Ordem na Banca

A inércia estratégica - Quando o escritório trabalha muito, mas evolui pouco

O texto trata da estagnação estratégica vivida por muitos escritórios de advocacia, um fenômeno em que a equipe trabalha muito, entrega bem, atende clientes importantes, mas não evolui em termos de crescimento, inovação, posicionamento e rentabilidade.

10/12/2025

Muitos escritórios vivem uma contradição silenciosa: trabalham como gigantes, mas evoluem como iniciantes. Entregam peças impecáveis, atendem clientes importantes, mantêm uma equipe numerosa e uma agenda cheia. Mas, quando o sócio olha para os últimos anos, percebe que o escritório está praticamente no mesmo lugar.

Essa estagnação não vem por falta de esforço.

Vem por falta de avanço estratégico.

O escritório opera.

Executa.

Cumpre.

Entrega.

Mas não evolui.

A sensação é conhecida entre sócios:

"Trabalhamos muito, mas não saímos do lugar."

Esse é o retrato clássico da inércia estratégica.

O paradoxo da advocacia: Alta entrega, progresso baixo

O problema começa quando o escritório confunde movimento com evolução. Toda semana há urgências, demandas, prazos, reuniões, crises pontuais. O ritmo intenso cria a impressão de avanço, mas na prática só revela um sistema que gira sem direção.

Os sintomas são claros:

  1. O escritório segue resolvendo os mesmos problemas de sempre.

Confusões internas, gargalos, desalinhamento, falta de visibilidade financeira.

  1. O sócio sente que a equipe está sempre “correndo atrás”.

Nunca há espaço para inovar, melhorar processos ou testar algo novo.

  1. As metas de longo prazo não saem do papel.

Planos, planos e mais planos. E pouca execução real.

  1. A operação cresce, mas a rentabilidade não acompanha.

Mais gente, mais custo, mais complexidade. O lucro não escala.

  1. A estratégia sempre fica para “quando sobrar tempo”.

E esse tempo nunca aparece.

O escritório trabalha muito.

Mas não progride.

Por que isso acontece?

Porque a rotina jurídica suga toda a energia disponível.

E onde não há disciplina estratégica, a operação toma conta de tudo.

O sócio é empurrado para dentro dos problemas diários e perde capacidade de olhar para o tabuleiro como um todo. No curto prazo, isso parece inevitável.

No longo prazo, vira um atraso.

A inércia estratégica surge exatamente aí:

Quando a operação domina a agenda, e a estratégia vira um luxo.

Evoluir exige método, não força de vontade

Muitos sócios acreditam que precisam “organizar a vida” para então pensar a estratégia. Mas essa abordagem só reforça o ciclo da estagnação. A vida nunca vai organizar espaço livre suficiente. A operação sempre vai pedir mais.

A saída é outra:

A estratégia precisa entrar na rotina como sistema, não como evento.

É aqui que métodos como ambidestria e sprints de 90 dias fazem diferença.

Ambidestria: O antídoto contra a estagnação

A ambidestria ensina o escritório a operar em três horizontes simultâneos:

Futuro 1 – Melhorar o agora

Processos, produtividade, governança, finanças, operação e rotina da equipe.

Futuro 2 – Construir o próximo período

Novos serviços, reposicionamento, marketing estratégico, tecnologia aplicada.

Futuro 3 – Investigar o futuro

Tendências, setores híbridos, inovação, oportunidades de médio e longo prazo.

Sem F3, o escritório envelhece.

Sem F2, ele perde competitividade.

Sem F1, ele colapsa na operação.

A inércia estratégica existe porque o escritório passa 95% da energia no F1.

E isso mata o futuro.

Sprints de 90 dias: O ritmo que transforma intenção em avanço

O escritório não precisa de um plano anual complicado.

Precisa de ciclos trimestrais simples e executáveis.

O sprint deve trazer:

  • 3 objetivos estratégicos
  • 3 indicadores
  • 3 entregas-chave
  • reuniões de acompanhamento semanais
  • ajustes mensais
  • revisão ao final do trimestre

Esse formato impede que o escritório caia no velho hábito de planejar demais e executar de menos.

É simples.

É direto.

É eficiente.

E funciona para escritórios de todos os tamanhos.

Quando a estratégia vira hábito, o escritório avança de verdade

A inércia estratégica desaparece quando a estratégia deixa de depender da “boa vontade do sócio” e passa a ser parte do sistema.

Com radar, hipóteses, ambidestria e sprints, o escritório:

  • ganha clareza
  • melhora a execução
  • toma decisões melhores
  • aumenta a competitividade
  • desenvolve novas frentes de receita
  • reduz retrabalho
  • cria cultura de avanço contínuo

Progresso não é consequência de esforço.

É consequência de método.

Escritórios que evoluem não trabalham mais.

Trabalham melhor.

A advocacia dos próximos anos será marcada por movimento rápido, clientes exigentes e tecnologia mudando o padrão de entrega. Sócios que continuam presos à operação vão continuar correndo - e continuando no mesmo lugar.

Quem quer crescer precisa romper o ciclo da inércia.

E isso começa com uma decisão simples:

“Eu não vou mais deixar a operação dominar tudo.”

A partir disso, o escritório troca movimento por direção.

E direção por evolução.

Colunista

Lara Selem é advogada, professora, escritora, conselheira consultiva, advisor e mentora especialista em Gestão Legal, Sociedades de Advogados e Planejamento Estratégico para a Advocacia. É membro da Comissão Nacional de Sociedades de Advogados do Conselho Federal da OAB. Foi presidente da Comissão Especial de Gestão, Empreendedorismo e Inovação do Conselho Federal da OAB (2019-2021). Participa ativamente do Comitê de Administração e Ética Profissional (CADEP) do Centro de Estudos de Sociedades de Advogados (CESA). Membro da Association of Legal Administrators (ALA) desde 2009. Coordenadora científica do MBA Internacional em Gestão de Escritório de Advocacia (Faculdade Baiana de Direito e Gestão). Autora de 20 obras sobre gestão de escritórios de advocacia.

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