguns cientistas na universidade" - dizia. Invertendo um pouco a lógica de Brizola, não seria o caso da oposição começar por aí ? O que o eleitor vai querer saber é o que ela pode fazer de diferente (e de melhor) do que está sendo feito agora. Caldo de galinha e paciência Os mensaleiros petistas, que esperavam ver o PT, institucionalmente, de armas em punho para defendê-los da "sanha" do STF (e da mídia tradicional) terão de munir-se de muita paciência e muito caldo de galinha. E esperaram confortados numa poltrona para não se cansarem. Tanto o partido como especialmente o governo Dilma não parecem muito dispostos mais a ir nesta direção. Percebem que isto manterá aberta uma ferida difícil de cicatrizar em público e que tem poder de trazer pesado desgaste político para eles. Bobagem pensar o contrário. A solidariedade pública será inversamente proporcional à solidariedade pessoal que os réus receberão. A vida continua... Embrulhos federativos - I Na empolgação com a eleição no segundo turno na capital paulista, Dilma abriu espaço na sua agenda logo na segunda-feira depois do resultado oficial para o prefeito eleito Fernando Haddad. Prometeu a ele atender a um de seus pleitos, promessa da campanha em São Paulo : mudar as regras estabelecidas para o pagamento da dívida de São Paulo, renegociado no início de 2000. Para Haddad, esse alívio é essencial para cumprir o plano de governo apresentado aos paulistanos e as promessas soltas nos palanques. Para o PT é essencial porque, como seus dirigentes já confessaram, pretendem fazer de São Paulo a vitrine do "novo modo governista de governar", para a classe média. É plataforma para a reeleição de Dilma em 2014 e para o PT ampliar seu poder Federal e nos Estados. Embrulhos federativos - II Com o afago a Haddad, Dilma, porém, abriu uma panela de pressão que há algum tempo estava para explodir : a insatisfação de governadores e prefeitos com a situação de seus acordos de dívida e com as relações federativas (a divisão do bolo dos impostos e as obrigações de gastos impostos por Brasília a eles). A Confederação Nacional dos Municípios já prepara uma caravana para ir a Brasília conversar sobre o assunto. O governador de MS, de passagem pela capital, já avisou : "Se é para um, tem de ser para todos". Aécio Neves e Eduardo Campos, muito amiguinhos atualmente, têm conversado sobre o assunto. Aécio já incorporou o tema em seus discursos. Dilma pode jogar o assunto na mesa em troca de pontos da reforma tributária. O imbróglio é que este é um jogo que não tem soma zero. Todos querem ganhar. Enquanto isso... ... Senado e Câmara preparam-se para enviar ao STF um pedido de ampliação do prazo, que vence no dia 31/12, para a aprovação de uma nova lei de distribuição do Fundo de Participação dos Estados, um bolo este ano estimado em R$ 55 bi, parte do IR e do IPI. Deputados e senadores tiveram mais de dois anos para discutir e votar a mudança. Agora, se nada for feito, a mina para os governadores fecha no dia 1º de janeiro. Não há mais prazo para aprovar na Câmara e no Senado um projeto desse teor com qualidade. Depois, os parlamentares se queixam da "judicializaçao" da política no Brasil. Mantega também aproveita As necessidades financeiras dos Estados podem tornar a vida do ministro da Fazenda, Guido Mantega, mais fácil no que se refere ao fim da chamada "guerra fiscal". Com a pauta da renegociação das dívidas de Estados e municípios sobre a mesa, o ministro vai tentar fechar um acordo em relação aos benefícios fiscais concedidos pelos Estados para atração de investimentos. Mesmo assim, o que vai sair (se sair) será um acordo para o futuro, pois para o presente as dívidas pertencem. O triste fim da uma CPI Morre da CPI Cachoeira-Delta sem que os partidos tivessem a coragem de investigar o que era realmente importante na história : as relações espúrias da empresa em várias esferas do poder público brasileiro, os "laranjas" que ela usava para fazer seus negócios... Nem o julgamento do mensalão parece causar temores em certas áreas do mundo político e administrativo brasileiro. Mas o MP, se quiser, já tem um bom filão para quem sabe um "Mensalão II - O Retorno". Radar NA REAL 2/11/12   TENDÊNCIA SEGMENTO Cotação Curto prazo Médio Prazo Juros ¹ - Pré-fixados NA estável estável/alta - Pós-Fixados NA baixa baixa Câmbio ² - EURO 1,2789 baixa Estável/baixa - REAL 2,0353 baixa/estável estável/baixa Mercado Acionário - Ibovespa 58.307,43 estável estável/alta - S&P 500 1.414,20 estável alta - NASDAQ 2.978,09 estável alta (1) Títulos públicos e privados com prazo de vencimento de 1 ano (em reais). (2) Em relação ao dólar norte-americano NA - Não aplicável ____________