É comum o candidato ser eliminado de um concurso público e acreditar que não há mais o que fazer. O resultado saiu, a próxima fase está marcada para o próximo final de semana e, junto com o nervosismo, surge o desânimo: “Não dá mais tempo, já perdi.” Essa é, talvez, uma das maiores ilusões do mundo dos concursos.
A dúvida aparece com frequência nos atendimentos: “Doutor, ainda vale a pena recorrer à Justiça se a próxima fase é daqui a poucos dias?” E a resposta é clara: sim, vale - e muito. O simples fato de o concurso seguir o cronograma não faz desaparecer o seu direito. A Administração Pública tem o seu tempo, mas o tempo da Justiça é guiado por outro relógio: o da legalidade e da proteção de direitos.
A Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso XXXV, é direta ao afirmar que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.” Isso significa que, ainda que o edital avance, o candidato que foi prejudicado por erro da banca, irregularidade no resultado ou eliminação indevida pode e deve acionar o Judiciário. O prazo do concurso não é o limite do direito.
Quando o erro da banca fere o direito do candidato
Todo concurso público deve observar os princípios da legalidade, isonomia e vinculação ao edital. Quando a banca cobra conteúdo fora do programa, aplica critérios contraditórios ou comete erro material evidente, surge o dever jurídico de correção. O Judiciário não intervém no mérito da correção, mas atua para restabelecer a legalidade e a igualdade de condições entre os candidatos.
Em inúmeras situações, decisões judiciais reconhecem que o erro da banca pode ser corrigido mesmo depois do encerramento de fases subsequentes. Isso porque o que se protege não é a data da prova, mas o direito de quem foi injustiçado. O juiz pode determinar a reserva de vaga, autorizar a participação tardia, corrigir nota ou até determinar a reaplicação individual da etapa, dependendo do caso.
E se a liminar não sair antes da próxima fase?
Esse é o ponto que mais gera confusão. Muitos acreditam que, se o juiz não decidir antes da prova, o processo “perde o sentido”. Mas é justamente o contrário: o ajuizamento antes da próxima fase já preserva o direito. O candidato demonstra boa-fé e diligência, e o Judiciário compreende que ele não pode ser punido pela própria lentidão processual.
Na prática, o ideal é ajuizar a ação com pedido de liminar antes da realização da próxima fase. Mesmo que o juiz só aprecie o pedido dias depois, o direito fica resguardado. E, se a decisão for favorável, ela produz efeitos retroativos, podendo garantir a continuidade no certame ou até a correção da injustiça ocorrida.
Outro ponto fundamental: o candidato deve comparecer ao local da prova, levando o protocolo da ação judicial e uma cópia da petição. Ainda que não seja autorizado a fazer a prova, esse simples gesto demonstra que ele tentou exercer o direito. Esse cuidado serve como prova em eventual pedido de reaplicação ou de reserva de vaga, reforçando a boa-fé e o zelo pelo próprio direito.
O erro de não agir
Infelizmente, a maior parte dos eliminados não busca o Judiciário por acreditar que “não adianta mais.” E é justamente aí que o direito se perde - não pela ausência de razão, mas pela ausência de reação. A Justiça não é instantânea, mas ela é eficaz quando provocada a tempo. O candidato que se conforma com a eliminação sem sequer tentar questionar uma ilegalidade está, na prática, renunciando à própria chance de reparação.
Vejo todos os dias candidatos desistindo do próprio direito porque acreditam que o Judiciário não age com rapidez. Mas o que garante o resultado não é o tempo, é a atitude. A Justiça não retrocede o calendário, mas restabelece o que é justo.
Conclusão
O concurso público é, antes de tudo, um processo de mérito e de fé. O mérito se mede pelo estudo; a fé, pela perseverança em defender o que é certo. Quem foi eliminado injustamente ainda pode vencer - mas precisa agir. O tempo da banca é curto, o da Justiça é mais longo, mas o direito é permanente.
Portanto, se você foi eliminado, não desista antes de consultar um advogado especializado. Uma ação judicial bem estruturada pode não apenas preservar a vaga, mas também resgatar o sonho interrompido. Em matéria de concurso público, o verdadeiro fracasso não é ser eliminado - é acreditar que não há mais o que fazer.