Não é sem profunda consciência do momento histórico que nos dirigimos ao mais seleto grupo de leitores deste país: os migalheiros. Com efeito, os leitores deste nosso vibrante matutino são hoje a melhor e a maior fatia dos pensadores do país. Por tudo isso, há zelo redobrado quando ousamos expor nossa opinião. Isso, todavia, não significa ficar inertes quando o dever nos convoca. Somos forjados no bom combate, e nos abeberamos dos ensinamentos do mestre Goffredo da Silva Telles, para quem os estudiosos do Direito devem ter os pés no chão e os olhos voltados para as estrelas dos seus ideais. Feito este introito, vamos aos fatos.
Xeque mate
A tarde de ontem, com os inerentes mistérios do crepúsculo, trouxe revelações bombásticas que colocam Lava Jato e Sergio Moro em xeque. O site "The Intercept" divulgou as primeiras informações do que promete ser o maior escândalo da vida jurídica brasileira. São trechos de conversas particulares entre Moro e integrantes da Lava Jato. Para quem não viu, agora é a hora.
Com a palavra, Sergio Moro
Depois da divulgação das mensagens comprometedoras, Moro disse pelo Twitter, que "não tem nada ali". Ainda com o cacoete de juiz, julga e absolve a si próprio dizendo que "não se vislumbra qualquer anormalidade da atuação enquanto magistrado". Ou seja, não desmente.
Com a palavra, o parquet
Quanto ao MPF, já foram divulgadas pela assessoria de imprensa do órgão duas notas. Como se vê, os meninos de Curitiba estão ansiosos. Estranha-se que nenhuma das notas tenha a assinatura de seus integrantes. A caneta de Dallagnol acabou a tinta? Veja as notas.
Enredo velho, elenco novo
Moro e a Lava Jato (como se disse, Deltan não se dignou em assinar) fazem nota sobre o caso. Não negam o conteúdo. Pode-se até dizer, na régua Moro, que é uma confissão tácita. Nesse sentido, tende a beneficiá-los no futuro. No script de Curitiba, seria agora: busca e apreensão, mais um vazamento, condução coercitiva, mais um vazamento, prisão preventiva, mais um vazamento, delação premiada, mais um vazamento, sentença condenatória, mais um vazamento, confirmação no TRF e, por fim, calabouço. Tudo isso regado a power points e coletivas, porque ninguém é de ferro.
Revelações - Lava Jato - Meio jurídico
O meio jurídico reage à divulgação das conversas bombásticas entre Moro e Dallagnol.
Revelações - Lava Jato - Imprensa
As conversas entre Moro e Dallagnol aqueceram a imprensa. Além dos principais meios de notícia do Brasil, as mensagens comprometedoras entre o ministro e o procurador também repercutiram na mídia internacional. Veja.
Lava Jato e os hackers
A PF investiga uma tentativa de invasão de dados de celular e da conta do Telegram do relator da Lava Jato no Rio, o desembargador Abel Gomes. O TRF-2 emitiu uma nota dizendo que o juiz Flávio de Oliveira Lucas, substituto do relator nas férias, também sofreu com o atentado digital no último dia 5.
Teoria da conspiração
Há quem diga que as informações não são fruto de hacker. Aliás, a nota de Moro comete o ato falho em anunciar que haveria uma fonte. Seria fogo amigo?
Carapuça
Em toda a história que virá a público, há um ponto que deveria já ter chamado atenção de todos, mas que passou em branco, seja pela sucessão do dia a dia, seja porque ninguém quis pôr olhos de ver. Referimo-nos ao fato do juiz aceitar ser ministro daquele que se beneficiou, mesmo que indiretamente, com suas sentenças. Ali, naquele momento, Sergio Moro mostrou quem era e a que veio. Poucas foram as vozes que o criticaram: não este nosso rotativo, que não deixou barato, exigindo, e obtendo, o mínimo: exoneração imediata.
Are you kidding?
Sobre este ponto, do juiz virar ministro, queremos narrar algo mais. É que em conversas com colegas no exterior (juristas, políticos e jornalistas) a pergunta era sempre a mesma: vocês não acham estranho esse juiz aceitar um cargo de ministro? É ético? É legal? O estranhamento alienígena contrastava com a alienação doméstica. Enfim, o fato é que aquele momento foi crucial para se desnudar o personagem.
Diga-me o que vazas, e dir-te-ei que Moro és
Na semana passada o ex-juiz Moro anunciou que seu telefone havia sido hackeado. Mais uma vez, tudo não passou de um jogo de cena. O ministro sabia que as conversas estavam na posse dos jornalistas ianques, e quis tisnar tudo como sendo um ato criminoso. Esqueceu-se do fato de que criticar vazamentos era roupa que não servia...
Vergonha alheia
Agora se sabe o que era o temor de Moro. Aliás, sabe-se, ou presume-se o que está por vir. O juiz Moro nunca foi, de fato, um juiz acima das partes, com a equidistância que deve ter um magistrado. As conversas dele com Dallagnol são de corar os juízes brasileiros. Trata-se de diálogo com implicações jurídicas sérias.
Chico e Francisco
Como parquet e defesa estão, ou deveriam estar, no mesmo patamar, sugerimos um exercício de raciocínio: imaginemos que fosse o diálogo de um juiz com um advogado, no mesmo teor, mas com viés da defesa. Ninguém duvide onde todos estariam pela régua de Moro.
A lei é para todos
Mas é preciso tomar cuidado para não agir como os interceptados, com o perdão do trocadilho. É necessário que tudo seja investigado de acordo com a cartilha. De fato, se o combate à corrupção só tem sentido se feito nos rigores da lei, também o desnudamento dos falsos heróis assim deve ser feito.
Descrença
E aqui chegamos num ponto importante. Sergio Moro é depositário de boa parte das esperanças da população. Depositário infiel, agora descobrimos. Mas seus admiradores merecem respeito e precisam de calma para entender que foram ludibriados. O "eu falei", "eu sabia", não ajuda. Moro era o símbolo de um Judiciário salvador. Servia de esteio até para a imagem do Supremo, por mais paradoxal que pareça. Por tudo isso, seria importante que os integrantes do STF aparecessem rapidamente para assumir o protagonismo que lhes é de direito. Haverá uma sensação de apostasia geral que precisa ser preenchida ou ao menos confortada.
Suspeição já alegada
Não é de hoje que se alega a suspeição de Moro. Aliás, há um caso no STF que já teve julgamento iniciado. Trata-se do HC 164.493, que tem votos contra a suspeição (Fachin e Carmen Lucia) seguido de pedido de vista do ministro Gilmar Mendes.
Fonte segura
Em tempo, "The Intercept", o site que divulgou as informações, é um jornal on-line, com cinco anos de existência, criado pelos jornalistas Glenn Greenwald, Laura Poitras e Jeremy Scahill. O jornal eletrônico norte-americano, com versão em português, é mantido pelo bilionário Pierre Omidyar, criador do Ebay, gigante site de leilões.
Esperando pra ver
Quando o The Intercept chegar na história da Fundação Lava Jato, nós aqui vamos oferecer pipoca e guaraná para todo mundo.
Termômetro das redes
Hoje, no início da tarde, convidamos os leitores a acessarem o site Migalhas (www.migalhas.com.br), pois estamos preparando, em parceria com a empresa Ideia Big Data, um termômetro das redes sociais para mostrar a repercussão do assunto divulgado pelo The Intercept. Adiantamos aqui algumas breves análises:
1 - No Twitter o clima é de "campanha" desde cedo. Parte dos usuários subiu a hashtag #EuApoioaLavaJato (em 1º lugar no momento nos trending topics). Outro lado continua postando a tag #EuApoioTheIntercept (em 2º lugar nos TTs). Muitos assuntos relacionados à matéria estão em destaque dentre os vinte "trending topics" do Twitter: a hashtag #VazaMoro está em 3º lugar.
2 - No Facebook, The Intercept tem mais de 500 mil interações. Na UOL, o assunto tem 480 mil. Na Exame, a matéria com o caso tem mais de 225 mil. O G1 escondeu o assunto num título pusilânime ("Site divulga trechos de mensagens atribuídas a procuradores da Lava Jato e a Sérgio Moro") e só obteve 40 mil interações.
3 - A procura por matérias sobre o caso vai obrigar os portais de notícias a aumentarem o destaque, de modo que o tema se retroalimenta. O que é possível constatar é que se trata de um fenômeno que tomou conta das redes e que a grande imprensa, mesmo se quiser, não conseguirá deter. Terá que apurar ao máximo.